A todo o instante o futebol ensina para a vida. Agora é Rogério Ceni que chega aos 100 gols marcados na condição de goleiro e, como se não bastasse, todos com a camisa do mesmo clube, o São Paulo. Estamos diante de um caso de exceções proporcionadas por um único jogador, homem, pai, cidadão, humano, como toda a gente. Goleiro fazendo gol já soa estranho e se constitui numa exceção. Fazer 100 é outra, maior ainda. E tem mais: Ceni defendeu até hoje um único time o que é outra exceção, afinal, nos tempos de hoje, o jogador não tem mais time do coração e o troca troca é constante, questão de euros e “janelas”. Rogério Ceni é um transgressor, no sentido positivo da palavra, é um “rompedor” de paradigmas. Ao ser exceção, confirma que toda regra tem exceção. E muito desta condição vem da virtude da perseverança. Ceni no início da carreira, quando aguardava o início oficial dos treinos, pegava a bola e repetidamente treinava cobranças de falta por conta própria. De lá pra cá, e se vão mais de 15 anos, segundo o depoimento do próprio Ceni, a receita para o feito é treino e repetição, exaustiva repetição, pois só repetindo se aprende. Mas não se trata de uma repetição burra. Ceni não só baixa a cabeça e faz o que é trivial. Ele tem foco, concentração, competência e consciência da necessidade de ir além da habilidade que Deus lhe deu. Tudo com treinamento e dedicação, paciência e continuidade no esfoço, a que podemos chamar de perseverança. Não aquela de persistir no erro, mas no caminho que conduz a glória e requer coragem, vontade, paixão e razão. Para isso soube ouvir grandes mestres professores, dentre os quais Tele Santana. Parabéns ao Rogério Ceni e obrigado por tantos bons exemplos. Particularmente, por mostrar que o futebol nos ensina muitas coisas. Uma delas que a vida não é só emoção e a razão não deve ser adversária. Pena que o brasileiro, apesar de ser um apaixonado por este esporte, ainda não gosta muito de pensá-lo. O futebol é uma escola de saberes. A questão é: estamos dispostos a aprender?
Marcos Kayser