Esta é uma tentativa de fazer poesia, mas está mais para um manifesto contra a morte. De poesia só tem algumas simplórias rimas. Não é a confissão de uma depressão. Mais do que uma questão de inteligência, de racionalidade, de LOGOS como diriam os gregos é a a declaração de uma paixão pela vida:
Falar de morte parece mania de velho, velhice que se desconfia estar longe de alcançar.
Mas talvez falar da morte seja uma forma da vida celebrar.
Nascemos sem ninguém perguntar a nós se desejávamos vir ao mundo.
Aí, nos expulsam do nosso mundo. De dentro da barriga da mãe.
No primeiro instante, recorremos à única possibilidade de contestação, o choro.
Berramos, berramos, mas ninguém tem compreensão.
Muito pelo contrário, os que nos observam são só animação.
Somos solapados por uma intensa indignação.
Depois de um tempo, percebemos que há mundos aconchegantes.
Do choro, caímos no riso da brincadeira com o pai, com a mãe, com os irmãos e com os amigos que às vezes são mais do que irmãos.
Sem nos preocuparmos com o amanhã, vivemos como se tudo acontecesse agora.
Nesta fase a vida é bela e ninguém quer viver sem ela.
Jamais pensamos que a morte a espera.
O tempo vai passando e intencionamos apressá-lo.
Queremos ser grandes para podermos fazer tudo que bem entendermos.
Aí vem o tempo da adolescência. Para uns aborrescência.
Achamos que podemos tudo, inclusive o tempo dominar.
Pouco sabemos do mundo e a morte nem pensar.
Aí vem o tempo da consciência. Para uns inconsciência.
Temos a ciência que o tempo é soberano, inclusive para terminar.
É a dimensão da finitude em contraposição com o desejo de continuar.
Tem algo de errado nesta vida. Antinomia como Kant já dizia?
Justamente agora quando aprendemos a amar.
Como o fim se apresenta não acredito que se sucederá.
Morreu e pronto! Acabou tudo!
Quem sabe o mistério poderá nos salvar?
Quem diria, chegamos aos quarenta, cinqüenta, sessenta,…
No tempo de criança reclamávamos que o tempo não passava.
Queríamos ser grandes e o tempo não corria só caminhava.
No tempo da adolescência nos achávamos os tais.
Queríamos dominar o mundo e o tempo podia esperar.
Agora aos quarenta o tempo continua sendo problema.
A maioridade chegou, vencemos mas o tempo continua nos insatisfazendo.
Agora não mais porque caminha, mas porque voa.
O que fazer então para controlar o tempo sem suprimi-lo pois se assim fosse estaríamos sucumbindo?
Se não podemos matá-lo de raiva, não dá pra enganá-lo?
Quem sabe vivê-lo intensamente?
Não só este instante presente.
Mas também engendrar as coisas boas do passado aqui e agora.
Vocês, nossos amigos são as coisas boas da nossa vida, amigos de hoje e de outrora.
É podemos citar Oscar Wilde que diz que a vida é apenas um tempinho horroroso cheio de momentos deliciosos.
Seria muito cinismo dizer que a vida é bela.
Mas como domar a fera do tempo é impossível, porque não encenar agora?
Convidamos a todos para comemorar este dia que representa mais um dia de vitória sobre a maldita.