Entre a solidariedade e a generosidade

Hoje dia da solidariedade vamos falar um pouco sobre o significado deste conceito que não é uma virtude nem um sentimento como muitas vezes empregamos. Solidariedade é a coesão existente entre as partes de um corpo. Um exemplo bem objetivo, que não dá margem à múltiplas interpretações, por ser objetivo, é as peças de um motor que são solidárias na medida que só se movimentam juntas. Costumamos confundir solidariedade com generosidade. Dar mostras de solidariedade é agir a favor de alguém cujos interesses compartilhamos, ou seja, defendendo os interesses dele, também estamos defendendo os nossos interesses. Dar mostras de generosidade é agir em favor de alguém cujos interesses não compartilhamos. Fazemos um bem sem que isso  reverta em algum bem a nós. Você serve sem que isso sirva a você. A generosidade em princípio é desinteressada. Nenhuma solidariedade o é. Ser generoso é renunciar, pelo menos em parte, a seus interesses. Ser solidário é defendê-los com outros. Ser generoso é libertar-se, momentaneamente, do egoísmo, que nos identifica como humanos. Ser solidário é ser egoísta junto com os outros. A generosidade é uma virtude moral. A solidariedade é uma necessidade econômica, social e política. A moral nos diz: como somos todos egoístas, tentemos sê-lo um pouco menos. A política nos diz: como somos todos egoístas, tentemos sê-los junto dos outros, convergindo interesses. A moral preconiza a generosidade enquanto a política justifica a solidariedade. O que vale mais? Moralmente, a generosidade. Mas ela não resolve a questão da exclusão ou da precariedade. Você por generosidade dá esmolas, faz doações, tira do seu para dar ao outro, mas aquele que foi ajudado continua na periferia, continua na excludência e a sociedade nem por isso deixou de ser menos injusta. Há necessidade da solidariedade entrar em cena. O interesse do excluído de entrar no jogo do mercado precisa ser meu interesse também. Aí não estarei mais dando esmolas por compaixão. Mas estarei pensando em conciliar interesses, planejando caminhos de mobilização, praticando ações que alimentem a natureza egoísta dos dois, minha e do outro, ou melhor, dos três, minha, do outro e dos outros. Uma coisa é ser egoísta a tal ponto de sufocar e massacrar o outro, outra coisa é ser egoísta e ser solidário ao egoísmo do outro. Que o egoísmo vire um direito de todos!