Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional, de autoria do Deputado Estadual gaúcho Pompeu de Mattos que propõe novamente o aumento do número de vereadores nas Câmaras municipais. Um retorno a um passado recente que, pelo visto, não satisfez a classe brasileira. Se aprovada, a emenda pode onerar ainda mais os cofres públicos naquelas Câmaras que souberam fazer economia. Um dos argumentos, dos poucos argumentos, favorável à aprovação do aumento do número de vereadores, é a alegação de que a redução, produzida pelo Tribunal Superior Eleitoral, a partir de 2004, não acarretou economia e sim acabou incentivando o uso indevido dos recursos que acabaram sobrando. Justificativa um tanto quanto questionável, para não dizer suspeita. Não haveriam meios mais condizentes para acabar com aquilo que o próprio deputado autor da emenda denota de “farra dos vereadores”? Já que a motivação para a emenda é econômica e moral, não seria melhor propor a redução do limite máximo de repasse ao legislativo que hoje é de 8%? Lembrando que no Vale do Paranhana há câmaras de vereadores que recebem menos de 2%, como é o caso de Três Coroas. Desculpem os deputados, mas nos parece que o aumento do número de vereadores não é o melhor caminho para moralizar a conduta dos nossos representantes municipais, como justificam. Medidas bem mais eficazes hão de existir para disciplinar a conduta dos vereadores. Parece que a definição de um repasse maior ou menor passa pela coragem do poder executivo em definir um percentual de acordo com a realidade financeira da cidade que administra. Também depende da vontade dos legisladores federais. Vontade que talvez não exista, pois reduzir repasses às Câmaras significa colocar em risco a relação de “solidariedade” entre deputados e vereadores. O interesse dos próprios deputados é fortalecer sua base eleitoras, na qual os vereadores têm papel estratégico e fundamental. Cada deputado tem os vereadores como seus cabos eleitorais. É bem provável que estamos diante de mais um arranjo político, cujo fim não é bem aquele que aparenta ser. Como diz o filósofo: “há um ser atrás do aparecer”. Em outras palavras, aquela que parece ser a grande motivação é apenas um disfarce altamente sofisticado para encobrir a causa verdadeira. “O sinal não é real”.
Arquivo mensais:agosto 2007
Meninos mais violentos
Segundo William Pollack, a educação de meninos, de uma forma geral, está em crise no mundo. Psicólogo de Harvard, autor do livro “Meninos de Verdade -Conflitos e Desafios na Educação de Filhos Homens”, Pollack afirma que a falta de uma maior atenção da família e da escola está fazendo com que principalmente os meninos tenham problemas de aprendizado e fiquem mais agressivos do que as meninas na sociedade. A afirmação do psicólogo, com base em suas pesquisas nos EUA, se aplica também ao Brasil. Aqui, as estatísticas do IBGE mostram que os jovens do sexo masculino são seis vezes mais propensos a morrer de causas violentas do que as mulheres da mesma faixa etária, sendo que a crise de violência entre jovens no Brasil não se restringe aos mais pobres. Dados do MEC mostram que eles aprendem menos, tem maior repetências e abandonam mais os estudos. Na opinião de Pollack, diferenças biológicas explicam em parte esse fenômeno, mas é principalmente a forma como a sociedade interage com os meninos que aumenta suas chances de fracasso na escola e de se tornarem mais violentos. Meninos sempre foram, em média, mais violentos, mas as taxas de suicídio entre jovens do sexo masculino e feminino nunca foram tão distantes. Antes, era mais fácil para eles acharem seu lugar na sociedade, entrarem numa universidade e conseguirem um emprego. Segundo o psicólogo há diferenças biológicas entre os gêneros, mas estudos sobre o cérebro mostram que, apesar de haver diferenças, o que mais afeta o ser humano é a forma como se relaciona. A testosterona não explica, sozinha, porque chegamos a um grau de violência tão alto entre meninos. Meninos estão muito mais desconectados em relação aos adultos em casa, na escola e em toda a sociedade do que as meninas. Quanto mais desconectados, mais falham. Historicamente, meninas são mais fáceis de serem conectadas aos adultos. Elas são mais abertas a falar de seus sentimentos, mais propensas a usar palavras em vez de brigar. É verdade que estamos tendo também mais brigas entre meninas ou gangues formadas por elas, mas isso acontece principalmente com meninos. Comunicar-se com elas exige menos esforço. Isso é devido em parte à biologia, mas também à cultura, pois os meninos por tradição precisam provar sua masculinidade por meio de agressividade. O novo modelo familiar [em que a mulher também trabalha fora] tira mais tempo dos pais para ficarem com seus filhos e o que afeta tanto meninas quanto meninos, mas tende a deixar principalmente meninos mais agressivos. Não significa, no entanto, que tenhamos que voltar ao modelo familiar tradicional. Os pais podem achar que, tendo saúde e suporte financeiro, eles não precisam de mais. Mas eles precisam de afeto, emoção e cuidado maior dos pais. Meninos não devem ser mais independentes do que meninas. Precisamos ser capazes de cuidar de nós mesmos, mas sem ignorar o outro, que também precisa dos nossos cuidados, afinal nossa natureza humana exige interdependência.
Lá foi o Pato…
“Lá vem o pato, pato aqui pato acolá, lá vai o pato para ver o que há...” Assim diz a música que podemos lembrar para ilustrar o destino do Pato colorado, que mal chegou aos campos do futebol profissional brasileiro e já está indo para os campos da Europa mostrar o seu talentoso futebol aos torcedores daquele continente. Nada contra o jogador e sua família, mas é de causar indignação por mais um exemplo de legislação descabida. Pato que em poucos meses foi coroado com o título Mundial Interclubes e o título da Recopa Sulamericana. Jogador colorado que na condição profissional não jogou um Grenal sequer, o maior clássico do futebol gaúcho e um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Chega a ser estranho pensar que este mesmo Pato, lançado pelo Inter, não defendeu as cores vermelhas nem por um ano. Estranheza só possível graças a ingrata, injusta e degradante lei Pelé e, é claro, a condição de subdesenvolvimento do nosso país incompetitivo economicamente. Lei ingrata porque proíbe os torcedores apaixonados por futebol verem jogadores talentosos e diferenciados como é o caso do Pato e de outros jogarem em seus clubes do coração. Lei injusta porque impede que os clubes conquistem os títulos almejados como os jogadores “prata da casa”, criados nas categorias de base, o que para o Clube seria muito mais gratificante. Clube que oferece as condições iniciais e projeta o atleta só que na hora deste jogador dar a resposta no campo onde rola a bola, pesa os Euros que rolam no bolso dos dirigentes e intermediários ditos empresários, que de empresários não têm nada, não empregam, não pagam impostos, não produzem nada. Ou alguém já viu dizer quanto uma negociação como esta rendeu ao fisco. Independentemente do gosto desta ou daquela pessoa pelo futebol, é do senso comum que o futebol representa uma das maiores paixões brasileiras, uma obra de arte valiosíssima, um produto que faz o Brasil ser único e invejado por todos. Contudo, a inveja dura pouco e é rapidamente resolvida, por força dos Euros dos países da Europa, que compram o direito que inicialmente seria nosso, ou seja, o direito de curtir a própria obra. A conseqüência da Lei Pelé é a degradação do futebol brasileiro, muitos jogadores que estão na Europa se dão ao luxo de pedir dispensa da seleção, tamanho o distanciamento da pátria amada. Tecnicamente falando, alguns comentaristas do futebol já estão falando no fim do futebol genoinamente brasileiro. Argumentam que jogadores exportados com 17 anos ainda estariam em formação e na medida em que vão para a Europa acabam se formando por lá influenciados por técnicas que não são mais as nossas. E a nós que somos o país da excelência do futebol resta-nos continuar produzindo o que tem de melhor e curtir o que tem de pior, (na linguagem do futebol, a baba). O episódio do Pato que acontece a todo o momento no Brasil com outros setores retrata que o problema do país não é a falta de leis, mas a falta de legisladores comprometidos com a coletividade e com a qualidade, comprometidos em fazerem leis que preservem a cultura e políticas que promovam, ao mesmo tempo, a solidez da economia. Para isso precisamos começando por valorizar e, porque não, proteger aquilo que temos de bom. Se nós não cuidamos do que é nosso, quem cuidará? Restará ainda algo sobre o qual poderemos nos reconhecer e nos vangloriar? É uma pena que a população acredita não ter poder.