O trânsito no Brasil é mais um fator que deixa com justiça nosso país na posição de terceiro mundo, eu diria, sem exageros, que é de quarto mundo.
Já há algum tempo, o caos tanto no céu e na terra está instalado, intensificado pelo aumento de automóveis, caminhões e aviões. Quem encara uma viagem aérea tem a incerteza da hora da partida e da chegada, fora o medo de um acidente, como ocorreu recentemente por motivos ainda escusos à sociedade. Encarar uma viagem por terra não é menos traumático, é bem provável que seja ainda pior, só não percebemos tanto porque já nos acostumamos. Estradas esburacadas, má sinalização, motoristas imprudentes, excesso de veículos, são apenas alguns dos componentes que tornam a viagem um risco iminente de acidente.
Se alguém tem ainda alguma ressalva a fazer, achando que a situação não é tão crítica assim, basta pegar seu carro e trafegar pela BR101 até Florianópolis, só como exemplo. Com a duplicação que está finalmente sendo realizada, os caminhões continuam abusando da imprudência, talvez pela ilusão de proteção porque são robustos. Em locais que poderiam dar lado para os motoristas apressados, evitando assim ultrapassagens arriscadas, ignoram esta possibilidade. Ficam horas segurando verdadeiros comboios que se formam. Como se não bastasse, eles próprios abusam das ultrapassagens, mesmo em locais proibidos e mesmo não tendo muitas vezes tempo suficiente para impor uma velocidade que permita uma ultrapassagem segura. Claro que os caminhoneiros não têm a exclusiva responsabilidade, por trás deles deve haver uma pressão abusiva e totalmente irresponsável das companhias de transporte de cargas. Caberia até a instalação de placas de conscientização, dizendo: “Obra de duplicação, duplique sua atenção”. A orientação e a fiscalização simplesmente não existem. De Torres à Florianópolis os policiais rodoviários se restringem a assistirem a passagem dos veículos de dentro dos postos rodoviários, cujo número, se não me engano, não passa de dois. Agora, nos perguntamos, porque o Brasil com toda a costa que possui, não investe numa estrutura de transporte marítimo? Já pensaram como seriam as nossas viagens sem a presença de tantos caminhões nas estradas? Quanta poluição, quanto custo, quanta destruição da malha rodoviária estaríamos reduzindo? Sim, porque os caminhões com o peso que carregam são os maiores consumidores do asfalto. Quanto ao eventual desemprego, seria compensado pela economia, fora que os profissionais que subsistem do transporte de carga via terrestre poderiam migrar para o transporte de carga via mar. Independentemente disso, as perdas materiais e humanas seriam exponencialmente menor, o que por si só justificaria. E quem tem o poder de mudar? O governo, é claro. Bastaria vontade, mais foco nos interesses da sociedade e visão de longo prazo. Contudo, infelizmente, estas são virtudes exclusivas de um país de primeiro mundo, o que não é o nosso caso, pois estamos ainda no “quarto”.