Todos temos nossas opiniões e devem tê-las, afinal, a opinião é uma confirmação de nossa humanidade (condição humana). Não que necessariamente devemos ter opinião sobre tudo, pois toda opinião exige um certo grau de conhecimento e há questões sobre as quais temos desconhecimento por completo. Também é improvável que alguém saiba tudo e de tudo. Quanto mais sabemos, mais temos consciência de que estamos distantes de saber tudo, o que nos torna mais humildes na hora de opinar. Por isso, opinar é também arriscar e se recomenda, para quem tem senso de responsabilidade, que a opinião não se encerre em si mesma e permita uma dialética, sem ignorar outras opiniões. Quem opina com esta abertura tem consciência da limitação da opinião e, quando opina, toma cuidado em não pecar por excesso de auto-suficiência. Posso hoje me achar com a razão e amanhã me ver diante de uma grande ilusão. Bachelard diz que a opinião pensa mal e com isso quer dizer que a opinião nem sempre tem razão, está envolta de crenças e segundas intenções. Por falar em crença, é Kant que define a opinião como uma crença que tem consciência de ser insuficiente. É bom destacar que há muitos casos sem a presença da consciência. Assim a opinião é dogmática e está mais para a religião do que para a ciência. Há sofismas disfarçados de opinião, como estratégia de manipulação. A história da humanidade está cheia de episódios em que a verdade perdeu para a falsidade. Apesar de ser crença, como define Kant, não significa que cada um deve ter a crença que bem entende, quando confrontado com o real. Opiniões sobre uma mesma realidade, desde que conhecida, é claro, podem não serem idênticas, pois não somos iguais, mas, ao mesmo tempo, não podem ser opostas e contraditórias, pois estamos tratando de uma mesma realidade. O que faz a oposição entre as opiniões é normalmente o conflito de interesses e o conhecimento apenas superficial ou distorcido da realidade. No primeiro caso encontramos a intransigência do autor em acolher a outra opinião, que poderá por em risco um interesse particular. Quanto ao conhecimento superficial, conhecer mais ou menos uma realidade implica na coerência da opinião. Quanto mais conheço, mais coerência poderá ter a minha opinião. Para isso é fundamental conhecer a realidade, sob os mais variados pontos de vista. Não só o meu, não só o do outro, mas todos as perspectivas da questão. Olhar do meu ponto de vista é fácil e confortável. O difícil é olhar do ponto de vista do outro que demanda coragem, tolerância e dignidade em reconhecer a miopia da visão. Vale a máxima de se colocar no lugar do outro e se isso for inviável ou indesejado, o mais recomendado é não ter ou não dar opinião, sob pena de agir de má fé. Também é muito arriscado emitir opinião com base numa outra única opinião ou ainda persuadido pela figura de quem opinina. Neste caso, mais vale o autor do que os argumentos. É uma pena que muitos fazem da opinião uma sentença com poder de condenação. Seus autores ignoram que podem estar cometendo equívocos irreparáveis e condenando muitas vezes uma vítima no lugar de um réu. Pobre vítima que se vê condenada por uma opinião. Sua esperança? Quem sabe o tempo. E, como se trata de religião, Deus, único capaz da reparação.
Marcos Kayser
Filósofo