O pensar filosófico nos leva muitas vezes a buscar redefinir alguns conceitos. Deleuze em seu livro “O que é filosofia?” diz que filosofar é a arte de criar conceitos. Meu alcance filosófico não chega ao mérito de criar conceitos, mas me permito conjugar algumas palavras até compor uma definição que para mim tem significado, por uma certa coerência e, principalmente, pela autenticidade. Compor definições próprias, dá uma sensação de entendimento e domínio sobre o objeto que se consegue definir. Talvez o maior dos conceitos seja a vida (ou a existência) e pelas andanças do pensamento cheguei a uma definição facilmente compreensível e aceita, inclusive por aqueles com aversão a teoria. Ficou assim: a vida é uma multiplicidade de coisas (corpos) em contínuo movimento e mútuo relacionamento. Esta definição da vida pressupõe escolhas, diante da multiplicidade que se apresenta. Se temos que escolher, deixamos muitas coisas sem dar conta, já que não é possível abarcar a totalidade das oportunidades, por falta até de conhecimento e também potencialidade. Lembremo-nos, somos seres limitados, mesmo que elevados a condição de mais evoluídos da espécie. Continuando, as coisas estão em contínuo movimento, o que é o mesmo que dizer que tudo morre, pelo menos daquela forma, ou se extingui ou se transforma. Isso não soa muito bem para quem credita toda a aposta na perenidade, como também para aqueles que estão plenamente satisfeitos com a vida que levam. O estado de plenitude não tem duração garantida, pois a efemeridade reina. Nada resiste ao fluxo natural da vida. Heráclito, o filósofo grego, parece ter razão. Uma pessoa não se banha duas vezes no mesmo rio, pois a água não é a mesma, assim como a pessoa que a cada instante muda. Concluo a definição dizendo que todas as coisas se relacionam mutuamente, que é o mesmo que dizer que tudo está interligado e uma coisa depende da outra. Mais cedo ou mais tarde seremos afetados pelas ações e decisões que tomamos a todo momento. Por isso somos responsáveis pelo que colhemos, seja o amor, seja o ódio.Se não formos afetados em tempo, indiretamente seremos, pois nossos filhos, parentes, amigos e irmãos planetários serão brindados, ou com algum bônus, ou com o onus da conta. Isso parece meio ecológico, mas está de acordo com a definição que encontrei para a vida. Definição que também é transitória, como a vida, conforme eu mesmo na definição escrevi. Por enquanto, fico satisfeito e repito: a vida é uma multiplicidade de coisas em contínuo movimento e mútuo relacionamento. E aí, qual é a sua definição para a vida?
Arquivo mensais:abril 2011
100 gols: um aprendizado de exceção
A todo o instante o futebol ensina para a vida. Agora é Rogério Ceni que chega aos 100 gols marcados na condição de goleiro e, como se não bastasse, todos com a camisa do mesmo clube, o São Paulo. Estamos diante de um caso de exceções proporcionadas por um único jogador, homem, pai, cidadão, humano, como toda a gente. Goleiro fazendo gol já soa estranho e se constitui numa exceção. Fazer 100 é outra, maior ainda. E tem mais: Ceni defendeu até hoje um único time o que é outra exceção, afinal, nos tempos de hoje, o jogador não tem mais time do coração e o troca troca é constante, questão de euros e “janelas”. Rogério Ceni é um transgressor, no sentido positivo da palavra, é um “rompedor” de paradigmas. Ao ser exceção, confirma que toda regra tem exceção. E muito desta condição vem da virtude da perseverança. Ceni no início da carreira, quando aguardava o início oficial dos treinos, pegava a bola e repetidamente treinava cobranças de falta por conta própria. De lá pra cá, e se vão mais de 15 anos, segundo o depoimento do próprio Ceni, a receita para o feito é treino e repetição, exaustiva repetição, pois só repetindo se aprende. Mas não se trata de uma repetição burra. Ceni não só baixa a cabeça e faz o que é trivial. Ele tem foco, concentração, competência e consciência da necessidade de ir além da habilidade que Deus lhe deu. Tudo com treinamento e dedicação, paciência e continuidade no esfoço, a que podemos chamar de perseverança. Não aquela de persistir no erro, mas no caminho que conduz a glória e requer coragem, vontade, paixão e razão. Para isso soube ouvir grandes mestres professores, dentre os quais Tele Santana. Parabéns ao Rogério Ceni e obrigado por tantos bons exemplos. Particularmente, por mostrar que o futebol nos ensina muitas coisas. Uma delas que a vida não é só emoção e a razão não deve ser adversária. Pena que o brasileiro, apesar de ser um apaixonado por este esporte, ainda não gosta muito de pensá-lo. O futebol é uma escola de saberes. A questão é: estamos dispostos a aprender?
Marcos Kayser