Atendendo um pedido da minha filha que se prepara para o vestibular de medicina (e que a sorte também a ajude, já que dedicação ao estudo não lhe falta), fiz um pequeno apanhado sobre alguns aspetos que marcam nossa sociedade contemporânea. Apanhado que tiro das leitura que faço de alguns filósofos, dentre os quais Baumann e Lipovetsky, e da minha experiência de vivente. Vivemos no que chamam de pós-modernidade, nome que parece ser transitório, seguindo uma das características desta época: a transitoriedade. Tudo é destacartável, substituível por algo novo. Época da economia de mercado, onde tudo tem seu preço , inclusive bens inegociáveis, como a própria intimidade. Na semana passada uma jovem brasileira leiloou seu corpo arrematado por 1,5 milhões por um japones que comprou o direito de tirar a sua virgindade. O poder se determina por quem mais acumula dinheiro e patrimônio. Pode mais, quem tem mais, e quem já tem muito, quer ainda mais. O consumo não tem saciedade e parece ser a principal fonte de felicidade. Felicidade que não é mais um estado de prazer, alegria ou satisfação compartilhada com outros, mas é uma busca individualizada que nunca chega ao objeto sonhado, tamanha a insaciedade. E na dita pós-modernidade tudo é efêmero e temporário, incluso as relações pessoais. Quando o indivíduo se vê diante de um desafio mais pesado, que demanda uma alta carga de responsabilidade, não raramente, recua e se volta para uma outra opção de mercado. Sim porque o mercado tem as mais diversas opções, com os mais variados preços e forma de pagamento. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades “auto-evidentes”, como cita Bauman. Com esta volatilidade, tudo que é de longo prazo não tem vez para se estabelecer e enraizar. Entidades não se consolidam, lideranças e referenciais não se firmam. Resultado: carência de engajamento e líderes no mundo todo. Outra carência é o tempo. Apesar da tecnologia dar agilidade, além de manter tudo conectado, falta tempo até mesmo para se estar com quem mora ao lado, e aqui me refiro aqueles que moram conosco em casa ou na cidade. Se fosse para escolher um dos dilemas do nosso tempo, eu escolheria a dificuldade em tratar da intimidade. Será por falta de tempo? Ou por comodidade?
Marcos Kayser