“Deixar na mão” não é mais exceção

As relações comerciais estão vivendo um momento difícil. Parece que deixar o outro esperando ou não cumprir com o combinado, virou rotina. E como a maioria é assim, quem faz não se importa muito com as consequências. As empresas prestadoras de serviços e os profissionais liberais são os campeões. Na semana passada, me chamou a atenção uma sequência de episódios que aconteceram comigo, no mesmo dia. As pessoas marcaram, assumiram compromisso e não cumpriram.  Não dá para dizer que são pessoas sem formação e educação. Teoricamente, todas tem uma boa noção do que é responsabilidade, comprometimento, dever. Foi-se o tempo em que tudo era feito pelo cliente. Não basta requisitar uma só vez, tem que insistir e, quem sabe, suplicar e pedir “pelo amor de Deus”. Entre as que me “aprontaram”, duas eram da área da saúde, uma da eletrônica e outra do comércio. Foram quatro episódios, um na sequência do outro. Chegou a ser engraçado e minha sorte foi que não era nada urgente, pois, certamente, não seria muito diferente. Talvez ,uma das causas, injustificável, é claro, seja que as pessoas estão com serviço de sobra e perder um cliente não traz preocupação. É a velha questão: os fins justificando os meios. Cumpre-se uma obrigação só pensando no que pode ocorrer, o que vai ganhar ou perder. Como “deixar na mão” é quase uma máxima, que se repete com a maioria, pensam que dificilmente vão perder o cliente. Onde estará a noção do dever? Dos quatro, dois ficaram de me dar retorno, aquele conhecido “sem falta”, e nada. Isso que liguei mais de uma vez. Os outros dois marcaram, combinaram horário e não apareceram. Fiquei esperando, deixei de fazer outras coisas, não menos importantes, e, além da frustração, terei que retomar o contato com os quatro, correndo o risco de mais uma vez ser “deixado na mão”. Como tenho uma empresa de prestação de serviços e, junto dos meus sócios, ficamos preocupados que esta desconsideração tenha se espalhado feito um vírus e também esteja nos atingindo, peço que aquele que marcar algum tipo de serviço conosco e não for correspondido, ligue imediatamente para algum nós. Ainda somos do tempo em que “ouvir o cliente é obrigação, atendê-lo bem é realização”.

Marcos Kayser

Professor não é mais doutor

Hoje é dia do professor e tenho uma relação íntima com esta figura. Minha mãe, a dna. Mary, era professora. Professora muito braba, mas muito querida e respeitada. Tenho tias professoras, tia Mairy, tia Branca, não tão brabas e não menos respeitadas. Professoras para quem “batíamos continência” com certo medo, mas também como sinal de carinho e respeito. Dna Zélia, dna Dula, dna Zênia, as professoras do ensino primário, hoje chamado fundamental, ficaram registradas com mais intensidade na memória. Talvez porque elas assumiam um papel de segunda mãe. Professor que na época tinha status de doutor. Hoje nem o próprio doutor tem status de doutor. No caso dos professores, além do respeito, perdeu-se também uma dose de afeto que permeava a relação. Pode ser reflexo de uma sociedade diferente, onde as pessoas estão mais distantes uma das outras. Vejam o que fazemos no Facebook. Declaramos sentimentos e momentos, mas nos limitamos ao mundo da virtualização. Há uma desconfiança generalizada entre as pessoas e para com as instituições. Haverá alguém que cumpre as normas abrindo mão de seus desejos particulares, agindo tão somente porque o dever comanda? Haverá alguém apaixonado que age por amor? E onde fica o professor? Na época da minha mãe e das minhas tias, isso aconteceu a 50 anos atrás, a formação era outra. As Faculdades eram muito mais austeras. Hoje o problema começa já na formação. A grande maioria dos professores recebem a intitulação sem terem o preparo prático para enfrentarem o dilema da sala de aula: como fazer o aluno “ficar ligado”? Resultado: completa frustração, tanto do aluno como do professor. O aluno criança ainda suporta ir à escola enquanto lá estiver brincando nos anos iniciais. Depois da 5ª série, quando cessam as brincadeiras e não há mais a dedicação exclusiva de um professor, se inicia o processo de desencantamento e deseducação. Já o professor se frustra pela falta de reconhecimento do próprio aluno e pela falta de futuro, sem falar no problema da baixa remuneração. Na época da minha mãe, o professor ganhava o suficiente para comprar o seu carro e construir a sua casa. Este ponto é polêmico. A remuneração é baixa, mas, para muitos, os professores não fazem por merecer uma melhor condição. No dia do professor não quero entrar nesta discussão. Hoje, quero homenagear aqueles professores que ainda sonham, dão a vida por esta profissão e trabalham com muita paixão. Parabéns professor!

Marcos Kayser