Não há outra escolha

Será a escolha uma prova de liberdade? E quando escolhem por nós, deixamos de ser livres? Será a escolha um ato exclusivo da nossa vontade? Perguntar e tentar responder são escolhas. Agindo e pensando, escolhemos a todo instante. Ao mesmo tempo, em certas circunstâncias, não temos escolhas. Toda escolha supõe um sujeito que escolhe  e, muitas vezes, somos escolhidos por um outro sujeito. Nada mal quando esta escolha é por uma bela causa. No nosso nascimento fomos escolhidos e não tivemos escolha. É uma escolha dos pais, que também não escolhem seus nascimentos. Enquanto bebês, não temos muitas escolhas. Talvez rir ou chorar, o que está mais para uma reação primitiva, do que para uma escolha criativa. Ainda crianças nossas escolhas são muito limitadas, com exceção daquelas educadas no que chamam de educação moderna, sem limites, que tudo podem. Prepotência, baixa tolerância à frustração e solidão são algumas consequências leves deste tipo de educação, em que a criança tem todo o poder de escolher, descartar e voltar a escolher. Movimento sem fim, alimentado pelo prazer da escolha pela escolha. Há indícios de que as melhores escolhas na vida, ou as mais responsáveis, requerem um amadurecimento do sujeito que escolhe. Amadurecimento que começa com o aprendizado de que nem tudo pode. O adolescente acredita ser “grande” e ter a maturidade necessária para realizar as próprias escolhas. Ainda não tem, mas é na adolescência que surge a oportunidade para o adolescente começar a exercitar sua capacidade de escolha. Nesta fase o melhor é fazer escolhas compartilhadas, com quem se tem intimidade. E como é bom escolher junto! Um exemplo é a escolha da faculdade, momento difícil para quem ainda é iniciante na arte de escolher. Responsabilidade demais para tão pouca experiência. Sorte de quem pode contar com pais presentes que dão o suporte necessário a uma escolha bem pensada. O que não garante êxito, mas ajuda a aprender a assumir os riscos inerentes a toda escolha e aceitar suas inevitáveis perdas.  Isso mesmo, toda escolha implica em perdas e tem muito adulto que não sabe perder. Sempre haverá o não escolhido, o que foi rejeitado e, quem sabe, perdido. Dilema humano para o qual não há escolha, a não ser a aceitação. O enfrentamento da dor da perda, do arrependimento, da culpa, nos torna ainda mais humanos. Dependendo da forma com fomos criados e educados, de como aprendemos a ser livres e, ao mesmo tempo, responsáveis, teremos mais ou menos condições de superar os traumas e partir para as próximas escolhas.  Diz Sartre que “estamos condenados a ser livres”, ou seja, estamos condenados à liberdade de escolher, e sermos responsáveis por nossas escolhas, seja qual for o contexto histórico e cultural em que vivemos. Isso é ser livre e não tem como escapar. A responsabilidade é de cada um, de seus desejos e medos, até mesmo quando escolhemos nos omitir. Por consequência, estamos condenados à culpa. Culpa por ter prejudicado o outro com uma determinada escolha. Culpa por ter escolhido não escolher. Culpa por não ter feito a melhor escolha. Há escolhas que fazem viver, outras morrer. Escolhas que podem mudar a vida de uma pessoa, de uma cidade, de um estado e de um país. Resta-nos aprender com as boas e más escolhas e escolher, escolher e, novamente, escolher. Não há outra escolha! Marcos Kayser

Os maus tratos com Taquara

Não é de hoje que Taquara sofre de maus tratos. Não me refiro ao vandalismo comum de quem não tem educação e agride o patrimônio particular e público porque sabe que não haverá punição. Por falar em punição, é a falta dela que corrompe o país em todas as suas instâncias. Para mim e para muitos já estamos no caos há muito, apesar dos desfarces de quem governa, sempre pronto a afirmar que muito já foi feito e estamos em evolução. Sim, muito já foi feito, muito se deixou de fazer e muito foi desfeito. Estou me referindo de atos de descaso dos próprios cidadãos com bom nível de educação. Em Taquara, se tivermos um olhar um pouco mais exigente, comum de quem já experimentou o bom e o belo, como acontece num país sério,  veremos que pouco foi feito e muito deixamos de fazer. A cidade está feia e suja, se comparada, por exemplo, com o interior de nossas casas. A comunidade como um todo e administração municipal é culpada.  Não me levem a mal alguns amigos e conhecidos que se identificarão com casos de descaso para com a cidade que vou citar agora. Há construtores que ocupam praticamente toda a calçada em frente as suas obras, além de deixarem as mesmas calçadas praticamente intransitáveis. Há moradores que, quando fazem reformas, ocupam calçadas e parte da rua por meses, prejudicando a passagem dos pedestres, dos carros e enfeando a rua. Do mato então, nem se fala. Sei que desanima fazer bem feito se o outro deixa daquele jeito, mas isso não é digno de desculpa. Caberia à prefeitura fiscalizar, notificar os casos de irregularidade já que existe lei, apesar de não ser aplicada, e multar. Não sei porque não faz. Talvez porque ela própria não consegue cuidar da cidade e fazer os consertos que depende dela, como é o caso das ruas esburacadas. Já passaram pela Guilherme Lahn, entre a Pirisa e a Sociedade 5 de maio? Além de por em ordem a cidade, tornando-a limpa e embelezada, a prefeitura poderia recompor seu caixa se notificasse e, em caso de descumprimento, aplicasse multas. Uma indústria de multas pelo bem de Taquara teria apoio daqueles que amam de fato a cidade.​ Aplaudo ações de algumas pessoas que denunciam e agem contra os maus tratos com os animais. Por que não seguir o exemplo e agir também contra os maus tratos com Taquara? Vamos lá vereadores, representantes do povo, quem sabe vocês lideram o movimento do “Adote a frente da sua casa”, projeto indicado na Agenda Paranahana 2020, apresentado em 2009 à Câmara de Vereadores e, como muitos, deixado de lado. Marcos Kayser

O vizinho sumiu

Maria Helena Holmer Hack, minha amiga do Facebook, escreveu um texto intitulado “As cadeiras na calçada”, que me fez relembrar com saudade do tempo em que a vizinhança se reunia a noite sentada nas calçadas. Era comum o vô, a vó e a mãe colocarem o banco na calçada em frente de casa para conversarem e verem as crianças correrem e brincarem rua fora. Lembro como se fosse hoje, o banco era branco, vazado, e cada um pegava numa ponta e levava para a rua. Chegavam a colocar na sarjeta para não prejudicar a passagem de pedestres que desciam do hospital.  Instalado o banco, vinham os vizinhos, s. Ivo Vilas Boas, dna. Norma, a amiga Bela e a criançada, Geraldo, Mateus, Tavinho, Ivanor,… Enquanto os adultos tagarelavam tranquilamente sem o mínimo receio de assaltos ou alguma situação arriscada, a gurizada não parava, brincando de “caçador”, “pega-pega”, “esconde-esconde”. Apesar dos mosquitos, valia a pena! Era bom demais aquela quase cerimônia. Hoje, isso não acontece mais, nem mesmo em cidades do interior como acontecia a mais de 40 anos. O medo de ser assaltado ou ser incomodado é grande. Tem também a grande quantidade de carros que tiram o sossego, além de colocarem em risco quem estiver sentado num banco colocado na beira da calçada. Para mim que convivi com este saudoso tempo, além da falta de segurança, o motivo desta pratica desaparecer está também no jeito de ser da sociedade contemporânea e dos que hoje são pais. Naquele tempo havia tempo para jogar conversa fora. Hoje o tempo é mais escasso e parece que jogar conversa fora é um desperdício, porque não tem valor capital, e na nova sociedade é preciso estar sempre fazendo alguma coisa. Não se pode fazer nada.  O valor das amizades parece não ser mais o mesmo e mantê-las não implica em reservar mais tempo para elas. O sentimento de vizinhança também se perdeu. Parece que não temos mais a confiança que tínhamos no outro, muito menos a intimidade. A qualquer momento um pode aprontar. Éramos mais próximos e contávamos mais com o outro. Hoje, em nome da autonomia, o vizinho não existe mais.