Impeachment: momento de preocupação

Voto SIM, voto NÃO, pelo impeachment, contra o golpe, são as manifestações dos nossos representantes no Congresso, votando no processo de impeachment da presidente Dilma. Quem fala em golpe, se esquece do golpe aplicado pela presidente nas eleições, que ocultou dos brasileiros a situação da economia em frangalhos, pelas escolhas equivocadas da sua equipe. Particularmente, acho que o momento é de preocupação, mais do que comemoração. Estamos numa situação muito delicada, sob o aspecto político e econômico, sendo que um depende do outro. Sob o aspecto político vivemos um contexto onde não confiamos naqueles que votaram a favor nem contra. Dá para acreditar em Dilma, Lula, Temer e Cunha? Minha pouca esperança está concentrada no poder judiciário. Com a ajuda da Polícia Federal e do Ministério Público espero que a Lava Jato avance e prenda quem roubou e continua roubando do Brasil e ainda recupere as fortunas desviadas. A operação Lava Jato, e outras, com similar finalidade, precisa avançar, a ponto de instituir, pelo medo, uma nova moral, de respeito ao Estado. Até lá o Brasil vai precisar gestar novos políticos. Uma geração na qual o crime não compensa. Uma geração que rejeita o famoso “rouba, mas faz”. E a economia? Bem, a economia só vai ser recuperada com consistência, se nossos políticos provarem que votaram pelo impeachment, pensando de fato no país, para além das rivalidades. Um bom indício é se votarem as urgentes reformas (política, administrativa, trabalhista, previdenciária,…). Será? Eu duvido!  Simplesmente porque eles não conseguem separar o público do privado. Exemplo disso é que grande parte dos nossos deputados votam em nome do pai, da mãe, do cônjuge, dos filhos, dos netos, dos bisnetos e por aí vai. Não conseguem abrir mão do privado em benefício do público e não seria o momento de evocar a intimidade familiar. Desta forma dificilmente vão agir sem colocar seus privilégios pessoais em primeiro lugar e continuarão alimentando a cultura do desvio, do “jeitinho brasileiro”. Quem dera puder neste momento estar comemorando. É deprimente e, para quem tem filhos pequenos, é ainda mais preocupante. Talvez, o melhor caminho fosse convocar novas eleições para presidência, ainda neste ano, também para senadores e deputados. Seria uma demonstração de desprendimento pelo interesse privado e um convite para resgatarmos a confiança nos políticos brasileiros. Sonhar é livre!

Marcos Kayser

10 anos de Agenda Paranhana 2020

O Brasil é um país muito grande, com uma diversidade de culturas e problemas estruturais proporcional ao seu tamanho. Querer mudar o país como um todo, com foco em Brasília, é tarefa complexa, quase impossível. Mas se começarmos pelas cidades onde moramos? Foi pensando assim que em 2006, espelhando-se na Agenda 2020, com apoio da Pólo-RS, iniciou no Vale do Paranhana uma Agenda Estratégica que reuniu pessoas e sonhos. Empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e da iniciativa privada, prefeitos, vereadores, juízes, promotores, padres, pastores, enfim, representantes de toda a sociedade, definiram metas e projetos, com o objetivo de tornar o Paranhana uma região de primeiro mundo.  Metáfora que, resumidamente, significa um lugar com qualidade de vida, onde se tenha saúde, educação, segurança e infraestrutura de qualidade.  Entendíamos que trabalhando de forma integrada, setor público e privado, poderíamos construir uma região melhor para se viver,  independentemente das condições do Estado e do país. Duas premissas eram imprescindíveis: integração e planejamento. Neste ano de 2016, a Agenda Paranhana 2020, como é conhecida, completa 10 anos e a utopia continua distante. Idese e IDH, índices que medem o desenvolvimento, tiveram melhoras insignificantes e, em muitos casos, ficam abaixo da média do que se poderia considerar bom, inclusive abaixo da média do Estado. Alguns projetos pontuais como o Portal da Transparência, os Campeonatos de Xadrez e o Prêmio Professor Inovador foram realizações positivas, motivadas e organizadas pelo movimento. Muitos encontros serviram como tentativas de buscar a tão necessária integração entre as partes interessadas. Fóruns envolvendo delegados de polícia, juízes, promotores e representantes da sociedade foram exemplos disso. Parece ter ficado claro para os participantes, representantes da sociedade civil, que da integração não podemos abrir mão. Já para os gestores públicos, dos quais depende a grande maioria dos projetos, o entendimento parece não ser o mesmo, pelo que se vê na prática. Para se ter uma ideia, os municípios não conseguem nem se quer ter um calendário de eventos comum. Vários deles se sobrepõem. Também não conseguem criar uma rede de saúde pública, integrando todos os hospitais (e olha que saúde é prioridade). Nos últimos anos, a CICS-VP (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária do Vale do Paranhana), em parceria com a AMPARA (Associação dos Municípios do Paranhana), buscou mudar a estratégia, compartilhando a coordenação da Agenda com os prefeitos, quando cada assumindo um tema. Foi feita a primeira reunião e, desde então, não se tem mais notícia da Agenda. Lembrando que em eventos realizados em praça pública, os prefeitos assinaram um termo de compromisso com a Agenda, quando eram candidatos. O termo, mais uma vez, colocava o planejamento estratégico municipal como uma prioridade. Até hoje, a comunidade não foi chamada para conhecer os projetos prioritários, com seus orçamentos e prazos de execução. Assim, sem planejamento e sem integração, continuamos com uma economia pouco diversificada, índices de desenvolvimento baixos e serviços públicos precários. Por que não pensar e agir como se o Paranhana fosse uma grande cidade? Juntos construir soluções para os problemas que são os mesmos. Depois de 10 anos de sonhos e tentativas, na condição de um dos idealizadores e coordenadores da Agenda Paranahana 2020, estou deixando a função de comandante, mas prosseguirei  soldado.  Para não ficar de mal com a minha consciência e, principalmente, com os meus filhos, continuarei exercendo o meu dever de cidadão, participando da Agenda e cobrando soluções de quem nos representa e tem o poder na mão. Continuo acreditando que a felicidade de um depende da felicidade do outro e, por mais individualista que seja, mais integrada a nossa sociedade precisa ser. Só assim podemos conquistar algum tipo de felicidade. Agradeço aos voluntários e colaboradores da Agenda e aos colegas da CICS-VP, por terem me dado esta oportunidade!

Marcos Kayser