Ensino Médio: um conflito existencial (Parte I)

Já vem de alguns muitos e muitos anos o entendimento que a educação é uma prioridade que deve ser atacada no Brasil. Ao mesmo tempo que a educação é a solução para o desenvolvimento sustentável do país, ela se constitui, ao menos por enquanto, num grande problema. Vencido o desafio da inserção de crianças e adolescentes nas classes escolares, visto que nos últimos anos houveram avanços nesta direção, o problema agora é a qualidade do ensino, cuja premissa é a definição do foco e dos objetivos, em especial do Ensino Médio. Este tem uma diversidade crescente de alunos e não sabe o que fazer com eles. Tem demasiados papéis sem cumpri-los jamais. E como se não bastasse, trabalha com jovens na idade da turbulência, das revoluções existenciais e hormonais. Relação que se torna difícil, na medida em que a família mantém um distanciamento da escola, sem uma participação mais ativa no convívio escolar.

O Ensino Médio recebe alunos muitas vezes já com déficit de conhecimento, desabituados com a leitura e, por consequência, com inúmeras dificuldades para interpretar (con)textos e elaborar textos com início, meio e fim. Fora isso, a escola se vê obrigada a trabalhar os valores que a família não conseguiu introjetar. Os pais só esperam que seus filhos tenham uma boa base para o vestibular ou, em menor escala, que a escola prepare para o mercado de trabalho. As escolas brasileiras não reconhecem explicitamente suas limitações e acabam não satisfazendo nenhuma das expectativas. Basta apurarmos o número de alunos que passam no vestibular da Universidade Federal sem precisarem fazer um cursinho pré-vestibular. Ou quantos alunos ingressam diretamente no mercado de trabalho sem passar pelos cursos que se dizem profissionalizantes.

Preparar para o mercado de trabalho requer entrar em um outro mundo, o mundo da prática. A preparação requer proximidade com business. O conhecimento volta-se para a aplicação concreta. O objetivo é ensinar a fazer, desenvolvendo competências e habilidades, conforme demandas do mercado. Já preparar para o vestibular é acumular conhecimento com a meta exclusiva de vencer as questões dos exames de ingresso no curso superior. O dilema é que na preparação para o vestibular o aluno é bombardeado de tal forma que não há tempo para aprender nada com a profundidade necessária.

O Ensino Médio voltado para o mundo do vestibular se distancia do Ensino para o mercado de trabalho, tanto em conteúdo como em metodologia. Somam-se as diferenças de aptidão de cada aluno nos interrogamos: a escola pode dar conta destas duas pretensões ambiciosas? E não ignoremos ainda outros problemas estruturais vividos pelas escolas brasileiras como o econômico, a questão da formação do professor e da formação humana do aluno. Sim porque por trás de aprender química, física e biologia, está aprender a ser. Aprendizado que envolve a formação humana. Sentir e pensar respeitando a dimensão do outro, da alteridade. Pensar como exercício da razão, não para ter certeza absoluta do certo e do errado, mas para enxergar e compreender as tantas ambigüidades do ser. Por este viés, antecede a preocupação de dar respostas a arte de fazer perguntas.

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