A classe média tem ibope para governar o país

Já deve ser de conhecimento de todos a pesquisa realizada pelo IBOPE, no último mês de agosto, que ouviu cerca de 2.000 pessoas em 143 municípios do país, indicando que entre as instituições em que os brasileiros menos confiam estão em primeiro lugar os políticos com 90%. Apenas 8% confiam nos políticos, sendo que 2% não opinaram. Maior desconfiança registrada desde 1989, quando o Ibope começou a fazer este tipo de pesquisa. Os políticos se encontram no topo da desconfiança, enquanto que os médicos são os mais confiáveis com apenas 16% de desconfiança, sendo que 3% não opinaram, ou seja, 81% confiam. Em matéria de credibilidade os médicos estão acima inclusive da polícia e do poder judiciário, cuja desconfiança preponderou sobre a confiança. A polícia ficou com 35% de confiança e 61% de desconfiança, sendo que 4% não opinaram. O poder Judiciário ficou com 45% de confiança e 51% de desconfiança, sendo que 4% não opinaram. Os médicos ficaram acima  até da Igreja Católica que teve 71% de confiança e 26% de desconfiança, sendo que 3% não opinaram. Diante da repulsa e indignação manifestada pela população contra os políticos e da alta credibilidade dos médicos, já ouvi uma provocação: não estaria a classe médica habilitada para liderar uma mobilização nacional em torno das reformas tão urgentes para começar tirar o país do caos em que se encontra? Quem votou nos médicos, provavelmente tem conceito semelhante se perguntado sobre os psicólogos, os fisioterapeutas, os enfermeiros. Então o leque de profissionais com crédito aumentaria ainda mais, e a abrangência destes é ampla. Estão em todo o país, organizados em sindicatos, em federações e cooperativas. Não vislumbramos os médicos caminhando, cantando e carregando bandeiras de protesto. Também não estamos lançando os médicos à candidatura pública. Estamos apenas supondo uma potencialidade, existente na classe médica, em liderar estratégias de mudança da conjuntura política de nosso país. Porque as punições traduzidas nas cassações que deverão ocorrer ainda estarão longe de resolver nossos problemas estruturais. É preciso mais. É preciso mudar a constituição. É preciso descentralização do poder. E como o país está doente, precisando de uma cirurgia, porque remédios não bastam, a classe médica poderia entrar em ação. Mesmo que o pós-operatório fosse doloroso, provavelmente valeria à pena, pois o resultado seria uma sociedade digna e menos violenta. Parabéns médicos e contamos com vocês!

Marcos Kayser

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