UM POUCO SOBRE ÉTICA

Falamos de ética no direito, na medicina, nas empresas, na política, enfim em todos os campos de atuação do ser humano. Usamos quase que diariamente a palavra ética para designar a conduta de certas pessoas que nos parecem responsáveis, conseqüentes e honestas. As condutas que julgamos incorretas classificamos de anti-éticas. Infelizmente se usa muito mais a designação anti-ético do que ético. A política é um exemplo disso. Costumamos nos referir aos políticos brasileiros como sendo muito mais anti-éticos do que éticos.

Mas o que nos leva a julgar e classificar uma ação como certa ou errada? São os critérios, e a ética é a disciplina da Filosofia que reflete sobre estes critérios, procurando elucidar se uma atitude, ou postura, é boa ou má, correta ou incorreta, justa ou injusta, coerente ou incoerente. Porque não posso justificar minha avaliação apenas pelo fato de que a lei assim determina (a lei também dá margens a interpretações, ela não é absoluta); também não posso justificar pelo fato de que foi meu pai, minha mãe, meu professor, ou alguém de indiscutível credibilidade que me ensinou e disse que era assim e pronto. Se aprendemos algo é necessário uma justificativa para que este algo seja coerente e tenha consistência, não basta que tenha sido dito por uma autoridade. É necessário fundamentação reflexiva. Também uma determinada justificativa pode sofrer mudanças ao longo do tempo. O que era uma verdade no passado, hoje pode não ser mais. Por conseqüência, podemos e devemos mudar de postura caso os critérios de julgamento variem, porque os contextos variam. O que não significa dizer que sejamos “Maria vai com as outras” ou que não temos posição. Como já dizia o filósofo grego Heráclito “uma pessoa não se pode banhar duas vezes no mesmo rio”, dando a entender que a pessoa muda e o rio que corre também muda, pois as partículas de água não são as mesmas já que estão em constante movimento.

Na história do pensamento humano, encontramos três vertentes principais que procuram fundamentar os critérios para julgamento de uma ação. Há os que pensam que uma ação é correta quando praticada por um agente virtuoso; há os que pensam que ser ético é cumprir com uma máxima universalizável, ou seja, um dever que se aplica a todos e há aqueles que entendem que medimos a validade de um ato pelo que traz de felicidade a mim e ao outro. Porém, todas estas tendências apresentam algum tipo de problema, pois todas requerem algo comum entre todos os agentes. Na prática, verificamos que o virtuoso também erra, que a felicidade para mim necessariamente não é a felicidade do outro, assim como o dever de um muitas vezes não é o dever de outro.

O problema central da ética é a dificuldade que temos de conciliar entendimentos e desejos. Fica aqui uma indagação sobre até que ponto conseguimos nos colocar na posição do outro para avaliarmos se uma ação é correta, é válida, é justa, é honesta. Talvez, se assim conseguirmos fazer, estaremos nos aproximando de uma fazer ética.

Por Marcos Kayser

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