Felicidade Camargo Machado é o nome de uma senhora de 106 anos que Fabrício Carpinejar encontrou em suas andanças pelo Rio Grande. Reside sozinha, paga suas contas com o dinheiro da viuvez e não depende de mais ninguém, a não ser dela. Felicidade mora dentro de uma casa de madeira que fica dentro de uma casa de alvenaria e vive o que recita: “assim que somos: a infância dentro do adulto.” Felicidade sobreviveu ao inferno. Dos 15 irmãos é a única sobrevivente e perdeu o marido que foi assassinado por um homem traído. Apesar de não saber ler nem escrever, sem nunca ter lido um livro de poemas, Felicidade é poeta, de uma sabedoria aforística, como o próprio poeta Carpinejar a identifica. Diz ela:
“- Poema é cachorro lambendo meu joelho esfolado.
– O tanque de pedra é meu conselheiro.
– Já tive tempo de aprender tudo, desaprender tudo e agora estou aprendendo de novo.
– Perdi o jeito de rir de tanto sofrimento. Vou rir por engano.
– Quando acaba o fim, posso inventar novo fim com as paredes de sabão de vidro.
– A limpidez vem do movimento da água.
– Estou feliz para ser feliz um dia.”
Felicidade é uma escola de vida e longevidade em que a felicidade, por mais improvável que seja, é por ela dia a dia reinventada, sem perder ternura e simplicidade.