O oposto da vida, a morte, é um tema que os filósofos jamais se cansam. Cícero resumiu que filosofar é aprender a morrer. Significava que pensar frequentemente na morte faria com que não seríamos pego de surpresa por ela. Montaigne pensou exatamente o contrário. Quanto mais pensava na morte, mais se angustiava com ela e não se mostrava capaz de suportá-la, diferentemente dos camponeses de sua época, século XVI, que apesar de não terem o conhecimento dos filósofos, só pensavam na morte quando estavam morrendo e a natureza cuidava deles. Montaigne precisou passar por uma experiência de quase morte, quando sofreu um acidente e sua vida ficou pendurada “na ponta dos lábios”, como ele diz, para despreocupar-se com o morrer. A lição filosófica que não foi tirada da habitual introspecção intelectual do filósofo, mas de um acontecimento factual do homem Montaigne, foi assim resumida por ele: “Se você não souber como morrer, não se preocupe; a Natureza lhe dirá na hora o que fazer, completa e adequadamente. Ela executará perfeitamente este trabalho para você; não ocupe sua cabeça com isto.” Não se preocupar com a morte passou a ser a resposta de Montaigne à pergunta sobre como viver, pois ao morrer não encontraremos a morte pois já nos fomos antes que ela chegue. Morremos na mesma forma que adormecemos. Constatação simples, quase óbvia, porém, nem sempre compreendida e aceita. Pensando assim, não só a fé consola, mas a razão também. Claro que a fé não só consola, como pode propor algo maior do que uma resignação, mas contemplar o desejo de uma vida além. Mas para viver esta vida bem, Montaigne ensina a controlar as emoções e prestar atenção. Controlar as emoções é manter o prumo, sem exultar quando as coisas que vão bem nem se desesperar quando vão mal. Prestar atenção é dar foco no presente, refletir como se sente, fazer o que gosta, não ter culpas e arrependimentos. Fazer do instante presente a própria eternidade. Como diz o escritor e pensador alemão Goethe: “Toda pessoa deveria diariamente escutar um pouco de música delicada, ler um trecho de boa poesia e ver um quadro de bela feitura. Dessa maneira, as preocupações da vida cotidiana não aniquilariam a capacidade que Deus pôs na alma humana de perceber a beleza.”