Bendita sexta-feira

É incrível como há um dia na semana em que o humor das pessoas muda substancialmente. Em alguns viventes a mudança chega ser da água pro vinho. No trabalho podemos pedir o que quer que seja àquele colega mais resistente e mau humorado que sua receptividade será bem diferente e, provavelmente, responderá positivamente ao que a ele foi solicitado. Este dia é sexta-feira e todos sabem os motivos da veneração. Sexta-feira é véspera do final de semana o que significa trocar o compromisso do trabalho pelo compromisso com o lazer e convivência da família. O compromisso não é o problema, o problema é o seu objeto. Nos dias da semana (segunda à sexta) o compromisso, em larga medida, é com os deveres do trabalho e nos dois dias do fim de semana (sábado e domingo) o compromisso é satisfazer nossos desejos. O dever está para a dor, assim como o desejo está para o prazer, e é natural (ou cultural) dos seres humanos privilegiarem o prazer em detrimento da dor. O que poderíamos fazer, então, para mais dias da semana se parecerem com a sexta-feira, afinal, dois dias de sonhos para cinco de pesadelos não seria injusto? Não só é injusto como é uma violência para com a nossa natureza humana, já que somos seres que tendemos mais ao prazer do que a dor, apesar que nem toda o dever é doloroso. A receita é simples de ser dada, mas nem tão simples de ser aplicada: é fazer do trabalho um compromisso desejado. E falo do trabalho porque ele ocupa a grande carga horária dos nossos dias úteis. É engraçado, dia em que a maioria trabalha é chamado de útil, o que faz pensar que é o trabalho que determina se os dias são ou não úteis e até se levamos uma vida útil ou inútil. Quem trabalha é útil quem não trabalha é inútil. Sem entrar no mérito da utilidade, o que importa é desfazer um pouco esta grande disparidade entre o final de semana e os dias ditos úteis. Que a vibração de sexta seja um sinal de que faltando prazer no trabalho.
Marcos Kayser
Filósofo

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