Rouba mas fez

Não causa mais surpresa denúncias de envolvimento de gestor público com corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Também não causa muita surpresa os acusados não serem presos, ou porque acabam sendo absolvidos numa dentre as dezenas de instâncias existentes, ou porque são primários, ou porque encontram uma justificativa que foge do conhecimento de nós leigos e, portanto, pela nossa ignorância acaba sendo irrefutável. Agora, o que ainda me causa surpresa e indignação é o surgimento de um novo princípio que absolve o crime com comentem estes gestores que se apropriam ilegalmente do direito público. O princípio é: se roubou é porque fez. Pasmem, isso foi dito por uma cidadã de Parobé em meio não a simples rumores, mas uma ação de busca e apreensão que se deu na manhã desta segunda-feira, dia 3 de setembro, por iniciativa do Ministério Público e ordem do Tribunal de Justiça do estado do Rio Grande do Sul. Fiquei pasmo, porque dito isso se pode concluir, sem margem de erro, que a roubalheira já virou banalidade. O “rouba mais faz” ficou conhecido entre os paulistanos e bahianos quando defendiam as administrações de Maluf e ACM. Para a cidadã, e outras e outros, roubar está além do bem e do mal. Virou regra, princípio. O fato de roubar é indiferente. O que faz a diferença é se além de roubar fez alguma obra, algo de bom para a população. Isso é o cúmulo da resignação, da inversão de valores. É sinal de uma nova barbárie. Quem pensa assim não só autoriza o roubo dos que governam, como também está se autorizando a roubar, até porque, em primeira instância, aquele que governa representa a vontade popular. Tomara que os poderes da justiça se façam valer e rompam com o que não é mais uma tendência, mas uma realidade pura e crua: a banalidade do roubo na esfera pública que se instalou na sociedade brasileira e extrapolou as fronteiras de São Paulo e da Bahia.

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