Vivemos num país exemplar em edição de leis. Tem lei para tudo. O problema que temos é não cumprir a lei. Também não cumpre quem tem o dever de fazê-la cumprir e viva a impunidade! Uma lei que considero o atestado da impunidade é esta lei que proíbe as escolas de expulsarem alunos que não se enquadrem aos seus princípios. Fica proibido proibir. Se bastasse a lei, deveríamos ter lei que obrigasse os pais a participarem ativamente da educação escolar dos seus filhos, como também lei que obrigasse os professores a ensinarem bem e criarem vínculos com seus alunos. Dizem os especialistas em educação que o vínculo afetivo é um ponto fundamental da relação professor aluno. Neste final de semana fui ao velório da dna. Zenia Jung, que foi minha professora como de tantos. Lá tive a alegria de rever alguns professores, dentre eles o professor Roberto Dienstmann que me deu um caloroso e saudoso abraço. As palavras do professor Roberto eram de carinho, não só comigo, mas também com outros alunos que relembramos juntos. Saí de lá com uma tendência a pensar que os professores de antigamente tinham um vínculo afetivo maior com seus alunos. Isso significa que eram mais tocados emocionalmente por seus alunos e que em tempos passados a troca de carinho entre aluno e professor era bem mais intensa. Curioso que os professores da antiga eram mais rígidos e até punitivos. Não sou do tempo da palmatória e não compartilho destes métodos de repressão, mas há alguns tipos de punição que, dependendo do contexto, manifestam afeto. Depois da palmada da mãe vinha o colo e o abraço e o carinho fazia valer a lei. Por falar em palmada, é mais uma lei. Vejo que a perda da intensidade do afeto, pelo menos numa comparação com 40 anos atrás, não se restringe apenas ao espaço escolar, é um aspecto do nosso atual modelo de sociedade, onde cada indivíduo é mais individual, o que alguns teóricos chamam de individualismo possessivo. As opções de consumo são muito maiores, dividindo mais a nossa atenção e o nosso tempo, o que faz com que tenhamos menos tempo disponível para dedicar aos outros. Outro fator é a tecnologia que nos traz ganhos de autonomia, permitindo cumprir certas tarefas sem depender dos outros. Então, se assim for, professores e alunos não estão absolvidos, mas também não estão sozinhos na sociedade da falta do carinho. Obrigado professor Roberto pelo papo e pelo abraço! Marcos Kayser