O vizinho sumiu

Maria Helena Holmer Hack, minha amiga do Facebook, escreveu um texto intitulado “As cadeiras na calçada”, que me fez relembrar com saudade do tempo em que a vizinhança se reunia a noite sentada nas calçadas. Era comum o vô, a vó e a mãe colocarem o banco na calçada em frente de casa para conversarem e verem as crianças correrem e brincarem rua fora. Lembro como se fosse hoje, o banco era branco, vazado, e cada um pegava numa ponta e levava para a rua. Chegavam a colocar na sarjeta para não prejudicar a passagem de pedestres que desciam do hospital.  Instalado o banco, vinham os vizinhos, s. Ivo Vilas Boas, dna. Norma, a amiga Bela e a criançada, Geraldo, Mateus, Tavinho, Ivanor,… Enquanto os adultos tagarelavam tranquilamente sem o mínimo receio de assaltos ou alguma situação arriscada, a gurizada não parava, brincando de “caçador”, “pega-pega”, “esconde-esconde”. Apesar dos mosquitos, valia a pena! Era bom demais aquela quase cerimônia. Hoje, isso não acontece mais, nem mesmo em cidades do interior como acontecia a mais de 40 anos. O medo de ser assaltado ou ser incomodado é grande. Tem também a grande quantidade de carros que tiram o sossego, além de colocarem em risco quem estiver sentado num banco colocado na beira da calçada. Para mim que convivi com este saudoso tempo, além da falta de segurança, o motivo desta pratica desaparecer está também no jeito de ser da sociedade contemporânea e dos que hoje são pais. Naquele tempo havia tempo para jogar conversa fora. Hoje o tempo é mais escasso e parece que jogar conversa fora é um desperdício, porque não tem valor capital, e na nova sociedade é preciso estar sempre fazendo alguma coisa. Não se pode fazer nada.  O valor das amizades parece não ser mais o mesmo e mantê-las não implica em reservar mais tempo para elas. O sentimento de vizinhança também se perdeu. Parece que não temos mais a confiança que tínhamos no outro, muito menos a intimidade. A qualquer momento um pode aprontar. Éramos mais próximos e contávamos mais com o outro. Hoje, em nome da autonomia, o vizinho não existe mais.

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