Pensar o futuro tem certa semelhança com pensar a morte. O futuro é o fim, mas ele também pode ser o (re)começo. Numa pandemia pode representar o início da vacinação contra o vírus e o início do fim de uma tragédia. Representar o lançamento de um produto; a criação de uma empresa; a escolha de uma profissão ou a troca dela; o despertar de um enamoramento; a cura de uma doença; a concretização de muitos projetos: viajar, construir a casa ou reformá-la, casar, ter ou adotar filhos, ir morar sozinho, aprender a tocar um instrumento, falar outra língua, adquirir um bem, … O futuro é o lugar onde a maioria dos sonhos se realizam, no tempo que sucede ao presente. Maioria porque os grandes sonhos (e nós humanos costumamos sonhar grande) não se concretizam no presente. O futuro é onde repousa a esperança e o medo. Sem futuro não há o que temer, nem esperar. Por mais paradoxal que pareça, num viés filosófico, o futuro não existe e o passado também não. Quando o passado foi vivido ele era presente, hoje é uma recordação. Quando o futuro chegar, será presente e não mais futuro, hoje é uma projeção. “A natureza, onde o tempo é o agora, não consegue diferenciar de maneira duradoura essas dimensões do passado e do futuro: elas só são necessárias para a representação subjetiva, a lembrança, o medo ou a esperança”, cita Hegel. Ou seja, só existe o presente, um instante que não cessa. Nem um dia, nem uma hora, nem um minuto, nem um segundo, não há medida cronológica que dê conta do eterno momento. O futuro está para o presente, assim como a morte está para a vida. Não há vida sem morte. Não há presente sem futuro. Pensar a morte ajuda a pensar a vida. Pensar o futuro ajuda a pensar o presente. Estamos vivendo a vida completa e profundamente? No podcast “Que futuro é esse?” a galera do Caoscast fala sobre quem da geração millenium e Z pensa no futurinho, curto prazo, e quem pensa no futurão, longo prazo. Complicado pensar neste último. A tecnologia está provocando mudanças radicais na forma de viver, num ritmo frenético. Praticamente não conseguimos imaginar o que irá acontecer daqui dois anos. Engenharia genética, robotização, inteligência artificial, internet das coisas, … Então, como saber o que nos aguarda a dez, vinte, trinta anos? Pode ser inimaginável, mas não nos impede de pensá-lo, afinal, somos de uma razão, de um logos (para lembrar os gregos). Não se trata de prever, conforme os astros, o que irá acontecer, mas tentar se colocar no futuro, a partir do que eu estou fazendo hoje para mim, para a sociedade e para o planeta. É um ato de coragem e responsabilidade, que nos falta, mas é urgente incorporar, independentemente da geração da qual pertenço. Na prática, o senso comum indica que o futuro já começou e se constitui de acordo com nossas atitudes e decisões. Este futuro, do qual estou falando, a Deus não pertence (é só um trocadilho). Está em contínua construção (ou destruição), apesar de estarmos mal acostumados em comprar o que está pronto. Se a pandemia é um grande problema, a pós-pandemia também será. Ao mesmo tempo, estamos aprendendo muitas coisas. A interdependência é inexorável. A graça e a desgraça não têm gênero, nem raça. Não teremos um novo normal. Normalidade talvez vire uma palavra aposentada. Teremos uma nova realidade, que irá escancarar ainda mais a desigualdade e a precariedade, especialmente em países como o Brasil, onde os governantes são deploráveis e injustos para com a população, principalmente os populistas. O que mais precisa eles menos fazem: uma boa gestão com visão de longo prazo. Para eles há um só longo prazo: a reeleição. Precisamos agir para cooperar mais e competir menos. Nem que seja para preservar o nosso egoísmo originário. Menos egoísmo, mais generosidade. Quem sabe percebo que a felicidade que eu tanto quero para mim e para os meus depende muito da felicidade do outro? Ninguém é feliz sozinho muitos já disseram. O presente de amanhã dá medo, até aos mais experientes. Medo que novos vírus surjam. Medo de que não haverá trabalho, inclusive para os formados. Medo que não haverá aposentadoria. Medo que não haverá para muita gente um outro dia. Porém, ainda há tempo. Carpe diem não é só aproveitar o dia no sentido de curtir os tantos prazeres que a vida moderna oferece, mas também aproveitar o dia para pensar reflexivamente, buscando as causas, os porquês, e as consequências do que eu faço e deixo de fazer. Questionar, criticar-se e criar o futuro que eu penso ser bom para mim e para os outros, em especial para os sem futuro, que estão fora do jogo. Futuro que só ganha existência se pensado e planejado atualmente, no presente. Talvez eu não sei onde posso chegar daqui a algum tempo, mas eu posso saber onde eu quero chegar. Quem sou eu diante do que o outro precisa que eu seja? O vir a ser não para. O presente é um presente que a gente tem sempre, já o futuro…