A escola e a escolha – Parte II

Hoje a grande maioria das escolas, na prática do dia a dia, ou seja, na sala de aula, onde se encontram professor, aluno, conteúdo e método, não consegue dar o salto necessário da transmissão e reprodução para a motivação e criação. Por mais que o discurso e a proposta pedagógica tentam dizer o contrário, dando ênfase à produção do conhecimento, o ensino está concentrado na transmissão de informações. Resultado: o aluno que só acumula acaba atrofiando o potencial de reflexão e criação que diferenciam a sua condição humana.  Uns dirão: mas em tudo que se faz se pensa. Enganam-se!  Rotinas automáticas, como a decoreba no habitat da escola, não exercitam o pensamento reflexivo que está muitíssimo distante de um ato de lembrar ou fazer uma simplória conexão lógica. Pensar reflexivamente é, em outras palavras, pensar sobre o próprio pensamento, ou seja, pensar sobre o sentido do que se está pensando. Por mais difícil e doloroso que seja, porque demanda perdas, é preciso urgentemente que se faça a escolha: ou a escola prossegue despejando informações e cumprindo com o currículo vigente, que a cada dia se avoluma, ou refaz seus propósitos, orientando o currículo e os professores para de fato potencializarem competências, dentre elas a criticidade, a criatividade e a comunicação. É uma escolha que envolve conteúdo e forma, formação do professor, disposição do aluno e avaliação. É uma escolha que privilegia profundidade e qualidade do conhecimento em detrimento da quantidade de informações acumuladas num dado momento.  Hoje a escola, da forma como opera, só consegue avaliar quantidade acumulada de informação, e mais preocupante ainda, boa parte delas inúteis. Um boa dica para se medir a excelência do aprendizado é fazer a seguinte pergunta: o que se está ensinando jamais deve ser esquecido? Se a resposta for positiva o ensinamento está validade, é útil não no sentido de utilitário efêmero, mas de utilidade perene para a vida. O conhecimento evolui assim para sabedoria. Apesar de muito se falar sobre construtivismo, sobre desenvolver as competências, respeitar as “múltiplas inteligências”, não se consegue transcender, não se chega a uma prática de ensino que provoque o aluno, tornando-o mais crítico e criativo. Como é possível ser criativo e crítico se grande parte da avaliação continua medindo apenas memorização? As respostas solicitadas continuam sendo literalmente encontradas no corpo do texto que se decorou, após tê-lo copiado do quadro ou de algum outro lugar.  Claro que a escolha depende de pressupostos indispensáveis que atualmente são precários e faltam aos borbotões. Um deles, fundamental, é a falta de formação do professor, cuja causa reside também na falta de melhores perspectivas de remuneração. Dá para conceber que enquanto se prioriza a qualidade o professor não consegue ler um livro se quer por mês. Em termos de país não lê nem um livro por ano. E quando falamos de livro, não podemos deixar de lado os clássicos. Pergunte a um professor conhecido com que freqüência ele lê Dostoyewski, Kafka, Proust, Tolstoy, e por aí afora, incluindo também os clássicos nacionais?

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