Na cobertura da escolha dos grupos da Copa do Mundo de 2010, diretamente da cidade do Cabo, na África do Sul, a curiosidade era saber quais seriam as seleções que fariam parte do grupo do Brasil. Mesmo com o sentimento otimista, construído a partir da boa performance dos comandados de Dunga, durante as eliminatórias, sempre há uma certa dose de ansiedade por saber quais adversários estarão no caminho da seleção canarinho e até que ponto poderão representar algum tipo de ameaça à classificação já na primeira fase. Mas, apesar do centro da atenção estar na formação dos grupos, particularmente, o que chamou a atenção foi não ter ouvido o nome de Pelé dentre as celebridades protagonistas do sorteio, por ser figura indispensável nos grandes eventos do futebol internacional. Não demorou muito para saber que a ausência de Pelé se dava a uma concorrência entre o patrocinador da FIFA, entidade promotora da Copa do Mundo, e o patrocinador do rei do futebol. Nos jornais e na Internet informações sobre o fato, considerado por mim inusitado pela ausência de Pelé no evento, não suscitou maior destaque. Surpreendeu-me a falta de mais detalhes sobre o assunto, nenhum comentário que pudesse trazer algum questionamento ou elevar o pensamento sobre o que faz com que um homem condicione suas paixões ao poder econômico. Talvez por causa da vertente filosófica, pensei em encontrar algo escrito que fosse além do fato em si, induzindo a refletir o peso do interesse econômico, capaz de determinar a conduta de um rei, aparentemente com a vida resolvida, sob o aspecto financeiro e de poder. Apressadamente ou ingenuamente, sei lá, constatei: “até rei tem preço”. Isso significa que Pelé é mercadoria e, como tal, pode ser comprada, tem preço e tem quem compra. Comprador que adquire o direito inclusive de tolher o rei de contemplar aquilo que, bem provável, seja sua maior paixão: as coisas do futebol. Indo um pouco além da primeira questão, por que Pelé não estava presente, podemos pensar: por que um homem já afortunado se submete a conter seus desejos e paixões por uma única e exclusiva motivação: mais dinheiro? Hobbes, filósofo do século XVI, continua vivo. Ele cita que todo o homem busca felicidade e a felicidade é um movimento contínuo do desejo de um objeto ao outro sem cessar. E desejo para Hobbes é desejo de poder. E poder para nossa sociedade contemporânea é dinheiro. Até Pelé, com toda a fortuna que tem, rende-se ao dinheiro e o movimento em busca dele, é incessante, sempre mais e mais, sem cessar, pelo menos até a morte. Não se conforma quem não tem, não se contenta que tem. Então me atrevo a desconfiar que “o trono da majestade não é do rei, é de outra majestade: o mercado”. Se havia outro motivo para Pelé não estar presente, desconsidere o que escrevi sobre o rei, mas não sobre o dinheiro.