Todos os posts de Marcos Kayser

Marcos Kayser é um dos criadores do Scopi, plataforma que ajuda empresas criarem seus planos estratégicos. É bacharel, licenciado e mestre em Filosofia. Escreveu os livros "O Paradoxo do Desejo", onde busca investigar a mecânica do desejo nas relações de poder, "Quando Tamanho não é documento", onde conta a história da gestão da TCA, empresa vencedora do Prêmio Nacional de Inovação em 2013, da qual foi um dos fundadores, e "Um lugar de primeiro mundo", história de um planejamento estratégico regional.

A dupla face do fracasso

É duro enfrentar o fracasso. É doloroso, causa frustração e muitas vezes gera conseqüências desagradáveis. Mas o fracasso tem o seu avesso com seus ensinamentos. Com uma boa dose de sensatez e inteligência podemos aprender muito mais com o fracasso do que com o sucesso e numa próxima oportunidade estaremos mais fortes para obter sucesso. Se o Inter tivesse aprendido com o fracasso na Copa Mundial de Clubes, quando perdeu para o Mazembe, talvez não tivesse sido eliminado precocemente na última Copa Libertadores da América, cujo título de tri campeão era a grande prioridade. Deixou de substituir algumas peças principalmente na zaga e no meio. Diante do Mazembe, ficou evidente a fragilidade do goleiro que tomou dois gols defensáveis para um grande goleiro e a lentidão de uma zaga que marca à distância como já havia ocorrido com o jogador Bolívar na final da Libertadores contra o Chivas. O Renan já havia sinalizado sua fragilidade na mesma Libertadores, diante do São Paulo e do próprio Chivas, mas, por sorte, acabou não comprometendo o resultado. No enfrentamento contra o Mazembe faltou eficiência e “poder de fogo” ao ataque, muito mais pela falta de aproximação dos jogadores de meio campo. Veio a Libertadores e o Inter continuou ignorando o aprendizado. Perdeu num “apagão” da sua defesa, como justificou o seu treinador. O lateral Nei falhou e a zaga não conseguiu acompanhar o ataque do Penharol que não tinha nada de espetacular, como o próprio Inter, como a diferença de que soube ser eficiente. E o ataque, apesar da qualidade do Damião, não conseguiu ter consistência, até porque faltou a colaboração do meio que continuou distante e lento. Fracassou de novo o Inter sem a sabedoria suficiente para aprender com os próprios erros. Veio o campeonato gaúcho e o título ajudou a disfarçar as fragilidades. Isso que ganhamos a “duras penas” de um Grêmio com iguais ou maiores limitações do que o Colorado. E chegamos no atual momento do Inter no Campeonato Brasileiro, onde o time não se impõe, nem mais dentro de casa. Perdeu para o Ceará e disseram que foi um acidente, ganharam de goleada de times de média e baixa qualidade e disseram que o time havia encaixado e agora perderam três consecutivas, sendo a última uma goleada sem poder de reação, nem mesmo movido a raça. Continua a mesma zaga (Bolivar, Nei & Cia), o mesmo meio campo que não chega (Guinazu, Bolatti) e não dá um chute a gol que presta, com exceção do Oscar, quando joga. Talvez muitos jogadores do Inter perderam o tesão necessário, pois já ganharam tudo, se falta jogadores talentosos e dinheiro para adquiri-los quem sabe se investe em jogadores que tenham disposição e garra. Não precisamos ir muito longe, temos o exemplo dos vizinhos uruguaios. Será que a garra do Dunga no lugar do estilo clássico do Falcão não traria melhores resultados? Pobre Damião, pobre torcedor colorado. Tomara que o fracasso ensine melhor os dirigentes colorados. E o futebol continue servindo de escola pra vida.

Marcos Kayser

Será que queremos viver tanto?

Se as previsões do cientista Aubrey de Grey estiverem certas, a primeira pessoa a comemorar seu aniversário de 150 anos já nasceu. E a primeira pessoa a viver até os mil anos pode demorar menos de 20 anos para nascer. Biomédico gerontologista e cientista-chefe de uma fundação dedicada a pesquisas da longevidade, De Grey calcula que, ainda durante a sua vida, os médicos poderão ter à mão todas as ferramentas necessárias para “curar” o envelhecimento — extirpando as doenças decorrentes da idade e prolongando a vida indefinidamente. De Grey prevê uma época em que as pessoas irão ao médico para uma “manutenção” regular, o que incluiria terapias genéticas, terapias com células-tronco, estimulação imunológica e várias outras técnicas avançadas. Ele descreve o envelhecimento como o acúmulo de vários danos moleculares e celulares no organismo. “A idéia é adotar o que se poderia chamar de geriatria preventiva, em que você vai regularmente reparar o dano molecular e celular antes que ele chegue ao nível de abundância que é patogênico”, explicou o cientista. Atualmente, a expectativa de vida cresce aproximadamente três meses por ano, e especialistas preveem que haverá um milhão de pessoas centenárias no mundo até 2030. Só no Japão já há mais de 44 mil centenários, e a pessoa mais longeva já registrada no mundo foi até os 122 anos. No último meio século, a expectativa de vida aumentou em cerca de 20 anos. Se considerarmos os últimos dois séculos, ela quase dobrou. Este recente histórico de avanços significativos e palpáveis da ciência dá margem para pensar que a estimativa de 150 anos de vida não seja tão absurda e um aparente sensasionalismo pode ter fundamento. Claro que a ciência deverá atuar não apenas sobre o corpo humano, mas sobre fatores externos como é o caso do controle de novas epidemias, da poluição e também de uma eventual falta de alimentos, já que o contingente populacional deve crescer exponencialmente. Mas pra tudo isso acontecer de forma ordenada, o ser humano deverá estar disposto a cumprir novas regras de conduta e convivência, e, principalmente, as políticas públicas precisarão acompanhar os novos padrões de exigência. É até difícil pensar. Imaginem o volume de lixo. E o congestionamento do trânsito? De nada adiantaria ter uma expectativa de vida de 150 anos, se a sociedade mantivesse o jeito de viver dos dias atuais. Mas será que queremos viver tanto? É quase uma imortalidade. Enquanto esta previsão não se confirma, talvez o melhor caminho é viver o momento com a intensidade suficiente para imortalizar o presente.

Marcos Kayser

Saúde: o que está ruim pode piorar.

No último dia 21 aconteceu o Fórum da Saúde promovido pela Agenda Paranhana 2020. Os fóruns tem como objetivo principal analisar a situação dos vários temas estratégicos da Agenda, com base em indicadores, para então discutir os projetos e as ações que visam melhorar tal situação. No caso da saúde, chama a atenção dois pontos que podem passar desapercebidos. O primeiro é que não há a integração necessária entre os agentes da saúde. Os três hospitais, representados no Fórum, quando perguntados se alguma vez haviam se reunido para discutir problemas e soluções comuns, calaram-se reconhecendo que os encontros não são uma prática normal. Nos últimos tempos, é bem provável que isso não ocorreu. Esta falta de integração, que perpassa a sociedade como um todo, acaba enfraquecendo ainda mais o poder já limitado de cada instituição. Ao mesmo tempo, impressiona o fato de todos apontarem a integração como essencial para a conquista do que se espera. Agora por que fora do discurso isso não acontece? Esta é uma pergunta que exigiria um verdadeiro congresso filosófico e psicanalítico, mas enquanto não ocorre, vale a iniciativas da CICS-VP que em muitos momentos vem conseguindo reunir partes interessadas responsáveis pela gestão e eventuais mudanças. O segundo ponto que chama a atenção é a convicção dos especialistas que estavam presentes no Fórum de que a situação da saúde em termos de estrutura de atendimento hospitalar irá piorar. Na medida em que o hospital regional dispor de mais condições de atendimento, dentre os quais a UTI, a demanda que está reprimida fará com que o hospital chegue imediatamente a um esgotamento, visto que por lei tem a obrigação de receber pessoas de todo o estado. Não será surpresa se os corredores do hospital alojarem pacientes. Engana-se quem pensa que a abertura da UTI resolve os grandes problemas da saúde pública. A regulamentação da Emenda Constitucional 29 é uma necessidade urgente para começar a tirar os hospitais da UTI. Um investimento em mais leitos especialmente em Taquara e Parobé também se faz necessário, além, de políticas que evitem que as pessoas procurem os hospitais quando não é o destino indicado, prejudicando aqueles cujos casos são de complexidade são maior. Tomara que o Fórum tenha os desdobramentos que se espera, pelo menos dentro do limites da esfera municipal. Que os hospitais adotem um modelo de gestão, quem sabe com base no PGQP. Que as secretarias municipais também, seguindo o exemplo da secretaria de saúde de Três Coroas. E que os hospitais consigam definir estratégias de atuação subsidiados pelos agentes públicos e o Paranhana sirva de exemplo positivo para todo o Estado, começando pela redução drástica dos translados de pacientes para Porto Alegre.

Marcos Kayser

As sutilezas de uma lista de desejos

A lista de Alice Pyne, uma adolescente britânica de 15 anos em estado terminal de câncer, agitou a Internet no mundo. Seu blog, no qual relata relaciona uma lista de 17 desejos que pretende realizar antes de morrer, atraiu mais de 230 mil visitantes em poucos dias. Alice lançou seu blog após seus médicos terem considerado que não há mais tratamentos possíveis para o linfoma descoberto há quatro anos. A garota chama a atenção pelo seu alto grau de maturidade, autenticidade e coragem. Virtudes que muitos de nós adultos vivem e morrem sem tê-las. Ela reconhece que família e amigos são preciosidades e diz que pretende reservar o tempo precioso que lhe resta a eles, fazendo as coisas que mais deseja. Alice é sutil, quando afirma: “você só tem uma vida (…) viva a vida”. Muitos passam a vida projetando viverem só depois de morrerem. E a sutileza não pára. “Ter um iPad roxo”, ou seja, a felicidade não está na tecnologia em si, mas na cor, o que remete a uma grande sensibilidade. Entre outros desejos estão nadar com tubarões, encontrar a banda Take That, visitar uma fábrica de chocolates, fazer uma sessão de fotos com 4 amigas, fazer uma massagem nas costas. Uma mistura de provável e improvável, de atingível e inatingível, de racional e irracionalidade. E Alice é humilde e generosa, por isso, talvez, esteja conseguindo ainda dar sentido a vida, mesmo com o decreto do fim marcado. “Nossa, eu pensei que estava só fazendo um pequeno blog para alguns amigos! Muito obrigado por todas suas adoráveis mensagens para mim”, diz ela. Alice também é solidária e incluiu em sua lista “fazer todo mundo se inscrever para se tornar doador de medula”. Nada de estupendo e fenomenal para mostrar que a felicidade não é diretamente proporcional a complexidade. Rancor e ressentimento não estão na lista de Alice. Assim, fica fácil decifrar os motivos pelos quais Alice se mantém vivendo com intensidade, mesmo estando com os dias contados e em estado debilitado. Ela mesmo reconhece a impossibilidade de realizar alguns desejos da lista, “algumas coisas não vão acontecer, porque eu não posso nem mesmo viajar mais”, diz ela, mesmo assim, não os exclui da lista. Um tanto curioso, afinal, por que enumerar alguns desejos mesmo sabendo da impossibilidade de realizá-los? Não será porque a felicidade começa no sonho? E você, tem uma lista?

Marcos Kayser

A incubadora do mestre

Falar de incubadora no Paranhana já tem idade. Lá se vão mais de 18 anos e o jornal Panorama é testemunha desta teimosia. Teimosia porque não há acolhimento da idéia e somente sendo muito teimoso para continuar insistindo. A incubadora se justificaría principalmente para ajudar na diversificação económica e maior desenvolvimento a região como ocorre em outras regiões do Brasil e do mundo. Nesses anos que se passaram alguns aspectos da idéia inicial mudaram, mas continuo acreditando que a incubadora deveria nascer onde residam pesquisadores e mestres. Mestre no sentido daquele professor que tem método, conhecimento e vontade em ajudar alunos a transformar idéias em projetos e projetos em produtos que possam ser colocados no mercado. Mestre também na identificação de jovens talentosos com veía empreendedora. Esta percepção, ou sensibilidade refinada, é uma característica inerente ao bom professor, por isso, as incubadoreas, em sua grande maioria, nascem em ambientes académicos, universidades, faculdades e em escolas técnicas. E o nascimento de uma incubadora, necessariamente, não exige altos investimentos financeiros, nem a construção de prédios e outros empreendimentos que envolvem custos maiores. Se pensarmos numa incubadora, tendo como área de atuação principal a tecnología da informação, o incubado pode trabalhar em casa e receber suporte à distância. E certamente que há outras áreas com um perfil semelhante. Prevendo uma incubadora com uma perspectiva estratégica, pensada e planejada a longo prazo e de forma sistêmica, haveria uma integração natural entre escola, universidade e empresa, que hoje não existe, infelizmente. O estudante que despontasse com ótimas notas e perfil emprendedor, já no ensino fundamental, poderia ser acompanhado e preparado desde o início da sua trajetória escolar para assumir o desafio de ser um incubado. Continuo invejando o Vale dos Sinos e suas incubadoras, da Unisinos e da Feevale. Agora, Estância Velha vai ter um parque tecnológico em parceria com a Valetec. O Paranhana está atrasado, mas, com vontade e criatividade, talvez pudesse inventar um formato capaz de gerar bons resultados. O fator crítico de sucesso está com quem coordena e com os profesores orientadores. Numa perspectiva similar, temos um belo exemplo na região: o professor Bauer do Cimol, um verdadeiro mestre, cujo conhecimento e disciplina influencia muitos. A TCA agradece!
Marcos Kayser

Era uma vez, “gente atrás da máquina”

Dias após apontarmos para o perigo da falta de diversificação econômica no Paranhana, cuja economia está concentrada no calçado, vem a Vulcabras/Azaléia comunicar o fechamento da sua unidade fabril em Parobé. Por conseqüência, muitas pessoas desempregadas, que segundo informam serão absorvidas por outras empresas. Certeza que nem todos tem, principalmente entre os empresários do setor. E justamente Parobé, que é o único município do Paranhana que não deu importância a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, não aprovando este projeto que está na Agenda Paranhana 2020. Será que Parobé tem planejamento estratégico? Qual será o seu modelo de gestão? Mas além do impacto econômico, o fechamento da Azaléia traz consigo uma questão sentimental. Chega ao fim uma história. História que tinha em aspectos constitutivos muita inovação e servia de referência. “Tem gente atrás da máquina”, era uma frase famosa do Presidente da Azaléia, Nestor Herculano de Paula. Metáfora que simbolizava a importância que ele dava aos seus funcionários e os mesmos reconheciam nele um líder revolucionário para o seu tempo. Antes de falarmos de responsabilidade social, a Azaléia já realizava muitos projetos nesta área. A creche e a educação formal para os funcionários eram exemplo disso. Participação nos lucros foi outra iniciativa inovadora da Azaléia sob a liderança do seu Nestor como era respeitosamente chamado. Este perfil da empresa já havia se perdido há algum tempo, desde a sua morte e depois venda para o grupo Vulcabras. Culpa da nova empresa, culpa do mercado, culpa do governo? São questões que exigiriam um amplo espaço para debates, talvez bastante oportuno já que o Paranhana depende em muito do calçado e assim como a fábrica da Azaléia, que de grande ícone virou cinzas, outras poderão sucumbir em meio a novas realidades. Os governos que tem a responsabilidade de defenderem os interesses de suas comunidades precisam agir de uma vez por todas para juntos aos empresários e aos trabalhadores planejarem um novo cenário e não ficarem a mercê exclusivamente dos movimentos do mercado. Planejar estrategicamente é pensar conjuntamente no futuro e começar a agir no presente para ter sucesso nesta construção.

Marcos Kayser

Quantidade x Qualidade

Haverá relação entre qualidade e quantidade. No senso comum parece prevalecer a qualidade sobre a quantidade e muitas vezes ainda achamos que qualidade independe da quantidade. Mas vejamos que pode haver certa relatividade. Um jogador de futebol, por exemplo, vai melhorar cobranças de falta e chute a gol, quanto mais treinar e chutar. Neste caso, temos a quantidade uma aliada da qualidade. Num outro exemplo temos um jogador de futebol cometendo inúmeras faltas. Quanto mais faltas fizer, menos qualidade terá a partida e maior será a chance de ser expulso e colocar o seu time em dificuldades. Neste caso a quantidade é inimiga da qualidade. Dizer que qualidade independe de quantidade é arriscado, pois depende do caso. Um professor que lê muitos livros, especialmente os clássicos, e cobra de seus alunos o mesmo, é bem provável que terá um excelente repertório de vocabulários e uma visão de si e do mundo muito mais ampliada. Um pai e uma mãe que dedicam mais tempo de convivência com seus filhos terão maiores possibilidades de dar afeto e acolher seus medos e angústias. Claro que meia hora de diálogo entre pais e filhos é mais produtivo do que três horas de reunião na frente da televisão, vendo a novela todos calados. Por isso , cuidado, nem sempre a quantidade deve ser desprezada, pois nem sempre ela é a malvada. Aristóteles já dizia que a excelência se conquista com o hábito, com a repetição. Repetir, repetir, repetir, isso é quantidade que pode trazer qualidade. Se a repetição não for errada, é claro.

Um pouco da repercussão do Debates pelo Rio Grande

O Debates pelo Rio Grande, programa da RBS, realizado na semana passada, em Taquara, teve uma boa repercussão no Estado, principalmente depois de ter sido exibido no último domingo pela TVCOM. A região foi destacada por já possuir um planejamento estratégico regional estruturado, como é o caso da Agenda Paranhana 2020 e ter mais de 40 projetos elencados. Outra boa impressão deixada foi o Portal da Transparência do Paranhana, que abre para toda a sociedade o retrato em números de como anda as cidades da região em seus mais diversos setores: economia, segurança, saúde, educação, meio ambiente. A disponibilidade da classe empresarial, representada pelos empresários voluntários e pela CICS que coordena a Agenda também mereceu elogios. Fazendo uma auto-critica da minha participação como um dos debatedores, procurei reproduzir a preocupação da classe empreendedora, responsável pela geração de emprego, renda e impostos, mostrando alguns dados do quadro econômico da região, caracterizado pela pouca diversidade e um dos piores IDESEs do Estado. Também expressei o nosso desejo de ver as cidades mais integradas e alinhadas num planejamento estratégico regional como a Agenda Paranhana 2020. Os empresários, em sua grande maioria de pequeno porte, estão focados em seus negócios, nas dificuldades do dia a dia, mas, se fossem devidamente convidados para discutirem projetos estratégicos para suas cidades, dificilmente se omitiriam. E se queremos ser uma região de primeiro mundo (acho que ninguém é contrário), não basta fazer coisas boas, é preciso fazer com excelência. Que há algum descompasso, no sentido da integração, é notório e reconhecido por todos há tempos, todavia, tenho esperança que os prefeitos consigam superar os entraves para colocar em prática os projetos que a sociedade civil, parte interessada, almeja e necessita.

Uma definição para a vida

O pensar filosófico nos leva muitas vezes a buscar redefinir alguns conceitos. Deleuze em seu livro “O que é filosofia?” diz que filosofar é a arte de criar conceitos. Meu alcance filosófico não chega ao mérito de criar conceitos, mas me permito conjugar algumas palavras até compor uma definição que para mim tem significado, por uma certa coerência e, principalmente, pela autenticidade. Compor definições próprias, dá uma sensação de entendimento e domínio sobre o objeto que se consegue definir. Talvez o maior dos conceitos seja a vida (ou a existência) e pelas andanças do pensamento cheguei a uma definição facilmente compreensível e aceita, inclusive por aqueles com aversão a teoria. Ficou assim: a vida é uma multiplicidade de coisas (corpos) em contínuo movimento e mútuo relacionamento. Esta definição da vida pressupõe escolhas, diante da multiplicidade que se apresenta. Se temos que escolher, deixamos muitas coisas sem dar conta, já que não é possível abarcar a totalidade das oportunidades, por falta até de conhecimento e também potencialidade. Lembremo-nos, somos seres limitados, mesmo que elevados a condição de mais evoluídos da espécie. Continuando, as coisas estão em contínuo movimento, o que é o mesmo que dizer que tudo morre, pelo menos daquela forma, ou se extingui ou se transforma. Isso não soa muito bem para quem credita toda a aposta na perenidade, como também para aqueles que estão plenamente satisfeitos com a vida que levam. O estado de plenitude não tem duração garantida, pois a efemeridade reina. Nada resiste ao fluxo natural da vida. Heráclito, o filósofo grego, parece ter razão. Uma pessoa não se banha duas vezes no mesmo rio, pois a água não é a mesma, assim como a pessoa que a cada instante muda. Concluo a definição dizendo que todas as coisas se relacionam mutuamente, que é o mesmo que dizer que tudo está interligado e uma coisa depende da outra. Mais cedo ou mais tarde seremos afetados pelas ações e decisões que tomamos a todo momento. Por isso somos responsáveis pelo que colhemos, seja o amor, seja o ódio.Se não formos afetados em tempo, indiretamente seremos, pois nossos filhos, parentes, amigos e irmãos planetários serão brindados, ou com algum bônus, ou com o onus da conta. Isso parece meio ecológico, mas está de acordo com a definição que encontrei para a vida. Definição que também é transitória, como a vida, conforme eu mesmo na definição escrevi. Por enquanto, fico satisfeito e repito: a vida é uma multiplicidade de coisas em contínuo movimento e mútuo relacionamento. E aí, qual é a sua definição para a vida?

100 gols: um aprendizado de exceção

A todo o instante o futebol ensina para a vida. Agora é Rogério Ceni que chega aos 100 gols marcados na condição de goleiro e, como se não bastasse, todos com a camisa do mesmo clube, o São Paulo. Estamos diante de um caso de exceções proporcionadas por um único jogador, homem, pai, cidadão, humano, como toda a gente. Goleiro fazendo gol já soa estranho e se constitui numa exceção. Fazer 100 é outra, maior ainda. E tem mais: Ceni defendeu até hoje um único time o que é outra exceção, afinal, nos tempos de hoje, o jogador não tem mais time do coração e o troca troca é constante, questão de euros e “janelas”. Rogério Ceni é um transgressor, no sentido positivo da palavra, é um “rompedor” de paradigmas. Ao ser exceção, confirma que toda regra tem exceção. E muito desta condição vem da virtude da perseverança. Ceni no início da carreira, quando aguardava o início oficial dos treinos, pegava a bola e repetidamente treinava cobranças de falta por conta própria. De lá pra cá, e se vão mais de 15 anos, segundo o depoimento do próprio Ceni, a receita para o feito é treino e repetição, exaustiva repetição, pois só repetindo se aprende. Mas não se trata de uma repetição burra. Ceni não só baixa a cabeça e faz o que é trivial. Ele tem foco, concentração, competência e consciência da necessidade de ir além da habilidade que Deus lhe deu. Tudo com treinamento e dedicação, paciência e continuidade no esfoço, a que podemos chamar de perseverança. Não aquela de persistir no erro, mas no caminho que conduz a glória e requer coragem, vontade, paixão e razão. Para isso soube ouvir grandes mestres professores, dentre os quais Tele Santana. Parabéns ao Rogério Ceni e obrigado por tantos bons exemplos. Particularmente, por mostrar que o futebol nos ensina muitas coisas. Uma delas que a vida não é só emoção e a razão não deve ser adversária. Pena que o brasileiro, apesar de ser um apaixonado por este esporte, ainda não gosta muito de pensá-lo. O futebol é uma escola de saberes. A questão é: estamos dispostos a aprender?

Marcos Kayser