Todos os posts de Marcos Kayser

Marcos Kayser é um dos criadores do Scopi, plataforma que ajuda empresas criarem seus planos estratégicos. É bacharel, licenciado e mestre em Filosofia. Escreveu os livros "O Paradoxo do Desejo", onde busca investigar a mecânica do desejo nas relações de poder, "Quando Tamanho não é documento", onde conta a história da gestão da TCA, empresa vencedora do Prêmio Nacional de Inovação em 2013, da qual foi um dos fundadores, e "Um lugar de primeiro mundo", história de um planejamento estratégico regional.

O planejamento como requisito chave para o público e o privado

Conforme Vicente Falconi, renomado consultor na área de desenvolvimento gerencial, “uma nova geração de políticos, ajudada por empresários brasileiros, está descobrindo o planejamento estratégico e o método gerencial como instrumento indispensável para aumentar a produtividade sem deixar de incrementar a qualidade”.   Aumentar a produtividade significa fazer mais com menos recursos e isso se aplica também aos municípios que constantemente têm seus recursos reduzidos, seja porque no Brasil o governo concentra a maior parte da arrecadação, seja porque há momentos de crise, como esta que está se avolumando. É a falta, a carência e a dificuldade que justificam ainda mais a adoção de um planejamento estratégico com visão sistêmica, que integre metas, indicadores e projetos para todas as áreas. A produtividade dos governos é muito baixa, pois a falta de um planejamento adequado gera muito desperdício. Muitas vezes são concentrados esforços homéricos em determinada ação que acaba fracassando, porque não contemplou um ou outro requisito elementar. Previsibilidade que só o planejamento estratégico permite. Exemplo: muitos prefeitos vão em busca da atração de novas empresas para as suas cidades e até estruturam distritos industriais, só que não se dão conta que nas suas cidades falta mão-de-obra especializada. O planejamento permite sistematizar ações que preencham todas as lacunas. Seguindo este exemplo, o planejamento bem feito contemplaria projetos com foco na qualificação da mão-de-obra, além de outras condições mínimas para a atração de empresas e empreendimentos. Um planejamento não se resume em definir missão, visão e valores, é muito mais do que isso. É definir projetos que visam conquistar os objetivos estratégicos estabelecidos de forma abrangente e transparente e elencar indicadores que passaram a ser analisados sistematicamente para acompanhar o sucesso dos projetos. O Brasil e o RS têm tido experiências interessantes em alguns municípios. A prefeitura de Erechim está dentre estas experiências e aqui vai meu convite aos governos municipais atuais e futuros e aos legislativos para participarem da Reunião da Qualidade, promovida pelo Comitê do PGQP do Paranhana que ocorrerá no próximo dia 8, sábado pela manhã, na Ecoland em Igrejinha.   É uma oportunidade extraordinária para saber na prática como age uma prefeitura que trabalha na forma de projetos previamente discutidos, estudados e estruturados em seu planejamento estratégico. Ao em vez de gastarmos com viagens e diárias, por apenas R$ 30,00 (direito ao almoço) poderemos ter uma aula completa aqui em casa. Também o Hospital Municipal Santa Terezinha de Erechim apresentará o seu case, mostrando que é possível ter um hospital com serviços de qualidade e auto-sustentável o que deve atrair principalmente os hospitais e pessoal da saúde de nossa região. Maiores informação podem ser obtidas na CICS-VP fone 3542-6444 e as empresas independentemente do tamanho, sejam indústria, comércio e serviços, também estão convidadas pois terão a oportunidade de ouvir cases de sucesso da iniciativa privada.

O baixo investimento em educação no Brasil

O Brasil ficou em último lugar num ranking elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico sobre investimentos por aluno em 33 países. Com um investimento de pouco mais de 1.000 euros (R$ 2.439) anuais por aluno, o Brasil ficou atrás de países como Estônia, Polônia, Eslováquia, Chile, México e Rússia, que gastam anualmente entre 2.700 e 1.400 euros (entre R$ 6.586 e R$ 3.415) com cada estudante.
Portugal investe em média cerca de 4.200 euros (R$ 10.246) por estudante, o que coloca o país na 22ª posição. Os Estados Unidos lideram o grupo com cerca de 9.000 euros (R$ 21.956), seguidos da Suíça, Noruega, Áustria, Dinamarca e Suécia, com valores que variam entre 8.500 e 6.450 euros (entre R$ 20.736 e R$ 15.735). No quesito tempo em sala de aula por cada aluno entre sete e 14 anos, o Chile, país do mesmo continente que o nosso, lidera com quase 9.000 horas (o equivalente a permanecer 366 dias ininterruptos na sala). Não é por acaso que o Chile deu a volta por cima depois da ditadura de Pinochet, e nós? Bem, da ditadura pra cá, o ensino, pelo que se tem conhecimento, só decaiu. Na época da “linha dura”, os professores em sala de aula eram mais exigentes o que surtia efeito positivo no grau de comprometimento dos alunos e também no engajamento dos professores, na preocupação que tinham com a disciplina dos alunos sem desrespeitar seus direitos (mínimos, é claro). A conseqüência do investimento aquém dos outros países coloca o Brasil em desvantagem na competição de mercado. Competição que a muitos incomoda, e todos têm motivos, mas que é uma realidade inexorável. O mercado manda, independentemente da nossa vontade.  Sem uma educação de qualidade, que prepare os alunos para a competitividade, que puxe pela criatividade, senso crítico, deveres e capacidade empreendedora (no mínimo isso), estaremos ficando com as sobras. Recente pesquisa divulgada nos meios de comunicação já expõe sobre a dificuldade dos adolescentes na faixa etária dos 18 aos 24 anos conseguirem emprego. Emprego será coisa rara e a via de superação é a criação do próprio negócio caracterizado pela inovação. Para isso é preciso boa formação do aluno condicionada a boa formação do professor. Curso superior não basta, até porque muitas faculdades deixam desejar em exigência da qualidade. Perguntemos aos professores: quantos livros lêem em média por mês? Quantos já tiveram experiências empreendedoras? Quantos falam inglês? Se as respostas forem negativas, já se sabe o futuro que nos espera.

No caos é mais fácil votar (errado)

Quando uma cidade, um Estado ou um país caminham a passos largos para o desenvolvimento, para aquela condição da boa vida na cidade, desejo de todos, é muito mais fácil votar, seja para prefeito, vereadores e outros cargos. Basta confirmar os responsáveis, de boa conduta e bom desempenho em seus mandatos. Agora, quando vivemos situação de precariedade, evidenciada numa cidade sem hospital, nem praça, é fácil errar. O discurso dos candidatos é praticamente uniforme: “vote na diferença”; “vote na renovação”; “vote em que não promete, mas faz”; e por aí vai. Assim, para votar, não precisa nem pensar, é só sortear. Há aqueles que se aproveitam das carências para sensibilizar, como se muitos deles não tivessem participação no processo de degradação. O discurso se reduz as críticas e promessas sem propostas concretas de reversão do estado de calamidade. Diante do microfone prometem: lutar pela saúde, priorizar a segurança, defender os direitos do idoso e da criança e prosseguem com a obviedade, que, apesar de inócua, a muitos seduz.  Há candidatos que se arriscam em falar de projetos, mas na própria fala demonstram desconhecer noções de planejamento, do conjunto de ações com início e fim que visam objetivos mensuráveis e compreendem estudo de viabilidade, metas, indicadores, responsáveis, orçamento, cronograma, enfim, todas as etapas de um trabalho digno de ser designado como de excelência da qualidade. Impressiona a omissão do “como”. Será que por desconhecimento ou por estratégia eleitoreira? Talvez porque o “como” possa comprometer ou expor a real condição do candidato. O “como” também indicia. Como vão reestruturar um hospital interditado que tem uma dívida privada (dizem que é impagável), diante dos recursos públicos escassos? Vão construir um hospital novo, mas como? Como vão aumentar a segurança no centro urbano e no meio rural se não há suficiente contingente policial? Como imaginar uma gestão competente sem um plano decente? Sem o “como” é difícil avaliar. É quase uma irresponsabilidade votar. Já é do senso comum que não se pode confiar, afinal, os eleitos vão governar e legislar já se sabe como. Mesmo que é difícil de acreditar, resta o compromisso individual do cidadão consciente e conseqüente, que, por uma questão social (e não assistencial), precisa escolher um nome, em nome da sua própria felicidade, mas que represente os anseios da coletividade. É bom lembrar que ninguém se dá bem sozinho, depende da sociedade por mais insociável que seja. Infelizmente, esperança quase não há, mas, ainda resta tempo para algum candidato arriscar um “como”.

Discurso de posse da Cics-VP

É uma grande satisfação participar deste momento em que o Paranhana se reúne não apenas para celebrar a posse de uma diretoria, mas para expressar apoio a uma instituição, cuja história de ação e representação completa 77 anos: a CICS

Sinto-me pequeno diante das proporções que o cargo de presidente da CICS configura, mas muito honrado pela confiança no meu trabalho. Confiança que devo especialmente aos  associados da entidade e desta diretoria, com o qual compartilho tropeços e glórias quase que dia a dia.  Parece que foi ontem que estávamos aqui falando em borboleta que bate asas na Indonésia, em Teoria do Caos, em ideais, em utopias. Falamos também numa tal de Agenda que não passava de uma pretensão de reunir de pessoas para pensar o futuro da nossa região sem desprezar o passado, discutir idéias, sugerir projetos e se integrar. Muito do que se disse naquela ocasião não mudou. O bater das asas da borboleta, continua podendo provocar estragos por toda parte. Já quanto a Agenda, da intenção evoluiu para o fato. Prefeituras e entidades foram pioneiras ao promoverem a oportunidade para se elaborar um plano regional, cujo ideal comungado por todos é tornar o Paranhana um lugar de primeiro mundo. Ideal não no sentido de um arquétipo inatingível, mas um ideal que é real. Se olharmos para os projetos que estão na Agenda, veremos que alguns projetos já existiam e foram integrados para serem ampliados para todas as cidades. Outros são novidades. Dentre os projetos que já são realidades encontramos o projeto de reciclagem desenvolvido pelas indústrias calçadistas de Três Coroas, coordenado pelo Sindicato das Indústrias de Calçados de Três Coroas; o processo de capacitação do APL Calçado também liderado pelo Sindicato em parceria com o Sebrae; o Selo Ecológico também liderado pelo Sindicato de Três Coroas, que certifica as empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável. E para não ficar só em Três Coroas e só no Sindicato, temos o portal da Transparência que já está disponível na Internet no endereço www.paranhana.org.br, sob coordenação da CICS traz dados dos mais variados e atualizados da nossa região, servindo de indicadores sobre como estávamos e como estamos.  E para não ficar só na iniciativa privada temos o projeto do planejamento estratégico seguido modernas ferramentas de gestão como vem ocorrendo nas prefeituras de Igrejinha e Três Coroas e deve ocorrer em todos os municípios do Paranhana, conforme Termo de Compromisso, assinado recentemente por todos os candidatos à prefeito da região. Estes exemplos nos permitem, sem soberba nem falta de humildade, concluir que a Agenda é uma realidade. Claro que ainda é cedo e é muito pouco diante de alguns quadros críticos que temos. Mas, quem sabe, se o nosso utilitarismo pragmático permitir, com paciência, participação dedicada e eficiência poderemos daqui há dois anos comemorar melhores resultados. Minha esperança é que mais pessoas e principalmente as lideranças públicas e privadas, abracem a causa, cada um desempenhando o seu papel dentro desta grande obra em que a Agenda pode se constituir.

Se me perguntarem de novo, mas pra quê, ainda terei a mesma resposta: porque o meu egoísmo percebe que a vida minimamente confortável que desejo depende do outro. Se não for por uma questão moral ou religiosa, que seja pelo este egoísmo conscientizado de que só pela via da união de forças organizadas haverá alguma possibilidade de enfretamento da precariedade. Nome que pode parecer exagerado, mas que considero adequado a realidades vivenciadas como são os casos da falta de um hospital regional e a falta de contingente policial.

E para não ficar só na Agenda, iniciativa que não é sustentada apenas pela CICS, mas também pelas seis prefeituras do Vale em conjunto com instituições privadas, a CICS no biênio que passou cumpriu com mais alguns propósitos. Conseguiu conquistar o equilíbrio econômico financeiro, hoje não há dívidas.  Modernizamos um pouco a estrutura, melhorando equipamentos, renovando a pintura externa do prédio com a ajuda de empresários da cidade, implantando sistema de ouvidoria e controle de projetos e indicadores. Consolidamos o Mapa Estratégico da entidade. Ampliamos a comunicação com o associado que através de neewsletter, notícias em rádio e jornal é inteirado sobre as deliberações da diretoria. Retomamos o PGQP (Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade) do qual fomos recentemente considerados comitê regional destaque. PGQP que deverá continuar sendo uma prioridade desta gestão com a projeção de que no ano que vem todas as prefeituras e Câmaras de Vereadores devem adotar o programa conforme se comprometeram. E a CICS está de porta abertas para aqueles que desejarem conhecer o Programa a fim de agregarem mais qualidade e produtividade as suas organizações, independentemente do tamanho. Realizamos ainda ações de representação como a ocorrida frente ao episódio do viaduto da RS115 e 239. Enfim, a partir deste breve balanço, acho que cumprimos com boa parte dos nossos deveres, com a ressalva de que poderíamos ainda ter feito mais e melhor.  Para finalizar é imprescindível destacar que o trabalho só foi possível porque tivemos o apoio do nosso associado a quem sou grato. Também aos nossos colaboradores internos que demonstram comprometimento e responsabilidade. À nossa diretoria, sempre disponível e tolerável com meus excessos, mostrando que é possível compor uma diretoria que transcende a uma mera formalidade. Ao poder público que tem demonstrado sinais que deseja acolher nossas aspirações. Às instituições parceiras, que são muitas e devido ao tempo exíguo é prudente não citá-las. Aso facilitadores da Agenda, trabalho voluntário. A minha empresa e as nossas empresas que permitem o compartilhamento do nosso tempo privado com a entidade. À minha família, mil perdões pelas faltas. Enfim, a todos vocês, muito obrigado

Exemplos de uma Taquara diferenciada

Há contextos peculiares que passam muitas vezes desapercebidos do nosso olhar um tanto ocupado. Num contexto de cidade, que vai além da nossa aldeia privada, há pessoas que praticam rotinas muito similares as nossas, mas também encontramos pessoas que se diferenciam em pequenos grandes detalhes. São pessoas que rompem com a rotina com a qual já estamos acostumados, ou melhor, resignados. São pessoas empreendedoras que disponibilizam produtos e serviços cuja forma e conteúdo são peculiares, gerando bem estar aos de dentro e aos de fora. Quem ganha com isso? Todos que gostam de diversidade e qualidade! Quem não gosta de ter um lugar para ir saborear um gostoso sorvete a qualquer dia, inclusive feriado, e em todas as estações do ano? Quem é da cidade e também alguns de fora que passam por ela sabem, estamos falando da sorveteria da Dona Leda, que às crianças e aos adultos dá prazer de longa data. Incansável Dona Leda! Muito obrigado! Bem perto dela, quem sabe contaminado pelo tino empreendedor desta senhora, encontramos uma outra raridade que também possui sua diferenciada singularidade. O negócio até parece simples, mas se diferencia na forma.  Uma atividade que apesar de utilitária também tem o gosto como ponto chave. É a barbearia do Beto cuja carga horária estendida conquista a fidelidade da “clientelada”. Ele trabalha de segunda a sábado e atende até altas horas. Mais precisamente até as vinte e uma horas dá tratamento de grande cidade onde temos a vantagem de a qualquer hora podermos desfrutar o produto e o serviço desejado. Em Taquara, felizmente, temos pessoas assim, dando cor a outra face da cidade e ensinando na escola da vida que é preciso abdicar em certa medida da boa vida para se conquistar a vida boa.  A sorveteria da Dona Leda e a barbearia do Beto representam o lado bom da Taquara.

Crônica da Cidade Perdida

Cidade com a menor renda per capita da região e dentre as piores do Estado. Cidade com a menor taxa de empregabilidade da região (saldo de emprego a cada 1000 habitantes), neste ano de 2008. Cidade com a pior nota no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos anos iniciais (só tem índices melhores quando contabilizadas as escolas particulares). Cidade com o maior número de homicídios da região nos últimos dois anos. Cidade da região com o maior número de famílias atendidas pelo programa Bolsa Família. Cidade com o legislativo mais dispendioso financeiramente da região. Para completar: cidade com uma população superior aos 50 mil, sem um único hospital (nem por caridade). É bom cessar com a seção tortura para não parecer sarcasmo puro. Os que olham de fora, e sabem um pouco da história, se sensibilizam. Um dos sentimentos é a compaixão. Compaixão com os mais antigos, deprimidos ao lembrarem saudosos do que viveram e viram. Compaixão com o cidadão que ao pagar seus impostos em dia, reserva-se o direito de desejar excelência nos serviços públicos, mas o que vê é precariedade quando não carência.  Compaixão com aqueles que empreendem, gerando trabalho e renda, resistindo bravamente a escassez de condições, mais por teimosia e paixão do que por uma estratégica opção.  Além da compaixão, pairam dúvidas:  O que fazem os políticos da cidade? Não são eles os representantes do interesse da população? Saúde, educação e segurança, não são da (in)competência pública? Cadê a boa fé e a boa vontade, e a qualidade? E os cidadãos não reagem? Pois é, parece que a cidade se perdeu e junto dela (e nem poderia ser diferente) os seus cidadãos. Talvez por certa ingenuidade, ou comodidade, ou ainda, desconhecimento de causa, em função do sistema vigente ter sido inteligentemente arquitetado. Se no campo da religiosidade, pela fé o Paraíso Perdido será reencontrado, será também pela fé que a Cidade Perdida será resgatada? Como diz a música: “só não se sabe fé em quê”.

As porteiras da sujeira do Rio Grande

A crise política do Estado do Rio Grande do Sul é um fato que não se resume nas denúncias “bombásticas” do vice-governador, Paulo Feijó, já que o governo Yeda desde o seu início, sob o aspecto político, não conseguiu se estabilizar. A forma como Paulo Feijó deflagrou a crise é menos prioritária de ser discutida do que a forma de governar deste e dos outros governos passados. Na verdade a forma como a política de governo é feita no Estado e no país e o jeito de fazer política por parte dos nossos políticos é que carece urgentemente de uma reação de parte da sociedade. Por isso tomemos o cuidado de não cair nas armadilhas que alguns preparam para desvirtuar o foco da atenção que é a suposta corrupção. Sugere-se uma reação da população que vota, dos políticos que passam a ser réus e dos poderes a quem compete fiscalizar, julgar e condenar, quando for o caso. Temos no Ministério Público uma instituição cujo papel é fundamental neste contexto. Já dos políticos, infelizmente, não se pode esperar muito, a não ser tentativas de desviar o foco. Se for verdadeira a metade do que vem sendo denunciado, merecem prisão e devem depois de cumprir pena, procurar outra profissão. A tentativa de desviar a atenção é evidente. Ao em vez de concentrarem os esforços para elucidar os fatos, ficam discutindo se a atitude do vice-governador foi ou não ética. Ou se o ex-chefe da Casa Civil do governo, Cezar Busatto, deve ou não ser processado, como se fosse culpado por ter admitido que as mazelas são rotinas já antigas no Estado. A crise repercutiu e repercuti no Brasil, por meio da imprensa, que expõe a falta de ética na política rio-grandense. Na medida em que estampa as denúncias sobre o governo nas manchetes dos jornais, sutilmente denuncia a falta de ética do Estado e da população, já que o governo é o espelho do povo. Em certos veículos, chega a ser curioso. Aparenta existir uma certa satisfação em noticiar os supostos crimes no governo gaúcho. Talvez uma forma de dizer: – Viu só! Até aqueles os mais politizados do país não resistem à corrupção do poder! Em outras palavras: o gaúcho também é corrupto. Nós gaúchos não somos ingênuos a ponto de pensar e acreditar que não somos corrompidos, afinal, corromper-se talvez seja uma tendência humana e universal. Agora, com certeza, achávamos que não chegávamos a tanto. Achávamos que ser mais politizados equivaleria a ser mais ético. Na verdade, ser ético vem primeiro. Achávamos que aqui era diferente. É uma pena! Ruim pra nós gaúchos, ruim pra eles, afinal, todos somos brasileiros. Vai-se uma referência, mesmo que não fosse absoluta, sem referência o caos piora. Espera-se que o governo aproveite a onda e abra as “porteiras da sujeira” do Rio Grande. Espera-se que as investigações prosperem com a velocidade e com a austeridade que merecem e, depois, que venha a punição dos culpados e com ela a ruptura do sistema vigente, no qual a falcatrua virou a regra. Por fim, que pela crise tenhamos mais ética e, principalmente, ética na política.

Vereadores: Redução de salários forçada

Nossos Deputados Federais aprovaram na última quarta-feira, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 333/04, que cria 24 faixas de números de vereadores, de acordo com o tamanho da população de cada município. Para a menor faixa populacional, de até 15 mil habitantes, a câmara poderá ter no máximo 9 vereadores. Taquara, por exemplo, de 10 passaria para 15 vereadores. A matéria segue para votação no Senado. Caso a PEC seja promulgada até o dia 30 de junho, as novas regras poderão valer já na próxima eleição municipal, em outubro. O texto aprovado aumenta o número de vereadores no Brasil dos atuais 51.748 para 59.791. Se isso num primeiro momento mais uma vez nos deixa indignados pois representa aumento de custo já que todos recebem salários, a boa notícia é que a PEC também determina a redução dos gastos com vereadores pois limita os gastos das câmaras em 2% a 4,5% da arrecadação do município, o que diminuiria quase pela metade os orçamentos atualmente vigentes dos legislativos municipais. Hoje, esse limite é de 5% a 8% da receita. No Vale do Paranhana municípios como Taquara e Parobé teriam redução do orçamento em torno de 50%. A União dos vereadores do Brasil, uma espécie de sindicato da classe destes trabalhadores protesta e deverá fazer pressão intensa contra a PEC, ou melhor, contra a redução da receita, mas totalmente favorável ao que interessa à classe, ou seja, o aumento do número de cadeiras. Se obtiverem êxito, a PEC será um fracasso e significará mais um golpe à ética. Já se a PEC for aprovada na sua íntegra, teremos a esperança de dias melhores. Muitos municípios serão obrigados a passar por um choque de gestão, pois faltarão recursos financeiros, na medida em que haverá aumento de vereadores e ao mesmo tempo redução do orçamento. Como conseqüência, deverão reduzir seus salários e, em virtude disso, muitas Câmaras serão forçadas a corrigir os exageros existentes. Tomará que a perspectiva que se apresenta se concretize e assim mais recursos sobram para o executivo aplicar em benfeitorias e melhorias dos serviços públicos municipais. Tomará que o aumento do número de vereadores eleve o nível de fiscalização nos municípios, função que compete ao vereador.  Tomará ainda que aqueles candidatos que pretendem fazer da vereança uma fonte de emprego e renda, sabendo que terão seus salários reduzidos, desistam de suas candidaturas. Assim, quem sabe, aqueles que querem, por ideal, trabalharem pela cidade, se sentirão motivados para se candidatarem. Será que não estou enganado???

Viaduto: inauguração sem constrangimentos

No último dia 10 ocorreu a inauguração do viaduto localizado no entroncamento da RS-239 e 115. Ato que mereceu a participação da governadora e reuniu essencialmente lideranças políticas do Estado e da região. Na obra foram investidos em torno de  um milhão e setecentos mil reais e posteriormente mais 200  mil para recuperar uma falha na estrutura da obra, ocorrida antes mesmo de sua liberação. Falha que acabou atrasando em mais de ano a inauguração, além de consumir recursos adicionais, ou seja, fora do planejado. Também houve muitos questionamentos sobre um suposto sub-dimensionamento dela, levando em conta que a complexidade do entrocamento exigiria uma obra mais grandiosa e segura, já que une duas movimentadas rodovias. Diante destes fatos e aspectos negativos da construção, surge a pergunta: Longe de desfazer a importância da obra, a retração pelo constrangimento não seria a melhor recomendação? Dizer sim é mera opinião de cidadão não habituado com a prática política do político, para quem o constrangimento não tem vez. Longe de constrangimentos os discursos na inauguração do viaduto eram de resplandecimento. A obra chegou a ser comparada à torre de pisa, ponto turístico da Itália, no qual teria sido utilizado a mesma técnica para garantir a cessação de uma inclinação que já chegava a cinco graus e aumentava uma média de 20 milímetros por ano. É surpreendente a vocação de alguns em reverter situações que num primeiro momento se quer tem defesa, elogio, então, menos provável, contudo, o improvável acontece. É uma pena que os políticos não concentram seus dotes em planejar e construir um país mais justo e melhor. E eles dirão: mas o país está crescendo, está melhor! Sim, está, mas está no nível e no ritmo que deveria e poderia? Basta pedir para um estudante, recém formado no ensino médio, elaborar uma redação ou visitar um hospital com um olhar comprometido com a qualidade, que a conclusão é inevitável. Pra mim, sem segundas nem terceiras pretensões, o aprendizado verdadeiro deste episódio do viaduto, não reside na técnica de recuperação adotada, mas na cobrança incansável de muitos, dentre os quais a CICS (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária do Vale do Paranhana), junto ao Ministério Público, pedindo providências. Iniciativa que ocorreu no dia 15 de fevereiro deste ano e em menos de três meses que problema foi solucionado e o viaduto liberado e inaugurado. Lembrando que a interdição completava mais de um ano.  Eles dirão: foi uma mera coincidênia. Todavia, fica aqui o registro de que a pressão, dentro ditames da lei e da razão, tem poder de solução.

Materias Paranhana On-line 08/03/2010 – Dia Internacional da Mulher Isabella virou novela

Há de se falar no caso Isabella não para ajudar a escrever novos capítulos da novela, mas para analisar o que não aparece na tela porque está no avesso do drama em que o Brasil passou a ser expectador assíduo. Sem menosprezar o viés trágico – afinal não é possível consentir matar uma criança –  o caso assumiu uma dimensão exageradamente novelesca, com apelo expressivo à emoção em demérito da razão. Há pessoas humildes se deslocando de muito longe para presenciar cenas ao vivo e ser coadjuvante da novela. Sem o exercício da racionalidade, a esclerose é uma ameaça. Uma história trágica virou um programa de TV. Os supostos assassinos, seus familiares, advogados, policiais, promotor, testemunhas chaves, porteiro do prédio, mãe biológica da menina, vizinhos, entre outros compõem o elenco da novela. É mais do que um Big Brother, porque tem drama misturado com suspense, mistério e até uma dose de tragicomédia, se avaliarmos a conduta da população atirando pedras, bolsas e sapatos nos carros da polícia. Patrimônio que é nosso, pago com impostos, embutidos em tudo que consumimos. E a estrutura e o número de policiais envolvidos? Imagine todo aquele contingente trabalhando nas ruas da cidade, reprimindo os delinqüentes que agem até mesmos à luz do dia? Parece que a população não se dá conta disso e acaba sendo preza fácil da mídia. O espaço ocupado pelo caso Isabella é o espaço retirado daqueles de muitos outros dramas que talvez não dêem o Ibope pretendido porque viraram banalidades que não mexem mais com a emotividade. Quantas crianças são assassinadas por dia pelo Estado? Pela precariedade da saúde pública. Segundo o psicanalista Contardo Calligaris: “Essa espécie de clima geral de condenação antes da Justiça nos revela que, no fundo, não somos diferentes deles e, portanto, a raiva contra eles é só uma tradução da vontade de ignorar, esquecer, reprimir aquela parte da gente que poderia levar ao mesmo tipo de conseqüências”. O psiquiatra Benílton Bezerra, vai na mesma direção dizendo que o ser humano tem fantasias agressivas e alguém que comete um ato de horror máximo, nos ajuda personalizar nele a nossa própria fantasia. Ao longo da história do pensamento humano, muitos filósofos defenderam a teoria de que o homem é por natureza egoísta e violento, a ponto de ser “homo homini lupus”, ou seja, lobo do próprio homem, como citou Hobbes no seu Leviatã. Freud mais tarde sistematizou isso como parte do psiquismo humano. Na obra Mal Estar na Civilização chega afirmar que o Estado é um mal necessário para conter a fúria do homem, suas pulsões de morte. Saindo um pouco da tragédia em que se configura o caso em si, se conseguirmos olhar para além da emoção e comoção, podemos perceber o poder da mídia de envolver milhões de pessoas em torno de um caso que poderia ser uma causa. Além do poder, podemos perceber os recursos midiáticos à disposição, capazes de nos manter atentos e até vislumbrados com a sucessão dos desencadeamentos, mesmo sem a convicção da prova. Podemos estranhar porque não ocorre o mesmo dispêndio de esforço para mobilizar a população contra o caos da saúde, da segurança e também da educação que está longe de ter a qualidade que os tempos atuais exigem para hoje e para o futuro. Sabem do aumento recente que os deputados federais se deram passando de 50 mil reais mensais que recebem para custear assessores para aproximadamente 60 mil? E continuam recebendo salário, subsídio disso, daquilo e daquele outro –  transporte, telecomunicações, moradia – ultrapassando os 100 mil reais por mês. Fora as “comissões” que muitos deles recebem por serviços prestados à grupos privados. No caso privado da Isabella, resta-nos a esperança e a confiança na Polícia e no Poder Judiciário. Já nos crimes que afetam o cidadão, a esperança não basta. De espectadores precisamos passar a ser atores, independentemente de sermos vocacionados, por uma questão de necessidade, se deve estar conscientizado e mobilizado. E a mídia tem papel fundamental nesta virada, cabe saber se ela está interessada. Por que não cobramos justiça social com a mesma comoção que estamos dando ao caso Isabella? Será porque não tem o formato de novela?