Assisti nesta semana a uma cena comovente. Não a comoção da compaixão, mas a comoção da frustração. Frustração porque ainda deposito nos jovens de hoje uma certa esperança de dias melhores. Mas vamos à narrativa:
Ia passando de carro pela rua Bento Gonçalves, em Taquara, mais detalhadamente no cruzamento com a Rio Branco, e vi um grupo de jovens, na faixa dos 15 anos, fazendo a famosa “guerrinha” de ovos crus e farinha, costumeiramente usada quando da vitória nas batalhas do vestibular. É bem provável que estavam fazendo algum tipo de comemoração. Num breve momento o chão da calçada, por onde depois passariam outras pessoas, ficou coberto de farinha e ovos quebrados. No mesmo chão também ficaram depositados os sacos de farinha e as caixas dos ovos, algo semelhante ao espaço onde habita um certo animal. Segui adiante de carro, mas fiquei “martelando” sobre uma possível intervenção o que acabou me fazendo retornar para tentar, quem sabe, chamá-los a atenção. Antes de sair do carro, relutei por alguns instantes, mas acabei decidindo por abordá-los. Fiz um brevíssimo ensaio da minha fala com a preocupação de não parecer intrometido e peder a oportunidade de tentar buscar a reminiscência de uma eventual consciência de cidadãos. Cheguei pedindo licença, mais ou menos assim:
– Olá moçada! Vocês poderiam me dar um minutinho de atenção?
– Sim! Responderam.
Aí com o máximo de respeito falei:
– Desculpem, não quero dar nenhum sermão em vocês, mesmo porque não sou padre. Só gostaria de dizer que assim como vocês eu também não gosto de viver numa cidade suja. Será que vocês poderiam recolher os sacos e as caixas que acabaram de deixar esparramados no chão.
Falei para dois meninos e umas cinco meninas, sendo que um dos meninos se adiantou e respondeu:
– Pode deixar eu vou lá recolher.
Saí logo dali agradecendo a atenção e mais uma vez pedi desculpas.
Não sei se depois não ficaram tirando sarro da minha cara ou até ignoraram, mas pelo que conferi removeram os sacos e as caixas, já que os ovos e a farinha não tinham mais jeito. Depois, me senti feliz. Primeiro por ter sentido irresignação, depois por ter assumido uma posição que culminou numa (re)ação. Quem sabe, alguns deles, antes de fazerem algo parecido numa próxima ocasião, terão alguns instantes de consciência e prevaleça a consideração pelo outro que também é cidadão. Será que ter ainda alguma esperança não é uma grande ilusão?