Todos os posts de Marcos Kayser

Marcos Kayser é um dos criadores do Scopi, plataforma que ajuda empresas criarem seus planos estratégicos. É bacharel, licenciado e mestre em Filosofia. Escreveu os livros "O Paradoxo do Desejo", onde busca investigar a mecânica do desejo nas relações de poder, "Quando Tamanho não é documento", onde conta a história da gestão da TCA, empresa vencedora do Prêmio Nacional de Inovação em 2013, da qual foi um dos fundadores, e "Um lugar de primeiro mundo", história de um planejamento estratégico regional.

Farinha, ovos, sacos e caixas no chão

Assisti nesta semana a uma cena comovente. Não a comoção da compaixão, mas a comoção da frustração. Frustração porque ainda deposito nos jovens de hoje uma certa esperança de dias melhores. Mas vamos à narrativa:

Ia passando de carro pela rua Bento Gonçalves, em Taquara, mais detalhadamente no cruzamento com a Rio Branco, e vi um grupo de jovens, na faixa dos 15 anos, fazendo a famosa “guerrinha” de ovos crus e farinha, costumeiramente usada quando da vitória nas batalhas do vestibular. É bem provável que estavam fazendo algum tipo de comemoração. Num breve momento o chão da calçada, por onde depois passariam outras pessoas, ficou coberto de farinha e ovos quebrados. No mesmo chão também ficaram depositados os sacos de farinha e as caixas dos ovos, algo semelhante ao espaço onde habita um certo animal. Segui adiante de carro, mas fiquei “martelando” sobre uma possível intervenção o que acabou me fazendo retornar para tentar, quem sabe, chamá-los a atenção. Antes de sair do carro, relutei por alguns instantes, mas acabei decidindo por abordá-los. Fiz um brevíssimo ensaio da minha fala com a preocupação de não parecer intrometido e peder a oportunidade de tentar buscar a reminiscência de uma eventual consciência de cidadãos. Cheguei pedindo licença, mais ou menos assim:

– Olá moçada! Vocês poderiam me dar um minutinho de atenção?

– Sim! Responderam.

Aí com o máximo de respeito falei:

– Desculpem, não quero dar nenhum sermão em vocês, mesmo porque não sou padre. Só gostaria de dizer que assim como vocês eu também não gosto de viver numa cidade suja. Será que vocês poderiam recolher os sacos e as caixas que acabaram de deixar esparramados no chão.

Falei para dois meninos e umas cinco meninas, sendo que um dos meninos se adiantou e respondeu:

– Pode deixar eu vou lá recolher.

Saí logo dali agradecendo a atenção e mais uma vez pedi desculpas.

Não sei se depois não ficaram tirando sarro da minha cara ou até ignoraram, mas pelo que conferi removeram os sacos e as caixas, já que os ovos e a farinha não tinham mais jeito. Depois, me senti feliz. Primeiro por ter sentido irresignação, depois por ter assumido uma posição que culminou numa (re)ação. Quem sabe, alguns deles, antes de fazerem algo parecido numa próxima ocasião, terão alguns instantes de consciência e prevaleça a consideração pelo outro que também é cidadão. Será que ter ainda alguma esperança não é uma grande ilusão?

O caos no céu e na terra

O trânsito no Brasil é mais um fator que deixa com justiça nosso país na posição de terceiro mundo, eu diria, sem exageros, que é de quarto mundo.

Já há algum tempo, o caos tanto no céu e na terra está instalado, intensificado pelo aumento de automóveis, caminhões e aviões. Quem encara uma viagem aérea tem a incerteza da hora da partida e da chegada, fora o medo de um acidente, como ocorreu recentemente por motivos ainda escusos à sociedade. Encarar uma viagem por terra não é menos traumático, é bem provável que seja ainda pior, só não percebemos tanto porque já nos acostumamos. Estradas esburacadas, má sinalização, motoristas imprudentes, excesso de veículos, são apenas alguns dos componentes que tornam a viagem um risco iminente de acidente.

Se alguém tem ainda alguma ressalva a fazer, achando que a situação não é tão crítica assim, basta pegar seu carro e trafegar pela BR101 até Florianópolis, só como exemplo. Com a duplicação que está finalmente sendo realizada, os caminhões continuam abusando da imprudência, talvez pela ilusão de proteção porque são robustos. Em locais que poderiam dar lado para os motoristas apressados, evitando assim ultrapassagens arriscadas, ignoram esta possibilidade. Ficam horas segurando verdadeiros comboios que se formam. Como se não bastasse, eles próprios abusam das ultrapassagens, mesmo em locais proibidos e mesmo não tendo muitas vezes tempo suficiente para impor uma velocidade que permita uma ultrapassagem segura. Claro que os caminhoneiros não têm a exclusiva responsabilidade, por trás deles deve haver uma pressão abusiva e totalmente irresponsável das companhias de transporte de cargas. Caberia até a instalação de placas de conscientização, dizendo: “Obra de duplicação, duplique sua atenção”. A orientação e a fiscalização simplesmente não existem. De Torres à Florianópolis os policiais rodoviários se restringem a assistirem a passagem dos veículos de dentro dos postos rodoviários, cujo número, se não me engano, não passa de dois. Agora, nos perguntamos, porque o Brasil com toda a costa que possui, não investe numa estrutura de transporte marítimo? Já pensaram como seriam as nossas viagens sem a presença de tantos caminhões nas estradas? Quanta poluição, quanto custo, quanta destruição da malha rodoviária estaríamos reduzindo? Sim, porque os caminhões com o peso que carregam são os maiores consumidores do asfalto. Quanto ao eventual desemprego, seria compensado pela economia, fora que os profissionais que subsistem do transporte de carga via terrestre poderiam migrar para o transporte de carga via mar. Independentemente disso, as perdas materiais e humanas seriam exponencialmente menor, o que por si só justificaria. E quem tem o poder de mudar? O governo, é claro. Bastaria vontade, mais foco nos interesses da sociedade e visão de longo prazo. Contudo, infelizmente, estas são virtudes exclusivas de um país de primeiro mundo, o que não é o nosso caso, pois estamos ainda no “quarto”.

Professor: má remuneração ou má formação?

Fala-se muito, e não é de hoje, que o futuro de uma nação depende da educação. Em outras palavras, estaria nas mãos da escola e do professor a tão aguardada prosperidade. É unanimidade no mundo todo que o crescimento econômico e o desenvolvimento social de uma nação dependem  da educação de  sua população. No Brasil assistimos  carências em todos os nível da educação, desde o ensino fundamental até os cursos superiores. A educação do país em termos de qualidade e profundidade não só deixou de evoluir como decaiu. Há décadas passadas o professor dava conta do conteúdo de sua disciplina. Hoje, em função principalmente dos avanços científicos e da velocidade como que se processam mudanças, isso é humanamente impossível.  Só que o professor continua ensinando da mesma forma que há décadas atrás. Mudou o mundo, o mundo é outro e não mudou a forma de ensinar. As crianças e os adolescentes são outros e as práticas educacionais, no fundo, as mesmas, disfarçadas de alguns fetiches modernistas. Nossas crianças e adolescentes continuam copiando, para depois fazer a prova e responder conforme copiou. É mais um método para medir o grau de decoreba, do que estimular o saber. O foco precisa estar no desenvolvimento do pensamento crítico, da dimensão criadora e da autonomia. Ensinamentos que o aluno não encontra pronto na Internet. Saber procurar, refletir, relacionar e selecionar. O aluno hoje mais do que receber todo o conteúdo precisa aprender a interpretar, formular questões, criar hipóteses e construir soluções. Educação como prática de vida conectada à realidade e não apenas como exercício de memorização. Fala-se muito de trabalhar na forma de projetos, mas o aluno mal sabe distinguir uma introdução de uma conclusão. A falta de um vocabulário mais rico é cada vez mais evidente. Boa parte dos alunos que se formam no ensino médio, têm enormes limitações para produzir um texto, trabalhar um problema com boa articulação entre início, meio e fim. Também o que podemos esperar num país que se lê tão pouco? Perguntem a um estudante e também a um professor quantos livros lêem por mês? Ou por ano? (Excluindo auto-ajuda) O hábito da leitura proporciona ganhos incomensuráveis. Os motivos para a defasagem entre a educação que se quer e a educação que aí está são muitos. Um dos mais enfatizados é a remuneração do professor. Uns defendem que os níveis salariais não motivam o professor a investir na sua melhor formação. Outros contra-argumentam dizendo que o professor deveria primeiro se preocupar em dar uma excelente aula para depois exigir melhores salários. É difícil chegar a uma conclusão definitiva sobre qual deles é a causa: a remuneração ou a qualificação. Talvez a prudência oriente que um determina o outro e vice-versa. Segundo estudos do economista Gustavo Iochpe, o Brasil tem índices de investimento em educação muito próximos aos países em que a qualidade da educação se destaca. Não sei se serve de consolo aos professores, mas o declínio salarial não é exclusividade dos mestres, é de boa parte das classes trabalhadoras brasileiras. Todavia, além da ótica da remuneração, cuja importância não pode ser ignorada, é visível o problema da gestão nas escolas. Os gestores, inclusive em escolas particulares, ainda não conseguiram integrar todos os agentes em torno de um consenso sobre uma educação de excelência para os dias de hoje e de amanhã. Há muitas escolas dentre de uma mesma escola. Uma numa direção, outra noutra.   E quando se fala em agentes, estamos falando também da família, dos pais, cuja participação no processo é indispensável. Não só participar das festas de final de ano, mas do dia-dia do filho na escola, olhando os cadernos, cobrando o tema, comparecendo às reuniões. Enfim, criando vínculos com a educação do filho.  Vínculos necessários não apenas entre professor e aluno, mas entre a família e a escola. Vínculos que dependem do par e não de um só. Como já é sabido, o problema da educação é enorme, entretanto, não há mais tempo para adiar seu enfrentamento. Se realmente queremos um país com mais qualidade de vida para nossos filhos, temos que agir rápido em favor de uma verdadeira revolução na educação. O mais difícil é por onde começar e é bem provável que não será apenas pela ação isolada de um professor. Mutatis mutandis, pelo seu dia: PARABÉNS PROFESSOR!!!

Cinco perguntas básicas para planejar uma região que pretende prosperidade

Quando perguntado pela Agenda Estratégica do Paranhana, como está o seu andamento, se vai dar certo, costumo responder a primeira indagação com um convite de participação, afinal, nada melhor para saber sobre o seu andamento comparecendo aos eventos e reuniões da própria Agenda. À segunda indagação não há resposta, mas procuro dar indícios com outras cinco perguntas. A estas perguntas caberá caberá responder cada cidadão Paranhanense. São elas?

Primeira: Há necessidade de construir um plano estratégico para elevar a qualidade de vida na região? Um plano é olhar para trás, aprender com os erros e conservar as virtudes, ter ciência do presente, suas oportunidades e dificuldades, e olhar para frente com visão de longo prazo. Há necessidade de um plano integrado que tenha uma continuidade ou o negócio é continuar esperando o prefeito? Prefeito que traz o seu plano de governo, quando tem, que normalmente não tem sinergia com o governo que o antecedeu, nem foi discutido nos seus detalhes com os segmentos da população. Ou alguém se lembra de qual era o plano para resolver o problema da saúde em sua cidade, a não ser que saúde seria uma prioridade?

Segunda: Há objetivos comuns suficientes para unir a região em torno do compartilhamento de idéias para o seu desenvolvimento? Pressupomos que todos querem ser felizes e para isso parece ser unanimidade o fato de carecemos de melhores condições de saúde, mais segurança, mais cultura e melhor educação. Ou alguém daqui é contra?

Terceira: Há disponibilidade das lideranças locais para planejar ações em prol da coletividade? Para planejar é preciso arrumar tempo, o que demanda sacrifícios de alguns prazeres. É preciso em muitas vezes tolerância e uma certa dose de paciência, pois os frutos verdadeiros são obtidos só no longo prazo. Estamos dispostos a isso?

Quarta: Há competência para pensar, discutir, planejar e concretizar projetos com visão de longo prazo? A Agenda por si só, com sua metodologia, não leva há lugar algum. Temos que ter um grande desprendimento para avaliar o passado, reconhecendo e assumindo os erros, e presente, com uma inspiração de certo modo refinada, para olharmos para frente e planejarmos um futuro com qualidade. Não podemos nos esquecer que além da concorrência interna temos a concorrência do mundo globalizado.

Quinta: Há interesse de todos os segmentos da sociedade pela construção de uma Agenda? O setor privado, tão acostumado a se dedicar a seus interesses particulares e individuais está disposto a se voltar para o público, cujo compromisso e responsabilidade é dos governos, começando pelos municipais? É elementar pensar e concordar que a felicidade de um depende da felicidade de outro e o público precisa de ajuda, pelo menos no que tange a planejar. Isso não desfaz nossa obrigação de cobrar.

Só respondendo positivamente a todas estas questões, teremos alguma chance de por a mão sobre o futuro da nossa região.

Câmaras de vereadores: próximas, mas distantes.

Segundo levantamento feito pelo Jornal NH, em 51 municípios dos Vales do Sinos, Caí, Paranhana e Serra a média do percentual do orçamento dos municípios que é repassado para as Câmaras de Vereadores é de 3,60%. No Vale do Paranhana a média é maior, ficando em 4,5%. Três Coroas é o destaque positivo não só no Vale do Paranhana como também dentre as 51 cidades pesquisadas, apresentando o menor percentual de repasse, que é de 0,79%. Taquara e Parobé são as cidades com o maior percentual de repasse não só dentre os 6 municípios do Paranhana como também dentre os 51 municípios pesquisados, que é de 8%. O valor dos salários dos vereadores é na maioria das vezes proporcional ao percentual do repasse. Quanto maior o repasse, maior o salário. A média do salário dos vereadores, considerando os 51 municípios pesquisados, chega a R$ 2.262,75. No Paranhana a média é um pouco menor do que está média, ficando em R$ 2.168,89, sendo que Igrejinha é a cidade, na qual os vereadores ganham menos, R$ 1.057,18, e Taquara é a localidade onde os vereadores ganham mais, R$ 3.816,00.  A lei federal estabelece o limite de 8% para o repasse, mas compete ao município, executivo e legislativo, definirem o percentual sem exceder ao limite. Definir o quanto do orçamento será repassado às Câmaras e o valor dos salários é de competência local, assim não é a lei federal que obriga os vereadores ganharem mais nem o repasse ser estabelecido no seu teto. O bom senso e a coerência com a situação econômica de cada município deveria ser o princípio norteador dos prefeitos e vereadores para decidirem sobre os repasses e sobre os salários dos legisladores, mas a realidade mostra que nem sempre é assim. Se um município carece de recursos, se faz necessário um esforço conjunto, tanto do executivo como do legislativo municipal para conter despesas e aplicar os recursos nas prioridades a serem eleitas pela população. Prioridades que na sua maioria se concentram em saúde, educação e infra-estrutura. Não é porque um município arrecada mais que o valor do repasse e o salário dos vereadores deva ser maior. O quanto o município carece de benfeitorias deve ser profundamente avaliado. Normalmente um município que arrecada mais tem mais custos com manutenção de infra-estrutura. Em termos financeiros, o que importa é o saldo, a liquidez do município. Neste caso, no Paranhana, Três Coroas e Igrejinha parecem estar na frente, o que não é muito difícil constatar, basta circular pelas suas ruas, conversar com a comunidade, frenquentar seus hospitais,… E para não ficarmos só no mundo das idéias (alusão a Platão) é muito bom termos os arquétipos aqui na terra.  Agora, por favor, pensemos bem antes de inventar justificativas na tentativa de explicar a distância entre cidades tão próximas. Não abusemos da inteligência do povo. Não justifiquemos os salários e os repasses mais elevados com o argumento de que as Câmaras que recebem mais devolvem recursos. As que recebem menos também devolvem e, se isso acontece, por que então não reduzir de uma vez por todas o percentual de repasse? Se tiver ainda alguém que defenda a idéia de que o vereador ganha proporcionalmente ao que trabalha, perguntemos:  será que os vereadores de Igrejinha e Três Coroas trabalham menos? Quem sabe, um dia, as Câmaras de Vereadores de todas as cidades do Paranhana tenham seus gastos compatíveis com a realidade econômica de seus municípios e todas, sem exceção, sirvam de exemplo positivo para toda a nação. Torcemos, rezemos e fiquemos aguardando de braços cruzados como estamos acostumados.

Aos prefeitos compete a diversificação econômica?

Seguidamente nos dirigimos à diversificação econômica como a grande alternativa para a retomada do desenvolvimento da região, onde ainda predomina a indústria do calçado. Outras regiões do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil concordam com a mesma premissa e apontam as vias para tal. Alguns indicam que os prefeitos são os maiores responsáveis por esta tarefa, pois são eles que detêm o poder de apontar para onde sua cidade deve ir na direção da economia e da vocação. Mas seria esta uma responsabilidade do prefeito? Seria ele o ente que reúne as condições para assumir o desafio da diversificação? Desafio que nem mesmo economistas e empresários se atrevem a assumir, visto as dificuldades de prever o futuro na atual economia de mercado. Dificuldades que vão desde a intensa velocidade com que as coisas mudam no mercado até o nível de competitividade existente na economia, enquanto globalizada. Globalização, pela qual a concorrência e as novas tendências se espalham por todos os cantos do planeta, cujos movimentos podem interferir no andamento de qualquer negócio, esteja onde estiver.

O que se pode prever são apenas nuanças do que está por vir. Agora, se concordamos que os prefeitos não têm condições e nem é seu papel definir a vocação econômica de uma região, também podemos concordar que os prefeitos têm papel fundamental na construção de ambiente favorável à diversificação e ao desenvolvimento, em prol do empreendorismo, do crescimento do setor produtivo estabelecido e da atração de novos negócios. Na prática o que isso significa? O ambiente se traduz em infra-estrutura adequada, em cidade limpa, em hospitais e escolas caracterizadas pela cobertura e pela qualidade. E isto é o que mais desejam os trabalhadores, sejam empresários ou funcionários. Independentemente das dificuldades financeiras e da falência do Estado, os prefeitos tem o dever de disponibilizar para os cidadãos da sua cidade os serviços básicos com toda qualidade. Para isso é imprescindível o recurso financeiro, mas também, a vontade e o conhecimento para planejar e tornar realidade. Os recursos financeiros podem ser captados através de bons projetos a serem encaminhados ao governo federal, como também podem ser conquistados através do exercício da austeridade na economia interna da prefeitura, sendo que uma alternativa não exclui a outra. Neste caso o prefeito deixa de ser político para virar administrador e economista. Sobre o futuro da prefeitura, todos os prefeitos têm responsabilidade. Poder para interferir e fazer acontecer. Sobre o futuro da economia toda a sociedade tem responsabilidade. Professores, vereadores, profissionais liberais, empresários, funcionários, enfim, todo aquele que vive este mundo, o mundo da economia de mercado. Felizmente ou infelizmente (particularmente fico com a segunda opção) a soberania do mundo está nas mãos do tal mercado, sobre o qual todos têm poder e, ao mesmo tempo, ninguém.

Vereadores ou “cabos eleitorais”?

Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional, de autoria do Deputado Estadual gaúcho Pompeu de Mattos que propõe novamente o aumento do número de vereadores nas Câmaras municipais. Um retorno a um passado recente que, pelo visto, não satisfez a classe brasileira. Se aprovada, a emenda pode onerar ainda mais os cofres públicos naquelas Câmaras que souberam fazer economia. Um dos argumentos, dos poucos argumentos, favorável à aprovação do aumento do número de vereadores, é a alegação de que a redução, produzida pelo Tribunal Superior Eleitoral, a partir de 2004, não acarretou economia e sim acabou incentivando o uso indevido dos recursos que acabaram sobrando. Justificativa um tanto quanto questionável, para não dizer suspeita. Não haveriam meios mais condizentes para acabar com aquilo que o próprio deputado autor da emenda denota de “farra dos vereadores”? Já que a motivação para a emenda é econômica e moral, não seria melhor propor a redução do limite máximo de repasse ao legislativo que hoje é de 8%? Lembrando que no Vale do Paranhana há câmaras de vereadores que recebem menos de 2%, como é o caso de Três Coroas. Desculpem os deputados, mas nos parece que o aumento do número de vereadores não é o melhor caminho para moralizar a conduta dos nossos representantes municipais, como justificam. Medidas bem mais eficazes hão de existir para disciplinar a conduta dos vereadores. Parece que a definição de um repasse maior ou menor passa pela coragem do poder executivo em definir um percentual de acordo com a realidade financeira da cidade que administra. Também depende da vontade dos legisladores federais. Vontade que talvez não exista, pois reduzir repasses às Câmaras significa colocar em risco a relação de “solidariedade” entre deputados e vereadores. O interesse dos próprios deputados é fortalecer sua base eleitoras, na qual os vereadores têm papel estratégico e fundamental. Cada deputado tem os vereadores como seus cabos eleitorais. É bem provável que estamos diante de mais um arranjo político, cujo fim não é bem aquele que aparenta ser. Como diz o filósofo: “há um ser atrás do aparecer”. Em outras palavras, aquela que parece ser a grande motivação é apenas um  disfarce altamente sofisticado para encobrir a causa verdadeira. “O sinal não é real”.

Meninos mais violentos

Segundo William Pollack, a educação de meninos, de uma forma geral, está em crise no mundo. Psicólogo de Harvard,  autor do livro “Meninos de Verdade -Conflitos e Desafios na Educação de Filhos Homens”, Pollack afirma que a falta de uma maior atenção da família e da escola está fazendo com que principalmente os meninos tenham problemas de aprendizado e fiquem mais agressivos do que as meninas na sociedade. A afirmação do psicólogo, com base em suas pesquisas nos EUA, se aplica também ao Brasil. Aqui, as estatísticas do IBGE mostram que os jovens do sexo masculino são seis vezes mais propensos a morrer de causas violentas do que as mulheres da mesma faixa etária, sendo que a crise de violência entre jovens no Brasil não se restringe aos mais pobres. Dados do MEC mostram que eles aprendem menos, tem maior repetências e abandonam mais os estudos. Na opinião de Pollack, diferenças biológicas explicam em parte esse fenômeno, mas é principalmente a forma como a sociedade interage com os meninos que aumenta suas chances de fracasso na escola e de se tornarem mais violentos. Meninos sempre foram, em média, mais violentos, mas as taxas de suicídio entre jovens do sexo masculino e feminino nunca foram tão distantes. Antes, era mais fácil para eles acharem seu lugar na sociedade, entrarem numa universidade e conseguirem um emprego. Segundo o psicólogo há diferenças biológicas entre os gêneros, mas estudos sobre o cérebro mostram que, apesar de haver diferenças, o que mais afeta o ser humano é a forma como se relaciona. A testosterona não explica, sozinha, porque chegamos a um grau de violência tão alto entre meninos. Meninos estão muito mais desconectados em relação aos adultos em casa, na escola e em toda a sociedade do que as meninas. Quanto mais desconectados, mais falham. Historicamente, meninas são mais fáceis de serem conectadas aos adultos. Elas são mais abertas a falar de seus sentimentos, mais propensas a usar palavras em vez de brigar. É verdade que estamos tendo também mais brigas entre meninas ou gangues formadas por elas, mas isso acontece principalmente com meninos. Comunicar-se com elas exige menos esforço. Isso é devido em parte à biologia, mas também à cultura, pois os meninos por tradição precisam provar sua masculinidade por meio de agressividade. O novo modelo familiar [em que a mulher também trabalha fora] tira mais tempo dos pais para ficarem com seus filhos e o que afeta tanto meninas quanto meninos, mas tende a deixar principalmente meninos mais agressivos.  Não significa, no entanto, que tenhamos que voltar ao modelo familiar tradicional. Os pais podem achar que, tendo saúde e suporte financeiro, eles não precisam de mais. Mas eles precisam de afeto, emoção e cuidado maior dos pais. Meninos não devem ser mais independentes do que meninas. Precisamos ser capazes de cuidar de nós mesmos, mas sem ignorar o outro, que também precisa dos nossos cuidados, afinal nossa natureza humana exige interdependência.

Lá foi o Pato…

Lá vem o pato, pato aqui pato acolá, lá vai o pato para ver o que há... Assim diz a música que podemos lembrar para ilustrar o destino do Pato colorado, que mal chegou aos campos do futebol profissional brasileiro e já está indo para os campos da Europa mostrar o seu talentoso futebol aos torcedores daquele continente. Nada contra o jogador e sua família, mas é de causar indignação por mais um exemplo de legislação descabida. Pato que em poucos meses foi coroado com o título Mundial Interclubes e o título da Recopa Sulamericana. Jogador colorado que na condição profissional não jogou um Grenal sequer, o maior clássico do futebol gaúcho e um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Chega a ser estranho pensar que este mesmo Pato, lançado pelo Inter, não defendeu as cores vermelhas nem por um ano. Estranheza só possível graças a ingrata, injusta e degradante lei Pelé e, é claro, a condição de subdesenvolvimento do nosso país incompetitivo economicamente. Lei ingrata porque proíbe os torcedores apaixonados por futebol verem jogadores talentosos e diferenciados como é o caso do Pato e de outros jogarem em seus clubes do coração. Lei injusta porque impede que os clubes conquistem os títulos almejados como os jogadores “prata da casa”, criados nas categorias de base, o que para o Clube seria muito mais gratificante. Clube que oferece as condições iniciais e projeta o atleta só que na hora deste jogador dar a resposta no campo onde rola a bola, pesa os Euros que rolam no bolso dos dirigentes e intermediários ditos empresários, que de empresários não têm nada, não empregam, não pagam impostos, não produzem nada.  Ou alguém já viu dizer quanto uma negociação como esta rendeu ao fisco. Independentemente do gosto desta ou daquela pessoa pelo futebol, é do senso comum que o futebol representa uma das maiores paixões brasileiras, uma obra de arte valiosíssima, um produto que faz o Brasil ser único e invejado por todos. Contudo, a inveja dura pouco e é rapidamente resolvida, por força dos Euros dos países da Europa, que compram o direito que inicialmente seria nosso, ou seja, o direito de curtir a própria obra. A conseqüência da Lei Pelé é a degradação do futebol brasileiro, muitos jogadores que estão na Europa se dão ao luxo de pedir dispensa da seleção, tamanho o distanciamento da pátria amada. Tecnicamente falando, alguns comentaristas do futebol já estão falando no fim do futebol genoinamente brasileiro. Argumentam que jogadores exportados com 17 anos ainda estariam em formação e na medida em que vão para a Europa acabam se formando por lá influenciados por técnicas que não são mais as nossas. E a nós que somos o país da excelência do futebol resta-nos continuar produzindo o que tem de melhor e curtir o que tem de pior, (na linguagem do futebol, a baba). O episódio do Pato que acontece a todo o momento no Brasil com outros setores retrata que o problema do país não é a falta de leis, mas a falta de legisladores comprometidos com a coletividade e com a qualidade, comprometidos em fazerem leis que preservem a cultura e políticas que promovam, ao mesmo tempo, a solidez da economia. Para isso precisamos começando por valorizar e, porque não, proteger aquilo que temos de bom. Se nós não cuidamos do que é nosso, quem cuidará? Restará ainda algo sobre o qual poderemos nos reconhecer e nos vangloriar? É uma pena que a população acredita não ter poder.

As melhores cidades para trabalhar

Foi divulgada uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que apontou a lista das 100 melhores cidades do país para se trabalhar e fazer carreira. A pesquisa leva em conta três indicadores principais. São eles: primeiro a Educação, medida pelo número de matrículas e cursos de graduação, de mestrado e doutorado; segundo a Economia, medida pelo ISS e o PIB municipal per capta; terceiro a Saúde Indicador, medida pelo número de leitos disponíveis e de profissionais de saúde. O ítem educação é o que tem maior peso na avaliação. Realizada desde 2002, a pesquisa analisou 126 municípios brasileiros dos quais 100 com população superior a 170 mi habitantes e 26 com menos. São Paulo é a número 1 do ranking, seguida do Rio de Janeiro. Dentre as gaúchas aparecem 9 cidades: Porto Alegre (6), Caxias do Sul (26), Canoas (35), Santa Maria (49), Passo Fundo (53), Rio Grande (55), Pelotas (65), Bento Gonçalves (74) e São Leopoldo (97). Segundo a FGV, um dos fatores que mais influenciam no desenvolvimento de uma cidade e de uma região é a qualidade do ensino superior, que abrange a formação continuada e a prática da pesquisa científica. Desta constatação, da relevância de uma instituição de ensino como fomentadora do desenvolvimento regional, podemos deduzir que o Paranhana tem perspectivas alentadoras. Temos uma Faculdade que a cada ano cresce e pode continuar crescendo, no sentido de oportunizar novos cursos de formação e especialização, além de criar espaços que produzam inovação e qualificação, aspectos indispensáveis a quem se dispõe a enfrentar a guerra do mercado atual, que tende a se intensificar na sociedade globalizada na qual vivemos. Sociedade onde a competição não se restringe a uma cidade, nem a uma região. Temos que ser competitivos a nível mundial e isso é sinônimo de adotarmos posturas de alto grau de exigência, com nós mesmos e com os outros agentes dos quais depende nosso crescimento.