Todos os posts de Marcos Kayser

Marcos Kayser é um dos criadores do Scopi, plataforma que ajuda empresas criarem seus planos estratégicos. É bacharel, licenciado e mestre em Filosofia. Escreveu os livros "O Paradoxo do Desejo", onde busca investigar a mecânica do desejo nas relações de poder, "Quando Tamanho não é documento", onde conta a história da gestão da TCA, empresa vencedora do Prêmio Nacional de Inovação em 2013, da qual foi um dos fundadores, e "Um lugar de primeiro mundo", história de um planejamento estratégico regional.

A escola e a escolha – Parte IV

A nova escola que se vislumbra no horizonte de uma humanidade melhor resolvida precisaria até trocar de nome para não ser confundida com a velha escola vigente nos dias atuais. Um novo conceito precisaria surgir para substituir o conceito atual de escola. Mas deixemos esta tarefa aos filósofos, criadores de conceitos, e retomemos algumas hipóteses em que se daria está nova escola como uma nova proposta de educar. Recomecemos pela mudança radical de objetivo, do acúmulo de conhecimento, ou melhor, informação, para o estabelecimento de condições que estimulem o potencial criativo, o senso crítico e a desenvoltura da comunicação. Para isso, poderíamos responsabilizar quatro agentes fundamentais: o gestor, o professor, os pais e o aluno. O gestor precisaria decidir de uma vez por todas o objetivo principal a perseguir. A partir daí, definir os meios que levam a este objetivo. As políticas de avaliação da escola, do professor e do aluno. O currículo, a metodologia, as regras que orientarão a mediação dos conflitos que sempre existirão. Quem sabe, para começar, uma espécie de “Direitos e Deveres do aluno”, regras construídas por pais, professores, direção e os próprios alunos. Isso já seria um tremendo exercício de comunhão e reflexão ética.  O professor precisaria de mais motivação para evoluir em conhecimentos e em práticas que realmente possibilitem ensinar de forma verdadeiramente transdisciplinar. Quem sabe escolhendo certos conteúdos para serem enfatizados e outros para serem pesquisados pelo aluno quando este precisar. Sim porque há conteúdos que basta ler com certo grau de atenção e dedicação para serem apreendidos, não requerendo maiores explicações. É bom frisar que por motivação se entende não só os estímulos que vêm de fora, mas também a força de vontade interna. Os pais precisam primeiramente compreender que a educação começa e termina na família e precisam acompanhar o que a escola faz para que seus filhos tenham na escola um prolongamento da educação que recebem em casa.  Ao aluno compete gostar do que faz e para isso precisa ser conquistado pela escola e continuar sendo acompanhado pelos pais. Muitos adoram a escola, mas muito mais pelas relações com os colegas do que pelo processo de ensino aprendizagem. Antes do programa curricular vem as necessidades e os desejos da criança que se alegra e se entristece, se encanta e se espanta, se machuca e se cura, corre, joga, grita, briga e brinca. A inteligência é essencialmente prática. Está a serviço da vida.

A escola e a escolha – Parte III

Há na escola uma infinidade de formatos e procedimentos cristalizados pelo costume,  porque foi sempre assim que foi feito. As salas servem para separar as crianças em grupos, segregando-as umas das outras. Por que é assim? Tem de ser assim? Haverá uma outra forma de organizar o espaço, que permita interação e cooperação entre crianças de idades diferentes, tal como acontece na vida? A escola não deveria imitar a vida? Quanto ao programa curricular, quem determinou que os conteúdos que o compõe são os saberes que devem ser aprendidos na ordem prescrita? Que usos fazem as crianças desses saberes no dia a dia? As crianças escolheriam esses saberes? Os programas servem igualmente para crianças que vivem no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte? Por que é necessário que todas as crianças pensem as mesmas coisas, na mesma hora, no mesmo ritmo? As crianças são todas iguais? O objetivo da escola é fazer com que as crianças sejam todas iguais? Como querer que as crianças pensem se não vivemos no ambiente da reflexão, nem exercitamos, muito menos excitamos o pensar? Operários que trabalham em linhas de montagem não assinam as suas obras, porque não são deles. A partir da revolução industrial, a obra produzida é destituída de uma autoria humana. Cada operário tem uma função específica. Nenhum operário faz o objeto, individualmente. Cada operário faz uma única operação: juntar, soldar, aparafusar, cortar ou testar. No ramo do calçado é cortar, montar, colar, costurar, refilar ou revisar. O resultado da linha de montagem é a produção rápida e controlada de objetos iguais. A obra acabada, ou seja, o produto final não possui autoria humana e o ser humano perde sua função, ou melhor, qualidade de criador. Nossas escolas foram construídas segundo o modelo da revolução industrial, Como se fossem fábricas organizadas para a produção de peças que possuem uma finalidade única e limitada. O produto final está concluído depois que passar nos testes que, no caso das escolas, medem tão somente o nível de memorização do aluno, cujo conteúdo é facilmente esquecido passada alguns dias ou horas. Esquecemos que não mais vivemos na era da revolução industrial. Hoje vivemos em plena era do conhecimento. Somos inundados com informações e mais informações captadas das mais variadas fontes: televisão, rádio, jornal, revista,  Internet e todo tipo de mídia. Algumas são só informação outras representam conhecimento. Um dos papéis da escola é proporcionar ao estudante que aprenda fazer as devidas distinções e a conseqüente escolha.

A escola e a escolha – Parte II

Hoje a grande maioria das escolas, na prática do dia a dia, ou seja, na sala de aula, onde se encontram professor, aluno, conteúdo e método, não consegue dar o salto necessário da transmissão e reprodução para a motivação e criação. Por mais que o discurso e a proposta pedagógica tentam dizer o contrário, dando ênfase à produção do conhecimento, o ensino está concentrado na transmissão de informações. Resultado: o aluno que só acumula acaba atrofiando o potencial de reflexão e criação que diferenciam a sua condição humana.  Uns dirão: mas em tudo que se faz se pensa. Enganam-se!  Rotinas automáticas, como a decoreba no habitat da escola, não exercitam o pensamento reflexivo que está muitíssimo distante de um ato de lembrar ou fazer uma simplória conexão lógica. Pensar reflexivamente é, em outras palavras, pensar sobre o próprio pensamento, ou seja, pensar sobre o sentido do que se está pensando. Por mais difícil e doloroso que seja, porque demanda perdas, é preciso urgentemente que se faça a escolha: ou a escola prossegue despejando informações e cumprindo com o currículo vigente, que a cada dia se avoluma, ou refaz seus propósitos, orientando o currículo e os professores para de fato potencializarem competências, dentre elas a criticidade, a criatividade e a comunicação. É uma escolha que envolve conteúdo e forma, formação do professor, disposição do aluno e avaliação. É uma escolha que privilegia profundidade e qualidade do conhecimento em detrimento da quantidade de informações acumuladas num dado momento.  Hoje a escola, da forma como opera, só consegue avaliar quantidade acumulada de informação, e mais preocupante ainda, boa parte delas inúteis. Um boa dica para se medir a excelência do aprendizado é fazer a seguinte pergunta: o que se está ensinando jamais deve ser esquecido? Se a resposta for positiva o ensinamento está validade, é útil não no sentido de utilitário efêmero, mas de utilidade perene para a vida. O conhecimento evolui assim para sabedoria. Apesar de muito se falar sobre construtivismo, sobre desenvolver as competências, respeitar as “múltiplas inteligências”, não se consegue transcender, não se chega a uma prática de ensino que provoque o aluno, tornando-o mais crítico e criativo. Como é possível ser criativo e crítico se grande parte da avaliação continua medindo apenas memorização? As respostas solicitadas continuam sendo literalmente encontradas no corpo do texto que se decorou, após tê-lo copiado do quadro ou de algum outro lugar.  Claro que a escolha depende de pressupostos indispensáveis que atualmente são precários e faltam aos borbotões. Um deles, fundamental, é a falta de formação do professor, cuja causa reside também na falta de melhores perspectivas de remuneração. Dá para conceber que enquanto se prioriza a qualidade o professor não consegue ler um livro se quer por mês. Em termos de país não lê nem um livro por ano. E quando falamos de livro, não podemos deixar de lado os clássicos. Pergunte a um professor conhecido com que freqüência ele lê Dostoyewski, Kafka, Proust, Tolstoy, e por aí afora, incluindo também os clássicos nacionais?

A escola e a escolha – Parte I

Desde pequeninos, estamos acostumados a ouvir falar na importância da escola. São nossos pais dizendo que vamos para a escola aprender a ler e escrever. Somos nós curiosos para conhecer o que esta tal escola tão falada tem por dar.  A escola é tão comumente falada que pouco nos faz refletimos sobre ela, é praticamente um conceito apriori, ou seja, previamente dado, estabelecido e fechado. Mas assim como o mundo não pára, flui como as águas do rio de Heráclito, a escola se renova, ou melhor, deveria renovar-se constantemente para acompanhar a renovação constante do mundo. Deveria, mas não faz. Acaba  sendo um outro mundo desconectado do mundo que a todo momento se transforma. A conseqüência desta formatação, é a preparação de cidadãos despreparados para o enfrentamento dos imensuráveis desafios que a mudança provoca. Um dos objetivos da educação formal, ou seja, a escola, é fazer com que o aluno acumule conhecimentos que se dá através da transmissão destes conhecimentos conquistados pela humanidade ao longo dos tempos.  Outro objetivo é preparar os jovens para produzirem novos conhecimentos, a partir da dimensão criadora de cada ser humano, potencialmente, capacitado para fazer as transformações que o mundo precisa para evoluir. Resumidamente, a escola tem o papel de transmitir conhecimentos e, principalmente, nos fazer produzir novos conhecimentos. Esta segunda incumbência não exclui a primeira, mas a supera, hierarquicamente. Muitos intelectuais, e dentre eles Paulo Freire, já falaram sobre isso, talvez com outros nomes, mas o sentido é praticamente o mesmo. Denunciam que a função reprodutora da escola não é compatível com os tempos atuais, que alguns chamam de pós-modernidade. A escola não inova, não aprofunda, anda no mesmo compasso das escolas informais, dentre elas estão os meios de comunicação de massa, mais especificamente, a televisão. Sim a televisão, ou alguém acha que a televisão não ensina? Sim ensina e ensina muito, porém sem o compromisso de formar criaturas pensadoras, menos ainda criadoras. A escola de hoje produz meros expectadores ao em vez de produzir bons atores. Atores criadores que vão além de um simples ato de reprodução de um texto, mas atores que inventam e dão vida nova ao personagem que representam.

Planejamento familiar: uma questão ecológica

Não deixar luzes acesas inutilmente, utilizar lâmpadas de menor consumo, não deixar equipamentos eletrônicos ligados sem estarem sendo usados, diminuir a quantidade de água usada na descarga, reduzir o uso da água na lavagem de calçadas, carros e plantas, usando a água da chuva, separar o lixo reciclável, são algumas das tantas medidas que podem ser tomadas por cada um cidadão do mundo na mobilização em prol da vida no planeta, diante das conseqüências que podem ser trágicas do aquecimento global. Todavia, sem destituir todas estas e outras medidas, segundo a organização britânica Optimum Population Trust (OPT), a forma mais barata e efetiva de combater o aquecimento global é o planejamento familiar, reduzindo o número de nascimentos para controlar a população global, visto que o crescimento populacional é reconhecido como uma das principais causas da mudança climática. Segundo o argumento da ONG, mesmo se o mundo todo conseguir uma redução de 60% nos níveis de emissões de CO2 até 2050 em relação aos níveis de 1990, de acordo com as recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), isso será praticamente anulado pelo crescimento populacional no período. Baseado nas emissões médias per capita de 4,4 toneladas de CO2 até 2050, o crescimento de 2,5 bilhões na população mundial até aquela data, de 6,7 bilhões para 9,2 bilhões, significará emissões de 11 bilhões de toneladas de CO2 a mais por ano. Segundo os cálculos da OPT, um cidadão britânico médio gera 750 toneladas de CO2 durante sua vida, num impacto equivalente a 620 vôos de ida e volta entre Londres e Nova York. Considerando um “custo social” de cerca de R$ 172 por tonelada de CO2, a ONG avalia em cerca de R$ 121,5 mil o custo de cada britânico em sua vida em termos de emissões de dióxido de carbono. Uma camisinha poderia evitar o custo de R$ 121,5 mil em um único uso. Será que estaríamos ofendendo à Deus, preservando a vida do planeta?

Taquarense: uma naturalidade em extinção?

A pergunta: “Taquarense: uma naturalidade em extinção?”, suscita da leitura que pode ser feita dos dados do Datasus,  banco de dados do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde, que aponta para uma redução no número de nascimentos em Taquara. Redução que por si só, como tendência regional, não é novidade, o que merece destaque é que em Taquara o índice é bastante expressivo e está acima da média geral. Do ano de 2001 à 2006, Taquara teve uma queda na ordem de 23,82%, representando uma das maiores entre as cidades do Paranhana e do Vale dos Sinos. Em 2001 nasceram 894 crianças em Taquara e em 2006, 681. Será que os casais taquarenses resolveram ter menos filhos? Ou será que este resultado reflete algum programa de planejamento familiar desenvolvido no município? Se houver, até os meios de comunicação desconhecem ou não desejam divulgar. Na linha do bom humor, ou do humor trágico, como queiram, tem gente dizendo que os bebês estão antevendo o futuro que os espera, referindo-se a decadência do município, causada pelas sucessivas mal sucedidas administrações públicas da cidade. Noutra linha, esta já menos irônica, segundo alguns comentários que se ouve na praça (praça no sentido metafórico já que objetivamente Taquara não tem praça) um dos motivos para a redução dos nascimentos em Taquara seria que os pais estão preferindo ter seus filhos em hospitais de cidades vizinhas. A preferência seria o Hospital Bom Pastor de Igrejinha, que de 2005 para 2006, teve um aumento de 32,42% em nascimentos. De 475 foi para 629 nascimentos em 2006. Em números absolutos, no mesmo ano, apenas 8,26% a menos que em Taquara. E é bom salientar que Taquara tem uma população em torno de 62% maior que Igrejinha. Se Taquara fosse acompanhar o índice de Igrejinha, proporcionalmente ao número de habitantes, deveria ter registrado em 2006 um número superior a 900 nascimentos, porém teve só 681. A hipótese da rejeição do Hospital de Caridade não parece ser absurda. Mas afinal, quais seriam os principais motivos? Com mais conhecimento de causa, será que os médicos pediatras não poderiam dar “pistas”?

O “pão e circo” no Dia do Trabalho

Na última terça-feira (primeiro de maio) foi o Dia Mundial do Trabalho. Dia que pelo mundo uns comemoraram e outros refletiram e protestaram. Em vários países latino-americanos, como Argentina, Paraguai e Colômbia, os trabalhadores tomaram as ruas para protestar contra o desemprego, política econômica e governo. Em Assunção, gritando palavras de ordem contra a política econômica do governo, centenas de operários e líderes sindicais paraguaios lembraram da data em um ato na frente do Panteão Nacional dos Heróis. O mesmo tom de protesto ecoou na Colômbia, com seus trabalhadores tomando as ruas das principais cidades do país contra o desemprego, além de denunciar as ligações de políticos do governo com paramilitares americanos. Na Argentina, a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) e organizações políticas e sociais opositoras lembraram o assassinato do professor Carlos Fuentealba, de 40 anos, morto por um policial durante a repressão a uma passeata há cerca de um mês. Sua  morte também foi evocada por professores que marcharam para o local onde ele foi atingido. Enquanto isso, na mesma data, no mesmo dia do trabalho, um país chamado Brasil trocou o protesto pela festa, provavelmente porque este país, diferentemente dos outros, não vive a crise do desemprego, nem a crise da corrupção institucionalizada. Shows gratuitos e sorteios de prêmios patrocinados pela CUT e pela Força Sindical prevaleceram sobre a discussão de temas importantes, como a falta de políticas de inclusão, de uma educação de qualidade, e a flexibilização trabalhista. A Força Sindical gastou cerca de R$ 3 milhões na festa em São Paulo, que teve sorteio de dez carros no valor de R$ 23 mil cada e cinco apartamentos de valor de R$ 50 mil. A programação teve ainda mais de 40 shows gratuitos, entre eles Zezé di Camargo e Luciano, Daniel, Exaltasamba, Fábio Jr., entre outros. Para não dizer que o sentido político foi totalmente desprezado, resolveram escolher o tema ecológico, intitulado: “Os Trabalhadores em Defesa do Planeta”, e distribuíram 20 mil mudas de plantas nativas. Nada contra a consciência ecológica, mas no Dia do Trabalho, não seria mais coerente fazer a tão necessária pressão aos políticos para assumirem de uma vez por todas o papel que lhes compete de criar condições para governar este país rumo a um verdadeiro desenvolvimento? Não seria pertinente discutir a reforma trabalhista, depende a tão prometida geração de emprego e renda? Sim porque sem reformas não há projeto de desenvolvimento que resista. Festejar o dia do trabalho no Brasil, mesmo que inconscientemente, é como validar a realidade em que vivemos. Nada contra a alegria, mas em tempos de desemprego e de desigualdade social, no Dia do Trabalho mais do que comemorar deveríamos no Brasil refletir e protestar, seguindo o exemplo da grande maioria dos país tanto do terceiro como do primeiro mundo. Sim porque nos países da Europa a ênfase foi reivindicar. Não parece que há uma clara intenção de desfazer a necessidade da mobilização em torno de questões que afetam mais de perto os trabalhadores e todo o setor produtivo do país? Ou seja, manter o país na ilusão de que apesar da carência e da violência, tem a festa que compensa. Observando mais esta edição do Dia do Trabalho, da forma como se repete todos os anos no Brasil, fica mais fácil de compreender porque somos o que somos e estamos onde estamos. Culpa de quem? Bem, se existe algum culpado (e neste caso existe e é preciso deixar bem claro) não é somente dos trabalhadores e de suas lideranças sindicais, mas também das entidades empresariais que se omitem e desta forma estão contribuindo para a acomodação, tal qual o “pão e circo” dos tempos de Roma.

Paralelepípedo: o retorno

Pode parecer confissão de saudosista, gosto antiquado, mentalidade ultrapassada. Independentemente da impressão causada,  tenho uma forte queda pelo retorno do paralelepípedo à ruas como a Julio de Castilhos. A rua principal de Taquara quando calçada com seus paralelepípedos regulares, era bem mais charmosa do que hoje recapada com asfalto. O paralelepípedo combinava com a essência interiorana da cidade. Dona de uma rua principal estreita para quem o paralelepípedo estaria mais adequado já que o asfalto cai melhor em avenidas movimentadas. Pior ainda com o asfalto nas condições que lá se encontra (e não é  diferente na rua Tristão Monteiro), deformado e remendado, conseguindo a proeza de ser mais irregular do que o velho paralelepípedo de antigamente. É bem provável que a volta do paralelepípedo não representasse grandes dispêndios financeiros pois na verdade o paralelepípedo ainda está lá, abaixo da espessa camada do asfalto. Tão espessa que em muitos trechos o velho paralelepípedo insiste em mostrar a cara. E não é só o aspecto estético que está em conta, o paralelepípedo traz vantagens utilitárias. Tem uma durabilidade ilimitada; propicia um baixo custo quando da necessidade de obras subterrâneas; é removível e pode ser reaproveitado; dispensa equipamentos caros, especiais e barulhentos quando necessário removê-lo; não se sujeita a trincas por fenômenos de dilatação, retração, flexão e oxidação; dispensa mão de obra especializada para seu manuseio; não é perecível; permite que a água da chuva tenha uma melhor drenagem. Quem a volta do velho paralelepído não representaria um novo passo na conquista da revitalização do centro de Taquara? Porto Alegre, através do projeto Monumento, assim tem feito. Contudo, me perdoem os modernos, mas o belo também se tem com o velho.

A questão da remuneração do Judiciário

A questão da remuneração do Judiciário sempre causa polêmica. A dissensão se acentua dependendo dos argumentos apresentados pelos magistrados, quando em defesa de suas posições, principalmente quando alegam deter uma confiança da população que supostamente legitimaria os aumentos salariais pretendidos. Mas teríamos realmente a certeza de que o Poder Judiciário detém inteira confiança da população? O fato de uma parcela da população ingressar em juízo, buscando no Judiciário a resolução de seus litígios, é garantia de confiança, como defendem alguns magistrados? E a parcela, provavelmente maioria, que não busca seus direitos no Judiciário, seguindo a mesma lógica, teria então motivação na desconfiança para não ingressar? E que outro caminho legitimamente constituído teríamos? Foi-se a época da sacralização do Judiciário, ainda mais quando a própria magistratura traça um paralelo entre os seus salários e o salário dos deputados federais. Não é o fato dos deputados federais ganharem mil e uma vantagens que legitima o aumento do teto salarial da magistratura. A remuneração dos deputados, inclusas as vantagens, é um absurdo, considerando o contexto brasileiro, do qual não escapam os magistrados. Contexto de desigualdade e de enorme precariedade vivida pela sociedade, que não pode contar com serviços públicos de qualidade, pelos quais paga. A ausência de recursos financeiros como apregoam os gestores públicos – e não é porque o Estado arrecada pouco, muito pelo contrário – exige uma adequação dos salários a esta realidade. Sem entrar no mérito da competência e da responsabilidade desta ou daquela categoria, a realidade impede pensarmos em resolver a defasagem salarial de uma só categoria. Ou alguém acha que aqueles que cumprem com suas obrigações na Brigada, na Polícia Civil e nas Instituições de Ensino Público não tem remuneração defasada? Se tivéssemos que escolher um único grupo para proceder com a reposição de perdas, seria aquele que se encontra no topo da tabela? Se tomarmos como fundamento apenas parâmetros salariais superiores estaremos incorrendo no erro da incoerência. “Não se pode inviabilizar um poder de Estado sob a alegação de que não houve a realização de receita no período”, como cita o magistrad, mas pelo mesmo motivo se pode comprometer o funcionamento de um hospital, de uma polícia ou de uma escola? Se “orçamento é lei e deve ser cumprido”, partindo da premissa que toda lei deve ser cumprida, o que dizer da inobservância da constituição brasileira, lei máxima do país?  Só para lembrar, consta na constituição brasileira que “saúde é direito de todos e dever do Estado”. Quem garante o cumprimento desta lei?

Dica para Empreendedores

No mundo dos negócios um dos mais importantes atributos que o empreendedor deve ter é a capacidade de interpretar os sinais de avanço da sociedade e buscar maneiras de antecipar o que está por vir, modelando seu empreendimento para novos momentos. A afirmação é da diretora de Operações do Sebrae/RS, Susana Kakuta, e do jornalista Julio Ribeiro, autores do livro Trends Brasil – Tendências de Negócios para Micro e Pequenas Empresas. A obra reúne 20 que impactarão o futuro dos negócios na próxima década. “Cada tendência segue acompanhada de algumas sugestões, tanto para novos empreendimentos quanto para a reformulação ou incremento a empreendimentos já existentes”, explica Susana, ponderando que o livro não é um manual, mas uma provocação que deve levar o leitor a repensar ou a ser estimulado para a possibilidade de empreender um novo negócio. Entre as 20 tendências tratadas no livro, algumas se destacam. O aumento da população brasileira com mais de 60 anos é uma delas. Entre os censos de 1991 e 2000 houve um acréscimo de 17,8%, o que leva o País a ter cerca de 18 milhões de pessoas nessa faixa etária, ou seja, algo próximo de 9% de toda a sua população. Isso representa o fortalecimento de demandas próprias da chamada “melhor idade” nas áreas da saúde, qualidade de vida, entretenimento, entre outras, configurando novas oportunidades de negócios. Outra tendência significativa é a do crescimento do número de pessoas morando sozinhas. Atualmente, 10% dos cerca de 56 milhões de lares brasileiros são habitados por uma só pessoa. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, existem 88 mil homens e 111 mil mulheres morando sozinhos, representando um mercado importante para produtos e serviços específicos.

Além dessas, se destacam tendências como a do consumo precoce de produtos e serviços por parte de crianças e adolescentes, aumento da sensação de insegurança das pessoas, aumento da busca espiritual e mística, filhos morando mais tempo com os pais, entre outras. Cada uma das 20 tendências identificadas no livro é embasada em números, dados, pesquisas e, obviamente, no senso de observação dos autores. Além da contextualização da tendência, o texto discorre sobre as origens e o impacto de cada um desses movimentos sobre o mundo dos negócios. Para dar aplicabilidade ao estudo, os autores sugerem novos negócios que podem se beneficiar dos efeitos diretos e indiretos de cada tendência, bem como sugerem ações para se aproveitar tais efeitos em negócios já existentes.Trends Brasil é uma boa dica de leitura para quem já tem um empreendimento ou pensa em abrir seu próprio negócio. Em Taquara pode ser encontrado junto ao balcão Sebrae que está sediado na CICS, em frente ao Banco do Brasil.