Diretamente de São Francisco, na Califórnia, meu amigo Josemar, com seus vinte e poucos anos, tão logo soube do resultado das eleições presidências na sua terra natal, fez o seguinte comentário: “Estou feliz de não estar no Brasil e espero poder declarar no meu próximo Imposto de Renda: Saída Definitiva do País. Estou ciente da minha família e amigos. Tenho certeza que eles estão felizes por mim estar batalhando por algo melhor e para um dia poder ajudá-los com qualquer coisa que eles necessitem.” Josemar certamente não fez este desabafo por desamor à “pátria amada” (conheço ele), mas porque não vê no Brasil oportunidades para crescer e evoluir. Não há expectativa de um futuro promissor, principalmente para aqueles que querem algo mais, vencer por sua própria competência, sem depender da troca de favores e da inversão de valores. Na conjuntura brasileira, marcada por profundas desigualdades, Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida são indispensáveis, mas ainda são programas no campo do necessário, da necessidade. Matada a fome de comer e o desejo de ter a casa própria, não há no Brasil um plano que contemple ações de impacto nos principais setores da sociedade, incluindo a própria política. Há feudos intocáveis a quem Dilma e Lula se curvaram, talvez por conveniência ou falta de coragem. O resultado das eleições presidenciais reflete um país dividido. Divisão que não é entre pobres e ricos, pois, se o Aécio representa os ricos como pregam, ele uma votação muito menor do que os 48%. Também não é entre patrões e empregados, pois os patrões, que teoricamente votaram no Aécio, representam bem menos que os 48%. Entre sulistas e nordestinos também não se pode estabelecer uma divisão, pois o Rio Grande do Sul não tem 46% de nordestinos que votam. A divisão também não é entre os satisfeitos e os descontentes, porque os 52% que votaram na Dilma não podem estar satisfeitos com as condições dos hospitais e a inseguranças nas ruas. A divisão está entre aqueles para quem o voto representa uma forma de retribuir a um favor e aqueles que ainda esperam por favores. Uns olham para trás, outros para frente. E os que se abstiveram do voto, ou votaram em branco ou nulo? Talvez foi a forma mais coerente que encontraram de expressar a desesperança que sentem. O que o Josemar quer, como todo o jovem que se preze, é um futuro, e o Brasil, da forma como vem sendo governado, não projeta um futuro com dignidade. Basta ter um pouquinho de visão ampliada, privilegio daqueles que estão um pouco além do mundo da necessidade, para se sentir traído e abandonado. O que direi a meus filhos quando me perguntarem sobre o futuro do Brasil? A cada dia que passa mais brasileiros perdem a sua brasilidade. Tomara que aqueles que reelegeram a presidente Dilma, por terem um melhor diálogo com ela, consigam cobrar pela reforma política e tributária. Caso contrário, daqui há 12 anos, quando depois de Dilma teremos mais dois mandatos de Lula, veremos que nada adiantou acreditar na nova ditadura democrática. Marcos Kayser
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Não há outra escolha
Será a escolha uma prova de liberdade? E quando escolhem por nós, deixamos de ser livres? Será a escolha um ato exclusivo da nossa vontade? Perguntar e tentar responder são escolhas. Agindo e pensando, escolhemos a todo instante. Ao mesmo tempo, em certas circunstâncias, não temos escolhas. Toda escolha supõe um sujeito que escolhe e, muitas vezes, somos escolhidos por um outro sujeito. Nada mal quando esta escolha é por uma bela causa. No nosso nascimento fomos escolhidos e não tivemos escolha. É uma escolha dos pais, que também não escolhem seus nascimentos. Enquanto bebês, não temos muitas escolhas. Talvez rir ou chorar, o que está mais para uma reação primitiva, do que para uma escolha criativa. Ainda crianças nossas escolhas são muito limitadas, com exceção daquelas educadas no que chamam de educação moderna, sem limites, que tudo podem. Prepotência, baixa tolerância à frustração e solidão são algumas consequências leves deste tipo de educação, em que a criança tem todo o poder de escolher, descartar e voltar a escolher. Movimento sem fim, alimentado pelo prazer da escolha pela escolha. Há indícios de que as melhores escolhas na vida, ou as mais responsáveis, requerem um amadurecimento do sujeito que escolhe. Amadurecimento que começa com o aprendizado de que nem tudo pode. O adolescente acredita ser “grande” e ter a maturidade necessária para realizar as próprias escolhas. Ainda não tem, mas é na adolescência que surge a oportunidade para o adolescente começar a exercitar sua capacidade de escolha. Nesta fase o melhor é fazer escolhas compartilhadas, com quem se tem intimidade. E como é bom escolher junto! Um exemplo é a escolha da faculdade, momento difícil para quem ainda é iniciante na arte de escolher. Responsabilidade demais para tão pouca experiência. Sorte de quem pode contar com pais presentes que dão o suporte necessário a uma escolha bem pensada. O que não garante êxito, mas ajuda a aprender a assumir os riscos inerentes a toda escolha e aceitar suas inevitáveis perdas. Isso mesmo, toda escolha implica em perdas e tem muito adulto que não sabe perder. Sempre haverá o não escolhido, o que foi rejeitado e, quem sabe, perdido. Dilema humano para o qual não há escolha, a não ser a aceitação. O enfrentamento da dor da perda, do arrependimento, da culpa, nos torna ainda mais humanos. Dependendo da forma com fomos criados e educados, de como aprendemos a ser livres e, ao mesmo tempo, responsáveis, teremos mais ou menos condições de superar os traumas e partir para as próximas escolhas. Diz Sartre que “estamos condenados a ser livres”, ou seja, estamos condenados à liberdade de escolher, e sermos responsáveis por nossas escolhas, seja qual for o contexto histórico e cultural em que vivemos. Isso é ser livre e não tem como escapar. A responsabilidade é de cada um, de seus desejos e medos, até mesmo quando escolhemos nos omitir. Por consequência, estamos condenados à culpa. Culpa por ter prejudicado o outro com uma determinada escolha. Culpa por ter escolhido não escolher. Culpa por não ter feito a melhor escolha. Há escolhas que fazem viver, outras morrer. Escolhas que podem mudar a vida de uma pessoa, de uma cidade, de um estado e de um país. Resta-nos aprender com as boas e más escolhas e escolher, escolher e, novamente, escolher. Não há outra escolha! Marcos Kayser
Os maus tratos com Taquara
Não é de hoje que Taquara sofre de maus tratos. Não me refiro ao vandalismo comum de quem não tem educação e agride o patrimônio particular e público porque sabe que não haverá punição. Por falar em punição, é a falta dela que corrompe o país em todas as suas instâncias. Para mim e para muitos já estamos no caos há muito, apesar dos desfarces de quem governa, sempre pronto a afirmar que muito já foi feito e estamos em evolução. Sim, muito já foi feito, muito se deixou de fazer e muito foi desfeito. Estou me referindo de atos de descaso dos próprios cidadãos com bom nível de educação. Em Taquara, se tivermos um olhar um pouco mais exigente, comum de quem já experimentou o bom e o belo, como acontece num país sério, veremos que pouco foi feito e muito deixamos de fazer. A cidade está feia e suja, se comparada, por exemplo, com o interior de nossas casas. A comunidade como um todo e administração municipal é culpada. Não me levem a mal alguns amigos e conhecidos que se identificarão com casos de descaso para com a cidade que vou citar agora. Há construtores que ocupam praticamente toda a calçada em frente as suas obras, além de deixarem as mesmas calçadas praticamente intransitáveis. Há moradores que, quando fazem reformas, ocupam calçadas e parte da rua por meses, prejudicando a passagem dos pedestres, dos carros e enfeando a rua. Do mato então, nem se fala. Sei que desanima fazer bem feito se o outro deixa daquele jeito, mas isso não é digno de desculpa. Caberia à prefeitura fiscalizar, notificar os casos de irregularidade já que existe lei, apesar de não ser aplicada, e multar. Não sei porque não faz. Talvez porque ela própria não consegue cuidar da cidade e fazer os consertos que depende dela, como é o caso das ruas esburacadas. Já passaram pela Guilherme Lahn, entre a Pirisa e a Sociedade 5 de maio? Além de por em ordem a cidade, tornando-a limpa e embelezada, a prefeitura poderia recompor seu caixa se notificasse e, em caso de descumprimento, aplicasse multas. Uma indústria de multas pelo bem de Taquara teria apoio daqueles que amam de fato a cidade. Aplaudo ações de algumas pessoas que denunciam e agem contra os maus tratos com os animais. Por que não seguir o exemplo e agir também contra os maus tratos com Taquara? Vamos lá vereadores, representantes do povo, quem sabe vocês lideram o movimento do “Adote a frente da sua casa”, projeto indicado na Agenda Paranahana 2020, apresentado em 2009 à Câmara de Vereadores e, como muitos, deixado de lado. Marcos Kayser
O vizinho sumiu
Maria Helena Holmer Hack, minha amiga do Facebook, escreveu um texto intitulado “As cadeiras na calçada”, que me fez relembrar com saudade do tempo em que a vizinhança se reunia a noite sentada nas calçadas. Era comum o vô, a vó e a mãe colocarem o banco na calçada em frente de casa para conversarem e verem as crianças correrem e brincarem rua fora. Lembro como se fosse hoje, o banco era branco, vazado, e cada um pegava numa ponta e levava para a rua. Chegavam a colocar na sarjeta para não prejudicar a passagem de pedestres que desciam do hospital. Instalado o banco, vinham os vizinhos, s. Ivo Vilas Boas, dna. Norma, a amiga Bela e a criançada, Geraldo, Mateus, Tavinho, Ivanor,… Enquanto os adultos tagarelavam tranquilamente sem o mínimo receio de assaltos ou alguma situação arriscada, a gurizada não parava, brincando de “caçador”, “pega-pega”, “esconde-esconde”. Apesar dos mosquitos, valia a pena! Era bom demais aquela quase cerimônia. Hoje, isso não acontece mais, nem mesmo em cidades do interior como acontecia a mais de 40 anos. O medo de ser assaltado ou ser incomodado é grande. Tem também a grande quantidade de carros que tiram o sossego, além de colocarem em risco quem estiver sentado num banco colocado na beira da calçada. Para mim que convivi com este saudoso tempo, além da falta de segurança, o motivo desta pratica desaparecer está também no jeito de ser da sociedade contemporânea e dos que hoje são pais. Naquele tempo havia tempo para jogar conversa fora. Hoje o tempo é mais escasso e parece que jogar conversa fora é um desperdício, porque não tem valor capital, e na nova sociedade é preciso estar sempre fazendo alguma coisa. Não se pode fazer nada. O valor das amizades parece não ser mais o mesmo e mantê-las não implica em reservar mais tempo para elas. O sentimento de vizinhança também se perdeu. Parece que não temos mais a confiança que tínhamos no outro, muito menos a intimidade. A qualquer momento um pode aprontar. Éramos mais próximos e contávamos mais com o outro. Hoje, em nome da autonomia, o vizinho não existe mais.
O carinho do professor
Vivemos num país exemplar em edição de leis. Tem lei para tudo. O problema que temos é não cumprir a lei. Também não cumpre quem tem o dever de fazê-la cumprir e viva a impunidade! Uma lei que considero o atestado da impunidade é esta lei que proíbe as escolas de expulsarem alunos que não se enquadrem aos seus princípios. Fica proibido proibir. Se bastasse a lei, deveríamos ter lei que obrigasse os pais a participarem ativamente da educação escolar dos seus filhos, como também lei que obrigasse os professores a ensinarem bem e criarem vínculos com seus alunos. Dizem os especialistas em educação que o vínculo afetivo é um ponto fundamental da relação professor aluno. Neste final de semana fui ao velório da dna. Zenia Jung, que foi minha professora como de tantos. Lá tive a alegria de rever alguns professores, dentre eles o professor Roberto Dienstmann que me deu um caloroso e saudoso abraço. As palavras do professor Roberto eram de carinho, não só comigo, mas também com outros alunos que relembramos juntos. Saí de lá com uma tendência a pensar que os professores de antigamente tinham um vínculo afetivo maior com seus alunos. Isso significa que eram mais tocados emocionalmente por seus alunos e que em tempos passados a troca de carinho entre aluno e professor era bem mais intensa. Curioso que os professores da antiga eram mais rígidos e até punitivos. Não sou do tempo da palmatória e não compartilho destes métodos de repressão, mas há alguns tipos de punição que, dependendo do contexto, manifestam afeto. Depois da palmada da mãe vinha o colo e o abraço e o carinho fazia valer a lei. Por falar em palmada, é mais uma lei. Vejo que a perda da intensidade do afeto, pelo menos numa comparação com 40 anos atrás, não se restringe apenas ao espaço escolar, é um aspecto do nosso atual modelo de sociedade, onde cada indivíduo é mais individual, o que alguns teóricos chamam de individualismo possessivo. As opções de consumo são muito maiores, dividindo mais a nossa atenção e o nosso tempo, o que faz com que tenhamos menos tempo disponível para dedicar aos outros. Outro fator é a tecnologia que nos traz ganhos de autonomia, permitindo cumprir certas tarefas sem depender dos outros. Então, se assim for, professores e alunos não estão absolvidos, mas também não estão sozinhos na sociedade da falta do carinho. Obrigado professor Roberto pelo papo e pelo abraço! Marcos Kayser
Vamos adotar os alemães?
Fez-se justiça no futebol. Logo o futebol que muitas vezes não é justo. O sorriso venceu o choro. O planejamento, o improviso. A glória, o lamento. Venceu a educação, a inteligência, a confiança, o equilíbrio emocional. Venceu o que chamamos de “primeiro mundo”, mas que pode ser apreendido por quem se reconhece menor. É bom demais ver ganhar quem merece! Que aula nos deu a Alemanha. Aula de cultura, engajamento e, principalmente, planejamento. Até a camisa, semelhante a do Flamengo, foi pensada. A presença das famílias sem prejudicar a concentração. E conseguiram uma façanha, foram mais alegres do que nós. Os alemães aprenderam com a derrota para o Brasil em 2002. Será que nos falta humildade ou inteligência para identificar nossas fraquezas e redesenhar um novo caminho de reconquistas? Pelo que se ouve de quem lidera, infelizmente, nada ou quase nada vamos aprender. O técnico brasileiro diz que estamos no caminho, que foi um apagão, algo momentâneo que não se repete, e, ao dizer isso, desmerece o fato ocorrido, perdendo a oportunidade de ensinar que não basta a motivação, é preciso trabalhar e, muitas vezes, repetir incansavelmente até acertar. No caso do futebol isso se chama treinar. Mas não nosso treinador preferiu a estratégia do jeitinho e da malandragem. Fez de conta que treinou um time e escalou outro. Achou que a psicologia motivacional eliminaria a insegurança de um grupo sem preparo técnico e emocional. Ao em vez de planejar as melhores estratégias, treinar e trabalhar, ficou preocupado em enganar a imprensa e o time adversário, dando coletes a quem não ia jogar. Não temos os jogadores mais talentosos do mundo, mas o que temos não justifica tomar 7 à 1. Equipes com a Argélia e Gana que fizeram frente a Alemanha não estão acima do nosso talento. A maior perda, não é tomar 7. A maior perda é deixar de aprender com tudo que esta tragédia dos gramados nos ensina. Tivemos uma aula que não se restringe ao futebol. O fracasso, o vexame, a humilhação sofrida, transcendem as quatro linhas e precisam sacudir a nossa nação. Assim como a própria Alemanha reconstruiu a sua seleção, pós 2002, e o seu país depois da segunda guerra mundial, nós poderíamos pensar em reconstruir nosso país. Estamos diante de uma oportunidade de superação, de evolução para um futuro melhor, não só no campo de futebol, mas em todos aqueles campos de abundante carência de condições. Nós poderíamos estar no lugar deles, mas não basta querer. É preciso pensar nas profundezas, planejar nos detalhes, trabalhar, trabalhar, trabalhar, para só depois comemorar. Para planejar, alguém já ouvir falar no Scopi – Software de Planejamento e Gerenciamento de Projetos? Certamente que sim e está aí uma boa ferramenta para ajudar a planejar (www.scopi.com.br). Se não somos mais o país do futebol, o que seremos? Quem sabe, o futebol nos ensina e adotemos as virtudes dos alemães?
Marcos Kayser
A culpa é do clima
Haverá preferência entre um dia obscuro, de céu escuro, e um dia claro, ensolarado? Inverno ou verão? Acredito que a maioria das pessoas tem preferência pelo céu azul. Fisiologicamente a falta de sol leva à deficiência da vitamina D, essencial para manter o equilíbrio mineral no corpo humano e todo o seu metabolismo. Dias cinzentos são deprimentes, especialmente para os mais propensos a deprimir. Dizem que os mais velhos e os mais solitários tem maior pré disposição à depressão. E aí me pergunto, um Estado como o nosso Rio Grande do Sul, com um inverno de muito céu encoberto, não estará propenso a se deprimir? Entende-se por depressão a falta de desejo, energia e alegria, falta de fé e até vontade de viver. No âmbito da sociedade gaúcha, a falta de fé seria na política deste Estado, que há anos não vê o desenvolvimento que se espera, o que acaba determinando a falta de vontade de viver aqui. Se perguntarmos para os mais jovens se desejam ficar no Rio Grande ou ir para outros lugares do país, é grande a quantidade deles que desejam sair. O culpado pela nossa decadência ou estagnação seria então o clima? Acho que não! Se fosse ele, jamais teríamos sido o que já fomos, por exemplo, referência em educação. Se fosse em função exclusiva do clima, países como Inglaterra e Canada, não seriam o que são. Claro que o clima influencia drasticamente a economia de uma região, tanto negativa como positivamente. Quando “São Pedro” ajuda (e tem ajudado bastante a safra gaúcha) vamos bem no agronegócio. Se o clima que mais interfere no nosso destino, é o clima interior. Precisamos ser mais engajados, quem sabe mais uruguaios, e mais arrojados, quem sabe mais chilenos, apesar de ambos terem se despedido mais cedo do mundial. Apesar disso, estão felizes por terem chegado aonde chegaram. Fizeram o que foi possível diante do tamanho que cada um tem. E por falar de mundial, já estou me sentindo deprimido. Havia me acostumado a assistir futebol todos os dias. Voltemos ao clima do brasileirão!
Marcos Kayser
Vem aí a Copa das Copas
Acompanho Copas do Mundo, com a atenção de quem tem paixão por futebol, desde a Copa de 74 na Alemanha, em que o Brasil ficou no quarto lugar, depois de perder para a Polônia, do jogador Lato. Lato, que por muito tempo foi o ponteiro direito do meu time de futebol de botão. Depois veio a Copa de 78 na Argentina, onde Kemps fez a diferença e a Argentina foi campeã, favorecida por aquele jogo suspeito contra o Peru. A de 82, foi a mais injusta e sofrida para quem acha que o melhor vence. O Brasil tinha a melhor equipe, com Falcão, Zico, Sócrates e companhia e acabou sendo eliminado pela Itália de Paolo Rossi. E daí se sucederam muitas copas e o Brasil por duas vezes sagrou-se campeão até chegarmos na Copa de 2014. A “Copa das Copas” como foi dito, na medida em que tudo vai funcionar como manda e quer a Fifa e o mundo inteiro vai assistir uma copa exemplar em matéria de organização e estrutura do país sede. Para quem não tem partido político, ou melhor, o partido é o Brasil, parece ironia esta citação. Obras inacabadas, greves e serviços de péssima qualidade não dão indícios deste sucesso. Não se trata de pessimismo, muito menos torcer para que dê tudo errado. Trata-se de uma insatisfação realista e legítima, pelo estado das coisas. Há quem lance argumentos esdrúxulos. Dizem eles: O Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria agora? Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade? Por mais que se queira dizer que estamos evoluindo, basta o cotidiano vivido por nós brasileiros para percebermos que a nossa estrutura em itens essenciais está muito aquém da boa referência. A marca Brasil, se antes da Copa já não era forte no quesito seriedade, tem enorme chance de ficar ainda mais arranhada. Dois problemas: a falta de competência para fazer a melhor das Copas, que antes da Copa era uma oportunidade, e a falta de seriedade, caso a “Copa das Copas” não se torne uma verdade. Não reconhecer a ineficiência do Estado brasileiro, é um ato de irresponsabilidade. Na precariedade do contexto, elevar a Copa de 2014 ao potencial de ser a melhor das Copas, aparenta inclusive uma certa falta de humildade. Poderíamos dizer ainda que estão subestimando à inteligência dos brasileiros e dos estrangeiros que estarão presentes na Copa. Assim, não estranho e nem condeno àqueles que assumem não torcer pela seleção brasileira nesta copa, fazendo isso na crença que a vitória teria um efeito anestésico. Alguns dirão que a vitória servirá para melhorar a auto estima. Particularmente, acho que a auto estima do brasileiro se renova no dia a dia, quando somos bem atendidos nos hospitais, quando estamos protegidos pelos policiais, quando nossas escolas alcançam índices de qualidade internacionais.
Desejar para frente sem deixar de olhar para trás
É humano desejar mais e mais, num movimento contínuo, de um desejo a outro sem cessar. Quem condenará aquele que deseja viver mais e mais? Esse desejo, que todos tem, Spinoza e Hobbes, chamavam de conatus. O desejo é a essência do homem, diz Spinoza. Ricos e pobres, mais e menos poderosos, todos desejam ao seu modo. O que muda são os objetos desejados. E nem todos os objetos são palpáveis e mensuráveis. Uns desejam um carrinho novo, outros carinho de novo. Basta estar vivo para desejar e só deseja quem está vivo. Não há vivente que não deseje. Até os entediados e deprimidos desejam. Desejam o nada, desejam a morte. A certa altura do “campeonato da existência”, uns realizam uma espécie de balanço para ver quais desejos foram satisfeitos, quais foram frustrados e quais ainda não foram realizados. Uns até vivem sem fazer esta anamnésia como diziam os gregos, talvez por receio de olhar para trás e encontrar mais culpas e decepções, do que desejos bem satisfeitos. Há os que temem constatar que a vida passou muito rápido e o passado pouco tem a significar. Refletir sobre a própria existência não é tarefa fácil. Minha natureza inquieta provoca desejos, não necessariamente inéditos. Muitos são desejos que já desejei e realizei. Desejo de criar projetos na empresa, desejo de estar junto dos filhos, desejo de atuar em movimentos sociais, desejo de me relacionar com pessoas que me atraem. Na verdade, tudo isso já tem um passado. Fiz e faço, mas por que descontinuar? Dirão que sou rotineiro. Direi que sou um rotineiro inovador, reinventando a rotina e desfrutando do seu prazer, dia a dia. Olhar pra trás ajuda a não ignorar o que de bom se conseguiu construir e, ao mesmo tempo, descartar aquilo que não cabe mais. No lugar do que foi descartado, abro o espaço ao novo que até então não tinha passado. Assim, velho e novo andam de mãos dadas, sem brigar.
Marcos Kayser
Amar, Acreditar e Aceitar
Um amigo pediu que eu citasse 3 verbos que seriam aqueles que eu mais gosto ou gostaria de conjugar. Pensei e dispareii: Amar, Acreditar e Aceitar, Por coincidência, 3 A’s. Amar os amores que tenho (e que sorte a minha que tenho!). Acreditar no amor que virá (dos próprios amores que tenho e de outros que poderei conquistar). Aceitar o amor que se foi (como tudo na vida, amor também se vai). Um dos amores que tenho é o amor pela vida, que me faz sofrer como todo o amor. Amo tanto que ainda não consegui entender o fato de morrer. Talvez um dia eu aprenda a amar sem me apegar. Será??? Dito por outro amigo: o caminho é a resignação. Sei, mas requer uma capacidade imensa de aceitação. Talvez aceitar, seja dos três verbos aquele que mais tenho que exercitar. Amar é viver e só o amor torna a vida amável. Não é verdade que o amor é mais forte do que a morte. Até quem ama, morre, o que, cá entre nós, é uma baita sacanagem para com os amantes, Então, sem outra alternativa, aceitemos a morte, mas sem deixar de amar. “É necessário amar algum objeto e nos unir a ele para existir”, diz Espinosa. Para aceitar é preciso acreditar. Para acreditar é preciso amar, E para amar? Antes de mais nada, admitir humildemente que somos fracos demais para nos bastarmos. Depois, conjugar o verbo amar em todas as pessoas. Amor de amante, amor de pai, amor de mãe, amor de filho, amor de amigo, amor de cidadão. Perguntei ao meu amigo quais eram os verbos dele e ele me respondeu que ia pensar… Disse a ele: pensa, mas não deixa de amar. Se doer, aceita, mas não deixa de acreditar.
Marcos Kayser