Arquivo da categoria: Artigos da aldeia global

5 entraves para adoção de um modelo de gestão estratégica

1. Falta de conhecimento:

Muitos até sabem dos benefícios que trazem a adoção de uma gestão estratégica, porém por desconhecerem seus elementos principais, acreditam que uma gestão estratégica não se aplica a sua realidade. Normalmente pensam que se trata de algo exclusivo para grandes corporações privadas, ignorando que a grande maioria destas já foram minúsculas organizações e só chegaram aonde estão porque souberam fazer a opção por uma gestão baseada no planejamento e no controle dos processos e resultados.

2. Falta do hábito de planejar:

Apesar de sabermos que planejar antes de sair fazendo reduz riscos e desperdícios e aumenta as chances de sucesso, ainda damos preferência a fazer sem planejar devidamente. Planejar que em grande parte dos casos não significa um detalhamento minucioso de tudo que vamos fazer, mas definir minimamente o que, quem, quando e como fará, pensando também no porquê e no custo que terá. Se começarmos a sistematizar o que faremos podemos começar a criar o hábito saudável do planejamento.

3. Falta de tempo:

Vivemos numa sociedade com sobrecarga de atividades o que gera falta de tempo. Como é humanamente impossível aumentar a carga horária do dia, uma das soluções é reduzir o desperdício de tempo, o que se pode conquistar com planejamento. Antes de sair fazendo, como é de costume, a recomendação é pensar nos objetivos e sistematizar os melhores caminhos para se chegar onde se deseja. O tempo que se levará para planejar certamente será ainda inferior ao tempo que se desperdiça, quando se faz sem planejamento, cuja falta nos obriga a fazer repetidamente até fazer bem feito.

4. Foco exclusivo na sobrevivência:

O mercado muito competitivo, agravado pela economia globalizada onde as maiores corporações tem um poder de competitividade muito maior, aliado a um grande número de empreendedores sem formação em gestão para administrarem seus negócios faz com que o empreendedor se preocupe exclusivamente com a sobrevivência, sem visão estratégico e de longo prazo. Nesta condição, não consegue compreender que a sua sobrevivência também depende de um bom planejamento.

5. Resistência à mudança:

São poucos os que não morrem de medo do novo e resistência a mudanças. Tendemos a nos acostumar com a rotina, afinal, ela, mesmo que nem tão desejada garante uma certa segurança. Segurança que em sua maioria dos casos é ilusória, pois enquanto estamos mergulhados na rotina, fazendo sempre o mesmo, há outros vencendo a resistência da mudança e encontrando novos caminhos para obterem ganhos.

O “troca-troca” na política partidária brasileira

Não sei se a melhor palavra é prostituição para expressar o “troca-troca” que ocorre na política partidária brasileira. O candidato, o polítco, hoje dá seu apoio pra um, amanhã pra outro que era ontem justamente oposição. Chega-se ao cúmulo de um mesmo partido ter representantes que apóiam “a” e os que apóia “b” e chamam isso de liberdade. Se trocar de partido como se troca de roupa todo dia já era contestável, o que dizer das coligações entre oposições? No tempo de dois partidos, Arena e MDB isso era mais difícil, ou melhor, não tinha como acontecer. Numa analogia com o futebol, pra bom gaúcho enteder, é como se colorados e gremistas trocassem de time a todo momento quando convém. É como se a nova concepção pluripartidária tivesse sido criada justamente para permitir a nova prática. Prática em que a infidelidade e o desprendimento para algum tipo de ideal coletivo é total. Assim o “troca-troca” constitui-se em mais um fato que ajuda no processo de desmoralização da classe política brasileira, pelo menos no conceito dos eleitores mais lúcidos e fiéis a princípios éticos. Afinal, como justificar que numa região do Brasil o partido “x” combata acirradamente o partido “y” e numa outra região do mesmo país os mesmos partidos andem de “braços dados”? Como justificar que em curto intervalo de tempo “x” e “y” sejam adversários que se massacravam e logo se tornam grandes aliados, com um discurso que ignora a história? Esta é a política partidária brasileira, onde as mudanças de posição acontecem por conveniência pessoal e a prostituição partidária é uma das grandes armas para continuar vencendo no jogo do poder. Jogo cujos jogadores parecem não admitir perder, tamanha a ganância pelo poder. Perde com isso o país, perde a população que não consegue fazer as devidas e necessárias distinções. E não havendo uma oposição legítima, como cobrar do eleitor que tenha partido e que assuma uma posição?

Quem será o “abestado”?

Há fenômenos estranhos que acontecem no processo eleitoral e político brasileiro. Não é de hoje que Tiriricas no pleno exercício de um  direito se candidatam sem possuir os pré-requisitos para tal e, o que mais preocupa, acabam se elegendo com números expressivos de votos, sucumbindo durante o mandato pelo despreparo. Preparo que pode ser determinado por uma certa base de conhecimento das leis vigentes, uma certa capacitada de articulação e argumentação e mais alguns atributos que se sugerem recomendados para um bom candidato ao parlamento,  o que também não garante que estes irão cumprir bem a função tanto moral como operacionalmente.

A pesquisa Datafolha mostra que Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, obteria 3% dos votos em São Paulo, chegando a 900 mil, considerando-se a proporção de 30 milhões de eleitores do Estado. Sendo assim, Tiririca seria, se a eleição fosse hoje, o deputado Federal mais votado em todo o país, e elegeria alguns outros candidatos com pouca ou nenhuma expressão eleitoral na sua legenda ou coligação composta, além do PR, pelo PT e PCdoB. Estes candidatos é bem provável que se elegeriam as custas de Tiririca com menos de 500 votos cada um.  Tiririca é o retrato do Brasil, que elegeu Juruna e votou no ficcional Cacareco.

Vestido de palhaço, Tiririca, em tom de deboche, aparece em diferentes inserções no horário eleitoral de seu partido, o PR. Identificando-se como “o candidato abestado”, ele usa bordões e diz frases como as seguintes:

– “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica!”

–  “Oi gente, estou aqui para pedir seu voto porque eu quero ser deputado federal, para ajudar os mais ‘necessitado’, inclusive a minha família. Portanto meu número é 2222. Se vocês não votarem, eu vou morreeer!”

“Oi, eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois, eu te conto.”

– “Quando vocês apertarem na urna eleitoral, vai aparecer esse cara aqui, e esse cara aqui sou eu. Ô candidato lindo!”

– “Você está cansado de quem trambica? Vote no Tiririca”

Para deputado federal, Tiririca. Vote no abestado”

No horário eleitoral de ontem, Tiririca apareceu inicialmente escondendo o rosto e perguntando: “Adivinha quem está falando? duvido vocês ‘adivinhar’! “. Em seguida, tirou as mãos do rosto e declamou: “Sou eeeu, o Tiririiiica, candidato a deputado federaaaal, 2222, não esqueeeeeça, peguei vocês, enganei vocês, vocês ‘pensou’ que fosse outra pessooooa, sou eu, o abestaaaaado, vote 2222!”

Como a história mostra que os Tiriricas eleitos não tiveram o mesmo  sucesso no mandato, não nos atreveremos a dizer que criticar suas candidaturas é  discriminar os menos “favorecidos”. Votar em candidatos que no discurso já demonstram uma certa desestrutura, não só é um ato de pouca inteligência, como também de irresponsabilidade, apesar de uns justificarem como sendo um voto de protesto. Haverá outras formas mais eficientes de protesto, né? Resta saber, quem será mais “abestado”: o candidato ou o eleitor? Tomará que esta pergunta perca o sentido, na medida em que as urnas não comprovem a tendência da eleição do “abestado”.

Marcos Kayser

Será possível torcer pelo rival?

Há dois momentos especiais que levam um colorado ou um gremista assistir a uma partida de futebol: quando joga o seu time ou o seu rival. Pelo seu time torce, pelo seu rival seca. Para o torcedor mais radical, mencionar o nome do rival já é coisa arriscada, pois tal atitude pode comprometer sua fidelidade ao time do coração. No jogo do Grêmio e Corinthians pelo Brasileirão todo bom colorado só tinha um objetivo, torcer pelo Corinthians mesmo que o Corinthians seja um concorrente direto ao título e esteja na segunda posição do Brasileiro. Contudo, eu não consegui torcer pelo Corinthians. Também não consegui ficar neutro, até porque dificilmente assisto a um jogo de futebol sem torcer por algum dos times, nem que a partida seja entre Uberaba e Uberlândia. Torci para o Grêmio e até os que estavam comigo se assutaram. No início do jogo quando falei que torceria para o Grêmio estranharam, mas quando apresentei minhas justificativas e demonstrei que estava realmente torcendo para o Grêmio um chegou a dizer que sua torcida seria pelo empate. E por que torcer nesta partida para o principal rival? Para honrar minha paixão pelo colorado, ferida por ter sido violentada naquele 2005, quando nos roubaram o tetra campeonato, anulação de partidas, expulsão do Tinga e não marcação daquele pênalti que certamente seria convertido e nos daria a vitória em plena São Paulo. Com esta breve recaída, percebi mais uma vez que pelo bem do meu time, as vezes é possível torcer pelo rival, desde que este rival não cause ameaça. Já nos anos 90 quando o Grêmio de Felipão enfrentava o Palmeiras do Luxemburgo, a soberba do Luxa e a parcialidade da imprensa nacional, pendendo para os paulistas, agitava minha alma gaúcha e acabava me impedindo de torcer contra os gremistas. O futebol é capa de muitas coisas. Não é à toa que o filósofo Albert Camus reconhecia no futebol a fonte da sabedoria moral. “O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…”, dizia Camus.

Marcos Kayser

Bebê é gente

“Eles têm noção de matemática, são prodígios da psicologia e conseguem diferenciar o bem do mal.” Quando se ouve uma afirmação desta natureza, a primeira impressão é que o sujeito sobre o qual está se falado, não é um ser da espécie humana, não é gente. Talvez possa ser um robô ou, o que é mais provável, um animal. Porém, está se falado justamente de um ser igual a gente, dotado da razão que pensa e sente. Está se falando dos bebês que assim como as mulheres há séculos atrás era um ser inferior que não merecia o mesmo respeito e privilégios que os homens adultos detinham. Assim como mudou o conceito para com as mulheres, está mudando para com os bebês, apesar do inconsciente coletivo ainda inclinar para uma suposta inferioridade dos pequeninos. A psicologia e a neurociência vem colaborando muito para a mudança da cultura vigente, na qual os bebês eram praticamente humanos na fase animal. Conforme diz a frase inicial, hoje já se sabe que os bebês não nascem como uma tabula rasa, ou seja, como uma folha em branco, sem informações e conhecimento. O código genético e o relacionamento com o mundo exterior através da mãe quando na gestação já vão condicionando a formação do indivíduo. Formação que não tem fim, se constituindo e se transformando ao longo de toda a vida até a sua morte. O entendimento deste novo cenário do bebê, é muito importante para que as mães e pais percebam o quanto é determinante o bom cuidado que devem ter com seus filhos mesmo enquanto “solitários” (e nem tão solitários como se pensava) na barriga da mãe. Cuidado remete a atenção, afeto, vínculo, para que aumentem as chances de uma infância tranqüila e uma vida adulta feliz. Uma das iniciativas mais interessantes que já vem sendo realizada dentro desta nova visão de atenção especial aos bebês, é a Semana do Bebê cujo idealizador foi o médico Salvador Célia, falecido em 2008, acontece desde 2000, nos meses de maio, em Canela, e tem o propósito de mobilizar a sociedade e técnicos a discutir a saúde física e mental dos bebês, avaliar os indicadores sociais, dar assistência às famílias, defender os direitos das crianças e adolescentes, orientar e educar para a prevenção e criar canais de comunicação que divulguem a importância da infância por um mundo de paz. A Faccat, Faculdades de Taquara, estará realizando agora no mês de agosto o décimo primeiro Seminário de Educação Infantil e terá um painel dedicado aos bebês, sob o título: DIFERENTES OLHARES SOBRE O CUIDADO COM OS BEBÊS. A revista Superinteressante de agosto traz também uma reportagem especial sobre os bebês que deve interessar não só aos profissionais das áreas da educação e da saúde que trabalham diretamente com eles, mas a toda a sociedade que precisa aprender muito ainda para conviver com o bebê como ele é, ou seja, gente.

A cidade preferencial

Todos temos preferências por esta ou aquela cidade e os motivos variam de acordo com os sentidos e sentimentos de cada um, apesar de termos alguns motivos comuns como são os casos da boa estrutura de educação, saúde, segurança, cultura e lazer que uma cidade pode nos oferecer. A revista The Economist, em recente pesquisa, escolheu Vancouver como a cidade com melhor qualidade de vida do mundo, com Viena ficando em segundo lugar. A lista claramente relacionou seu conceito de qualidade de vida à língua falada: o inglês. Viena e Helsinque são as duas únicas exceções na lista da The Economist. As demais são Melbourne, Toronto, Sydney, Adelaide, Auckland. A revista também deu preferência para cidades do velho Império Britânico, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, talvez por causa da qualidade dos seus sistemas de educação e saúde. Mas nenhuma cidade da Ásia, África, América do Sul ou dos EUA consta na lista das Top 10. Assistência médica e educação são importantes, mas, salvo no caso de Viena, a pesquisa parece não ter dado ênfase à cultura. Ar limpo também é importante, o que automaticamente deixaria de fora Xangai e Hong-Kong, duas das mais vibrantes e poluídas cidades do mundo. O crime tem de ser levado em conta, o que colocaria de fora Cidade do Cabo e Rio de Janeiro. Todas as cidades escolhidas são democracias decididamente liberais e estáveis, o que as diferenciam muito do mundo em desenvolvimento. Os americanos adoram Londres, centro financeiro que tem uma intensa vida cultural. Mas é preciso muito dinheiro para viver na capital britânica. Segundo Oscar Wilde, quando todos os bons americanos morrem, eles vão para Paris. Para um artista pobre, Berlim pode ser o lugar ideal, com seu entusiasmo criativo e moradia barata., Barcelona pode ser uma boa escolha se a preferência for o Mediterrâneo. Istambul, pelo romantismo, Salzburgo pelo charme, Cingapura pelo aspecto prático e San Francisco pelo cenário e ambiente. Todas tem motivos de sobra para estarem dentre as cidades preferenciais. E para nós brasileiros, cidadãos de um país que ainda não pode ser considerado desenvolvido, pela série de carências que possui, qual cidade brasileira seria a nossa preferencial para viver, trabalhar e até morrer? Por curiosidade, seria a cidade onde se vive atualmente?

Falta gente qualificada

Comentários sobre a falta de mão-de-obra generalizada não só na região como no país como um todo já viraram rotina. Nas conversas entre empresários e entre aqueles que procuram por pessoas qualificadas para preencherem vagas de trabalho é uma constante. Parece que este passou a ser um problema vivenciado por todos. Há algum tempo a carência era observada em áreas com maior grau de exigência, como ocorria nas áreas de alta tecnologia. Hoje a situação se agravou e atinge praticamente todos os setores. Para contratar uma secretária temos que realizar uma quantidade enorme de entrevistas até achar aquela que minimamente preenche os requisitos. Para contratar um pintor, um jardineiro, uma faxineira, uma empregada doméstica, é outra luta. Para contratar um montador de móveis, é preciso encarar quase que uma via sacra, tamanha a dificuldade. Para encontrar um programador em linguagem PHP, que é algo mais específico, mas nada de inédito, é ainda pior. A falta de oferta poderia ter causa num grande boom do mercado, mas isso ainda não ocorreu e a carência já vem de algum tempo, antes mesmo da crise financeira, vivida no ano passado. As indústrias do setor do calçado também enfrentam esta dificuldade e muitas delas restringiram seus planos de expansão principalmente por este motivo. Observando mais a fundo, tendemos a acreditar que o maior problema reside na má formação das pessoas, ou seja, disponibilidade de mão-de-obra qualificada. E isto não parece ser exclusividade de um eventual aumento dos padrões de exigência dos empregadores mas sim porque se verifica uma certa decadência no perfil do trabalhador. Quando se pensa em construir distritos industriais é preciso atenção especial e preocupação para este fato, pois se há o interesse de captar novas empresas é preciso também se preocupar em formar mão-de-obra qualificada, dificuldade que hoje o Brasil tem e o Paranhana não foge a regra. Uma outra questão, dentro deste mesmo tema, é sobre qual é o papel das escolas e das faculdades nesta carência de mão-de-obra qualificada, pois, como sabemos, uma das principais fontes do conhecimento e do aprendizado de técnicas ainda são elas.

Marcos Kayser
Filósofo

O risco de uma opinião

Todos temos nossas opiniões e devem tê-las, afinal, a opinião é uma confirmação de nossa humanidade (condição humana). Não que necessariamente devemos ter opinião sobre tudo, pois toda opinião exige um certo grau de conhecimento e há questões sobre as quais temos desconhecimento por completo. Também é improvável que alguém saiba tudo e de tudo. Quanto mais sabemos, mais temos consciência de que estamos distantes de saber tudo, o que nos torna mais humildes na hora de opinar. Por isso, opinar é também arriscar e se recomenda, para quem tem senso de responsabilidade, que a opinião não se encerre em si mesma e permita uma dialética, sem ignorar outras opiniões. Quem opina com esta abertura tem consciência da limitação da opinião e, quando opina, toma cuidado em não pecar por excesso de auto-suficiência. Posso hoje me achar com a razão e amanhã me ver diante de uma grande ilusão. Bachelard diz que a opinião pensa mal e com isso quer dizer que a opinião nem sempre tem razão, está envolta de crenças e segundas intenções. Por falar em crença, é Kant que define a opinião como uma crença que tem consciência de ser insuficiente. É bom destacar que há muitos casos sem a presença da consciência. Assim a opinião é dogmática e está mais para a religião do que para a ciência. Há sofismas disfarçados de opinião, como estratégia de manipulação. A história da humanidade está cheia de episódios em que a verdade perdeu para a falsidade. Apesar de ser crença, como define Kant, não significa que cada um deve ter a crença que bem entende, quando confrontado com o real. Opiniões sobre uma mesma realidade, desde que conhecida, é claro, podem não serem idênticas, pois não somos iguais, mas, ao mesmo tempo, não podem ser opostas e contraditórias, pois estamos tratando de uma mesma realidade. O que faz a oposição entre as opiniões é normalmente o conflito de interesses e o conhecimento apenas superficial ou distorcido da realidade. No primeiro caso encontramos a intransigência do autor em acolher a outra opinião, que poderá por em risco um interesse particular. Quanto ao conhecimento superficial, conhecer mais ou menos uma realidade implica na coerência da opinião. Quanto mais conheço, mais coerência poderá ter a minha opinião. Para isso é fundamental conhecer a realidade, sob os mais variados pontos de vista. Não só o meu, não só o do outro, mas todos as perspectivas da questão. Olhar do meu ponto de vista é fácil e confortável. O difícil é olhar do ponto de vista do outro que demanda coragem, tolerância e dignidade em reconhecer a miopia da visão. Vale a máxima de se colocar no lugar do outro e se isso for inviável ou indesejado, o mais recomendado é não ter ou não dar opinião, sob pena de agir de má fé. Também é muito arriscado emitir opinião com base numa outra única opinião ou ainda persuadido pela figura de quem opinina. Neste caso, mais vale o autor do que os argumentos. É uma pena que muitos fazem da opinião uma sentença com poder de condenação. Seus autores ignoram que podem estar cometendo equívocos irreparáveis e condenando muitas vezes uma vítima no lugar de um réu. Pobre vítima que se vê condenada por uma opinião. Sua esperança? Quem sabe o tempo. E, como se trata de religião, Deus, único capaz da reparação.

Marcos Kayser
Filósofo

Entre uma partida e uma chegada

Verão sugere veraneio, pelo menos para nós brasileiros que normalmente reservamos as férias para esta estação. E como é bom viajar! Numa viagem respiramos novos ares, conhecemos novos lugares. Na maioria das vezes, nos sentimos mais livres, pois nos desprendemos da rotina recheada de compromissos, amarras assumidas muito mais por obrigação do que por vontade. Digo na maioria das vezes porque muitos não conseguem se desprender da rotina, nem mesmo numa viagem de férias. Desprendimento que deixa a tal rotina de lado, em segunda ou terceira instância, permitindo que a contingência e a criatividade sejam colocadas como prioridade. Desprendimento que pode ser acompanhado, desde que seja bem acompanhado, e a família é uma das boas companhias, para quem tem bons vínculos familiares, é claro. Lembro-me de um amigo meio ermitão que, perguntado pela sua solidão, respondeu sentir-se muito bem acompanhado por ela. Michel Onfray no seu livro Teoria da Viagem diz que numa viagem se descobre verdades essenciais a estrutura do ser humano e isso ocorre não só durante a viagem, mas também antes e depois. Dores e feridas, tédios e tormentos, pesares e infelicidades, tristezas e melancolias se amplificam na viagem, segundo Onfray. A viagem não cura, pois o que embarca na partida reaparece na chegada, mas pode servir de terapia, na medida em que possibilita enxergar melhor o que não vemos quando mergulhados, quase afogados, na rotina do dia a dia. Enxergar para poder compreender e suportar, a si e ao outro, o que pode representar um (re)encontro. Agora, chegar de volta em casa é bom demais. E a casa não se restringe ao lar, estende-se à rua, ao bairro, à cidade, ao trabalho e, principalmente, às pessoas de nosso círculo de relações, inclusive aquelas da rotina que muitas vezes não suportávamos mais, mas que na viagem acabamos sentindo saudades e reconhecendo o seu significado. Se viajar é encontrar-se, então retornar a casa é perder-se? Talvez sim, por isso temos que voltar a planejar uma nova viajem. Então, entre a partida e a chegada, o que será melhor? Atrevo-me a dizer que o melhor é viajar, ressalvas àquela viagem que deu tudo errado. Parece contraditório, mas é experimentando o distanciamento proporcionado pela viagem que descobrimos significados.

Até rei tem preço

Na cobertura da escolha dos grupos da Copa do Mundo de 2010, diretamente da cidade do Cabo, na África do Sul, a curiosidade era saber quais seriam as seleções que fariam parte do grupo do Brasil.  Mesmo com o sentimento otimista, construído a partir da boa performance dos comandados de Dunga, durante as eliminatórias, sempre há uma certa dose de ansiedade por saber quais adversários estarão no caminho da seleção canarinho e até que ponto poderão representar algum tipo de ameaça à classificação já na primeira fase. Mas, apesar do centro da atenção estar na formação dos grupos, particularmente, o que chamou a atenção foi não ter ouvido o nome de Pelé dentre as celebridades protagonistas do sorteio, por ser figura indispensável nos grandes eventos do futebol internacional. Não demorou muito para saber que a ausência de Pelé se dava a uma concorrência entre o patrocinador da FIFA, entidade promotora da Copa do Mundo, e o patrocinador do rei do futebol. Nos jornais e na Internet informações sobre o fato, considerado por mim inusitado pela ausência de Pelé no evento, não suscitou maior destaque. Surpreendeu-me a falta de mais detalhes sobre o assunto, nenhum comentário que pudesse trazer algum questionamento ou elevar o pensamento sobre o que faz com que um homem condicione suas paixões ao poder econômico. Talvez por causa da vertente filosófica, pensei em encontrar algo escrito que fosse além do fato em si, induzindo a refletir o peso do interesse econômico, capaz de determinar a conduta de um rei, aparentemente com a vida resolvida, sob o aspecto financeiro e de poder. Apressadamente ou ingenuamente, sei lá, constatei: “até rei tem preço”. Isso significa que Pelé é mercadoria e, como tal, pode ser comprada, tem preço e tem quem compra. Comprador que adquire o direito inclusive de tolher o rei de contemplar aquilo que, bem provável, seja sua maior paixão: as coisas do futebol. Indo um pouco além da primeira questão, por que Pelé não estava presente, podemos pensar: por que um homem já afortunado se submete a conter seus desejos e paixões por uma única e exclusiva motivação: mais dinheiro? Hobbes, filósofo do século XVI, continua vivo. Ele cita que todo o homem busca felicidade e a felicidade é um movimento contínuo do desejo de um objeto ao outro sem cessar. E desejo para Hobbes é desejo de poder. E poder para nossa sociedade contemporânea é dinheiro. Até Pelé, com toda a fortuna que tem, rende-se ao dinheiro e o movimento em busca dele, é incessante, sempre mais e mais, sem cessar, pelo menos até a morte. Não se conforma quem não tem, não se contenta que tem. Então me atrevo a desconfiar que “o trono da majestade não é do rei, é de outra majestade: o mercado”. Se havia outro motivo para Pelé não estar presente, desconsidere o que escrevi sobre o rei, mas não sobre o dinheiro.