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Planejamento: uma questão de sobrevivência

É comum apontarmos a falta de planejamento como uma exclusividade dos governos municipal, estadual e federal. Mas se observarmos mais atentamente ao setor privado, principalmente as micro e pequenas empresas, perceberemos carência de planejamento em alto grau. Então podemos pensar que a falta de planejamento seja um problema brasileiro. Talvez não seja mundial porque percebemos que outros, como por exemplo, os americanos, parecem ter na veia a prática de metodologias de planejamento e gestão. E o que significa planejar? Sem muita retórica, planejar é estabelecer objetivos e projetar as vias para conquistá-los, quem sabe, com excelência. Pensar o que queremos, sem deixar de olhar para trás. Analisar as potencialidades inerentes e pontos vulneráveis, as ameaças e oportunidades externas. Apesar de todos os caminhos nos levarem a algum lugar, nem todos os caminhos nos levam ao objetivo desejado. Aqueles que sabem onde querem chegar e por onde pretendem trilhar, elegem alguns indicadores para auxiliá-los a acompanhar se estão ou não se aproximando do destino que planejaram, ou seja, da meta. Os riscos de não se chegar aonde se quer são enormes se não avaliarmos e estabelecermos previamente o melhor caminho. Isso é de uma obviedade, mas ainda tem muitos que agem sem uma análise mínima, que a sistematização muitas vezes possibilita. Escolhem por impulso, ou pela “teoria do achismo”, incorrendo na maioria das vezes em fracasso. Para a não adoção de uma sistematização, justificam que o plano está na cabeça do chefe, empresário ou prefeito, desprezando que restringir a um só impede o compartilhamento de idéias e a adesão responsável. Planejar dá trabalho e exige sacrifícios. Não é bom pensar que o brasileiro é por natureza ou por cultura preguiçoso e, por isso, não tem o hábito de planejar. Planejar exige tempo e disponibilidade. Coisa que não está sobrando e, na maioria das vezes, não se tem. Mas se convencermos ao exército da resistência que é justamente para ganhar tempo que optamos pelo planejamento, talvez começaremos a motivar uma transformação. Dá para acreditar que planejar evita o desperdício, principalmente de tempo? Logo o tempo que é uma das maiores ambições humanas. Imaginemos fazer uma viagem de longa distância sem um plano mínimo. Ir até o aeroporto sem previamente ter planejado a compra da passagem. Não planejar aonde se hospedar, nem os lugares a visitar. O tempo se esgotará na resolução de problemas, restando pouco tempo para o prazer da viagem. Mais uma vez parece óbvio a utilidade do planejamento. Contudo, são minorias que elaboram seus planejamentos e aqueles que o fazem confirmam sua utilidade, não somente para crescer, mas primeiramente para sobreviver. Planejar então para quem assimila a sua importância, passa a ser uma questão de vida e morte. Tomara que planejamentos estratégicos regionais e estaduais, como é o caso da Agenda 2020, vençam as resistências, pelo bem geral da humanidade gaúcha!

Congresso Internacional da Gestão

O Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) promove, nos dias 20 a 22 de julho, na Fiergs, em Porto Alegre/RS, a 10ª edição do Congresso Internacional da Gestão. O evento, considerado um dos mais importantes encontros de executivos de todo o Brasil na área da gestão e da qualidade, irá tratar de um dos temas mais atuais, Crises: Gestão da Mudança e Oportunidades, discutindo, com lideranças empresariais, governantes, e especialistas, oportunidades de inovação e melhoria dos processos nos momentos de crise, transformações estruturais na economia global, administração de riscos, gestão pública, tecnologia e produtividade e modelos de negócio. Entre os diferenciais do Congresso está a possibilidade de aplicação do aprendizado obtido no evento na prática das empresas. Os participantes vivenciam “cases” e conhecem resultados apresentados pelas próprias lideranças das organizações. Entre os principais palestrantes confirmados estão o presidente da American Society for Quality (ASQ), Roberto Saco, que participará do painel Parcerias Internacionais para tratar sobre o tema “Construindo o Cenário Futuro Pós-Crises”. Também está confirmado o diretor-executivo do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento/BID, Martin Chrisney; que irá falar sobre o tema “Gestão Globalizada: Competitividade e Infraestrutura”. O vice-governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Anastasia participará do painel nacional “Gestão Pública de Resultados”, onde terá a oportunidade de relatar os resultados do trabalho desenvolvido em Minas Gerais em sua vasta experiência na área pública. O chefe da Divisão de Gestão e Performances do Setor Público da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Martin Forst, falará sobre os “Desafios da Gestão Pública frente às Crises”. E como um dos focos principais do Congresso neste ano é a gestão pública, já confirmaram presença o prefeito de Igrejinha, Jackson Schimidt, e o prefeito de Três Coroas, Rogério Grade. A CICS enviou convite a todas as prefeituras e Câmaras de Vereadores da região bem como para suas empresas associadas. É bom lembrar que neste ano todas as prefeituras e Câmaras de Vereadores do Paranhana deverão participar do PGQP em sua primeira fase, quando serão capacitadas para realizarem a auto-avaliação, um processo onde os próprios funcionários avaliam a gestão a partir dos critérios da excelência, dentre os quais estão: liderança, planos e estratégias, pessoas, sociedade, resultados, entre outros. Maiores informações sobre o PGQP, inclusive para micro e pequenas empresas podem ser obtidas na CICS pelo fone 35419100.

Um movimento com habilidades

Dia desses Marcos Kayser, que entre muitos projetos toca a agenda estratégica do Vale do Paranhana e é voluntário da Agenda 2020, sugeriu a leitura de um artigo da consultora e escritora norte-americana Kim Heldman, publicado na revista Mundo Project Management (número 26). É sobre as habilidades gerenciais que fazem a diferença entre um projeto acontecer ou não. Como quase todo mundo está, de uma forma ou outra, envolvido com algum projeto em sua vida, e eu também, li e recomendo aos leitores a leitura do texto de Kim Heldman na revista.
Eu estou acompanhando alguns projetos e certamente o mais importante seja o da Agenda 2020, que colaboro desde as primeiras conversas em 2004. Já são cinco anos de observação deste movimento e posso assegurar que praticamente tudo que Kim Heldman chama de as seis habilidades de relacionamento humano (soft skills), estão lá na Agenda 2020. Pode-se dizer que a Agenda 2020 tem vivência. Fiz um pequeno resumo do texto:
Pensamento crítico
Capacidade de combinar conhecimentos sobre determinado tema com a experiência e examinar julgamentos para solucionar o desafio em questão.
Gerenciamento de mudança organizacional
A maioria das pessoas está propensa a aceitar as mudanças quando compreende porque elas estão ocorrendo e como elas serão impactadas.
Solução de conflitos
Não é impor argumentos ou fazer do seu jeito. Encare o desafio de frente. A solução de desafios não acontece sem comunicação, que deve ser baseada no tom e na linguagem corporal e não apenas em palavras. É bom que todos “vejam” que você está efetivamente preocupado em encontrar a melhor solução.
Habilidades de negociação e influências
É importante entender qual o resultado final que você deseja da negociação antes que entre nas discussões. Faça com que a outra pessoa sinta que ela ganhou alguma coisa na negociação. Coloque-se no lugar do outro e pergunte-se o que você iria querer se você fosse ele.
Percepção e intuição
Percepção é a arte de ver o que não está lá. Você não tem dúvidas ao observar a outra pessoa durante uma conversa, percebendo que suas palavras e sua linguagem corporal dizem duas coisas diferentes.
Intuição é aquele sentimento ou a voz interna que lhe diz para tomar uma atitude, como nunca abrir um restaurante ou ainda que você deve ligar agora mesmo para sua avó porque ela pode estar precisando de algo.
Habilidades de colaboração
Trabalhar por um objetivo comum mutuamente acordado é meio caminho andado. Os desafios são resolvidos à medida que surgem. Todas as cinco habilidades anteriores são necessárias.

A falta de inovação na educação

O Colégio Europeu de Artes Liberais (European College of Liberal Arts) de Berlim, irá lançar o primeiro diploma de Bacharel em Artes em Estudos de Valores de todo o mundo, um programa interdisciplinar que representa uma nova forma de educação. O currículo se concentra nas questões morais, políticas, epistemológicas, religiosas e estéticas e foi elaborado com o entendimento de que tais questões estão natural e profundamente conectadas. Os membros da faculdade das áreas de filosofia, literatura, teoria política, história da arte e teoria do cinema trabalham juntos nestas questões. Os estudantes passam metade do seu tempo de aulas em disciplinas ensinadas conjuntamente, dedicadas às questões fundamentais sobre valores e ministradas através do estudo detalhado de textos e trabalhos de arte que moldaram, ou que pretendem moldar, os valores pelos quais vivemos atualmente. De acordo com este histórico eles escolhem suas áreas de concentração individuais. A faculdade foi recrutada por algumas das melhores universidades de pesquisas do mundo, incluindo Cambridge, Columbia, Harvard, Heidelberg e Oxford. Os estudantes e membros da faculdade procedem de mais de 20 países diferentes e trabalham juntos no idioma inglês. Eles compartilham as instalações de um pequeno campus residencial e as riquezas culturais de uma das mais vibrantes capitais da Europa. Não dá para afirmar que este seja o modelo ideal, até porque é preciso se aprofundar e conhecer melhor a proposta, agora o que chama a atenção é a quebra do paradigma que se sustenta há muito as escolas de ensinar um pouco de tudo e isoladamente, o que se aproximar de um ensinamento vazio, infelizmente. O vazio é a falta de profundidade e conexão com o que na sociedade atual é mais urgente. A fragmentação do ensino parece ser algo inapropriado a formação do homem que se quer íntegro. E esta escola de Berlim, ao que parece, busca unir disciplinas e propósitos, optando por abster-se da vã pretensão de ensinar tudo, ou melhor, de tudo.  Não que o Brasil não tenha bons exemplos na área da educação, mas são exceções. Falta a nós recursos, humanos e financeiros, senso de inovação e coragem para enfrentar as conseqüências naturais de toda e qualquer mudança, uma delas a resistência e até a desistência de muitos. Quando falamos de inovação não é uma simples invenção desprovida de estudo e responsabilidade. É fazer diferente, com objetivos claros, previamente planejados e passiveis de medição, visando resultados. Sem a preocupação com a tradição herdada por imposição na época da ditadura e agora sustentada pela acomodação de professores e gestores. Tradição no sentido de continuar fazendo porque sempre foi assim. Por onde começar? Acho que seria inovando, mas com responsabilidade.

Marcos Kayser

Presidente Comitê PGQP Paranhana

O planejamento como requisito chave para o público e o privado

Conforme Vicente Falconi, renomado consultor na área de desenvolvimento gerencial, “uma nova geração de políticos, ajudada por empresários brasileiros, está descobrindo o planejamento estratégico e o método gerencial como instrumento indispensável para aumentar a produtividade sem deixar de incrementar a qualidade”.   Aumentar a produtividade significa fazer mais com menos recursos e isso se aplica também aos municípios que constantemente têm seus recursos reduzidos, seja porque no Brasil o governo concentra a maior parte da arrecadação, seja porque há momentos de crise, como esta que está se avolumando. É a falta, a carência e a dificuldade que justificam ainda mais a adoção de um planejamento estratégico com visão sistêmica, que integre metas, indicadores e projetos para todas as áreas. A produtividade dos governos é muito baixa, pois a falta de um planejamento adequado gera muito desperdício. Muitas vezes são concentrados esforços homéricos em determinada ação que acaba fracassando, porque não contemplou um ou outro requisito elementar. Previsibilidade que só o planejamento estratégico permite. Exemplo: muitos prefeitos vão em busca da atração de novas empresas para as suas cidades e até estruturam distritos industriais, só que não se dão conta que nas suas cidades falta mão-de-obra especializada. O planejamento permite sistematizar ações que preencham todas as lacunas. Seguindo este exemplo, o planejamento bem feito contemplaria projetos com foco na qualificação da mão-de-obra, além de outras condições mínimas para a atração de empresas e empreendimentos. Um planejamento não se resume em definir missão, visão e valores, é muito mais do que isso. É definir projetos que visam conquistar os objetivos estratégicos estabelecidos de forma abrangente e transparente e elencar indicadores que passaram a ser analisados sistematicamente para acompanhar o sucesso dos projetos. O Brasil e o RS têm tido experiências interessantes em alguns municípios. A prefeitura de Erechim está dentre estas experiências e aqui vai meu convite aos governos municipais atuais e futuros e aos legislativos para participarem da Reunião da Qualidade, promovida pelo Comitê do PGQP do Paranhana que ocorrerá no próximo dia 8, sábado pela manhã, na Ecoland em Igrejinha.   É uma oportunidade extraordinária para saber na prática como age uma prefeitura que trabalha na forma de projetos previamente discutidos, estudados e estruturados em seu planejamento estratégico. Ao em vez de gastarmos com viagens e diárias, por apenas R$ 30,00 (direito ao almoço) poderemos ter uma aula completa aqui em casa. Também o Hospital Municipal Santa Terezinha de Erechim apresentará o seu case, mostrando que é possível ter um hospital com serviços de qualidade e auto-sustentável o que deve atrair principalmente os hospitais e pessoal da saúde de nossa região. Maiores informação podem ser obtidas na CICS-VP fone 3542-6444 e as empresas independentemente do tamanho, sejam indústria, comércio e serviços, também estão convidadas pois terão a oportunidade de ouvir cases de sucesso da iniciativa privada.

O baixo investimento em educação no Brasil

O Brasil ficou em último lugar num ranking elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico sobre investimentos por aluno em 33 países. Com um investimento de pouco mais de 1.000 euros (R$ 2.439) anuais por aluno, o Brasil ficou atrás de países como Estônia, Polônia, Eslováquia, Chile, México e Rússia, que gastam anualmente entre 2.700 e 1.400 euros (entre R$ 6.586 e R$ 3.415) com cada estudante.
Portugal investe em média cerca de 4.200 euros (R$ 10.246) por estudante, o que coloca o país na 22ª posição. Os Estados Unidos lideram o grupo com cerca de 9.000 euros (R$ 21.956), seguidos da Suíça, Noruega, Áustria, Dinamarca e Suécia, com valores que variam entre 8.500 e 6.450 euros (entre R$ 20.736 e R$ 15.735). No quesito tempo em sala de aula por cada aluno entre sete e 14 anos, o Chile, país do mesmo continente que o nosso, lidera com quase 9.000 horas (o equivalente a permanecer 366 dias ininterruptos na sala). Não é por acaso que o Chile deu a volta por cima depois da ditadura de Pinochet, e nós? Bem, da ditadura pra cá, o ensino, pelo que se tem conhecimento, só decaiu. Na época da “linha dura”, os professores em sala de aula eram mais exigentes o que surtia efeito positivo no grau de comprometimento dos alunos e também no engajamento dos professores, na preocupação que tinham com a disciplina dos alunos sem desrespeitar seus direitos (mínimos, é claro). A conseqüência do investimento aquém dos outros países coloca o Brasil em desvantagem na competição de mercado. Competição que a muitos incomoda, e todos têm motivos, mas que é uma realidade inexorável. O mercado manda, independentemente da nossa vontade.  Sem uma educação de qualidade, que prepare os alunos para a competitividade, que puxe pela criatividade, senso crítico, deveres e capacidade empreendedora (no mínimo isso), estaremos ficando com as sobras. Recente pesquisa divulgada nos meios de comunicação já expõe sobre a dificuldade dos adolescentes na faixa etária dos 18 aos 24 anos conseguirem emprego. Emprego será coisa rara e a via de superação é a criação do próprio negócio caracterizado pela inovação. Para isso é preciso boa formação do aluno condicionada a boa formação do professor. Curso superior não basta, até porque muitas faculdades deixam desejar em exigência da qualidade. Perguntemos aos professores: quantos livros lêem em média por mês? Quantos já tiveram experiências empreendedoras? Quantos falam inglês? Se as respostas forem negativas, já se sabe o futuro que nos espera.

No caos é mais fácil votar (errado)

Quando uma cidade, um Estado ou um país caminham a passos largos para o desenvolvimento, para aquela condição da boa vida na cidade, desejo de todos, é muito mais fácil votar, seja para prefeito, vereadores e outros cargos. Basta confirmar os responsáveis, de boa conduta e bom desempenho em seus mandatos. Agora, quando vivemos situação de precariedade, evidenciada numa cidade sem hospital, nem praça, é fácil errar. O discurso dos candidatos é praticamente uniforme: “vote na diferença”; “vote na renovação”; “vote em que não promete, mas faz”; e por aí vai. Assim, para votar, não precisa nem pensar, é só sortear. Há aqueles que se aproveitam das carências para sensibilizar, como se muitos deles não tivessem participação no processo de degradação. O discurso se reduz as críticas e promessas sem propostas concretas de reversão do estado de calamidade. Diante do microfone prometem: lutar pela saúde, priorizar a segurança, defender os direitos do idoso e da criança e prosseguem com a obviedade, que, apesar de inócua, a muitos seduz.  Há candidatos que se arriscam em falar de projetos, mas na própria fala demonstram desconhecer noções de planejamento, do conjunto de ações com início e fim que visam objetivos mensuráveis e compreendem estudo de viabilidade, metas, indicadores, responsáveis, orçamento, cronograma, enfim, todas as etapas de um trabalho digno de ser designado como de excelência da qualidade. Impressiona a omissão do “como”. Será que por desconhecimento ou por estratégia eleitoreira? Talvez porque o “como” possa comprometer ou expor a real condição do candidato. O “como” também indicia. Como vão reestruturar um hospital interditado que tem uma dívida privada (dizem que é impagável), diante dos recursos públicos escassos? Vão construir um hospital novo, mas como? Como vão aumentar a segurança no centro urbano e no meio rural se não há suficiente contingente policial? Como imaginar uma gestão competente sem um plano decente? Sem o “como” é difícil avaliar. É quase uma irresponsabilidade votar. Já é do senso comum que não se pode confiar, afinal, os eleitos vão governar e legislar já se sabe como. Mesmo que é difícil de acreditar, resta o compromisso individual do cidadão consciente e conseqüente, que, por uma questão social (e não assistencial), precisa escolher um nome, em nome da sua própria felicidade, mas que represente os anseios da coletividade. É bom lembrar que ninguém se dá bem sozinho, depende da sociedade por mais insociável que seja. Infelizmente, esperança quase não há, mas, ainda resta tempo para algum candidato arriscar um “como”.

Crônica da Cidade Perdida

Cidade com a menor renda per capita da região e dentre as piores do Estado. Cidade com a menor taxa de empregabilidade da região (saldo de emprego a cada 1000 habitantes), neste ano de 2008. Cidade com a pior nota no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos anos iniciais (só tem índices melhores quando contabilizadas as escolas particulares). Cidade com o maior número de homicídios da região nos últimos dois anos. Cidade da região com o maior número de famílias atendidas pelo programa Bolsa Família. Cidade com o legislativo mais dispendioso financeiramente da região. Para completar: cidade com uma população superior aos 50 mil, sem um único hospital (nem por caridade). É bom cessar com a seção tortura para não parecer sarcasmo puro. Os que olham de fora, e sabem um pouco da história, se sensibilizam. Um dos sentimentos é a compaixão. Compaixão com os mais antigos, deprimidos ao lembrarem saudosos do que viveram e viram. Compaixão com o cidadão que ao pagar seus impostos em dia, reserva-se o direito de desejar excelência nos serviços públicos, mas o que vê é precariedade quando não carência.  Compaixão com aqueles que empreendem, gerando trabalho e renda, resistindo bravamente a escassez de condições, mais por teimosia e paixão do que por uma estratégica opção.  Além da compaixão, pairam dúvidas:  O que fazem os políticos da cidade? Não são eles os representantes do interesse da população? Saúde, educação e segurança, não são da (in)competência pública? Cadê a boa fé e a boa vontade, e a qualidade? E os cidadãos não reagem? Pois é, parece que a cidade se perdeu e junto dela (e nem poderia ser diferente) os seus cidadãos. Talvez por certa ingenuidade, ou comodidade, ou ainda, desconhecimento de causa, em função do sistema vigente ter sido inteligentemente arquitetado. Se no campo da religiosidade, pela fé o Paraíso Perdido será reencontrado, será também pela fé que a Cidade Perdida será resgatada? Como diz a música: “só não se sabe fé em quê”.

As porteiras da sujeira do Rio Grande

A crise política do Estado do Rio Grande do Sul é um fato que não se resume nas denúncias “bombásticas” do vice-governador, Paulo Feijó, já que o governo Yeda desde o seu início, sob o aspecto político, não conseguiu se estabilizar. A forma como Paulo Feijó deflagrou a crise é menos prioritária de ser discutida do que a forma de governar deste e dos outros governos passados. Na verdade a forma como a política de governo é feita no Estado e no país e o jeito de fazer política por parte dos nossos políticos é que carece urgentemente de uma reação de parte da sociedade. Por isso tomemos o cuidado de não cair nas armadilhas que alguns preparam para desvirtuar o foco da atenção que é a suposta corrupção. Sugere-se uma reação da população que vota, dos políticos que passam a ser réus e dos poderes a quem compete fiscalizar, julgar e condenar, quando for o caso. Temos no Ministério Público uma instituição cujo papel é fundamental neste contexto. Já dos políticos, infelizmente, não se pode esperar muito, a não ser tentativas de desviar o foco. Se for verdadeira a metade do que vem sendo denunciado, merecem prisão e devem depois de cumprir pena, procurar outra profissão. A tentativa de desviar a atenção é evidente. Ao em vez de concentrarem os esforços para elucidar os fatos, ficam discutindo se a atitude do vice-governador foi ou não ética. Ou se o ex-chefe da Casa Civil do governo, Cezar Busatto, deve ou não ser processado, como se fosse culpado por ter admitido que as mazelas são rotinas já antigas no Estado. A crise repercutiu e repercuti no Brasil, por meio da imprensa, que expõe a falta de ética na política rio-grandense. Na medida em que estampa as denúncias sobre o governo nas manchetes dos jornais, sutilmente denuncia a falta de ética do Estado e da população, já que o governo é o espelho do povo. Em certos veículos, chega a ser curioso. Aparenta existir uma certa satisfação em noticiar os supostos crimes no governo gaúcho. Talvez uma forma de dizer: – Viu só! Até aqueles os mais politizados do país não resistem à corrupção do poder! Em outras palavras: o gaúcho também é corrupto. Nós gaúchos não somos ingênuos a ponto de pensar e acreditar que não somos corrompidos, afinal, corromper-se talvez seja uma tendência humana e universal. Agora, com certeza, achávamos que não chegávamos a tanto. Achávamos que ser mais politizados equivaleria a ser mais ético. Na verdade, ser ético vem primeiro. Achávamos que aqui era diferente. É uma pena! Ruim pra nós gaúchos, ruim pra eles, afinal, todos somos brasileiros. Vai-se uma referência, mesmo que não fosse absoluta, sem referência o caos piora. Espera-se que o governo aproveite a onda e abra as “porteiras da sujeira” do Rio Grande. Espera-se que as investigações prosperem com a velocidade e com a austeridade que merecem e, depois, que venha a punição dos culpados e com ela a ruptura do sistema vigente, no qual a falcatrua virou a regra. Por fim, que pela crise tenhamos mais ética e, principalmente, ética na política.

Vereadores: Redução de salários forçada

Nossos Deputados Federais aprovaram na última quarta-feira, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 333/04, que cria 24 faixas de números de vereadores, de acordo com o tamanho da população de cada município. Para a menor faixa populacional, de até 15 mil habitantes, a câmara poderá ter no máximo 9 vereadores. Taquara, por exemplo, de 10 passaria para 15 vereadores. A matéria segue para votação no Senado. Caso a PEC seja promulgada até o dia 30 de junho, as novas regras poderão valer já na próxima eleição municipal, em outubro. O texto aprovado aumenta o número de vereadores no Brasil dos atuais 51.748 para 59.791. Se isso num primeiro momento mais uma vez nos deixa indignados pois representa aumento de custo já que todos recebem salários, a boa notícia é que a PEC também determina a redução dos gastos com vereadores pois limita os gastos das câmaras em 2% a 4,5% da arrecadação do município, o que diminuiria quase pela metade os orçamentos atualmente vigentes dos legislativos municipais. Hoje, esse limite é de 5% a 8% da receita. No Vale do Paranhana municípios como Taquara e Parobé teriam redução do orçamento em torno de 50%. A União dos vereadores do Brasil, uma espécie de sindicato da classe destes trabalhadores protesta e deverá fazer pressão intensa contra a PEC, ou melhor, contra a redução da receita, mas totalmente favorável ao que interessa à classe, ou seja, o aumento do número de cadeiras. Se obtiverem êxito, a PEC será um fracasso e significará mais um golpe à ética. Já se a PEC for aprovada na sua íntegra, teremos a esperança de dias melhores. Muitos municípios serão obrigados a passar por um choque de gestão, pois faltarão recursos financeiros, na medida em que haverá aumento de vereadores e ao mesmo tempo redução do orçamento. Como conseqüência, deverão reduzir seus salários e, em virtude disso, muitas Câmaras serão forçadas a corrigir os exageros existentes. Tomará que a perspectiva que se apresenta se concretize e assim mais recursos sobram para o executivo aplicar em benfeitorias e melhorias dos serviços públicos municipais. Tomará que o aumento do número de vereadores eleve o nível de fiscalização nos municípios, função que compete ao vereador.  Tomará ainda que aqueles candidatos que pretendem fazer da vereança uma fonte de emprego e renda, sabendo que terão seus salários reduzidos, desistam de suas candidaturas. Assim, quem sabe, aqueles que querem, por ideal, trabalharem pela cidade, se sentirão motivados para se candidatarem. Será que não estou enganado???