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Professor: má remuneração ou má formação?

Fala-se muito, e não é de hoje, que o futuro de uma nação depende da educação. Em outras palavras, estaria nas mãos da escola e do professor a tão aguardada prosperidade. É unanimidade no mundo todo que o crescimento econômico e o desenvolvimento social de uma nação dependem  da educação de  sua população. No Brasil assistimos  carências em todos os nível da educação, desde o ensino fundamental até os cursos superiores. A educação do país em termos de qualidade e profundidade não só deixou de evoluir como decaiu. Há décadas passadas o professor dava conta do conteúdo de sua disciplina. Hoje, em função principalmente dos avanços científicos e da velocidade como que se processam mudanças, isso é humanamente impossível.  Só que o professor continua ensinando da mesma forma que há décadas atrás. Mudou o mundo, o mundo é outro e não mudou a forma de ensinar. As crianças e os adolescentes são outros e as práticas educacionais, no fundo, as mesmas, disfarçadas de alguns fetiches modernistas. Nossas crianças e adolescentes continuam copiando, para depois fazer a prova e responder conforme copiou. É mais um método para medir o grau de decoreba, do que estimular o saber. O foco precisa estar no desenvolvimento do pensamento crítico, da dimensão criadora e da autonomia. Ensinamentos que o aluno não encontra pronto na Internet. Saber procurar, refletir, relacionar e selecionar. O aluno hoje mais do que receber todo o conteúdo precisa aprender a interpretar, formular questões, criar hipóteses e construir soluções. Educação como prática de vida conectada à realidade e não apenas como exercício de memorização. Fala-se muito de trabalhar na forma de projetos, mas o aluno mal sabe distinguir uma introdução de uma conclusão. A falta de um vocabulário mais rico é cada vez mais evidente. Boa parte dos alunos que se formam no ensino médio, têm enormes limitações para produzir um texto, trabalhar um problema com boa articulação entre início, meio e fim. Também o que podemos esperar num país que se lê tão pouco? Perguntem a um estudante e também a um professor quantos livros lêem por mês? Ou por ano? (Excluindo auto-ajuda) O hábito da leitura proporciona ganhos incomensuráveis. Os motivos para a defasagem entre a educação que se quer e a educação que aí está são muitos. Um dos mais enfatizados é a remuneração do professor. Uns defendem que os níveis salariais não motivam o professor a investir na sua melhor formação. Outros contra-argumentam dizendo que o professor deveria primeiro se preocupar em dar uma excelente aula para depois exigir melhores salários. É difícil chegar a uma conclusão definitiva sobre qual deles é a causa: a remuneração ou a qualificação. Talvez a prudência oriente que um determina o outro e vice-versa. Segundo estudos do economista Gustavo Iochpe, o Brasil tem índices de investimento em educação muito próximos aos países em que a qualidade da educação se destaca. Não sei se serve de consolo aos professores, mas o declínio salarial não é exclusividade dos mestres, é de boa parte das classes trabalhadoras brasileiras. Todavia, além da ótica da remuneração, cuja importância não pode ser ignorada, é visível o problema da gestão nas escolas. Os gestores, inclusive em escolas particulares, ainda não conseguiram integrar todos os agentes em torno de um consenso sobre uma educação de excelência para os dias de hoje e de amanhã. Há muitas escolas dentre de uma mesma escola. Uma numa direção, outra noutra.   E quando se fala em agentes, estamos falando também da família, dos pais, cuja participação no processo é indispensável. Não só participar das festas de final de ano, mas do dia-dia do filho na escola, olhando os cadernos, cobrando o tema, comparecendo às reuniões. Enfim, criando vínculos com a educação do filho.  Vínculos necessários não apenas entre professor e aluno, mas entre a família e a escola. Vínculos que dependem do par e não de um só. Como já é sabido, o problema da educação é enorme, entretanto, não há mais tempo para adiar seu enfrentamento. Se realmente queremos um país com mais qualidade de vida para nossos filhos, temos que agir rápido em favor de uma verdadeira revolução na educação. O mais difícil é por onde começar e é bem provável que não será apenas pela ação isolada de um professor. Mutatis mutandis, pelo seu dia: PARABÉNS PROFESSOR!!!

Cinco perguntas básicas para planejar uma região que pretende prosperidade

Quando perguntado pela Agenda Estratégica do Paranhana, como está o seu andamento, se vai dar certo, costumo responder a primeira indagação com um convite de participação, afinal, nada melhor para saber sobre o seu andamento comparecendo aos eventos e reuniões da própria Agenda. À segunda indagação não há resposta, mas procuro dar indícios com outras cinco perguntas. A estas perguntas caberá caberá responder cada cidadão Paranhanense. São elas?

Primeira: Há necessidade de construir um plano estratégico para elevar a qualidade de vida na região? Um plano é olhar para trás, aprender com os erros e conservar as virtudes, ter ciência do presente, suas oportunidades e dificuldades, e olhar para frente com visão de longo prazo. Há necessidade de um plano integrado que tenha uma continuidade ou o negócio é continuar esperando o prefeito? Prefeito que traz o seu plano de governo, quando tem, que normalmente não tem sinergia com o governo que o antecedeu, nem foi discutido nos seus detalhes com os segmentos da população. Ou alguém se lembra de qual era o plano para resolver o problema da saúde em sua cidade, a não ser que saúde seria uma prioridade?

Segunda: Há objetivos comuns suficientes para unir a região em torno do compartilhamento de idéias para o seu desenvolvimento? Pressupomos que todos querem ser felizes e para isso parece ser unanimidade o fato de carecemos de melhores condições de saúde, mais segurança, mais cultura e melhor educação. Ou alguém daqui é contra?

Terceira: Há disponibilidade das lideranças locais para planejar ações em prol da coletividade? Para planejar é preciso arrumar tempo, o que demanda sacrifícios de alguns prazeres. É preciso em muitas vezes tolerância e uma certa dose de paciência, pois os frutos verdadeiros são obtidos só no longo prazo. Estamos dispostos a isso?

Quarta: Há competência para pensar, discutir, planejar e concretizar projetos com visão de longo prazo? A Agenda por si só, com sua metodologia, não leva há lugar algum. Temos que ter um grande desprendimento para avaliar o passado, reconhecendo e assumindo os erros, e presente, com uma inspiração de certo modo refinada, para olharmos para frente e planejarmos um futuro com qualidade. Não podemos nos esquecer que além da concorrência interna temos a concorrência do mundo globalizado.

Quinta: Há interesse de todos os segmentos da sociedade pela construção de uma Agenda? O setor privado, tão acostumado a se dedicar a seus interesses particulares e individuais está disposto a se voltar para o público, cujo compromisso e responsabilidade é dos governos, começando pelos municipais? É elementar pensar e concordar que a felicidade de um depende da felicidade de outro e o público precisa de ajuda, pelo menos no que tange a planejar. Isso não desfaz nossa obrigação de cobrar.

Só respondendo positivamente a todas estas questões, teremos alguma chance de por a mão sobre o futuro da nossa região.

Vereadores ou “cabos eleitorais”?

Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional, de autoria do Deputado Estadual gaúcho Pompeu de Mattos que propõe novamente o aumento do número de vereadores nas Câmaras municipais. Um retorno a um passado recente que, pelo visto, não satisfez a classe brasileira. Se aprovada, a emenda pode onerar ainda mais os cofres públicos naquelas Câmaras que souberam fazer economia. Um dos argumentos, dos poucos argumentos, favorável à aprovação do aumento do número de vereadores, é a alegação de que a redução, produzida pelo Tribunal Superior Eleitoral, a partir de 2004, não acarretou economia e sim acabou incentivando o uso indevido dos recursos que acabaram sobrando. Justificativa um tanto quanto questionável, para não dizer suspeita. Não haveriam meios mais condizentes para acabar com aquilo que o próprio deputado autor da emenda denota de “farra dos vereadores”? Já que a motivação para a emenda é econômica e moral, não seria melhor propor a redução do limite máximo de repasse ao legislativo que hoje é de 8%? Lembrando que no Vale do Paranhana há câmaras de vereadores que recebem menos de 2%, como é o caso de Três Coroas. Desculpem os deputados, mas nos parece que o aumento do número de vereadores não é o melhor caminho para moralizar a conduta dos nossos representantes municipais, como justificam. Medidas bem mais eficazes hão de existir para disciplinar a conduta dos vereadores. Parece que a definição de um repasse maior ou menor passa pela coragem do poder executivo em definir um percentual de acordo com a realidade financeira da cidade que administra. Também depende da vontade dos legisladores federais. Vontade que talvez não exista, pois reduzir repasses às Câmaras significa colocar em risco a relação de “solidariedade” entre deputados e vereadores. O interesse dos próprios deputados é fortalecer sua base eleitoras, na qual os vereadores têm papel estratégico e fundamental. Cada deputado tem os vereadores como seus cabos eleitorais. É bem provável que estamos diante de mais um arranjo político, cujo fim não é bem aquele que aparenta ser. Como diz o filósofo: “há um ser atrás do aparecer”. Em outras palavras, aquela que parece ser a grande motivação é apenas um  disfarce altamente sofisticado para encobrir a causa verdadeira. “O sinal não é real”.

Meninos mais violentos

Segundo William Pollack, a educação de meninos, de uma forma geral, está em crise no mundo. Psicólogo de Harvard,  autor do livro “Meninos de Verdade -Conflitos e Desafios na Educação de Filhos Homens”, Pollack afirma que a falta de uma maior atenção da família e da escola está fazendo com que principalmente os meninos tenham problemas de aprendizado e fiquem mais agressivos do que as meninas na sociedade. A afirmação do psicólogo, com base em suas pesquisas nos EUA, se aplica também ao Brasil. Aqui, as estatísticas do IBGE mostram que os jovens do sexo masculino são seis vezes mais propensos a morrer de causas violentas do que as mulheres da mesma faixa etária, sendo que a crise de violência entre jovens no Brasil não se restringe aos mais pobres. Dados do MEC mostram que eles aprendem menos, tem maior repetências e abandonam mais os estudos. Na opinião de Pollack, diferenças biológicas explicam em parte esse fenômeno, mas é principalmente a forma como a sociedade interage com os meninos que aumenta suas chances de fracasso na escola e de se tornarem mais violentos. Meninos sempre foram, em média, mais violentos, mas as taxas de suicídio entre jovens do sexo masculino e feminino nunca foram tão distantes. Antes, era mais fácil para eles acharem seu lugar na sociedade, entrarem numa universidade e conseguirem um emprego. Segundo o psicólogo há diferenças biológicas entre os gêneros, mas estudos sobre o cérebro mostram que, apesar de haver diferenças, o que mais afeta o ser humano é a forma como se relaciona. A testosterona não explica, sozinha, porque chegamos a um grau de violência tão alto entre meninos. Meninos estão muito mais desconectados em relação aos adultos em casa, na escola e em toda a sociedade do que as meninas. Quanto mais desconectados, mais falham. Historicamente, meninas são mais fáceis de serem conectadas aos adultos. Elas são mais abertas a falar de seus sentimentos, mais propensas a usar palavras em vez de brigar. É verdade que estamos tendo também mais brigas entre meninas ou gangues formadas por elas, mas isso acontece principalmente com meninos. Comunicar-se com elas exige menos esforço. Isso é devido em parte à biologia, mas também à cultura, pois os meninos por tradição precisam provar sua masculinidade por meio de agressividade. O novo modelo familiar [em que a mulher também trabalha fora] tira mais tempo dos pais para ficarem com seus filhos e o que afeta tanto meninas quanto meninos, mas tende a deixar principalmente meninos mais agressivos.  Não significa, no entanto, que tenhamos que voltar ao modelo familiar tradicional. Os pais podem achar que, tendo saúde e suporte financeiro, eles não precisam de mais. Mas eles precisam de afeto, emoção e cuidado maior dos pais. Meninos não devem ser mais independentes do que meninas. Precisamos ser capazes de cuidar de nós mesmos, mas sem ignorar o outro, que também precisa dos nossos cuidados, afinal nossa natureza humana exige interdependência.

Lá foi o Pato…

Lá vem o pato, pato aqui pato acolá, lá vai o pato para ver o que há... Assim diz a música que podemos lembrar para ilustrar o destino do Pato colorado, que mal chegou aos campos do futebol profissional brasileiro e já está indo para os campos da Europa mostrar o seu talentoso futebol aos torcedores daquele continente. Nada contra o jogador e sua família, mas é de causar indignação por mais um exemplo de legislação descabida. Pato que em poucos meses foi coroado com o título Mundial Interclubes e o título da Recopa Sulamericana. Jogador colorado que na condição profissional não jogou um Grenal sequer, o maior clássico do futebol gaúcho e um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Chega a ser estranho pensar que este mesmo Pato, lançado pelo Inter, não defendeu as cores vermelhas nem por um ano. Estranheza só possível graças a ingrata, injusta e degradante lei Pelé e, é claro, a condição de subdesenvolvimento do nosso país incompetitivo economicamente. Lei ingrata porque proíbe os torcedores apaixonados por futebol verem jogadores talentosos e diferenciados como é o caso do Pato e de outros jogarem em seus clubes do coração. Lei injusta porque impede que os clubes conquistem os títulos almejados como os jogadores “prata da casa”, criados nas categorias de base, o que para o Clube seria muito mais gratificante. Clube que oferece as condições iniciais e projeta o atleta só que na hora deste jogador dar a resposta no campo onde rola a bola, pesa os Euros que rolam no bolso dos dirigentes e intermediários ditos empresários, que de empresários não têm nada, não empregam, não pagam impostos, não produzem nada.  Ou alguém já viu dizer quanto uma negociação como esta rendeu ao fisco. Independentemente do gosto desta ou daquela pessoa pelo futebol, é do senso comum que o futebol representa uma das maiores paixões brasileiras, uma obra de arte valiosíssima, um produto que faz o Brasil ser único e invejado por todos. Contudo, a inveja dura pouco e é rapidamente resolvida, por força dos Euros dos países da Europa, que compram o direito que inicialmente seria nosso, ou seja, o direito de curtir a própria obra. A conseqüência da Lei Pelé é a degradação do futebol brasileiro, muitos jogadores que estão na Europa se dão ao luxo de pedir dispensa da seleção, tamanho o distanciamento da pátria amada. Tecnicamente falando, alguns comentaristas do futebol já estão falando no fim do futebol genoinamente brasileiro. Argumentam que jogadores exportados com 17 anos ainda estariam em formação e na medida em que vão para a Europa acabam se formando por lá influenciados por técnicas que não são mais as nossas. E a nós que somos o país da excelência do futebol resta-nos continuar produzindo o que tem de melhor e curtir o que tem de pior, (na linguagem do futebol, a baba). O episódio do Pato que acontece a todo o momento no Brasil com outros setores retrata que o problema do país não é a falta de leis, mas a falta de legisladores comprometidos com a coletividade e com a qualidade, comprometidos em fazerem leis que preservem a cultura e políticas que promovam, ao mesmo tempo, a solidez da economia. Para isso precisamos começando por valorizar e, porque não, proteger aquilo que temos de bom. Se nós não cuidamos do que é nosso, quem cuidará? Restará ainda algo sobre o qual poderemos nos reconhecer e nos vangloriar? É uma pena que a população acredita não ter poder.

As melhores cidades para trabalhar

Foi divulgada uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que apontou a lista das 100 melhores cidades do país para se trabalhar e fazer carreira. A pesquisa leva em conta três indicadores principais. São eles: primeiro a Educação, medida pelo número de matrículas e cursos de graduação, de mestrado e doutorado; segundo a Economia, medida pelo ISS e o PIB municipal per capta; terceiro a Saúde Indicador, medida pelo número de leitos disponíveis e de profissionais de saúde. O ítem educação é o que tem maior peso na avaliação. Realizada desde 2002, a pesquisa analisou 126 municípios brasileiros dos quais 100 com população superior a 170 mi habitantes e 26 com menos. São Paulo é a número 1 do ranking, seguida do Rio de Janeiro. Dentre as gaúchas aparecem 9 cidades: Porto Alegre (6), Caxias do Sul (26), Canoas (35), Santa Maria (49), Passo Fundo (53), Rio Grande (55), Pelotas (65), Bento Gonçalves (74) e São Leopoldo (97). Segundo a FGV, um dos fatores que mais influenciam no desenvolvimento de uma cidade e de uma região é a qualidade do ensino superior, que abrange a formação continuada e a prática da pesquisa científica. Desta constatação, da relevância de uma instituição de ensino como fomentadora do desenvolvimento regional, podemos deduzir que o Paranhana tem perspectivas alentadoras. Temos uma Faculdade que a cada ano cresce e pode continuar crescendo, no sentido de oportunizar novos cursos de formação e especialização, além de criar espaços que produzam inovação e qualificação, aspectos indispensáveis a quem se dispõe a enfrentar a guerra do mercado atual, que tende a se intensificar na sociedade globalizada na qual vivemos. Sociedade onde a competição não se restringe a uma cidade, nem a uma região. Temos que ser competitivos a nível mundial e isso é sinônimo de adotarmos posturas de alto grau de exigência, com nós mesmos e com os outros agentes dos quais depende nosso crescimento.

A escola e a escolha – Parte IV

A nova escola que se vislumbra no horizonte de uma humanidade melhor resolvida precisaria até trocar de nome para não ser confundida com a velha escola vigente nos dias atuais. Um novo conceito precisaria surgir para substituir o conceito atual de escola. Mas deixemos esta tarefa aos filósofos, criadores de conceitos, e retomemos algumas hipóteses em que se daria está nova escola como uma nova proposta de educar. Recomecemos pela mudança radical de objetivo, do acúmulo de conhecimento, ou melhor, informação, para o estabelecimento de condições que estimulem o potencial criativo, o senso crítico e a desenvoltura da comunicação. Para isso, poderíamos responsabilizar quatro agentes fundamentais: o gestor, o professor, os pais e o aluno. O gestor precisaria decidir de uma vez por todas o objetivo principal a perseguir. A partir daí, definir os meios que levam a este objetivo. As políticas de avaliação da escola, do professor e do aluno. O currículo, a metodologia, as regras que orientarão a mediação dos conflitos que sempre existirão. Quem sabe, para começar, uma espécie de “Direitos e Deveres do aluno”, regras construídas por pais, professores, direção e os próprios alunos. Isso já seria um tremendo exercício de comunhão e reflexão ética.  O professor precisaria de mais motivação para evoluir em conhecimentos e em práticas que realmente possibilitem ensinar de forma verdadeiramente transdisciplinar. Quem sabe escolhendo certos conteúdos para serem enfatizados e outros para serem pesquisados pelo aluno quando este precisar. Sim porque há conteúdos que basta ler com certo grau de atenção e dedicação para serem apreendidos, não requerendo maiores explicações. É bom frisar que por motivação se entende não só os estímulos que vêm de fora, mas também a força de vontade interna. Os pais precisam primeiramente compreender que a educação começa e termina na família e precisam acompanhar o que a escola faz para que seus filhos tenham na escola um prolongamento da educação que recebem em casa.  Ao aluno compete gostar do que faz e para isso precisa ser conquistado pela escola e continuar sendo acompanhado pelos pais. Muitos adoram a escola, mas muito mais pelas relações com os colegas do que pelo processo de ensino aprendizagem. Antes do programa curricular vem as necessidades e os desejos da criança que se alegra e se entristece, se encanta e se espanta, se machuca e se cura, corre, joga, grita, briga e brinca. A inteligência é essencialmente prática. Está a serviço da vida.

A escola e a escolha – Parte III

Há na escola uma infinidade de formatos e procedimentos cristalizados pelo costume,  porque foi sempre assim que foi feito. As salas servem para separar as crianças em grupos, segregando-as umas das outras. Por que é assim? Tem de ser assim? Haverá uma outra forma de organizar o espaço, que permita interação e cooperação entre crianças de idades diferentes, tal como acontece na vida? A escola não deveria imitar a vida? Quanto ao programa curricular, quem determinou que os conteúdos que o compõe são os saberes que devem ser aprendidos na ordem prescrita? Que usos fazem as crianças desses saberes no dia a dia? As crianças escolheriam esses saberes? Os programas servem igualmente para crianças que vivem no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte? Por que é necessário que todas as crianças pensem as mesmas coisas, na mesma hora, no mesmo ritmo? As crianças são todas iguais? O objetivo da escola é fazer com que as crianças sejam todas iguais? Como querer que as crianças pensem se não vivemos no ambiente da reflexão, nem exercitamos, muito menos excitamos o pensar? Operários que trabalham em linhas de montagem não assinam as suas obras, porque não são deles. A partir da revolução industrial, a obra produzida é destituída de uma autoria humana. Cada operário tem uma função específica. Nenhum operário faz o objeto, individualmente. Cada operário faz uma única operação: juntar, soldar, aparafusar, cortar ou testar. No ramo do calçado é cortar, montar, colar, costurar, refilar ou revisar. O resultado da linha de montagem é a produção rápida e controlada de objetos iguais. A obra acabada, ou seja, o produto final não possui autoria humana e o ser humano perde sua função, ou melhor, qualidade de criador. Nossas escolas foram construídas segundo o modelo da revolução industrial, Como se fossem fábricas organizadas para a produção de peças que possuem uma finalidade única e limitada. O produto final está concluído depois que passar nos testes que, no caso das escolas, medem tão somente o nível de memorização do aluno, cujo conteúdo é facilmente esquecido passada alguns dias ou horas. Esquecemos que não mais vivemos na era da revolução industrial. Hoje vivemos em plena era do conhecimento. Somos inundados com informações e mais informações captadas das mais variadas fontes: televisão, rádio, jornal, revista,  Internet e todo tipo de mídia. Algumas são só informação outras representam conhecimento. Um dos papéis da escola é proporcionar ao estudante que aprenda fazer as devidas distinções e a conseqüente escolha.

A escola e a escolha – Parte II

Hoje a grande maioria das escolas, na prática do dia a dia, ou seja, na sala de aula, onde se encontram professor, aluno, conteúdo e método, não consegue dar o salto necessário da transmissão e reprodução para a motivação e criação. Por mais que o discurso e a proposta pedagógica tentam dizer o contrário, dando ênfase à produção do conhecimento, o ensino está concentrado na transmissão de informações. Resultado: o aluno que só acumula acaba atrofiando o potencial de reflexão e criação que diferenciam a sua condição humana.  Uns dirão: mas em tudo que se faz se pensa. Enganam-se!  Rotinas automáticas, como a decoreba no habitat da escola, não exercitam o pensamento reflexivo que está muitíssimo distante de um ato de lembrar ou fazer uma simplória conexão lógica. Pensar reflexivamente é, em outras palavras, pensar sobre o próprio pensamento, ou seja, pensar sobre o sentido do que se está pensando. Por mais difícil e doloroso que seja, porque demanda perdas, é preciso urgentemente que se faça a escolha: ou a escola prossegue despejando informações e cumprindo com o currículo vigente, que a cada dia se avoluma, ou refaz seus propósitos, orientando o currículo e os professores para de fato potencializarem competências, dentre elas a criticidade, a criatividade e a comunicação. É uma escolha que envolve conteúdo e forma, formação do professor, disposição do aluno e avaliação. É uma escolha que privilegia profundidade e qualidade do conhecimento em detrimento da quantidade de informações acumuladas num dado momento.  Hoje a escola, da forma como opera, só consegue avaliar quantidade acumulada de informação, e mais preocupante ainda, boa parte delas inúteis. Um boa dica para se medir a excelência do aprendizado é fazer a seguinte pergunta: o que se está ensinando jamais deve ser esquecido? Se a resposta for positiva o ensinamento está validade, é útil não no sentido de utilitário efêmero, mas de utilidade perene para a vida. O conhecimento evolui assim para sabedoria. Apesar de muito se falar sobre construtivismo, sobre desenvolver as competências, respeitar as “múltiplas inteligências”, não se consegue transcender, não se chega a uma prática de ensino que provoque o aluno, tornando-o mais crítico e criativo. Como é possível ser criativo e crítico se grande parte da avaliação continua medindo apenas memorização? As respostas solicitadas continuam sendo literalmente encontradas no corpo do texto que se decorou, após tê-lo copiado do quadro ou de algum outro lugar.  Claro que a escolha depende de pressupostos indispensáveis que atualmente são precários e faltam aos borbotões. Um deles, fundamental, é a falta de formação do professor, cuja causa reside também na falta de melhores perspectivas de remuneração. Dá para conceber que enquanto se prioriza a qualidade o professor não consegue ler um livro se quer por mês. Em termos de país não lê nem um livro por ano. E quando falamos de livro, não podemos deixar de lado os clássicos. Pergunte a um professor conhecido com que freqüência ele lê Dostoyewski, Kafka, Proust, Tolstoy, e por aí afora, incluindo também os clássicos nacionais?

A escola e a escolha – Parte I

Desde pequeninos, estamos acostumados a ouvir falar na importância da escola. São nossos pais dizendo que vamos para a escola aprender a ler e escrever. Somos nós curiosos para conhecer o que esta tal escola tão falada tem por dar.  A escola é tão comumente falada que pouco nos faz refletimos sobre ela, é praticamente um conceito apriori, ou seja, previamente dado, estabelecido e fechado. Mas assim como o mundo não pára, flui como as águas do rio de Heráclito, a escola se renova, ou melhor, deveria renovar-se constantemente para acompanhar a renovação constante do mundo. Deveria, mas não faz. Acaba  sendo um outro mundo desconectado do mundo que a todo momento se transforma. A conseqüência desta formatação, é a preparação de cidadãos despreparados para o enfrentamento dos imensuráveis desafios que a mudança provoca. Um dos objetivos da educação formal, ou seja, a escola, é fazer com que o aluno acumule conhecimentos que se dá através da transmissão destes conhecimentos conquistados pela humanidade ao longo dos tempos.  Outro objetivo é preparar os jovens para produzirem novos conhecimentos, a partir da dimensão criadora de cada ser humano, potencialmente, capacitado para fazer as transformações que o mundo precisa para evoluir. Resumidamente, a escola tem o papel de transmitir conhecimentos e, principalmente, nos fazer produzir novos conhecimentos. Esta segunda incumbência não exclui a primeira, mas a supera, hierarquicamente. Muitos intelectuais, e dentre eles Paulo Freire, já falaram sobre isso, talvez com outros nomes, mas o sentido é praticamente o mesmo. Denunciam que a função reprodutora da escola não é compatível com os tempos atuais, que alguns chamam de pós-modernidade. A escola não inova, não aprofunda, anda no mesmo compasso das escolas informais, dentre elas estão os meios de comunicação de massa, mais especificamente, a televisão. Sim a televisão, ou alguém acha que a televisão não ensina? Sim ensina e ensina muito, porém sem o compromisso de formar criaturas pensadoras, menos ainda criadoras. A escola de hoje produz meros expectadores ao em vez de produzir bons atores. Atores criadores que vão além de um simples ato de reprodução de um texto, mas atores que inventam e dão vida nova ao personagem que representam.