Fala-se muito, e não é de hoje, que o futuro de uma nação depende da educação. Em outras palavras, estaria nas mãos da escola e do professor a tão aguardada prosperidade. É unanimidade no mundo todo que o crescimento econômico e o desenvolvimento social de uma nação dependem da educação de sua população. No Brasil assistimos carências em todos os nível da educação, desde o ensino fundamental até os cursos superiores. A educação do país em termos de qualidade e profundidade não só deixou de evoluir como decaiu. Há décadas passadas o professor dava conta do conteúdo de sua disciplina. Hoje, em função principalmente dos avanços científicos e da velocidade como que se processam mudanças, isso é humanamente impossível. Só que o professor continua ensinando da mesma forma que há décadas atrás. Mudou o mundo, o mundo é outro e não mudou a forma de ensinar. As crianças e os adolescentes são outros e as práticas educacionais, no fundo, as mesmas, disfarçadas de alguns fetiches modernistas. Nossas crianças e adolescentes continuam copiando, para depois fazer a prova e responder conforme copiou. É mais um método para medir o grau de decoreba, do que estimular o saber. O foco precisa estar no desenvolvimento do pensamento crítico, da dimensão criadora e da autonomia. Ensinamentos que o aluno não encontra pronto na Internet. Saber procurar, refletir, relacionar e selecionar. O aluno hoje mais do que receber todo o conteúdo precisa aprender a interpretar, formular questões, criar hipóteses e construir soluções. Educação como prática de vida conectada à realidade e não apenas como exercício de memorização. Fala-se muito de trabalhar na forma de projetos, mas o aluno mal sabe distinguir uma introdução de uma conclusão. A falta de um vocabulário mais rico é cada vez mais evidente. Boa parte dos alunos que se formam no ensino médio, têm enormes limitações para produzir um texto, trabalhar um problema com boa articulação entre início, meio e fim. Também o que podemos esperar num país que se lê tão pouco? Perguntem a um estudante e também a um professor quantos livros lêem por mês? Ou por ano? (Excluindo auto-ajuda) O hábito da leitura proporciona ganhos incomensuráveis. Os motivos para a defasagem entre a educação que se quer e a educação que aí está são muitos. Um dos mais enfatizados é a remuneração do professor. Uns defendem que os níveis salariais não motivam o professor a investir na sua melhor formação. Outros contra-argumentam dizendo que o professor deveria primeiro se preocupar em dar uma excelente aula para depois exigir melhores salários. É difícil chegar a uma conclusão definitiva sobre qual deles é a causa: a remuneração ou a qualificação. Talvez a prudência oriente que um determina o outro e vice-versa. Segundo estudos do economista Gustavo Iochpe, o Brasil tem índices de investimento em educação muito próximos aos países em que a qualidade da educação se destaca. Não sei se serve de consolo aos professores, mas o declínio salarial não é exclusividade dos mestres, é de boa parte das classes trabalhadoras brasileiras. Todavia, além da ótica da remuneração, cuja importância não pode ser ignorada, é visível o problema da gestão nas escolas. Os gestores, inclusive em escolas particulares, ainda não conseguiram integrar todos os agentes em torno de um consenso sobre uma educação de excelência para os dias de hoje e de amanhã. Há muitas escolas dentre de uma mesma escola. Uma numa direção, outra noutra. E quando se fala em agentes, estamos falando também da família, dos pais, cuja participação no processo é indispensável. Não só participar das festas de final de ano, mas do dia-dia do filho na escola, olhando os cadernos, cobrando o tema, comparecendo às reuniões. Enfim, criando vínculos com a educação do filho. Vínculos necessários não apenas entre professor e aluno, mas entre a família e a escola. Vínculos que dependem do par e não de um só. Como já é sabido, o problema da educação é enorme, entretanto, não há mais tempo para adiar seu enfrentamento. Se realmente queremos um país com mais qualidade de vida para nossos filhos, temos que agir rápido em favor de uma verdadeira revolução na educação. O mais difícil é por onde começar e é bem provável que não será apenas pela ação isolada de um professor. Mutatis mutandis, pelo seu dia: PARABÉNS PROFESSOR!!!
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Cinco perguntas básicas para planejar uma região que pretende prosperidade
Quando perguntado pela Agenda Estratégica do Paranhana, como está o seu andamento, se vai dar certo, costumo responder a primeira indagação com um convite de participação, afinal, nada melhor para saber sobre o seu andamento comparecendo aos eventos e reuniões da própria Agenda. À segunda indagação não há resposta, mas procuro dar indícios com outras cinco perguntas. A estas perguntas caberá caberá responder cada cidadão Paranhanense. São elas?
Primeira: Há necessidade de construir um plano estratégico para elevar a qualidade de vida na região? Um plano é olhar para trás, aprender com os erros e conservar as virtudes, ter ciência do presente, suas oportunidades e dificuldades, e olhar para frente com visão de longo prazo. Há necessidade de um plano integrado que tenha uma continuidade ou o negócio é continuar esperando o prefeito? Prefeito que traz o seu plano de governo, quando tem, que normalmente não tem sinergia com o governo que o antecedeu, nem foi discutido nos seus detalhes com os segmentos da população. Ou alguém se lembra de qual era o plano para resolver o problema da saúde em sua cidade, a não ser que saúde seria uma prioridade?
Segunda: Há objetivos comuns suficientes para unir a região em torno do compartilhamento de idéias para o seu desenvolvimento? Pressupomos que todos querem ser felizes e para isso parece ser unanimidade o fato de carecemos de melhores condições de saúde, mais segurança, mais cultura e melhor educação. Ou alguém daqui é contra?
Terceira: Há disponibilidade das lideranças locais para planejar ações em prol da coletividade? Para planejar é preciso arrumar tempo, o que demanda sacrifícios de alguns prazeres. É preciso em muitas vezes tolerância e uma certa dose de paciência, pois os frutos verdadeiros são obtidos só no longo prazo. Estamos dispostos a isso?
Quarta: Há competência para pensar, discutir, planejar e concretizar projetos com visão de longo prazo? A Agenda por si só, com sua metodologia, não leva há lugar algum. Temos que ter um grande desprendimento para avaliar o passado, reconhecendo e assumindo os erros, e presente, com uma inspiração de certo modo refinada, para olharmos para frente e planejarmos um futuro com qualidade. Não podemos nos esquecer que além da concorrência interna temos a concorrência do mundo globalizado.
Quinta: Há interesse de todos os segmentos da sociedade pela construção de uma Agenda? O setor privado, tão acostumado a se dedicar a seus interesses particulares e individuais está disposto a se voltar para o público, cujo compromisso e responsabilidade é dos governos, começando pelos municipais? É elementar pensar e concordar que a felicidade de um depende da felicidade de outro e o público precisa de ajuda, pelo menos no que tange a planejar. Isso não desfaz nossa obrigação de cobrar.
Só respondendo positivamente a todas estas questões, teremos alguma chance de por a mão sobre o futuro da nossa região.
Vereadores ou “cabos eleitorais”?
Meninos mais violentos
Lá foi o Pato…
As melhores cidades para trabalhar
Foi divulgada uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que apontou a lista das 100 melhores cidades do país para se trabalhar e fazer carreira. A pesquisa leva em conta três indicadores principais. São eles: primeiro a Educação, medida pelo número de matrículas e cursos de graduação, de mestrado e doutorado; segundo a Economia, medida pelo ISS e o PIB municipal per capta; terceiro a Saúde Indicador, medida pelo número de leitos disponíveis e de profissionais de saúde. O ítem educação é o que tem maior peso na avaliação. Realizada desde 2002, a pesquisa analisou 126 municípios brasileiros dos quais 100 com população superior a 170 mi habitantes e 26 com menos. São Paulo é a número 1 do ranking, seguida do Rio de Janeiro. Dentre as gaúchas aparecem 9 cidades: Porto Alegre (6), Caxias do Sul (26), Canoas (35), Santa Maria (49), Passo Fundo (53), Rio Grande (55), Pelotas (65), Bento Gonçalves (74) e São Leopoldo (97). Segundo a FGV, um dos fatores que mais influenciam no desenvolvimento de uma cidade e de uma região é a qualidade do ensino superior, que abrange a formação continuada e a prática da pesquisa científica. Desta constatação, da relevância de uma instituição de ensino como fomentadora do desenvolvimento regional, podemos deduzir que o Paranhana tem perspectivas alentadoras. Temos uma Faculdade que a cada ano cresce e pode continuar crescendo, no sentido de oportunizar novos cursos de formação e especialização, além de criar espaços que produzam inovação e qualificação, aspectos indispensáveis a quem se dispõe a enfrentar a guerra do mercado atual, que tende a se intensificar na sociedade globalizada na qual vivemos. Sociedade onde a competição não se restringe a uma cidade, nem a uma região. Temos que ser competitivos a nível mundial e isso é sinônimo de adotarmos posturas de alto grau de exigência, com nós mesmos e com os outros agentes dos quais depende nosso crescimento.
A escola e a escolha – Parte IV
A escola e a escolha – Parte III
Há na escola uma infinidade de formatos e procedimentos cristalizados pelo costume, porque foi sempre assim que foi feito. As salas servem para separar as crianças em grupos, segregando-as umas das outras. Por que é assim? Tem de ser assim? Haverá uma outra forma de organizar o espaço, que permita interação e cooperação entre crianças de idades diferentes, tal como acontece na vida? A escola não deveria imitar a vida? Quanto ao programa curricular, quem determinou que os conteúdos que o compõe são os saberes que devem ser aprendidos na ordem prescrita? Que usos fazem as crianças desses saberes no dia a dia? As crianças escolheriam esses saberes? Os programas servem igualmente para crianças que vivem no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte? Por que é necessário que todas as crianças pensem as mesmas coisas, na mesma hora, no mesmo ritmo? As crianças são todas iguais? O objetivo da escola é fazer com que as crianças sejam todas iguais? Como querer que as crianças pensem se não vivemos no ambiente da reflexão, nem exercitamos, muito menos excitamos o pensar? Operários que trabalham em linhas de montagem não assinam as suas obras, porque não são deles. A partir da revolução industrial, a obra produzida é destituída de uma autoria humana. Cada operário tem uma função específica. Nenhum operário faz o objeto, individualmente. Cada operário faz uma única operação: juntar, soldar, aparafusar, cortar ou testar. No ramo do calçado é cortar, montar, colar, costurar, refilar ou revisar. O resultado da linha de montagem é a produção rápida e controlada de objetos iguais. A obra acabada, ou seja, o produto final não possui autoria humana e o ser humano perde sua função, ou melhor, qualidade de criador. Nossas escolas foram construídas segundo o modelo da revolução industrial, Como se fossem fábricas organizadas para a produção de peças que possuem uma finalidade única e limitada. O produto final está concluído depois que passar nos testes que, no caso das escolas, medem tão somente o nível de memorização do aluno, cujo conteúdo é facilmente esquecido passada alguns dias ou horas. Esquecemos que não mais vivemos na era da revolução industrial. Hoje vivemos em plena era do conhecimento. Somos inundados com informações e mais informações captadas das mais variadas fontes: televisão, rádio, jornal, revista, Internet e todo tipo de mídia. Algumas são só informação outras representam conhecimento. Um dos papéis da escola é proporcionar ao estudante que aprenda fazer as devidas distinções e a conseqüente escolha.
A escola e a escolha – Parte II
Hoje a grande maioria das escolas, na prática do dia a dia, ou seja, na sala de aula, onde se encontram professor, aluno, conteúdo e método, não consegue dar o salto necessário da transmissão e reprodução para a motivação e criação. Por mais que o discurso e a proposta pedagógica tentam dizer o contrário, dando ênfase à produção do conhecimento, o ensino está concentrado na transmissão de informações. Resultado: o aluno que só acumula acaba atrofiando o potencial de reflexão e criação que diferenciam a sua condição humana. Uns dirão: mas em tudo que se faz se pensa. Enganam-se! Rotinas automáticas, como a decoreba no habitat da escola, não exercitam o pensamento reflexivo que está muitíssimo distante de um ato de lembrar ou fazer uma simplória conexão lógica. Pensar reflexivamente é, em outras palavras, pensar sobre o próprio pensamento, ou seja, pensar sobre o sentido do que se está pensando. Por mais difícil e doloroso que seja, porque demanda perdas, é preciso urgentemente que se faça a escolha: ou a escola prossegue despejando informações e cumprindo com o currículo vigente, que a cada dia se avoluma, ou refaz seus propósitos, orientando o currículo e os professores para de fato potencializarem competências, dentre elas a criticidade, a criatividade e a comunicação. É uma escolha que envolve conteúdo e forma, formação do professor, disposição do aluno e avaliação. É uma escolha que privilegia profundidade e qualidade do conhecimento em detrimento da quantidade de informações acumuladas num dado momento. Hoje a escola, da forma como opera, só consegue avaliar quantidade acumulada de informação, e mais preocupante ainda, boa parte delas inúteis. Um boa dica para se medir a excelência do aprendizado é fazer a seguinte pergunta: o que se está ensinando jamais deve ser esquecido? Se a resposta for positiva o ensinamento está validade, é útil não no sentido de utilitário efêmero, mas de utilidade perene para a vida. O conhecimento evolui assim para sabedoria. Apesar de muito se falar sobre construtivismo, sobre desenvolver as competências, respeitar as “múltiplas inteligências”, não se consegue transcender, não se chega a uma prática de ensino que provoque o aluno, tornando-o mais crítico e criativo. Como é possível ser criativo e crítico se grande parte da avaliação continua medindo apenas memorização? As respostas solicitadas continuam sendo literalmente encontradas no corpo do texto que se decorou, após tê-lo copiado do quadro ou de algum outro lugar. Claro que a escolha depende de pressupostos indispensáveis que atualmente são precários e faltam aos borbotões. Um deles, fundamental, é a falta de formação do professor, cuja causa reside também na falta de melhores perspectivas de remuneração. Dá para conceber que enquanto se prioriza a qualidade o professor não consegue ler um livro se quer por mês. Em termos de país não lê nem um livro por ano. E quando falamos de livro, não podemos deixar de lado os clássicos. Pergunte a um professor conhecido com que freqüência ele lê Dostoyewski, Kafka, Proust, Tolstoy, e por aí afora, incluindo também os clássicos nacionais?