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As sutilezas de uma lista de desejos

A lista de Alice Pyne, uma adolescente britânica de 15 anos em estado terminal de câncer, agitou a Internet no mundo. Seu blog, no qual relata relaciona uma lista de 17 desejos que pretende realizar antes de morrer, atraiu mais de 230 mil visitantes em poucos dias. Alice lançou seu blog após seus médicos terem considerado que não há mais tratamentos possíveis para o linfoma descoberto há quatro anos. A garota chama a atenção pelo seu alto grau de maturidade, autenticidade e coragem. Virtudes que muitos de nós adultos vivem e morrem sem tê-las. Ela reconhece que família e amigos são preciosidades e diz que pretende reservar o tempo precioso que lhe resta a eles, fazendo as coisas que mais deseja. Alice é sutil, quando afirma: “você só tem uma vida (…) viva a vida”. Muitos passam a vida projetando viverem só depois de morrerem. E a sutileza não pára. “Ter um iPad roxo”, ou seja, a felicidade não está na tecnologia em si, mas na cor, o que remete a uma grande sensibilidade. Entre outros desejos estão nadar com tubarões, encontrar a banda Take That, visitar uma fábrica de chocolates, fazer uma sessão de fotos com 4 amigas, fazer uma massagem nas costas. Uma mistura de provável e improvável, de atingível e inatingível, de racional e irracionalidade. E Alice é humilde e generosa, por isso, talvez, esteja conseguindo ainda dar sentido a vida, mesmo com o decreto do fim marcado. “Nossa, eu pensei que estava só fazendo um pequeno blog para alguns amigos! Muito obrigado por todas suas adoráveis mensagens para mim”, diz ela. Alice também é solidária e incluiu em sua lista “fazer todo mundo se inscrever para se tornar doador de medula”. Nada de estupendo e fenomenal para mostrar que a felicidade não é diretamente proporcional a complexidade. Rancor e ressentimento não estão na lista de Alice. Assim, fica fácil decifrar os motivos pelos quais Alice se mantém vivendo com intensidade, mesmo estando com os dias contados e em estado debilitado. Ela mesmo reconhece a impossibilidade de realizar alguns desejos da lista, “algumas coisas não vão acontecer, porque eu não posso nem mesmo viajar mais”, diz ela, mesmo assim, não os exclui da lista. Um tanto curioso, afinal, por que enumerar alguns desejos mesmo sabendo da impossibilidade de realizá-los? Não será porque a felicidade começa no sonho? E você, tem uma lista?

Marcos Kayser

Quantidade x Qualidade

Haverá relação entre qualidade e quantidade. No senso comum parece prevalecer a qualidade sobre a quantidade e muitas vezes ainda achamos que qualidade independe da quantidade. Mas vejamos que pode haver certa relatividade. Um jogador de futebol, por exemplo, vai melhorar cobranças de falta e chute a gol, quanto mais treinar e chutar. Neste caso, temos a quantidade uma aliada da qualidade. Num outro exemplo temos um jogador de futebol cometendo inúmeras faltas. Quanto mais faltas fizer, menos qualidade terá a partida e maior será a chance de ser expulso e colocar o seu time em dificuldades. Neste caso a quantidade é inimiga da qualidade. Dizer que qualidade independe de quantidade é arriscado, pois depende do caso. Um professor que lê muitos livros, especialmente os clássicos, e cobra de seus alunos o mesmo, é bem provável que terá um excelente repertório de vocabulários e uma visão de si e do mundo muito mais ampliada. Um pai e uma mãe que dedicam mais tempo de convivência com seus filhos terão maiores possibilidades de dar afeto e acolher seus medos e angústias. Claro que meia hora de diálogo entre pais e filhos é mais produtivo do que três horas de reunião na frente da televisão, vendo a novela todos calados. Por isso , cuidado, nem sempre a quantidade deve ser desprezada, pois nem sempre ela é a malvada. Aristóteles já dizia que a excelência se conquista com o hábito, com a repetição. Repetir, repetir, repetir, isso é quantidade que pode trazer qualidade. Se a repetição não for errada, é claro.

Uma definição para a vida

O pensar filosófico nos leva muitas vezes a buscar redefinir alguns conceitos. Deleuze em seu livro “O que é filosofia?” diz que filosofar é a arte de criar conceitos. Meu alcance filosófico não chega ao mérito de criar conceitos, mas me permito conjugar algumas palavras até compor uma definição que para mim tem significado, por uma certa coerência e, principalmente, pela autenticidade. Compor definições próprias, dá uma sensação de entendimento e domínio sobre o objeto que se consegue definir. Talvez o maior dos conceitos seja a vida (ou a existência) e pelas andanças do pensamento cheguei a uma definição facilmente compreensível e aceita, inclusive por aqueles com aversão a teoria. Ficou assim: a vida é uma multiplicidade de coisas (corpos) em contínuo movimento e mútuo relacionamento. Esta definição da vida pressupõe escolhas, diante da multiplicidade que se apresenta. Se temos que escolher, deixamos muitas coisas sem dar conta, já que não é possível abarcar a totalidade das oportunidades, por falta até de conhecimento e também potencialidade. Lembremo-nos, somos seres limitados, mesmo que elevados a condição de mais evoluídos da espécie. Continuando, as coisas estão em contínuo movimento, o que é o mesmo que dizer que tudo morre, pelo menos daquela forma, ou se extingui ou se transforma. Isso não soa muito bem para quem credita toda a aposta na perenidade, como também para aqueles que estão plenamente satisfeitos com a vida que levam. O estado de plenitude não tem duração garantida, pois a efemeridade reina. Nada resiste ao fluxo natural da vida. Heráclito, o filósofo grego, parece ter razão. Uma pessoa não se banha duas vezes no mesmo rio, pois a água não é a mesma, assim como a pessoa que a cada instante muda. Concluo a definição dizendo que todas as coisas se relacionam mutuamente, que é o mesmo que dizer que tudo está interligado e uma coisa depende da outra. Mais cedo ou mais tarde seremos afetados pelas ações e decisões que tomamos a todo momento. Por isso somos responsáveis pelo que colhemos, seja o amor, seja o ódio.Se não formos afetados em tempo, indiretamente seremos, pois nossos filhos, parentes, amigos e irmãos planetários serão brindados, ou com algum bônus, ou com o onus da conta. Isso parece meio ecológico, mas está de acordo com a definição que encontrei para a vida. Definição que também é transitória, como a vida, conforme eu mesmo na definição escrevi. Por enquanto, fico satisfeito e repito: a vida é uma multiplicidade de coisas em contínuo movimento e mútuo relacionamento. E aí, qual é a sua definição para a vida?

100 gols: um aprendizado de exceção

A todo o instante o futebol ensina para a vida. Agora é Rogério Ceni que chega aos 100 gols marcados na condição de goleiro e, como se não bastasse, todos com a camisa do mesmo clube, o São Paulo. Estamos diante de um caso de exceções proporcionadas por um único jogador, homem, pai, cidadão, humano, como toda a gente. Goleiro fazendo gol já soa estranho e se constitui numa exceção. Fazer 100 é outra, maior ainda. E tem mais: Ceni defendeu até hoje um único time o que é outra exceção, afinal, nos tempos de hoje, o jogador não tem mais time do coração e o troca troca é constante, questão de euros e “janelas”. Rogério Ceni é um transgressor, no sentido positivo da palavra, é um “rompedor” de paradigmas. Ao ser exceção, confirma que toda regra tem exceção. E muito desta condição vem da virtude da perseverança. Ceni no início da carreira, quando aguardava o início oficial dos treinos, pegava a bola e repetidamente treinava cobranças de falta por conta própria. De lá pra cá, e se vão mais de 15 anos, segundo o depoimento do próprio Ceni, a receita para o feito é treino e repetição, exaustiva repetição, pois só repetindo se aprende. Mas não se trata de uma repetição burra. Ceni não só baixa a cabeça e faz o que é trivial. Ele tem foco, concentração, competência e consciência da necessidade de ir além da habilidade que Deus lhe deu. Tudo com treinamento e dedicação, paciência e continuidade no esfoço, a que podemos chamar de perseverança. Não aquela de persistir no erro, mas no caminho que conduz a glória e requer coragem, vontade, paixão e razão. Para isso soube ouvir grandes mestres professores, dentre os quais Tele Santana. Parabéns ao Rogério Ceni e obrigado por tantos bons exemplos. Particularmente, por mostrar que o futebol nos ensina muitas coisas. Uma delas que a vida não é só emoção e a razão não deve ser adversária. Pena que o brasileiro, apesar de ser um apaixonado por este esporte, ainda não gosta muito de pensá-lo. O futebol é uma escola de saberes. A questão é: estamos dispostos a aprender?

Marcos Kayser

Três absurdos: econômico, jurídico e colorado

No artigo da semana passada, comentei sobre o absurdo da UTI do Hospital de Caridade, agora Bom Jesus, estar fechada há mais de meia década. Então, me lembrei de comentar outros três absurdos que transcendem uma única cidade. O primeiro absurdo é de ordem econômica, a extradição do empresário Sanfelice, condenado pela morte da esposa há anos atrás, em Novo Hamburgo. Imaginem o custo com todo o translado e mais o custo que ele dará aqui. Além do risco de uma nova fuga que gera mais custo para polícia, na medida em que demanda ações para o resgate. O segundo absurdo é a soltura do adolescente de Novo Hamburgo que confessou matar 12 pessoas e foi condenado por 6. Segundo o juiz “ele não podia voltar ao seu meio”, mas teve que ser solto porque a lei manda. Absurdo jurídico soltar alguém considerado um serial killer com a certeza de não ter sido recuperado. Uma irresponsabilidade. Absurdo saber que a lei está errada e tanto os homens da justiça como os legisladores nada fazem objetivamente para alterá-la. Uma negligência. O terceiro e último absurdo é o Inter ter feito o que fez no mundial com o seu torcedor e ainda manter o seu treinador, afinal, Roth já não tinha ido bem no Brasileirão, sob a desculpa da preparação para o mundial. Na tragédia contra o Mazembe tirou os dois melhores jogadores em campo, Tinga e Sobis, preferindo o “espetacular” Wilson Mathias. Não que Roth seja o único culpado, a diretoria e os jogadores tem suas parcelas, mas o treinador, além de não reconhecer seus erros e teimar em ser mal humorado, não consegue fazer o time ter uma mecânica que dê sustentação à defesa e efetividade ao ataque. Bendito Damião!!! Quem não sabe aprender com os erros, está destinado a perder. Como torcedor colorado, espero estar enganado.

Causas da imobilidade

Qual será o principal motivo para a sociedade brasileira permanecer imóvel diante dos arranjos políticos que assiste e, ao mesmo tempo,repudia? Qual será o motivo para a falta de mobilização que poderia transformar a indesejada realidade? Numa breve reflexão, temos a acomodação, a falta de conscientização e o medo como causas possíveis. A acomodação aparece como aquele estado de inércia, uma certa paralisia, diante de acontecimentos que exigiriam uma reação quase que imediata, por serem incompatíveis com o desejo da grande maioria, causando até náusea. Talvez a acomodação seja estratégica. Aquele que se acomoda não se expõe a situações de desgaste e nem de ameaças. É trocar o certo pelo duvidoso, mesmo que o certo não seja tão saboroso. Talvez, “ruim com eles, pior sem eles”. A segunda opção, a falta de conscientização, remete a uma eventual falta de conhecimento, produto de uma alienação, voluntária e involuntária, que não permite a compreensão da verdadeira realidade. Realidade que, ao fim ao cabo, desvelaria a diferença entre o desejo da população e o que faz o político. Político que, apesar de ter sido eleito pelo povo para representá-lo, age na política representando seus interesses particulares. E a terceira opção, que é o medo, nos faz pensar sobre o receio de perder alguma coisa. Talvez não seja perder algo que já é nosso, mas perder uma oportunidade futura, por uma questão de prudência. Já pensou precisar de uma ajuda para a solução de um problema particular urgente? Por considerar todo ser humano interesseiro, uns mais comedidos que ficam só no interesse e outros que vão adiante, até chegar na resultado pretendido, “doa a quem doer”, entendo que a causa que mais influencia a imobilidade da população brasileira é o medo. Mas o medo não de uma repressão violenta e imediata por ter pressionado os políticos, mas o medo de ter um eventual pedido negado. Uma mente dotada de um raciocínio mais expandido, mesmo que interesseira como as demais, poderia pensar que uma política mais descente e coerente poderia ser mais favorável aos, pois não haveria mais motivos para recorrer a ajutórios particulares. Mas como nosso pensamento está centrado ainda muito no particular e no curto prazo, acho que esta realidade não muda tão cedo, a menos que algum tipo de catástrofe natural venha abalar a estrutura política brasileira.

Marcos Kayser

A “via crucis” para cancelar um serviço de telefonia

Há um teste super eficiente para quem deseja medir o seu grau de paciência e tolerância. Ligar para cancelar um serviço de telefonia. Se ligar então para uma Companhia que opera a telefonia fixa com exclusividade em sua região, sem concorrência, o resultado do teste é absoluto. Passei por esta experiência, mais uma vez, e restou a ironia, visto que esta realidade, apesar de velha, não mudará, mesmo que exista Procom e outras Instituições com a função de defender o direito do consumidor. Para registrar o pedido de cancelamento, não houve maiores problemas, desconsiderando a já costumeira demora com os muitos pedidos de “só um momento, por favor”. Os problemas se intensificaram no decorrer dos fatos. A conta, que deveria reduzir em mais de 50%, veio praticamente com o mesmo valor, pois, por conta da empresa, acrescentaram planos com uma nomenclatura que só eles entendem, sem eu ter solicitado. “Por coincidência”, o telefone passou a apresentar problemas na recepção de chamadas. Quando liguei para reclamar do valor e do defeito, aí veio o teste da tolerância e da paciência. Confirmei o que todos já sabem. O negócio é planejado como uma “tática de guerra”. Tudo é feito para fazer com que a gente desista pelo cansaço e não adianta desaforar, pois, apesar de ser atendido por uma pessoa, estamos falando com uma máquina. A tática é planejada nos detalhes. A opção de reclamação é uma das últimas a aparecer. Encontrando a opção desejada, temos que fazer outras opções, com grande chance de nos equivocarmos, e, aí, voltará tudo de novo. Isso quando o telefone não fica mudo e a ligação acaba caindo, por mera “casualidade”. Quando conseguimos falar com alguma viva alma, ou alma viva, temos que informar novamente alguns dados que durante a “via crucis” já haviam sido informados. E todo este processo é feito como se estivéssemos sendo respeitados, tanto é assim que ao final ainda pedem para respondermos a uma pesquisa de satisfação, como se não soubessem do estágio de irritação e indignação que nos encontramos. Responder ou não, não fará a mínima diferença. Diante de tanto descaso, resta “rir para não chorar” e torcer para que não continuemos reféns dos monopólios e das oligarquias, o poder intocável de uma minoria que domina.

Marcos Kayser

Escola: um caso de amor

Pesquisa realizada pelo Ibope, a pedido do Instituto Victor Civita, sobre o professor brasileiro, traz alguns dados um tanto quanto intrigantes. Um deles é o percentual de 31% de professores reclamando da falta de participação dos pais nas atividades escolares. Considero intrigante porque na minha leitura este percentual deveria de se aproximar dos 100%, afinal, a falta de participação dos pais é  uma regra geral que atinge praticamente todas as escolas, sejam públicas ou privadas. De duas uma, ou a regra geral não é esta e 69% dos pais  participam da vida escolar, o que deixa de ser uma causa para os grandes problemas da educação, ou 69%  dos professores ignoram a ausência dos pais. Seria bem mais tranqüilo que a primeira hipótese fosse verdadeira, mas os fatos não conduzem a ela. A convivência com o mundo da educação formal não mostra isso. A segunda hipótese, que parece ser mais coerente com a realidade, assusta. Estarão os professores acostumados e conformados com a ausência dos pais? E daí podem se desencadear uma série de outras questões: será possível uma educação sem integrar corpo docente, alunos e pais? Certamente, que não, como afirmam e justificam pedagogos, sociólogos, filósofos e todos aqueles que se dedicam ao estudo do fenômeno educação. A conclusão preliminar é de que nossos professores precisam sair do conformismo, a tal zona de conforto, que para os professores, imagino não ser nada confortável, começando pelo aspecto econômico da profissão. E uma acomodação poderia ser transgredida e superada por motivação? Teoricamente, sim, mas a pesquisa mostra que apenas 6% dos professores dizem ser motivados pelo salário e benefícios e 53% afirmam ser motivados pelo amor à profissão. Então, levando ao fim ao cabo este dado da pesquisa, um dos caminhos para que o romance entre professor e educação se efetive é fazer da escola um lugar apaixonante para o professor e para o aluno. A aparência conta muito. Escola suja e ambiente feio não conquista ninguém. Não é só ensinar conteúdo disciplinar, numa linguagem antiga, é ensinar bons modos, como se postar.  Atrevo-me a dizer que enquanto os professores não tomarem a iniciativa dificilmente o desfecho amoroso que se sonha se dará.

?Marcos Kayser

A vida além do jogo

Pois é, o futebol parece a vida, se decide nos detalhes e também pela competência de seus viventes, no caso do futebol, dos seus jogadores. Na semifinal do mundial de clubes da Fifa, o Mazembe teve duas chances e fez dois gols, o Inter teve cinco chances claras de gol e não fez. No jogo de futebol, o que vale é o resultado final, será a vida também desta forma? Ter uma vida de resultados pode não ser a melhor coisa, pois seguir Maquieval, para quem os fins justificam os meios, é perigoso, pode levar até ao crime em nome de um bom resultado. O jogo tem  aspectos sim da vida, mas a vida não é só um jogo, mesmo que seja jogada por quase todos. Ainda mais quando o contexto dela é o da competitividade, como nos tempos de hoje. E não é exclusivamente um jogo porque tem ainda a arte que foge ao regramento inerente ao jogo. Se a arte tem algum tipo de regra, não são claras, e, como diz o comentarista de arbitragem, Arnaldo Cesar Coelho, a regra é clara e se não for clara não pode ser regra. O futebol ainda mostra que não adianta ter e ser potência, no sentido da possibilidade. É preciso o ato da realização. Por isso o futebol é tão apaixonante, numa fração de segundo decide o destino de tudo e, no caso do Inter, decide o universal, o mundial. Há uma regra básica no futebol: não levar gol e fazer, ou, se levar, fazer mais do que levou. Qual seria a regra básica da vida? Acho que a vida não tem uma regra básica, mas tem várias. Algumas definitivas e conhecidas, outras nem tão definitivas e outras totalmente desconhecidas. Uma diferença substancial para o jogo é que na vida vivemos e morremos sem poder recomeçar e o jogo de futebol que reproduz aspectos da vida não consegue reproduzir a finitude do real. Que neste Natal celebremos a vida como vida e não como jogo, pois no jogo há sempre vencedor e vencido, já na vida torcemos para que todos sejam vencedores.

Marcos Kayser

Somos por natureza “venenosos”?

Cientistas da Nasa informaram que encontraram num lago da Califórnia  uma bactéria diferente do conceito de vida que conhecemos até hoje, pois ela vive a base de arsênico. A bactéria não só “come” arsênico como também incorpora esse elemento tóxico diretamente ao seu DNA, segundo os pesquisadores.  O arsênio e seus compostos são extremamente tóxicos. Milhões de pessoas no mundo inteiro adoecem e morrem sem saber que a causa de suas doenças é o envenenamento crônico por arsênio. As doenças que mais matam no mundo podem ser causadas por arsênio: doenças cerebrovasculares, diabetes e câncer, entre outras. A descoberta, ainda em fase inicial, demonstra que um dos mais notórios venenos da Terra pode também ser a matéria-prima para a vida de algumas criaturas, abrindo espaço para novas perspectivas de vida extraterrestre. Segundo os pesquisadores o lago está repleto de vida, mas não de peixes. Ele também contém as bactérias. A vida é principalmente composta dos elementos carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo. Esses seis elementos compõem os ácidos nucleicos e também as proteínas e lipídios. Mas, teoricamente, não há razão pela qual outros elementos não poderiam ser usados. Só que a ciência nunca havia encontrado nenhum ser vivo que os usasse. Saindo da ciência empírica, indo mais para uma filosofia cínica e especulativa, podemos imaginar que pode estar aí uma explicação para uma eventual índole do mal da espécie humana, se contrapondo a teoria altruísta predominante. Então o velho Hobbes, que falou em “homo homini lúpus”, ou seja, o homem é o lobo do homem, tem sua tese reforçada, enquanto enfraquece o velho Rousseau para quem o homem é bom por natureza. Freud já defendia que para conter a pulsão de morte a sociedade seria um mal necessário. Quem sabe o arsênico também não justificaria a pulsão de morte? Assim, a ciência dá um passo importante não só na direção dos irmãos alienígenas, mas também para desmistificar a idéia da nossa natureza exclusivamente bondosa. Se no nosso DNA tem arsênico, podemos ser por natureza venenosos. Veneno que, é bom ressaltar, mata, motivado por auto-defesa ou até mesmo por pura perversão, principalmente quando usado por seres mais “evoluídos” e inteligentes como é o caso dos humanos.

Marcos Kayser