“Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos. E, contudo, também eu me afasto, sem que possa saber porquê”. Esta frase de Camus serve para pensar as relações amorosas, seja na esfera privada, seja na pública. Tempo de liquidez, como Baumann diz, onde até o amor virou água. Pobre dos apegados, dentre os quais me incluo, que ainda buscam justificativas para ficar vivendo neste país. País injusto, que não reconhece o amor que sinto por ele, me rejeita e me faz sentir um estrangeiro. De pouco tempo para cá, tenho pensado em fazer as malas (“Eu me sinto um estrangeiro. Passageiro de algum trem. Que não passa por aqui. Que não passa de ilusão…”). Chego a me desconhecer. Imagino os que me conhecem. Por muitas vezes tentei convencer a ficar os desengajados (desapegados), que falavam não ver a hora de partir. Atualmente, não me arrisco convencer ninguém. Já me basta tentar convencer a a mim mesmo. Não sou eu que não quero, é o Brasil quem não me quer. Ele sabe que gosto de organização e o que encontro? Desorganização. Parece uma provocação. A ordem, no seu sentido mais amplo, produz coisas boas e traz beleza estética à vida. Eu gosto do belo e quem não gosta? Quem viaja para países considerados do primeiro mundo, destaca a organização como uma das primeiras virtudes a serem percebidas, junto da educação. Ambas andam juntas. A boa educação produz organização. Só não gosta de organização quem se aproveita da desordem. A política opera nesta lógica e alguns outros setores da economia também. Os desorganizados são presas fáceis. Os bancos vibram com aqueles que não conseguem organizar as suas finanças e precisam recorrer a empréstimos, pagando altas taxas de juros. O Brasil é sujo sob o viés estético. Vejam as ruas das cidades, as estradas, os prédios públicos, especialmente os mais antigos, e vai piorar porque os governos estão quebrados. As estruturas vão se deteriorando e carecem de manutenção. Não se planejaram para o longo prazo. O Brasil é sujo sob o viés ético. Vejam a corrupção. Toda a licitação tem seu preço e não baixa dos milhões. Mas um dia vai melhorar. Nós, sociedade, temos que nos organizar. Eu pensava assim há bem pouco tempo. Por dez anos me dediquei a um movimento que tentou planejar, envolver a comunidade, eleger prioridades e ajudar prefeitos a organizar suas cidades, em suas áreas mais fundamentais: educação, saúde, segurança, meio ambiente, desenvolvimento econômico. Morreu porque o brasileiro ainda está educado na cultura do “pão e circo”. Não aprendeu que para conquistar coisas melhores e alçar voos maiores é preciso um envolvimento muito superior. O prazer não se produz sem a dor. Todo o país que hoje nos atrai pela sua organização viveu uma revolução. Somos ainda crianças mimadas e mal educadas, enquanto cidadãos. Vivemos a ilusão de que dias melhores virão, afinal, Deus é brasileiro. Ironia do destino, acho que só aqueles que partiram ou pensam em partir podem salvar este país. Como? É tema de outra conversa. Cabe a uma minoria (des)iludida tomar a decisão. “Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela”. Camus de novo para ajudar os que já experimentaram o amor por alguém, para além do amor próprio, e vão ficando por aqui, mesmo tendo condições de partir.
Arquivo da categoria: Artigos da aldeia regional
É dia do Professor
Hoje é dia do professor. A minha mãe, dna. Mary, era professora. Professora muito braba, mas muito querida e respeitada. Minhas queridas tias, tia Mairy e tia Branca, também eram professoras. Nasci no mundo da professorada. Dna Zelia, dna Dula, dna Zênia, as professoras do ensino primário, hoje ensino fundamental, ficaram registradas na memória. Talvez porque elas assumiam um papel de segunda mãe, aquela que ensina, corrigi e também dá amor. Também jamais me esquecerei do mestre Bauer e tantos outros. Professor que na época tinha status de doutor. Hoje o status decaiu e o vínculo com o professor se perdeu. Reflexo de uma sociedade diferente, onde as pessoas estão mais distantes uma das outras, mesmo aqueles que tem mais de mil seguidores nas redes sociais. É um mundo hiper conectado, mas super desintegrado, por mais paradoxal que pareça. Mais virtual e menos real. Confiamos menos uns nos outros e menos ainda nas instituições. Na época da minha mãe e das minhas tias, isso aconteceu a 50 anos atrás, o status era outro e o reconhecimento financeiro também. Um professor conseguia ganhar o suficiente para construir a sua casa própria. A formação também era outra e tinha estrita relação com vocação. Atualmente, tanto o professor, como o aluno beiram a frustração. O aluno criança ainda suporta ir à escola, enquanto lá brinca nos anos iniciais. Depois da 5ª série, quando o vínculo perde força porque não há mais a dedicação exclusiva de um só professor, se inicia o processo de desencantamento geral. Dizem que a escola precisa se reinventar. Acho isso muito bonito, mas acho também que esta reinvenção pode começar por fazer menos e melhor, mais profundidade e menos superficialidade. Partindo do pressuposto que não dá para ensinar tudo e que a escola pode fazer escolhas, junto com os pais, aos meus amigos professores, dentre os quais o amigo Ismael, já dei a minha opinião. Acho que teríamos um Brasil melhor se a escola ensinasse com excelência 4 disciplinas: Português (literatura junto). Matemática, Filosofia e Educação Física. Talvez eu acrescentaria mais uma: Empreendedorismo. O resto tá na Internet. É uma provocação em que me apóio numa teórica simplicidade para enfrentar a complexidade do mundo. Do jeito que a coisa vai, a educação no Brasil vai nos tornar ainda mais desiguais. Parabéns ao meu amigo Ronald pela coragem e por tudo mais! Parabéns aos meus tantos amigos professores que ainda sonham, se preocupam com o futuro de seus “filhos” e trabalham com competência e paixão!
10 anos de Agenda Paranhana 2020
O Brasil é um país muito grande, com uma diversidade de culturas e problemas estruturais proporcional ao seu tamanho. Querer mudar o país como um todo, com foco em Brasília, é tarefa complexa, quase impossível. Mas se começarmos pelas cidades onde moramos? Foi pensando assim que em 2006, espelhando-se na Agenda 2020, com apoio da Pólo-RS, iniciou no Vale do Paranhana uma Agenda Estratégica que reuniu pessoas e sonhos. Empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e da iniciativa privada, prefeitos, vereadores, juízes, promotores, padres, pastores, enfim, representantes de toda a sociedade, definiram metas e projetos, com o objetivo de tornar o Paranhana uma região de primeiro mundo. Metáfora que, resumidamente, significa um lugar com qualidade de vida, onde se tenha saúde, educação, segurança e infraestrutura de qualidade. Entendíamos que trabalhando de forma integrada, setor público e privado, poderíamos construir uma região melhor para se viver, independentemente das condições do Estado e do país. Duas premissas eram imprescindíveis: integração e planejamento. Neste ano de 2016, a Agenda Paranhana 2020, como é conhecida, completa 10 anos e a utopia continua distante. Idese e IDH, índices que medem o desenvolvimento, tiveram melhoras insignificantes e, em muitos casos, ficam abaixo da média do que se poderia considerar bom, inclusive abaixo da média do Estado. Alguns projetos pontuais como o Portal da Transparência, os Campeonatos de Xadrez e o Prêmio Professor Inovador foram realizações positivas, motivadas e organizadas pelo movimento. Muitos encontros serviram como tentativas de buscar a tão necessária integração entre as partes interessadas. Fóruns envolvendo delegados de polícia, juízes, promotores e representantes da sociedade foram exemplos disso. Parece ter ficado claro para os participantes, representantes da sociedade civil, que da integração não podemos abrir mão. Já para os gestores públicos, dos quais depende a grande maioria dos projetos, o entendimento parece não ser o mesmo, pelo que se vê na prática. Para se ter uma ideia, os municípios não conseguem nem se quer ter um calendário de eventos comum. Vários deles se sobrepõem. Também não conseguem criar uma rede de saúde pública, integrando todos os hospitais (e olha que saúde é prioridade). Nos últimos anos, a CICS-VP (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária do Vale do Paranhana), em parceria com a AMPARA (Associação dos Municípios do Paranhana), buscou mudar a estratégia, compartilhando a coordenação da Agenda com os prefeitos, quando cada assumindo um tema. Foi feita a primeira reunião e, desde então, não se tem mais notícia da Agenda. Lembrando que em eventos realizados em praça pública, os prefeitos assinaram um termo de compromisso com a Agenda, quando eram candidatos. O termo, mais uma vez, colocava o planejamento estratégico municipal como uma prioridade. Até hoje, a comunidade não foi chamada para conhecer os projetos prioritários, com seus orçamentos e prazos de execução. Assim, sem planejamento e sem integração, continuamos com uma economia pouco diversificada, índices de desenvolvimento baixos e serviços públicos precários. Por que não pensar e agir como se o Paranhana fosse uma grande cidade? Juntos construir soluções para os problemas que são os mesmos. Depois de 10 anos de sonhos e tentativas, na condição de um dos idealizadores e coordenadores da Agenda Paranahana 2020, estou deixando a função de comandante, mas prosseguirei soldado. Para não ficar de mal com a minha consciência e, principalmente, com os meus filhos, continuarei exercendo o meu dever de cidadão, participando da Agenda e cobrando soluções de quem nos representa e tem o poder na mão. Continuo acreditando que a felicidade de um depende da felicidade do outro e, por mais individualista que seja, mais integrada a nossa sociedade precisa ser. Só assim podemos conquistar algum tipo de felicidade. Agradeço aos voluntários e colaboradores da Agenda e aos colegas da CICS-VP, por terem me dado esta oportunidade!
Marcos Kayser
Panfletagem e trânsito
Sob o argumento de gerar desemprego, os vereadores taquarenses desaprovaram o projeto da vereadora Sirlei Silveira que proibia a colocação de panfletos nos para brisas dos automóveis em Taquara. Por mais esforço que faço (e muitos estão fazendo) ainda não consigo compreender este argumento. Teria sido feito algum estudo para levantar os impactos sociais e econômicos do suposto desemprego? Qual seria o contingente de desempregados? E eles estariam devidamente registrados, com carteira assinada, décimo terceiro e férias senso pagas? É provável que o estudo mostre uma realidade que requeira outros projetos mais eficazes que ataquem inclusive à informalidade, tão prejudicial ao trabalhador e à sociedade. Desemprego de quem não está empregado (parece contrariedade)? Ao fim ao cabo, a proibição não impediria os panfleteiros de continuarem o exercício da profissão, bastando fazê-la de mãos em mãos, respeitando assim o direito de cada pessoa de querer ou não receber a publicidade. Quem sabe os nossos representantes revisem o projeto e ouçam a comunidade formada pelos proprietários de veículos. E eu achava que o projeto seria estendido, proibindo também a colocação de panfletos nas caixas de correspondência.
Outro assunto que pode melhorar a vida dos taquarenses é a proposta de mudança no trânsito no centro da cidade. Não sei detalhes do estudo que deve ter sido realizado, mas acredito que seja consenso a necessidade de experimentar mudanças, visando descongestionar e tornar o tráfego mais seguro. Simpatizo (e muitos outros também) com a proposta apresentada em que ruas terão mão única e a Julio de Castilhos sentido invertido. Esta, particularmente, vai ser muito interessante. O olhar sobre a Julio será diferente. A estética vai mudar. Por isso, acho que vale a pena experimentar. Fico surpreso com a confusão feita por alguns cidadãos taquarenses que argumentam contra, dizendo que o prefeito deveria se preocupar em tapar buracos e asfaltar as ruas. Uma coisa não elimina a outra. Cabe sim melhorar a situação das ruas e cabe também repensar o fluxo de veículos. Vai ser algo novo e Taquara está precisando de um choque de novidades positivas, caso contrário continuará ficando para trás em termos de qualidade da cidade. Quem sabe, esta mudança que parece radical, motive outras mudanças importantes. Incrível como alguns tem dificuldade em aceitar mudanças ou, ao menos, se dispor a experimentá-las. Segundo informação do próprio Prefeito Titinho, haverá mais uma audiência pública para debater a proposta. Torço para que a próxima iniciativa seja aplicar multa em quem não mantém suas calçadas e sarjetas em dia, ou seja, sem buracos e limpas. Não vejo a hora de descer a Julio!
Os maus tratos com Taquara
Não é de hoje que Taquara sofre de maus tratos. Não me refiro ao vandalismo comum de quem não tem educação e agride o patrimônio particular e público porque sabe que não haverá punição. Por falar em punição, é a falta dela que corrompe o país em todas as suas instâncias. Para mim e para muitos já estamos no caos há muito, apesar dos desfarces de quem governa, sempre pronto a afirmar que muito já foi feito e estamos em evolução. Sim, muito já foi feito, muito se deixou de fazer e muito foi desfeito. Estou me referindo de atos de descaso dos próprios cidadãos com bom nível de educação. Em Taquara, se tivermos um olhar um pouco mais exigente, comum de quem já experimentou o bom e o belo, como acontece num país sério, veremos que pouco foi feito e muito deixamos de fazer. A cidade está feia e suja, se comparada, por exemplo, com o interior de nossas casas. A comunidade como um todo e administração municipal é culpada. Não me levem a mal alguns amigos e conhecidos que se identificarão com casos de descaso para com a cidade que vou citar agora. Há construtores que ocupam praticamente toda a calçada em frente as suas obras, além de deixarem as mesmas calçadas praticamente intransitáveis. Há moradores que, quando fazem reformas, ocupam calçadas e parte da rua por meses, prejudicando a passagem dos pedestres, dos carros e enfeando a rua. Do mato então, nem se fala. Sei que desanima fazer bem feito se o outro deixa daquele jeito, mas isso não é digno de desculpa. Caberia à prefeitura fiscalizar, notificar os casos de irregularidade já que existe lei, apesar de não ser aplicada, e multar. Não sei porque não faz. Talvez porque ela própria não consegue cuidar da cidade e fazer os consertos que depende dela, como é o caso das ruas esburacadas. Já passaram pela Guilherme Lahn, entre a Pirisa e a Sociedade 5 de maio? Além de por em ordem a cidade, tornando-a limpa e embelezada, a prefeitura poderia recompor seu caixa se notificasse e, em caso de descumprimento, aplicasse multas. Uma indústria de multas pelo bem de Taquara teria apoio daqueles que amam de fato a cidade. Aplaudo ações de algumas pessoas que denunciam e agem contra os maus tratos com os animais. Por que não seguir o exemplo e agir também contra os maus tratos com Taquara? Vamos lá vereadores, representantes do povo, quem sabe vocês lideram o movimento do “Adote a frente da sua casa”, projeto indicado na Agenda Paranahana 2020, apresentado em 2009 à Câmara de Vereadores e, como muitos, deixado de lado. Marcos Kayser
O vizinho sumiu
Maria Helena Holmer Hack, minha amiga do Facebook, escreveu um texto intitulado “As cadeiras na calçada”, que me fez relembrar com saudade do tempo em que a vizinhança se reunia a noite sentada nas calçadas. Era comum o vô, a vó e a mãe colocarem o banco na calçada em frente de casa para conversarem e verem as crianças correrem e brincarem rua fora. Lembro como se fosse hoje, o banco era branco, vazado, e cada um pegava numa ponta e levava para a rua. Chegavam a colocar na sarjeta para não prejudicar a passagem de pedestres que desciam do hospital. Instalado o banco, vinham os vizinhos, s. Ivo Vilas Boas, dna. Norma, a amiga Bela e a criançada, Geraldo, Mateus, Tavinho, Ivanor,… Enquanto os adultos tagarelavam tranquilamente sem o mínimo receio de assaltos ou alguma situação arriscada, a gurizada não parava, brincando de “caçador”, “pega-pega”, “esconde-esconde”. Apesar dos mosquitos, valia a pena! Era bom demais aquela quase cerimônia. Hoje, isso não acontece mais, nem mesmo em cidades do interior como acontecia a mais de 40 anos. O medo de ser assaltado ou ser incomodado é grande. Tem também a grande quantidade de carros que tiram o sossego, além de colocarem em risco quem estiver sentado num banco colocado na beira da calçada. Para mim que convivi com este saudoso tempo, além da falta de segurança, o motivo desta pratica desaparecer está também no jeito de ser da sociedade contemporânea e dos que hoje são pais. Naquele tempo havia tempo para jogar conversa fora. Hoje o tempo é mais escasso e parece que jogar conversa fora é um desperdício, porque não tem valor capital, e na nova sociedade é preciso estar sempre fazendo alguma coisa. Não se pode fazer nada. O valor das amizades parece não ser mais o mesmo e mantê-las não implica em reservar mais tempo para elas. O sentimento de vizinhança também se perdeu. Parece que não temos mais a confiança que tínhamos no outro, muito menos a intimidade. A qualquer momento um pode aprontar. Éramos mais próximos e contávamos mais com o outro. Hoje, em nome da autonomia, o vizinho não existe mais.
A culpa é do clima
Haverá preferência entre um dia obscuro, de céu escuro, e um dia claro, ensolarado? Inverno ou verão? Acredito que a maioria das pessoas tem preferência pelo céu azul. Fisiologicamente a falta de sol leva à deficiência da vitamina D, essencial para manter o equilíbrio mineral no corpo humano e todo o seu metabolismo. Dias cinzentos são deprimentes, especialmente para os mais propensos a deprimir. Dizem que os mais velhos e os mais solitários tem maior pré disposição à depressão. E aí me pergunto, um Estado como o nosso Rio Grande do Sul, com um inverno de muito céu encoberto, não estará propenso a se deprimir? Entende-se por depressão a falta de desejo, energia e alegria, falta de fé e até vontade de viver. No âmbito da sociedade gaúcha, a falta de fé seria na política deste Estado, que há anos não vê o desenvolvimento que se espera, o que acaba determinando a falta de vontade de viver aqui. Se perguntarmos para os mais jovens se desejam ficar no Rio Grande ou ir para outros lugares do país, é grande a quantidade deles que desejam sair. O culpado pela nossa decadência ou estagnação seria então o clima? Acho que não! Se fosse ele, jamais teríamos sido o que já fomos, por exemplo, referência em educação. Se fosse em função exclusiva do clima, países como Inglaterra e Canada, não seriam o que são. Claro que o clima influencia drasticamente a economia de uma região, tanto negativa como positivamente. Quando “São Pedro” ajuda (e tem ajudado bastante a safra gaúcha) vamos bem no agronegócio. Se o clima que mais interfere no nosso destino, é o clima interior. Precisamos ser mais engajados, quem sabe mais uruguaios, e mais arrojados, quem sabe mais chilenos, apesar de ambos terem se despedido mais cedo do mundial. Apesar disso, estão felizes por terem chegado aonde chegaram. Fizeram o que foi possível diante do tamanho que cada um tem. E por falar de mundial, já estou me sentindo deprimido. Havia me acostumado a assistir futebol todos os dias. Voltemos ao clima do brasileirão!
Marcos Kayser
Os da moção perderam a noção
Há uns 40 anos atrás eu ouvia da vó Anita, minha segunda mãe, que “o mundo estava perdido”. Ela se referia a fatos que ocorriam na sociedade que não eram comuns ao seu tempo como, por exemplo, cenas mais erotizadas em programas de TV. Dava para compreender, pois minha vó, que nasceu no início do século XX, vinha de outro tempo. O que não dá para compreender são os vereadores de Taquara que assinaram uma moção de apoio ao tal Deputado Feliciano e suas posições altamente discriminatórias. Esta moção me faz lembrar da frase da vó, só que neste caso é “Taquara que está perdida”. O que esperar de uma cidade com este nível de representação? Sem entrar no mérito da moção, que nem merece discussão, não haveria assuntos mais prioritários para serem debatidos em nome da nossa cidade? Ou Taquara chegou ao patamar mais elevado da excelência, onde nada precisar mudar e melhorar, ou os vereadores taquarenses perderam a esperança diante dos problemas existentes e não confiam nem mesmo no poder que possuem. Ou ainda, a moção pode ser uma espécie de estratégia para desviar de temas relevantes e essenciais. Convenhamos, em pleno século XXI, a cidade precisando de um debate sério e profundo sobre seu desenvolvimento econômico e social e os vereadores gastando tempo com moção? O problema dos vereadores de Taquara parece não ser com a tal moção, mas com a falta de noção: noção de igualdade, noção de prioridade, noção de representação,… Absurdo ou comédia? Fico com a primeira opção, para não ter que rir da minha própria tragédia. Parabéns a população que se mobilizou! Mobilizações sobre outros temas da aldeia também serão bem vindas! Tomara que nossos vereadores tenham aprendido uma boa lição.
Hospital Bom Jesus: até onde as reclamações procedem?
Tem sido assunto veiculado na imprensa da região do Paranhana, as reclamações contra o Hospital Bom Jesus, motivadas por problemas de atendimento. As reclamações, num primeiro momento, são graves e dificilmente não seriam, já que se trata de saúde, um tema sempre muito delicado. Qualquer conclusão que não for minuciosamente trabalhada, pode incorrer na injustiça e provocar danos irreparáveis. Como leigo, fico com a dúvida: até onde as reclamações procedem? Uma avaliação criterioso, envolvendo todas as partes: usuários, administradores do hospital, corpo docente, executivo municipal, vereadores e comunidade é uma medida recomendável. Numa leitura muito superficial, me parece que faltam esclarecimentos mais objetivos que pressupõe a apresentação de dados mensuráveis, que dizem respeito a quantidade e a qualidade. Afinal, qual é a meta de tempo de atendimento do hospital Bom Jesus e qual é a média que está sendo alcançada, considerando todos os níveis de complexidade? Qual é número de médicos disponível e a relação com o número de habitantes das cidades que o hospital atende? E qual é o ideal recomendado? Outra informação interessante seria os percentuais de atendimento por nível de complexidade e a relação com a meta estipulada. Com base nestes e outros dados é possível estabelecer comparativos entre o mês atual e o mês de um exercício anterior e com isso visualizar uma eventual evolução ou involução, para então responder de forma mais consistente se o Hospital está conseguindo cumprir com o seu verdadeiro papel, salvar e estar em condições de salvar vidas. Falam, e poderá ser no campo da boataria, que há carência de médicos e seria porque médicos passaram a atender no posto 24h, reduzindo o número do Bom Jesus. Já ouvi também que o problema principal é a falta de recursos financeiros, até porque o Hospital atende pacientes de outras regiões, cuja solução passaria pela formação de um consórcio entre os municípios. No dia 26 de março, das 8 às 10h, na sede da CICS, em Taquara, teremos mais um fórum da saúde da Agenda Paranhana 2020 Esperamos que o debate saudável e transparente prepondere e se consiga evoluir na concretização do projeto fazer do Hospital Bom Jesus um hospital regional marcado pela qualidade no atendimento.
Titinho: será que agora vai?
Nestes primeiros 30 dias de governo no município de Taquara, me chamaram a atenção duas medidas tomadas pelo prefeito Titinho. A primeira
foi a suspensão da construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Taquara e a segunda o cancelamento do desfile de carnaval deste ano. Medidas impopulares, mas que demonstram coragem e responsabilidade. Num primeiro momento, numa leitura apressada, ambas medidas podem parecer um retrocesso, afinal, quem não quer mais estrutura de saúde disponível e quem não quer a realização de eventos em Taquara? Elogiar é arriscado, ainda mais em se tratando de ações de um gestor público, cuja lógica, em sua maioria, não segue a orientação técnica, mas sim política, faltando coerência sistêmica e visão de longo prazo. Nesta caso vou arriscar ao dizer que achei muito prudente estas decisões do prefeito de Taquara. E, seguindo o que diz o filósofo Cícero, da época da Roma antiga, para quem “prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar”, acho que Titinho está pensando em evitar problemas que comprometem o futuro da cidade. É desejável a UPA e o carnaval, mas que UPA e que carnaval? Uma UPA que traz grande risco financeiro à prefeitura que possui limitações financeiras que a cada mandato se intensificam? Não fosse assim a Prefeitura não teria tanta dificuldade para pagar suas contas. Uma UPA cuja viabilidade pode ainda ser melhor discutida, inclusive a nível regional? Lembrando que a saúde é tema da nossa Agenda Paranhana 2020. Não se deveria primeiro deixar o Hospital 100% e os postos de saúde para então investir na UPA? Da necessidade do carnaval, não vou nem comentar, porque sou contra a política do “pão e circo”, o que não significa que sou contra o Carnaval e outros eventos que proporcionem alegria a muitos. O problema é não tratar primeiro eventos cuja prioridade é urgente. Gosto muito de Taquara, e quando um prefeito dá algum sinal positivo de boa gestão, logo me entusiasmo, achando que agora vai. Foi assim com o prefeito Kaiser e com o prefeito Délcio, quando falei neste espaço de alguns projetos que tinha esperança que fossem realizados, dentre os quais a revitalização das praças e a criação de uma incubadora tecnológica. Lembro que as praças foram revitalizadas pelo prefeito Délcio. Torço para que Titinho faça uma administração de alto nível, sabendo inclusive dizer não para investimentos que não estamos preparados, e mantenha a minha ilusão de “taquarense fanático”, que acredita numa “Taquara que ainda vai fazer muitos golaços”, conquistando importantes títulos, principalmente nos campeonatos da economia, saúde e educação.