Arquivo da categoria: Artigos da aldeia regional

Representar sem perguntar

Notícias dão conta da aprovação no Senado Federal da PEC dos Vereadores que recria 7343 cargos de vereadores no Brasil. Vereadores que em 2009 já assumiriam seus novos postos. “Tem vereador que não conseguiu se eleger pela atual composição, já soltando foguetes, afinal, terá a oportunidade de obter o retorno do capital investido na campanha, com juros e dividendos, é claro”. Deputados que defendem a PEC divulgaram que junto do aumento do número de vereadores haveria uma redução no  percentual de repasse para as Casas Legislativas, porém, esta medida foi suprimida e restou exclusivamente o aumento do número de vereadores.

No Paranhana, cidades com mais de 50 mil habitantes, como são os casos de Taquara e Parobé teriam um aumento substancial no número de vereadores, passando de 10 para 15. Os defensores do projeto afirmam que não houve economia financeira com a redução do número de vereadores e, por isso, não haveria sentido manter o número atual. Ignoram que se não houve economia foi porque os próprios vereadores que se mantiveram no cargo não desejaram e para corrigir caberia uma emenda, reduzindo o teto do repasse que hoje é de 8% para pelo menos 4%, e não simplesmente voltar a aumentar o número de vereadores.

Ao que parece os parlamentares estão mais preocupados em aumentar o número de cabos eleitorais, papel que os vereadores assumem quando das eleições estaduais e federais, do que tornar as Câmaras de Vereadores mais enxutas e organizadas. O cidadão precisa estar atento para perceber que no “reverso da moeda” pode haver contradições. O que se quer e o que se precisa é mais austeridade nas casas legislativas e isso é plenamente possível com bem se identifica na Câmara de Vereadores de Três Coroas, recentemente reconhecida como exemplo para o Estado e para o Brasil na medida em que tem um repasse de menos de 1% que se constitui no menor do RS. Pelo que se sabe, a redução do número de vereadores, que ocorreu há alguns anos atrás, não baixou a produtividade do legislativo e as cidades não sentiram a falta de mais representantes nas Câmaras Municipais. Muito pelo contrário, o numero de vereadores que tem hoje, é muito melhor funcionalmente falando. Quantidade não é garantia de qualidade. É uma pena que a decisão não é nossa, mas daqueles que dizem nos representar sem ao menos nos perguntar.

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Discurso de posse da Cics-VP

É uma grande satisfação participar deste momento em que o Paranhana se reúne não apenas para celebrar a posse de uma diretoria, mas para expressar apoio a uma instituição, cuja história de ação e representação completa 77 anos: a CICS

Sinto-me pequeno diante das proporções que o cargo de presidente da CICS configura, mas muito honrado pela confiança no meu trabalho. Confiança que devo especialmente aos  associados da entidade e desta diretoria, com o qual compartilho tropeços e glórias quase que dia a dia.  Parece que foi ontem que estávamos aqui falando em borboleta que bate asas na Indonésia, em Teoria do Caos, em ideais, em utopias. Falamos também numa tal de Agenda que não passava de uma pretensão de reunir de pessoas para pensar o futuro da nossa região sem desprezar o passado, discutir idéias, sugerir projetos e se integrar. Muito do que se disse naquela ocasião não mudou. O bater das asas da borboleta, continua podendo provocar estragos por toda parte. Já quanto a Agenda, da intenção evoluiu para o fato. Prefeituras e entidades foram pioneiras ao promoverem a oportunidade para se elaborar um plano regional, cujo ideal comungado por todos é tornar o Paranhana um lugar de primeiro mundo. Ideal não no sentido de um arquétipo inatingível, mas um ideal que é real. Se olharmos para os projetos que estão na Agenda, veremos que alguns projetos já existiam e foram integrados para serem ampliados para todas as cidades. Outros são novidades. Dentre os projetos que já são realidades encontramos o projeto de reciclagem desenvolvido pelas indústrias calçadistas de Três Coroas, coordenado pelo Sindicato das Indústrias de Calçados de Três Coroas; o processo de capacitação do APL Calçado também liderado pelo Sindicato em parceria com o Sebrae; o Selo Ecológico também liderado pelo Sindicato de Três Coroas, que certifica as empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável. E para não ficar só em Três Coroas e só no Sindicato, temos o portal da Transparência que já está disponível na Internet no endereço www.paranhana.org.br, sob coordenação da CICS traz dados dos mais variados e atualizados da nossa região, servindo de indicadores sobre como estávamos e como estamos.  E para não ficar só na iniciativa privada temos o projeto do planejamento estratégico seguido modernas ferramentas de gestão como vem ocorrendo nas prefeituras de Igrejinha e Três Coroas e deve ocorrer em todos os municípios do Paranhana, conforme Termo de Compromisso, assinado recentemente por todos os candidatos à prefeito da região. Estes exemplos nos permitem, sem soberba nem falta de humildade, concluir que a Agenda é uma realidade. Claro que ainda é cedo e é muito pouco diante de alguns quadros críticos que temos. Mas, quem sabe, se o nosso utilitarismo pragmático permitir, com paciência, participação dedicada e eficiência poderemos daqui há dois anos comemorar melhores resultados. Minha esperança é que mais pessoas e principalmente as lideranças públicas e privadas, abracem a causa, cada um desempenhando o seu papel dentro desta grande obra em que a Agenda pode se constituir.

Se me perguntarem de novo, mas pra quê, ainda terei a mesma resposta: porque o meu egoísmo percebe que a vida minimamente confortável que desejo depende do outro. Se não for por uma questão moral ou religiosa, que seja pelo este egoísmo conscientizado de que só pela via da união de forças organizadas haverá alguma possibilidade de enfretamento da precariedade. Nome que pode parecer exagerado, mas que considero adequado a realidades vivenciadas como são os casos da falta de um hospital regional e a falta de contingente policial.

E para não ficar só na Agenda, iniciativa que não é sustentada apenas pela CICS, mas também pelas seis prefeituras do Vale em conjunto com instituições privadas, a CICS no biênio que passou cumpriu com mais alguns propósitos. Conseguiu conquistar o equilíbrio econômico financeiro, hoje não há dívidas.  Modernizamos um pouco a estrutura, melhorando equipamentos, renovando a pintura externa do prédio com a ajuda de empresários da cidade, implantando sistema de ouvidoria e controle de projetos e indicadores. Consolidamos o Mapa Estratégico da entidade. Ampliamos a comunicação com o associado que através de neewsletter, notícias em rádio e jornal é inteirado sobre as deliberações da diretoria. Retomamos o PGQP (Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade) do qual fomos recentemente considerados comitê regional destaque. PGQP que deverá continuar sendo uma prioridade desta gestão com a projeção de que no ano que vem todas as prefeituras e Câmaras de Vereadores devem adotar o programa conforme se comprometeram. E a CICS está de porta abertas para aqueles que desejarem conhecer o Programa a fim de agregarem mais qualidade e produtividade as suas organizações, independentemente do tamanho. Realizamos ainda ações de representação como a ocorrida frente ao episódio do viaduto da RS115 e 239. Enfim, a partir deste breve balanço, acho que cumprimos com boa parte dos nossos deveres, com a ressalva de que poderíamos ainda ter feito mais e melhor.  Para finalizar é imprescindível destacar que o trabalho só foi possível porque tivemos o apoio do nosso associado a quem sou grato. Também aos nossos colaboradores internos que demonstram comprometimento e responsabilidade. À nossa diretoria, sempre disponível e tolerável com meus excessos, mostrando que é possível compor uma diretoria que transcende a uma mera formalidade. Ao poder público que tem demonstrado sinais que deseja acolher nossas aspirações. Às instituições parceiras, que são muitas e devido ao tempo exíguo é prudente não citá-las. Aso facilitadores da Agenda, trabalho voluntário. A minha empresa e as nossas empresas que permitem o compartilhamento do nosso tempo privado com a entidade. À minha família, mil perdões pelas faltas. Enfim, a todos vocês, muito obrigado

Exemplos de uma Taquara diferenciada

Há contextos peculiares que passam muitas vezes desapercebidos do nosso olhar um tanto ocupado. Num contexto de cidade, que vai além da nossa aldeia privada, há pessoas que praticam rotinas muito similares as nossas, mas também encontramos pessoas que se diferenciam em pequenos grandes detalhes. São pessoas que rompem com a rotina com a qual já estamos acostumados, ou melhor, resignados. São pessoas empreendedoras que disponibilizam produtos e serviços cuja forma e conteúdo são peculiares, gerando bem estar aos de dentro e aos de fora. Quem ganha com isso? Todos que gostam de diversidade e qualidade! Quem não gosta de ter um lugar para ir saborear um gostoso sorvete a qualquer dia, inclusive feriado, e em todas as estações do ano? Quem é da cidade e também alguns de fora que passam por ela sabem, estamos falando da sorveteria da Dona Leda, que às crianças e aos adultos dá prazer de longa data. Incansável Dona Leda! Muito obrigado! Bem perto dela, quem sabe contaminado pelo tino empreendedor desta senhora, encontramos uma outra raridade que também possui sua diferenciada singularidade. O negócio até parece simples, mas se diferencia na forma.  Uma atividade que apesar de utilitária também tem o gosto como ponto chave. É a barbearia do Beto cuja carga horária estendida conquista a fidelidade da “clientelada”. Ele trabalha de segunda a sábado e atende até altas horas. Mais precisamente até as vinte e uma horas dá tratamento de grande cidade onde temos a vantagem de a qualquer hora podermos desfrutar o produto e o serviço desejado. Em Taquara, felizmente, temos pessoas assim, dando cor a outra face da cidade e ensinando na escola da vida que é preciso abdicar em certa medida da boa vida para se conquistar a vida boa.  A sorveteria da Dona Leda e a barbearia do Beto representam o lado bom da Taquara.

Viaduto: inauguração sem constrangimentos

No último dia 10 ocorreu a inauguração do viaduto localizado no entroncamento da RS-239 e 115. Ato que mereceu a participação da governadora e reuniu essencialmente lideranças políticas do Estado e da região. Na obra foram investidos em torno de  um milhão e setecentos mil reais e posteriormente mais 200  mil para recuperar uma falha na estrutura da obra, ocorrida antes mesmo de sua liberação. Falha que acabou atrasando em mais de ano a inauguração, além de consumir recursos adicionais, ou seja, fora do planejado. Também houve muitos questionamentos sobre um suposto sub-dimensionamento dela, levando em conta que a complexidade do entrocamento exigiria uma obra mais grandiosa e segura, já que une duas movimentadas rodovias. Diante destes fatos e aspectos negativos da construção, surge a pergunta: Longe de desfazer a importância da obra, a retração pelo constrangimento não seria a melhor recomendação? Dizer sim é mera opinião de cidadão não habituado com a prática política do político, para quem o constrangimento não tem vez. Longe de constrangimentos os discursos na inauguração do viaduto eram de resplandecimento. A obra chegou a ser comparada à torre de pisa, ponto turístico da Itália, no qual teria sido utilizado a mesma técnica para garantir a cessação de uma inclinação que já chegava a cinco graus e aumentava uma média de 20 milímetros por ano. É surpreendente a vocação de alguns em reverter situações que num primeiro momento se quer tem defesa, elogio, então, menos provável, contudo, o improvável acontece. É uma pena que os políticos não concentram seus dotes em planejar e construir um país mais justo e melhor. E eles dirão: mas o país está crescendo, está melhor! Sim, está, mas está no nível e no ritmo que deveria e poderia? Basta pedir para um estudante, recém formado no ensino médio, elaborar uma redação ou visitar um hospital com um olhar comprometido com a qualidade, que a conclusão é inevitável. Pra mim, sem segundas nem terceiras pretensões, o aprendizado verdadeiro deste episódio do viaduto, não reside na técnica de recuperação adotada, mas na cobrança incansável de muitos, dentre os quais a CICS (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária do Vale do Paranhana), junto ao Ministério Público, pedindo providências. Iniciativa que ocorreu no dia 15 de fevereiro deste ano e em menos de três meses que problema foi solucionado e o viaduto liberado e inaugurado. Lembrando que a interdição completava mais de um ano.  Eles dirão: foi uma mera coincidênia. Todavia, fica aqui o registro de que a pressão, dentro ditames da lei e da razão, tem poder de solução.

Três Coroas: uma referência positiva

“O bebê é algo que não existe”, dizia Winnicott para dar ênfase ao papel da mãe na formação psíquica do indivíduo. A mãe representa a primeira referência para o bebê e nesta convivência se estabelece o padrão afetivo do ser. Se positiva a relação, tenderá o adulto a ser mais centrado, menos neurótico, mais seguro de si e responsável, suficientemente forte para suportar as arguras da vida. No decorrer da estadia no mundo as referências se multiplicam e continuarão sendo condicionantes da personalidade, ou seja, da nossa forma de ser no mundo. Da mesma forma que a referência positiva é indispensável à dimensão psicológica, o é no âmbito da sociedade e da política, seja pública, seja privada. Com a referência aprendemos, identificamos qualidades e virtudes das quais podemos nos apropriar a todo instante. E é neste sentido que mais uma vez Três Coroas aparece como referencial para as demais cidades, repetindo o feito de ficar entre o seleto grupo das 100 cidades do Estado com melhores Índices de Responsabilidade Fiscal, Social e de Gestão (IRFS), mais especificamente na 26ª posição, como a única cidade do Paranhana. O Índice de Responsabilidade reflete o desempenho dos municípios, apurando indicadores que medem o nível de endividamento, a proporção da receita gasta em pessoal, percentual de professores com nível superior na rede municipal, cobertura vacinal, taxa de mortalidade infantil, entre outros. Em suma, o índice apura o resultado obtido a partir da aplicação dos recursos públicos no município. Além deste índice, há outros exemplos práticos que colocam Três Coroas numa condição de excelência, na comparação com outras realidades, o que, ao mesmo tempo, não é sinônimo de perfeição. Condição que não é de hoje, não surgiu do nada, não é por acaso. Houve uma construção de toda a comunidade, na qual o prefeito, seus funcionários, secretários, vereadores, enfim, a administração municipal tem papel chave.  Parabéns a toda Três Coroas!

Uma cidade, duas prefeituras

Cansa falar de política. Não distintamente, cansa ouvir sobre política. Menos por interesse, afinal, todos sabem da vitalidade da política, mais porque a confiança nos políticos foi perdida. A política trata do bem comum, portanto deve interessar a todos, já que dela depende o que mais desejamos em nossas vidas: a felicidade. É no campo da política que ocorrem as principais decisões que norteiam a relação entre os indivíduos numa sociedade civilizada. Assim, é prudente por nós e pelos nossos (sendo bem egoísta, poderia aqui ser altruísta) não perder a política de vista, mesmo que isso demanda certo grau de sacrifício do aparelho digestivo. Neste ano de 2008 temos eleições municipais o que sugere um esforço concentrado nas propostas e posturas dos candidatos ao executivo e ao legislativo. Recomenda-se conhecer seus projetos prioritários e como farão para colocá-los em prática. Não nos contentemos com as promessas de empenho na resolução dos problemas tradicionais, nem com aquele que afirma que vai trabalhar pela educação ou pela segurança, ou por quase tudo. Relembrando, ao executivo compete administrar a cidade, prestar os serviços básicos com qualidade, manter a cidade limpa e investir no seu desenvolvimento, atendendo as prioridades eleitas pela maioria da comunidade. Aqui já reside um grande problema. Os prefeitos, em grande parte, não possuem instrumentos de participação contínua da comunidade, ou dos representantes da sociedade civil, organizada em associações e entidades. O governo se instala e o prefeito faz o que ele considera prioritário sem usar uma metodologia que possa dar credibilidade e eficiência. Os planos de governo da época de campanha são demagógicos e não atendem as premissas de um planejamento estratégico como é recomendado, fora que em sua maioria só servem para o período que antecede a eleição. Aqui no Paranhana os candidatos têm um belo conteúdo nas mãos, talvez como jamais tiveram. É o relatório 2007 da Agenda Paranhana 2020, com seus 39 projetos, cuja execução, em boa parte, compete ao setor público que deve incorporá-los em seus planos de governo. Agenda que é uma iniciativa abrangente que reúne a participação da sociedade civil e dos próprios políticos. Votarei no candidato que demonstrar conhecimento da Agenda e assumir publicamente o comprometimento com ela, além é claro de buscar informações a respeito do seu histórico, por onde andou e o que fez, para tentar medir o grau de competência. Isso vale para a escolha do prefeito e do vereador. Estes últimos, em muitas cidades, estão fazendo da Casa Legislativa uma segunda prefeitura, distorcendo totalmente sua função. Investem em obras e executam serviços sob a alegação de que o executivo não faz a sua parte, nem responde suas solicitações. Estes vereadores ignoram intencionalmente que cabe a eles fazer com que o prefeito cumpra suas obrigações, e, para tal, possuem a legitimidade para, em último caso, recorrerem inclusive a um processo de cassação. O que não dá mais pra tolerar é uma cidade possuir dois governos: o do prefeito e o dos vereadores. Haja arrecadação.

Farinha, ovos, sacos e caixas no chão

Assisti nesta semana a uma cena comovente. Não a comoção da compaixão, mas a comoção da frustração. Frustração porque ainda deposito nos jovens de hoje uma certa esperança de dias melhores. Mas vamos à narrativa:

Ia passando de carro pela rua Bento Gonçalves, em Taquara, mais detalhadamente no cruzamento com a Rio Branco, e vi um grupo de jovens, na faixa dos 15 anos, fazendo a famosa “guerrinha” de ovos crus e farinha, costumeiramente usada quando da vitória nas batalhas do vestibular. É bem provável que estavam fazendo algum tipo de comemoração. Num breve momento o chão da calçada, por onde depois passariam outras pessoas, ficou coberto de farinha e ovos quebrados. No mesmo chão também ficaram depositados os sacos de farinha e as caixas dos ovos, algo semelhante ao espaço onde habita um certo animal. Segui adiante de carro, mas fiquei “martelando” sobre uma possível intervenção o que acabou me fazendo retornar para tentar, quem sabe, chamá-los a atenção. Antes de sair do carro, relutei por alguns instantes, mas acabei decidindo por abordá-los. Fiz um brevíssimo ensaio da minha fala com a preocupação de não parecer intrometido e peder a oportunidade de tentar buscar a reminiscência de uma eventual consciência de cidadãos. Cheguei pedindo licença, mais ou menos assim:

– Olá moçada! Vocês poderiam me dar um minutinho de atenção?

– Sim! Responderam.

Aí com o máximo de respeito falei:

– Desculpem, não quero dar nenhum sermão em vocês, mesmo porque não sou padre. Só gostaria de dizer que assim como vocês eu também não gosto de viver numa cidade suja. Será que vocês poderiam recolher os sacos e as caixas que acabaram de deixar esparramados no chão.

Falei para dois meninos e umas cinco meninas, sendo que um dos meninos se adiantou e respondeu:

– Pode deixar eu vou lá recolher.

Saí logo dali agradecendo a atenção e mais uma vez pedi desculpas.

Não sei se depois não ficaram tirando sarro da minha cara ou até ignoraram, mas pelo que conferi removeram os sacos e as caixas, já que os ovos e a farinha não tinham mais jeito. Depois, me senti feliz. Primeiro por ter sentido irresignação, depois por ter assumido uma posição que culminou numa (re)ação. Quem sabe, alguns deles, antes de fazerem algo parecido numa próxima ocasião, terão alguns instantes de consciência e prevaleça a consideração pelo outro que também é cidadão. Será que ter ainda alguma esperança não é uma grande ilusão?

Câmaras de vereadores: próximas, mas distantes.

Segundo levantamento feito pelo Jornal NH, em 51 municípios dos Vales do Sinos, Caí, Paranhana e Serra a média do percentual do orçamento dos municípios que é repassado para as Câmaras de Vereadores é de 3,60%. No Vale do Paranhana a média é maior, ficando em 4,5%. Três Coroas é o destaque positivo não só no Vale do Paranhana como também dentre as 51 cidades pesquisadas, apresentando o menor percentual de repasse, que é de 0,79%. Taquara e Parobé são as cidades com o maior percentual de repasse não só dentre os 6 municípios do Paranhana como também dentre os 51 municípios pesquisados, que é de 8%. O valor dos salários dos vereadores é na maioria das vezes proporcional ao percentual do repasse. Quanto maior o repasse, maior o salário. A média do salário dos vereadores, considerando os 51 municípios pesquisados, chega a R$ 2.262,75. No Paranhana a média é um pouco menor do que está média, ficando em R$ 2.168,89, sendo que Igrejinha é a cidade, na qual os vereadores ganham menos, R$ 1.057,18, e Taquara é a localidade onde os vereadores ganham mais, R$ 3.816,00.  A lei federal estabelece o limite de 8% para o repasse, mas compete ao município, executivo e legislativo, definirem o percentual sem exceder ao limite. Definir o quanto do orçamento será repassado às Câmaras e o valor dos salários é de competência local, assim não é a lei federal que obriga os vereadores ganharem mais nem o repasse ser estabelecido no seu teto. O bom senso e a coerência com a situação econômica de cada município deveria ser o princípio norteador dos prefeitos e vereadores para decidirem sobre os repasses e sobre os salários dos legisladores, mas a realidade mostra que nem sempre é assim. Se um município carece de recursos, se faz necessário um esforço conjunto, tanto do executivo como do legislativo municipal para conter despesas e aplicar os recursos nas prioridades a serem eleitas pela população. Prioridades que na sua maioria se concentram em saúde, educação e infra-estrutura. Não é porque um município arrecada mais que o valor do repasse e o salário dos vereadores deva ser maior. O quanto o município carece de benfeitorias deve ser profundamente avaliado. Normalmente um município que arrecada mais tem mais custos com manutenção de infra-estrutura. Em termos financeiros, o que importa é o saldo, a liquidez do município. Neste caso, no Paranhana, Três Coroas e Igrejinha parecem estar na frente, o que não é muito difícil constatar, basta circular pelas suas ruas, conversar com a comunidade, frenquentar seus hospitais,… E para não ficarmos só no mundo das idéias (alusão a Platão) é muito bom termos os arquétipos aqui na terra.  Agora, por favor, pensemos bem antes de inventar justificativas na tentativa de explicar a distância entre cidades tão próximas. Não abusemos da inteligência do povo. Não justifiquemos os salários e os repasses mais elevados com o argumento de que as Câmaras que recebem mais devolvem recursos. As que recebem menos também devolvem e, se isso acontece, por que então não reduzir de uma vez por todas o percentual de repasse? Se tiver ainda alguém que defenda a idéia de que o vereador ganha proporcionalmente ao que trabalha, perguntemos:  será que os vereadores de Igrejinha e Três Coroas trabalham menos? Quem sabe, um dia, as Câmaras de Vereadores de todas as cidades do Paranhana tenham seus gastos compatíveis com a realidade econômica de seus municípios e todas, sem exceção, sirvam de exemplo positivo para toda a nação. Torcemos, rezemos e fiquemos aguardando de braços cruzados como estamos acostumados.

Aos prefeitos compete a diversificação econômica?

Seguidamente nos dirigimos à diversificação econômica como a grande alternativa para a retomada do desenvolvimento da região, onde ainda predomina a indústria do calçado. Outras regiões do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil concordam com a mesma premissa e apontam as vias para tal. Alguns indicam que os prefeitos são os maiores responsáveis por esta tarefa, pois são eles que detêm o poder de apontar para onde sua cidade deve ir na direção da economia e da vocação. Mas seria esta uma responsabilidade do prefeito? Seria ele o ente que reúne as condições para assumir o desafio da diversificação? Desafio que nem mesmo economistas e empresários se atrevem a assumir, visto as dificuldades de prever o futuro na atual economia de mercado. Dificuldades que vão desde a intensa velocidade com que as coisas mudam no mercado até o nível de competitividade existente na economia, enquanto globalizada. Globalização, pela qual a concorrência e as novas tendências se espalham por todos os cantos do planeta, cujos movimentos podem interferir no andamento de qualquer negócio, esteja onde estiver.

O que se pode prever são apenas nuanças do que está por vir. Agora, se concordamos que os prefeitos não têm condições e nem é seu papel definir a vocação econômica de uma região, também podemos concordar que os prefeitos têm papel fundamental na construção de ambiente favorável à diversificação e ao desenvolvimento, em prol do empreendorismo, do crescimento do setor produtivo estabelecido e da atração de novos negócios. Na prática o que isso significa? O ambiente se traduz em infra-estrutura adequada, em cidade limpa, em hospitais e escolas caracterizadas pela cobertura e pela qualidade. E isto é o que mais desejam os trabalhadores, sejam empresários ou funcionários. Independentemente das dificuldades financeiras e da falência do Estado, os prefeitos tem o dever de disponibilizar para os cidadãos da sua cidade os serviços básicos com toda qualidade. Para isso é imprescindível o recurso financeiro, mas também, a vontade e o conhecimento para planejar e tornar realidade. Os recursos financeiros podem ser captados através de bons projetos a serem encaminhados ao governo federal, como também podem ser conquistados através do exercício da austeridade na economia interna da prefeitura, sendo que uma alternativa não exclui a outra. Neste caso o prefeito deixa de ser político para virar administrador e economista. Sobre o futuro da prefeitura, todos os prefeitos têm responsabilidade. Poder para interferir e fazer acontecer. Sobre o futuro da economia toda a sociedade tem responsabilidade. Professores, vereadores, profissionais liberais, empresários, funcionários, enfim, todo aquele que vive este mundo, o mundo da economia de mercado. Felizmente ou infelizmente (particularmente fico com a segunda opção) a soberania do mundo está nas mãos do tal mercado, sobre o qual todos têm poder e, ao mesmo tempo, ninguém.

As melhores cidades para trabalhar

Foi divulgada uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que apontou a lista das 100 melhores cidades do país para se trabalhar e fazer carreira. A pesquisa leva em conta três indicadores principais. São eles: primeiro a Educação, medida pelo número de matrículas e cursos de graduação, de mestrado e doutorado; segundo a Economia, medida pelo ISS e o PIB municipal per capta; terceiro a Saúde Indicador, medida pelo número de leitos disponíveis e de profissionais de saúde. O ítem educação é o que tem maior peso na avaliação. Realizada desde 2002, a pesquisa analisou 126 municípios brasileiros dos quais 100 com população superior a 170 mi habitantes e 26 com menos. São Paulo é a número 1 do ranking, seguida do Rio de Janeiro. Dentre as gaúchas aparecem 9 cidades: Porto Alegre (6), Caxias do Sul (26), Canoas (35), Santa Maria (49), Passo Fundo (53), Rio Grande (55), Pelotas (65), Bento Gonçalves (74) e São Leopoldo (97). Segundo a FGV, um dos fatores que mais influenciam no desenvolvimento de uma cidade e de uma região é a qualidade do ensino superior, que abrange a formação continuada e a prática da pesquisa científica. Desta constatação, da relevância de uma instituição de ensino como fomentadora do desenvolvimento regional, podemos deduzir que o Paranhana tem perspectivas alentadoras. Temos uma Faculdade que a cada ano cresce e pode continuar crescendo, no sentido de oportunizar novos cursos de formação e especialização, além de criar espaços que produzam inovação e qualificação, aspectos indispensáveis a quem se dispõe a enfrentar a guerra do mercado atual, que tende a se intensificar na sociedade globalizada na qual vivemos. Sociedade onde a competição não se restringe a uma cidade, nem a uma região. Temos que ser competitivos a nível mundial e isso é sinônimo de adotarmos posturas de alto grau de exigência, com nós mesmos e com os outros agentes dos quais depende nosso crescimento.