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Taquarense: uma naturalidade em extinção?

A pergunta: “Taquarense: uma naturalidade em extinção?”, suscita da leitura que pode ser feita dos dados do Datasus,  banco de dados do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde, que aponta para uma redução no número de nascimentos em Taquara. Redução que por si só, como tendência regional, não é novidade, o que merece destaque é que em Taquara o índice é bastante expressivo e está acima da média geral. Do ano de 2001 à 2006, Taquara teve uma queda na ordem de 23,82%, representando uma das maiores entre as cidades do Paranhana e do Vale dos Sinos. Em 2001 nasceram 894 crianças em Taquara e em 2006, 681. Será que os casais taquarenses resolveram ter menos filhos? Ou será que este resultado reflete algum programa de planejamento familiar desenvolvido no município? Se houver, até os meios de comunicação desconhecem ou não desejam divulgar. Na linha do bom humor, ou do humor trágico, como queiram, tem gente dizendo que os bebês estão antevendo o futuro que os espera, referindo-se a decadência do município, causada pelas sucessivas mal sucedidas administrações públicas da cidade. Noutra linha, esta já menos irônica, segundo alguns comentários que se ouve na praça (praça no sentido metafórico já que objetivamente Taquara não tem praça) um dos motivos para a redução dos nascimentos em Taquara seria que os pais estão preferindo ter seus filhos em hospitais de cidades vizinhas. A preferência seria o Hospital Bom Pastor de Igrejinha, que de 2005 para 2006, teve um aumento de 32,42% em nascimentos. De 475 foi para 629 nascimentos em 2006. Em números absolutos, no mesmo ano, apenas 8,26% a menos que em Taquara. E é bom salientar que Taquara tem uma população em torno de 62% maior que Igrejinha. Se Taquara fosse acompanhar o índice de Igrejinha, proporcionalmente ao número de habitantes, deveria ter registrado em 2006 um número superior a 900 nascimentos, porém teve só 681. A hipótese da rejeição do Hospital de Caridade não parece ser absurda. Mas afinal, quais seriam os principais motivos? Com mais conhecimento de causa, será que os médicos pediatras não poderiam dar “pistas”?

Paralelepípedo: o retorno

Pode parecer confissão de saudosista, gosto antiquado, mentalidade ultrapassada. Independentemente da impressão causada,  tenho uma forte queda pelo retorno do paralelepípedo à ruas como a Julio de Castilhos. A rua principal de Taquara quando calçada com seus paralelepípedos regulares, era bem mais charmosa do que hoje recapada com asfalto. O paralelepípedo combinava com a essência interiorana da cidade. Dona de uma rua principal estreita para quem o paralelepípedo estaria mais adequado já que o asfalto cai melhor em avenidas movimentadas. Pior ainda com o asfalto nas condições que lá se encontra (e não é  diferente na rua Tristão Monteiro), deformado e remendado, conseguindo a proeza de ser mais irregular do que o velho paralelepípedo de antigamente. É bem provável que a volta do paralelepípedo não representasse grandes dispêndios financeiros pois na verdade o paralelepípedo ainda está lá, abaixo da espessa camada do asfalto. Tão espessa que em muitos trechos o velho paralelepípedo insiste em mostrar a cara. E não é só o aspecto estético que está em conta, o paralelepípedo traz vantagens utilitárias. Tem uma durabilidade ilimitada; propicia um baixo custo quando da necessidade de obras subterrâneas; é removível e pode ser reaproveitado; dispensa equipamentos caros, especiais e barulhentos quando necessário removê-lo; não se sujeita a trincas por fenômenos de dilatação, retração, flexão e oxidação; dispensa mão de obra especializada para seu manuseio; não é perecível; permite que a água da chuva tenha uma melhor drenagem. Quem a volta do velho paralelepído não representaria um novo passo na conquista da revitalização do centro de Taquara? Porto Alegre, através do projeto Monumento, assim tem feito. Contudo, me perdoem os modernos, mas o belo também se tem com o velho.

Cidade sem praça, corpo sem alma

Na enquete veiculada no Paranhana Online que perguntava pela satisfação com a administração pública em Taquara, me manifestei nos comentários, ressaltando o aspecto da aparência da cidade, que segundo o meu olhar particular está feia, suja e mal cuidada. Argumentei que, infelizmente, por uma questão de honestidade e amor pela cidade, não dá para se sentir satisfeito com Taquara e, por consequência, com o Executivo da cidade.  O mato toma conta das ruas e das calçadas e a Prefeitura tem grande parcela de responsabilidade, pois além de manter limpo os espaços que competem a ela, deveria cobrar dos munícipes que mantivessem limpas as calçadas em frente a suas propriedades, inclusive em frente aos terrenos sem calçadas. Todos sabemos que grande parte da população cumprirá com suas responsabilidades, na medida em que perceba que a Prefeitura está fazendo a sua parte. Também só fará se o vizinho fizer e para isso a Prefeitura, como zeladora do ordenamento municipal, precisa ser mais incisiva para cobrar de todos. E quando falamos de Prefeitura não nos restringimos exclusivamente ao prefeito, mas também a sua equipe, a quem compete pensar as alternativas para superar os obstáculos e desenvolver uma gestão eficaz em todos os aspectos. Outro exemplo de insatisfação é o estado das praças em Taquara, especialmente as duas do centro, no coração da cidade, incluindo o Parque do Trabalhador. Para não ir muito longe, comparemos com as praças e parques das cidades da Serra (Bento, Caxias, Nova Petrópolis, Gramado) e também com praças de cidades vizinhas (Igrejinha, Rolante, Parobé). A diferença é muitíssimo grandiosa. A falta de dinheiro, tão alegada e provável, mas pouco demonstrada, não pode ser impecílio único para que a Prefeitura eleja algumas prioridades, mesmo porque quem assume uma Prefeitura, teoricamente deveria ter ciência antecipada sobre o panorama econômico e financeiro que terá pela frente. Não haveria alternativas? É impossível reunir arquitetos que tenham afinidades com a cidade para que façam projetos que possam ser votados pela comunidade, junto com o orçamento para a reforma? Pôxa, não dá pra conceber que a cidade não tenha uma praça central, cartão de visita da cidade que, no caso de Taquara, poderia formar um conjunto harmonioso com os prédios históricos que a cercam. Uma praça acolhedora, bem arborizada, com espaços para leitura, jogos, namoro e conversa fiada. E este assunto de praça já é muitíssimo antigo. É bom lembrar que dentre os últimos prefeitos nenhum fez algo pela praça que mereça aplauso prolongado, contrariamente, merecem vaias, pois só a desconfiguraram. Fazendo uma analogia com o corpo humano, “cidade sem praça é como um corpo sem alma”.

Taquara na lanterna do desempenho público

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgou o Índice de Responsabilidade Fiscal, de Gestão e Social (IRFGS) dos municípios brasileiros. Elaborado com base em dados oficiais do exercício de 2004, o índice tem como objetivo avaliar o desempenho das administrações municipais, criando o ranking do desempenho fiscal, administrativo e social. O Índice de Responsabilidade Fiscal mede a relação de endividamento, suficiência de caixa e gastos com funcionalismo. O Índice de Gestão leva em consideração quanto dinheiro público é consumido no custeio da máquina administrativa, incluindo a Câmara de vereadores, e quanto é aplicado em investimentos. O Índice Social mede o acesso da população à Saúde e à Educação. A metodologia utilizada avaliou os municípios numa escala que varia de zero a um. Para o cálculo da média final, a dimensão fiscal teve peso de 50%, a gestão 30% e o social 20%. Uma das conclusões da CNM, ao analisar os resultados do IRFGS é que existe uma relação inversa entre as responsabilidades fiscal e social. “Existe uma tendência dos municípios de focar a atenção para a responsabilidade fiscal e esquecimento social”, diz o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski. “E quem cuida muito da saúde e educação acaba descuidando da responsabilidade fiscal”, analisa. Entre os 100 primeiros do ranking, o Rio Grande do Sul se destaca com 39 municípios, seguido por São Paulo (19) e Santa Catarina (14). Dentre estes 39 municípios do Rio Grande do Sul, Três Coroas aparece na posição 35, como único município do Paranhana entre os 100 melhores colocados. Igrejinha aparece na posição 501; Riozinho na posição 1267; Parobé na posição 2315; Rolante na posição 3598 e Taquara na lamentável posição 3944. A chave para o bom desempenho está na eficiência da gestão, que, em síntese, significa administrar com austeridade, gastando apenas o que tem naquilo que é prioridade para a comunidade. Pelos resultados, Taquara e outros municípios precisam aprender muito. E professor tem, é Três Coroas.

Taquara: Ideal versus Real

Taquara está fazendo aniversário. São 120 anos de glória. Glória cantada nos versos do seu hino, composto em 1° de junho de 1970, pelo seu Eldo Ivo Klein e pelo maestro Gustavo Adolfo Koetz, este último já falecido. O hino nos fala também de esperança vibrante, de progresso constante, que me parecem não passam de ilusões, pois a cada dia estão mais distante. Sem pessimismo, mas realismo, não seria uma prática muito honesta considerar Taquara como sendo hoje a mesma que inspirou, especialmente o seu Eldo. Certamente que Taquara não é mais tão formosa nem tão bela, não tem se quer mais praças e perdeu muito de sua graça. Lugar pra ficar, talvez pra morar, pois trabalhar é cada vez mais complicado. Que digam os jovens, basta verificar quantos ficam e quantos saem. Por quê? Porque são cada vez mais raras as oportunidades de trabalho. Indústrias? Estas se foram, principalmente depois da transformação de Parobé, de Distrito Industrial em cidade. Uns dirão que foi um acontecimento natural e inevitável. Outros questionam que a emancipação poderia ter sido evitada e citam exemplos de outras cidades que possuem distrito industrial no qual não é possível o estabelecimento de residências e, assim, não há demanda para o processo emancipatório. Faltou estratégia? É bem provável. E aí, estamos falando de administrações públicas, que não conseguiram preparar o futuro das gerações futuras. Taquara não cumpriu com a promessa expressa no hino, com a grandeza das suas gerações. Além de perder seu Distrito Industrial, as administrações sucumbiram diante do desafio da reconstrução de uma nova planta industrial. Não elaboraram um plano de desenvolvimento sustentável e eficiente para Taquara, que, necessariamente, deveria ter passado pela re-industrialização. Não só constituída de fábricas de calçados, mas também de fábricas de software e de entretenimento, que representam um novo perfil da indústria pós-moderna. Se o futuro de Taquara tivesse sido pensado com visubilidade de longo prazo, provavelmente, hoje seríamos novamente a capital do sorriso, como diz o hino. Sorrir hoje por Taquara está mais para cinismo e ironia. E, assim, Taquara perdeu o lugar de destaque na História. Todavia, muitos não conseguem deixar de gostar desta terra, apesar do esforço de muitos que fazem de tudo para que os taquarenses percam as esperanças na ressurreição da cidade. Quem sabe, Taquara ainda tenha heróis, conforme cita o hino. Só mesmo heróis seriam capazes de resgatar nossas aspirações, no sentido de viabilizarem a grandeza das próximas gerações. Com fé e ardor nos corações e, também, com muita consciência da necessidade das transformações, a população bem que poderia agir no sentido de mudar está triste situação, sentimento vivido principalmente por aqueles que assumem a condição de taquarenses cidadãos.