Diante de uma situação indesejada, muitas vezes conflituosa e infeliz, a auto-ajuda e a religião apontam a fé como caminho da superação. Em síntese, a auto-ajuda receita o pensamento positivo e a crença em si mesma. Aplica a máxima: “eu acredito, eu posso!” A religião prega a fé num ser superior, que tudo pode e está ao nosso lado para nos proteger e nos ajudar a vencer, inclusive a morte. Para a religião “a fé salva, a fé move montanhas!” Em comum: querer e acreditar, acreditar e querer. Na base de ambas, a fé, que não requer explicações, nem questões. Não há margem para a razão que busca desvendar a verdade no palco da realidade. Os mais céticos, e a grande maioria dos filósofos são, vão recorrer à razão para primeiro compreenderem o contexto e depois buscarem a superação da dita situação indesejada. Poucos conseguem, mas continuam tentando. Quando encontram uma resposta para o porquê, já surge uma nova dúvida e uma nova inquietação que não traz a esperança da solução. Por isso, diante da desesperançosa razão, é mais óbvia a fé. Outros continuarão sofrendo na busca de uma verdade, que a todo instante escapa. Outros ainda chegarão a um meio termo, a resignação. Uma espécie de mistura de vontade e crença, que culmina numa certa conformidade. Vontade de chegar à verdade. Crença de que a verdade é muitas vezes inviável, principalmente quando depende da nossa e da razão dos outros. A filosofia estóica talvez é a que mais se aproxima desta perspectiva. Para os estóicos devemos querer única e exclusivamente aquilo que depende de nós. Já dizia o filósofo Marco Aurélio, nos tempos que o cristianismo nascia: “nunca espere tranquilidade dos outros”.
Diante da situação indesejada e infeliz, em sua maioria quando estamos em desarcordo com um ou mais pessoas, cuja superação não depende só de nós, resignemo-nos. Para isso, uma recomendação, também do estóico Marco Aurélio, do seu livro Meditações: “corre em direção ao teu alvo e cuida de ti, renunciando a vãs esperanças, se por ti te interessas, enquanto ainda é possível”. Ou seja, vá em direção ao que desejas, mas não espere além do que possa desejar. Ainda no campo das recomendações, logicamente argumentadas, podemos encontrar em Marco Aurélio um consolo: “tudo que vês logo se transformará e deixará de existir”, ou seja, a natureza é sábia e até a indesejável dor terá um fim. Dentre muitas questões que ficam para quem gosta de aprofundar a reflexão filosófica, como podemos frear o desejo, na medida em que é humanamente humano desejar e desejar mais? Em outras palavras, como querer, mas não querer demais? O que determina o limite e como aceitá-lo quando ele impossibilita o meu desejo? Menos laboroso do que refletir e pensar, talvez seja acreditar. Acreditar que o desejável um dia se realizará, nem que seja num outro impensável, mas imaginável, lugar.