Há 4 anos assumia a presidência da CICS fazendo um pronunciamento classificado como idealista por alguns amigos, que de uma certa forma compartilhavam de um idealismo similar. A idéia central era a integração regional, dos municípios do Paranhana e dos interesses públicos e privados. Integração de ideais e potenciais que se constituía na essência da causa da transformação histórica da ACIT em CICS-VP, ocorrida há mais de 20 anos. Por mais que o poder de uma união possa parecer óbvio, nem todas as partes que se dizem interessadas compreendem. Com isso quero dizer que a integração, ao meu olhar, ainda está distante da idéia e, por conseqüência, ainda não temos uma unidade suficientemente robusta para fazer frente as tantas ameaças atuais e futuras. Ao mesmo tempo, é justo reconhecer que avançamos no caminho desta integração. Na CICS, basta observar a composição da diretoria, que veremos várias entidades reunidas: CDL, Sindicatos do Calçado, Sindicato Rural, Sindilojas entre outras. Dentre os associados temos as prefeituras de Igrejinha, Três Coroas, Taquara o que demonstra uma certa aproximação do público e do privado. E não dá para deixar de falar na Agenda Paranhana 2020, iniciativa de 19 Instituições, que juntas com a comunidade projetaram uma visão de futuro para a região, expressa na frase: “ser um lugar de primeiro mundo”. Podemos chamar isso de idealismo, de utopia, de sonho, mas o que será do homem sem um sonho? Homem que nem se quer seria homem se vivesse sozinho, pois humano só é humano porque vive em sociedade. Se não é por vontade, que seja por necessidade natural, daí uma forte justificativa para respeitarmos o outro. Se não for por ética, que seja por uma questão de inteligência. A escolha pela Agenda se apresenta não só como um dos caminhos para se chegar num lugar desejado, mas também uma certa elevação da auto-estima, afinal, fomos a primeira região do interior do Estado do RS e do Brasil a iniciar uma Agenda. Boa parcela deste mérito devemos aos amigos da Pólo que desde aquele 7 de novembro nos acompanham, quando de forma inédita em torno de 300 sonhadores, dentre os quais lideranças do setor público e privado, apresentaram suas posições e idéias, sintetizadas na frase: ser uma região de primeiro mundo. Nada melhor do que uma metáfora para dizer algo que queremos e transcende a linguagem. Primeiro mundo aqui não é necessariamente um lugar no espaço e no tempo, mas um estado, que pertence a um imaginário coletivo. Quem não gosta do que é bom e bem feito? Além de um desejo comum, implícito nessa metáfora está a necessidade de nos reeducarmos e educarmos os mais jovens para serem mais exigentes consigo e com o outro. Só assim poderemos superar os obstáculos, inovar e evoluir em qualidade. Evolução que se espera da iniciativa privada e do setor público, mas principalmente deste último que é o grande gestor dos recursos e sobre o qual recai duas grandes responsabilidades: educação e saúde. Áreas que requerem projetos de longo prazo e sustentáveis. E por falar de projetos, é bom lembrar dos projetos que tiraram a Agenda daquele destino, pronunciado com antecedência, quase uma “maldição”, de ser mais um movimento que não daria em nada. A Agenda, felizmente, não ficou resumida aquele inesquecível 7 de novembro. Não ficou também só no papel, nem só no discurso. A Agenda vem se efetivando, na medida em que os projetos que nela constam vão se concretizando. Alguns deles coordenados diretamente pela CICS, dentre os quais cito cinco:
1. Portal da Transparência (muito antes de virar lei, nós já temos indicadores dos mais diversos setores da nossa sociedade e agora aguardamos os indicadores relacionados a gestão pública que a Associação de Prefeitos já vem viabilizando com o MP)
2. Prêmio Professor Inovador do Paranhana (onde superamos a meta obtendo 106 projetos inscritos e este projeto virou case não só pelo resultado, mas pela forma com que foi conduzido onde aplicamos os conceitos de gestão de projetos e ainda conseguimos reunir o setor privado e o setor público muito bem representado pelos secretários de educação dos municípios do Paranhana)
3. Pesquisa de Vocações (em torno de 1000 jovens do ensino médio participaram e hoje temos algumas informações importantes sobre o perfil empreendedor e sobre o desejo da maioria que é o de sair da região, o que nos remete a reflexão de que há cidades mais do primeiro mundo do que as nossas)
4. Criação do primeiro escritório de projetos do Paranhana (que formou não só a equipe interna da CICS como funcionários de 4 prefeituras do Paranhana gratuitamente)
5. Criação do Programa Gestão Inovadora – PGI (onde estão sendo capacitadas em torno de 40 empresas através de parceria com a Sedai e aqui agradecemos o então secretário de Estado, Dep. Marcio Biolchi)
Falei no discurso de posse que por mais desgastante que é agir, um mal maior é resignar-se. Acho que neste aspecto não mudei muito, continuo pensando que não é suficiente ficar esperando, mesmo que agir possa trazer incomodações imprevistas. O consolo é que agir agora pode prevenir ou minimizar incomodações futuras e, talvez, ainda maiores para nós e nossos filhos. Sabemos que os impostos não vão baixar. Sabemos que não basta reclamar. Um dos caminhos então para melhorar as condições de vida (apesar de dar trabalho para quem realmente se envolve) é o engajamento em algum tipo de movimento coletivo, cuja bandeira seja a do planejamento sistematizado e do controle sobre os resultados. Só assim a tão pretendida melhoria contínua poderá ser conquistada. Caso contrário, aumentam as chances do desperdício e da precariedade. A Agenda talvez possa ser um destes movimentos e todos aqui estão convidados.
“Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho do pensar, e parece-me que sem idéias, não vamos a parte alguma”. Este foi o último post no blog de José Saramago, falecido no último dia 18, e diz muito para nós que compreendemos a Agenda como um conjunto de idéias que podem nos levar ao lugar que desejamos. Também afirma que pensar é um trabalho, pena que poucos filósofos até hoje conseguiram tornar o pensamento um produto de alto valor agregado.
Muitos acontecimentos marcaram este intervalo de tempo desde que assumimos a entidade em julho de 2006. Houveram perdas e ganhos. Perdi minha mãe, perdemos o Biason, ganhei mais um filho, ganhamos novas amizades, ganhamos uma bagagem e muita coragem, não só para coordenar a Agenda mas para realizar também outras ações pontuais na entidade. Até como uma espécie de prestação de contas aos nossos associados, cito algumas delas:
1. Reestruturação Administrativa/Financeira (o que nos possibilitou “respirar sem aparelhos” e ainda implantamos um novo jeito de gestão orientada por projetos e por indicadores)
2. Pintura Interna e Externa do prédio
3. Criação de uma nova logomarca
4. Aquisição de materiais e móveis (computadores, projetor, mesas)
5. Adequação da CICS VP em Agência de Desenvolvimento
6. Mobilização contra a nova praça de pedágio na RS 115 entre Taquara e Igrejinha
7. Mobilização para a Liberação do Viaduto Taquara – Parobé
8. Inclusão de algumas Prefeituras no quadro social
9. Inclusão do setor do Agronegócio na diretoria
10. Adesão de três Prefeituras no PGQP (Igrejinha, Parobé e Três Coroas)
11. Aumento do número de organizações participantes no Sistema de Avaliação do PGQP – Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade em mais de 50% (do que resultou a escolha como Comitê Destaque e fomos convidados a participar do Conselho Superior presidido pelo Dr. Jorge Gerdau)
12. Doação de alimentos para APAE, Creche Vovó Domênica, Lar das Meninas e Apromim (em parceria com o SEBRAE)
13. Apoio ao SEBRAE na divulgação do INOVAPERS de onde duas empresas da região foram contempladas.
14. Apoio ao SEBRAE na divulgação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.
15. Apoio a vários eventos dentre os quais o Seminário de Desafios Ambientais em Taquara
16. Palestras ministradas em parceria com o Sebrae e em eventos eventos da Federasul, FCDL, Famurs entre outras entidades.
Não dá para deixar de reconhecer, especialmente em tempos de crise de lideranças (pelo menos em termos de disponibilidade), a tranquilidade do processo sucessório da entidade, consolidado na pessoa do Roger, a quem considero um líder diferenciado, especialmente pela sua visão de mundo, inteligência e capacidade de fazer a tão espinhosa passagem da teoria à prática. Roger, desejo muita sorte e muito sucesso. Por mais contracultura que seja e por mais resistência que tenha, continuo acreditando que vale a pena o investimento em prol da formação mais qualificada, da adoção de modelos de gestão, da abertura para o novo e para a integração. Tudo isso para nos aproximar do conceito de primeiro mundo. Desejo Roger que ao fim da tua gestão, sinta-se feliz como eu estou me sentindo neste momento e conte comigo!
Por fim, gostaria de agradecer aqueles que me convidaram para este desafio que acabou se tornando uma oportunidade prazerosa, cito o Renato Fagondes, a Alice Lehnen, o João Boff, o Delmar Backes e o Velmi Biason, que, infelizmente, nos deixou precipitadamente. A minha diretoria, principalmente pela confiança e pelo grau de tolerância a minha forma de conduzir. Obrigado porque me deixaram viajar, sonhar e juntos até concretizar alguns feitos. Aos associados da entidade, sem o consentimento dos quais, nada faríamos. Aos funcionários da entidade, sempre disponíveis e dispostos a planejar e executar, aqui cabe um comentário, foram mais de 700 e-mails enviados por mim ao nosso executivo fora as tarefas encaminhadas via Scopi, nosso sistema de gestão estratégica (isso significa que pensamos na entidade quase que diariamente). Agradecimento a todas entidades parceiras, dentre as quais destaco PGQP, FCDL, Federasul, Fiergs, Sebrae, ACI, Fecomércio, CDLs da região, Sindilojas, Sindicatos do Calçado de Parobé, Três Coroas, Taquara e Igrejinha, Sindicato Rural e Pólo – Agência de Desenvolvimento. Agradecimento a todas as entidades que estiveram conosco e também aos voluntários da Agenda, ao poder judiciário, ao MP. Agradecimento aos nossos prefeitos e vereadores, e imagino o quanto é difícil compreender e confiar numa entidade que de uma hora para outra surge falando em planejamento estratégico, projetos e com o discurso de união do público e privado andando lado a lado. Obrigado porque confiaram em nós e peço que continue confiando sempre mais. Aos nossos deputados mais próximos que muito tem apoiado a nossa Agenda (e aqui cito em especial o Fixinha e o Marcio Biolchi). Ao governo do Estado pela relação direta e parceira. Agradeço também a imprensa, a minha empresa a TCA e aos meus sócios, pelas concessões e, principalmente, a minha família pelo carinho e amor de sempre. Muito obrigado a todos vocês que de alguma forma, nos acolheram e nos apoiaram.
Marcos Kayser
Presidente da CICS (2006-2010)
Taquara, 29 de junho de 2010