“Lá vem o pato, pato aqui pato acolá, lá vai o pato para ver o que há...” Assim diz a música que podemos lembrar para ilustrar o destino do Pato colorado, que mal chegou aos campos do futebol profissional brasileiro e já está indo para os campos da Europa mostrar o seu talentoso futebol aos torcedores daquele continente. Nada contra o jogador e sua família, mas é de causar indignação por mais um exemplo de legislação descabida. Pato que em poucos meses foi coroado com o título Mundial Interclubes e o título da Recopa Sulamericana. Jogador colorado que na condição profissional não jogou um Grenal sequer, o maior clássico do futebol gaúcho e um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Chega a ser estranho pensar que este mesmo Pato, lançado pelo Inter, não defendeu as cores vermelhas nem por um ano. Estranheza só possível graças a ingrata, injusta e degradante lei Pelé e, é claro, a condição de subdesenvolvimento do nosso país incompetitivo economicamente. Lei ingrata porque proíbe os torcedores apaixonados por futebol verem jogadores talentosos e diferenciados como é o caso do Pato e de outros jogarem em seus clubes do coração. Lei injusta porque impede que os clubes conquistem os títulos almejados como os jogadores “prata da casa”, criados nas categorias de base, o que para o Clube seria muito mais gratificante. Clube que oferece as condições iniciais e projeta o atleta só que na hora deste jogador dar a resposta no campo onde rola a bola, pesa os Euros que rolam no bolso dos dirigentes e intermediários ditos empresários, que de empresários não têm nada, não empregam, não pagam impostos, não produzem nada. Ou alguém já viu dizer quanto uma negociação como esta rendeu ao fisco. Independentemente do gosto desta ou daquela pessoa pelo futebol, é do senso comum que o futebol representa uma das maiores paixões brasileiras, uma obra de arte valiosíssima, um produto que faz o Brasil ser único e invejado por todos. Contudo, a inveja dura pouco e é rapidamente resolvida, por força dos Euros dos países da Europa, que compram o direito que inicialmente seria nosso, ou seja, o direito de curtir a própria obra. A conseqüência da Lei Pelé é a degradação do futebol brasileiro, muitos jogadores que estão na Europa se dão ao luxo de pedir dispensa da seleção, tamanho o distanciamento da pátria amada. Tecnicamente falando, alguns comentaristas do futebol já estão falando no fim do futebol genoinamente brasileiro. Argumentam que jogadores exportados com 17 anos ainda estariam em formação e na medida em que vão para a Europa acabam se formando por lá influenciados por técnicas que não são mais as nossas. E a nós que somos o país da excelência do futebol resta-nos continuar produzindo o que tem de melhor e curtir o que tem de pior, (na linguagem do futebol, a baba). O episódio do Pato que acontece a todo o momento no Brasil com outros setores retrata que o problema do país não é a falta de leis, mas a falta de legisladores comprometidos com a coletividade e com a qualidade, comprometidos em fazerem leis que preservem a cultura e políticas que promovam, ao mesmo tempo, a solidez da economia. Para isso precisamos começando por valorizar e, porque não, proteger aquilo que temos de bom. Se nós não cuidamos do que é nosso, quem cuidará? Restará ainda algo sobre o qual poderemos nos reconhecer e nos vangloriar? É uma pena que a população acredita não ter poder.