Niilismo político

Antes mesmo das eleições presidenciais ocorrerem no ano passado, a crise econômica já estava desenhada, ou melhor, ela já existia, porém o governo camuflava (“pedalava”), com o claro propósito da reeleição. Quando me refiro ao governo, não é só o PT, é também o PMDB que há décadas nos governa. A crise econômica foi represada e veio como um enxurrada. Inflação, restrição de crédito, disparada do dólar, desaceleração, desemprego e perda do grau de investimento, que é o mesmo que ser reconhecido como caloteiro, são aspectos de economia sem uma gestão responsável e competente. É de chorar, como se chora quando nosso time cai para a segunda divisão e tem que ficar no mínimo um ano sofrendo para subir novamente . Como se não bastasse, e um mal nunca vem sozinho, como diz o ditado, junto da crise econômica, temos uma grave crise política. O governo perdeu toda a credibilidade. Os petistas mais conceituados e menos doentes, reconhecem a fragilidade. Isso poderia significar uma oportunidade de mudança, que não deve ocorrer pelo simples fato da oposição ser dotada da mesma fragilidade. Resta saber em quem confiar? Neste momento, o niilismo político impera. Um nada que governa e um nada que tenta fazer oposição. Neste vazio do niilismo poderia se reestabelecer novos princípios que serviriam de base para criar um novo projeto de nação. Projeto de um novo modelo político e de um novo modelo econômico. Modelo político em que a discussão sobre a forma de governo, presidencialismo ou parlamentarismo, é menos importante do que discutir mudanças na Constituição. Primeiro é preciso redefinir as novas regras do jogo. Rever a quantidade de representantes, rever o papel e até a necessidade do Senado, rever os financiamentos das campanhas eleitorais, rever as garantias de imunidade, enfim, todos os elementos necessários para que tenhamos uma política eficiente e decente, que não seja facilmente dominada pela tentação da corrupção. Não precisa ser especialista, nem tão pouco pessimista, para prever que a situação pode ainda piorar. É bem provável que virão mais duas avalições de rebaixamento do nosso grau de investimento, o que determinará menos dinheiro investido no Brasil. A solução dizem que é cortar gastos e aumentar impostos. De que jeito cortar gastos se grande parte dos gastos do governo estão carimbados, ou seja, são obrigações determinadas na Constituição? De que jeito aumentar impostos se já temos uma tributação maior que os países do primeiro mundo, comprometendo a competitividade do setor produtivo? Mudar as leis parece simples, quando se tem legisladores com conhecimento em gestão e desprendimento pelo interesse particular da reeleição. A grande maioria não tem. Quem sabe pensar uma nova constituinte apartidária, com duração por prazo indeterminado, constituída por representantes da sociedade civil? Sem remuneração, é claro, só para medir quantos ainda tem amor pelo Brasil. Algo fora do comum, precisa ser feito pelos brasileiros, caso contrário, só mesmo com a ajuda de uma interferência divina. Quem sabe, afinal, dizem que Deus é brasileiro!

Marcos Kayser

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