Diante das dores da carne e dos sofrimentos da alma, ambos corpo, que a contingência da vida nos traz, me diz o amigo Filósofo e Professor Castor Ruiz, que o silêncio solidário é a palavra mais significativa nos momentos difíceis. O silêncio da cruz é o sinal da impotência humana, perante aquilo que somos: contingência. Mas a dor que sofremos não deixa de ser uma revolta contra essa contingência, um grito que ao ser de angústia pré-anuncia a possibilidade da esperança. A nossa revolta contra a finitude que somos, ou seja, a morte, é também uma reviravolta sobre a possibilidade de transcendê-la. A natureza não cria (e não pode metafisicamente) nada além de si mesma. A natureza não poderia ter criado uma espécie natural que se revira e se revolta contra a finitude da própria natureza finita que a criou. A mera natureza não poderia ter criado a experiência sobre-natural de negação de si mesma, que o ser humano vive porque se percebe para além da própria contingência que o habita. Este ser para a vida está transpassada pelo Infinito, que damos um nome Deus, apesar de todas as distorções institucionais que sobre ele determinam. A transcendência é a condição de nossa existência humana em todas as dimensões do cotidiano. A esperança de Vida para além da morte é um clamor natural de nossa própria natureza, algo exclusivo de nossa condição humana. Agora, o privilégio da Esperança traz consigo a exclusividade de poder sentir dor/angústia, algo que nenhuma outra espécie sente. O silêncio da cruz fala muita mais do que podemos ouvir, a dor angustiante contém muita mais esperança do que podemos acreditar. A impotência perante a dor e a morte pré-anuncia um poder que nos transcende, mas que nos pertence. Perante a cruz da contingência só cabe a atitude de fé. A fé do cético que pensa que seus olhos vêm tudo que existe, é uma fé tão cega como a do cristão que se abandona à confiança de Vida plena; a fé do cético que faz de sua dor o sentido último da existência é uma fé tão arriscada como a do cristão que tenta fazer da esperança um sentimento de abandono no poder último da Vida (Deus). Perante os limites do sofrimento humano, da contingência, não podemos sair da experiência de fé. A razão não explica, a explicação é impotente e a impotência se torna a única razão de si mesma. Acreditar nas próprias razões do ceticismo não deixa de ser um ato de fé na própria argumentação. Quando se argumenta, faz-se do argumento uma crença, e não temos como sair de nossa condição de seres que acreditam sempre! Perante a contingência humana (dor, morte), não há provas, nem explicações, só silêncio. Silêncio que longe de vazio é recheado de esperança, que possibilita re-ligar, acreditar na transcendência, na tão desejada infinitude, pela qual o amor se eterniza. Amor de mãe, amor de pai, amor de filho, amor de amante, amor pela vida.
Marcos Kayser