Somos por natureza “venenosos”?

Cientistas da Nasa informaram que encontraram num lago da Califórnia  uma bactéria diferente do conceito de vida que conhecemos até hoje, pois ela vive a base de arsênico. A bactéria não só “come” arsênico como também incorpora esse elemento tóxico diretamente ao seu DNA, segundo os pesquisadores.  O arsênio e seus compostos são extremamente tóxicos. Milhões de pessoas no mundo inteiro adoecem e morrem sem saber que a causa de suas doenças é o envenenamento crônico por arsênio. As doenças que mais matam no mundo podem ser causadas por arsênio: doenças cerebrovasculares, diabetes e câncer, entre outras. A descoberta, ainda em fase inicial, demonstra que um dos mais notórios venenos da Terra pode também ser a matéria-prima para a vida de algumas criaturas, abrindo espaço para novas perspectivas de vida extraterrestre. Segundo os pesquisadores o lago está repleto de vida, mas não de peixes. Ele também contém as bactérias. A vida é principalmente composta dos elementos carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo. Esses seis elementos compõem os ácidos nucleicos e também as proteínas e lipídios. Mas, teoricamente, não há razão pela qual outros elementos não poderiam ser usados. Só que a ciência nunca havia encontrado nenhum ser vivo que os usasse. Saindo da ciência empírica, indo mais para uma filosofia cínica e especulativa, podemos imaginar que pode estar aí uma explicação para uma eventual índole do mal da espécie humana, se contrapondo a teoria altruísta predominante. Então o velho Hobbes, que falou em “homo homini lúpus”, ou seja, o homem é o lobo do homem, tem sua tese reforçada, enquanto enfraquece o velho Rousseau para quem o homem é bom por natureza. Freud já defendia que para conter a pulsão de morte a sociedade seria um mal necessário. Quem sabe o arsênico também não justificaria a pulsão de morte? Assim, a ciência dá um passo importante não só na direção dos irmãos alienígenas, mas também para desmistificar a idéia da nossa natureza exclusivamente bondosa. Se no nosso DNA tem arsênico, podemos ser por natureza venenosos. Veneno que, é bom ressaltar, mata, motivado por auto-defesa ou até mesmo por pura perversão, principalmente quando usado por seres mais “evoluídos” e inteligentes como é o caso dos humanos.

Marcos Kayser

Dois relatos da qualidade na prática

A qualidade de um produto ou de um serviço tem vários ingredientes. Dois deles são a sensibilidade e a disponibilidade das pessoas envolvidas no processo. Recentemente,  passei por duas experiências onde estes dois ingredientes estavam presentes e foram determinantes para perceber a qualidade, tão sonhada por cidadãos e consumidores.  A primeira foi no 6º Encontro da Qualidade do Paranhana, realizado em Taquara, onde quatro profissionais da Prefeitura de Pelotas participaram, motivados, particularmente, pela apresentação do case da Corsan Cachoeirinha, que foi uma das vencedoras do Prêmio Qualidade RS neste ano. A viagem entre Taquara e Pelotas leva em torno de 6 horas e eles vieram e voltaram no mesmo dia, retornando a partir das 21h e, ainda, poupando estadia. Souberam do encontro através da indicação de um membro do Comitê Central do PGQP (Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade) e mesmo correndo alguns riscos que uma viagem reserva, além do risco de uma possível frustração com as expectativas do evento,  vieram, demonstrando interesse e pré-disposição a aprender para praticar qualidade. A disponibilidade destes quatro funcionários da Prefeitura cabe ser destacada não só pelas circunstâncias, mas também porque se trata de uma organização pública cujos bons exemplos são minoria, ainda mais quando o assunto é programa de qualidade. A prefeitura de Pelotas, para quem a gestão da qualidade não é nenhuma novidade, tem como prefeito Fetter Junior, formado em agronomia e administração de empresas, com doutorado em ciência política pela Universidade René Descartes, da França, que deve ter sua parcela de responsabilidade nisso. Também não é por acaso que a prefeitura de Pelotas foi finalista do Prêmio Municípios que Fazem Mais, promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). O segundo caso de sensibilidade e disponibilidade que presenciei, ocorreu na livraria de um Shopping de Porto Alegre. Quando eu estava na fila, aguardando para fazer o pagamento do produto que havia escolhido, um profissional se aproximou e com muita educação me informou que havia outro caixa livre. E a sensibilidade e a disponibilidade não ficaram por aí. O funcionário responsável por fazer “pacotes pra presente” me perguntou se eu permitiria que ele fizesse uma pequena inovação no estilo do pacote. Depois da minha aprovação e do trabalho realizado, qual foi minha surpresa: um pacote que considerei uma pequena obra de arte. Talvez aí esteja uma boa definição para o conceito da qualidade: qualidade é uma arte.

Marcos Kayser
Presidente do Comitê do PGQP no Paranhana

5 entraves para adoção de um modelo de gestão estratégica

1. Falta de conhecimento:

Muitos até sabem dos benefícios que trazem a adoção de uma gestão estratégica, porém por desconhecerem seus elementos principais, acreditam que uma gestão estratégica não se aplica a sua realidade. Normalmente pensam que se trata de algo exclusivo para grandes corporações privadas, ignorando que a grande maioria destas já foram minúsculas organizações e só chegaram aonde estão porque souberam fazer a opção por uma gestão baseada no planejamento e no controle dos processos e resultados.

2. Falta do hábito de planejar:

Apesar de sabermos que planejar antes de sair fazendo reduz riscos e desperdícios e aumenta as chances de sucesso, ainda damos preferência a fazer sem planejar devidamente. Planejar que em grande parte dos casos não significa um detalhamento minucioso de tudo que vamos fazer, mas definir minimamente o que, quem, quando e como fará, pensando também no porquê e no custo que terá. Se começarmos a sistematizar o que faremos podemos começar a criar o hábito saudável do planejamento.

3. Falta de tempo:

Vivemos numa sociedade com sobrecarga de atividades o que gera falta de tempo. Como é humanamente impossível aumentar a carga horária do dia, uma das soluções é reduzir o desperdício de tempo, o que se pode conquistar com planejamento. Antes de sair fazendo, como é de costume, a recomendação é pensar nos objetivos e sistematizar os melhores caminhos para se chegar onde se deseja. O tempo que se levará para planejar certamente será ainda inferior ao tempo que se desperdiça, quando se faz sem planejamento, cuja falta nos obriga a fazer repetidamente até fazer bem feito.

4. Foco exclusivo na sobrevivência:

O mercado muito competitivo, agravado pela economia globalizada onde as maiores corporações tem um poder de competitividade muito maior, aliado a um grande número de empreendedores sem formação em gestão para administrarem seus negócios faz com que o empreendedor se preocupe exclusivamente com a sobrevivência, sem visão estratégico e de longo prazo. Nesta condição, não consegue compreender que a sua sobrevivência também depende de um bom planejamento.

5. Resistência à mudança:

São poucos os que não morrem de medo do novo e resistência a mudanças. Tendemos a nos acostumar com a rotina, afinal, ela, mesmo que nem tão desejada garante uma certa segurança. Segurança que em sua maioria dos casos é ilusória, pois enquanto estamos mergulhados na rotina, fazendo sempre o mesmo, há outros vencendo a resistência da mudança e encontrando novos caminhos para obterem ganhos.

5 idéias para a educação no Paranhana

Em recente artigo publicado na Revista Exame, Eric Hanushek, professor da Universidade Stanford e doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um dos pesquisadores de educação mais respeitados da atualidade, apresenta 4 idéias para tirar o atraso na educação. A Agenda Paranhana 2020, primeira Agenda do interior do RS a ser construída nos moldes da Agenda 2020, coordenada pela Pólo-RS, tem iniciativas muito próximas as apresentadas por Hanushek. Certamente que dito por um intelectual de outra nação, tem um peso muito superior do que dito por quem é da aldeia. De 4 anos para cá, um grupo de voluntários tem se dedicado a pensar a educação, analisando algumas teorias para planejar algumas práticas. A última iniciativa foi criar um conjunto de indicadores e processos padronizados que podem ser adotados por uma Escola, visando uma gestão de qualidade. Mas vamos as sugestões de Eric Hanushek comparadas as idéias que vem sendo trabalhadas no Paranhana:

1. Bagunça Particular: Eric Hanushek fala em “estruturar o currículo”. A Agenda Paranhana 2020 propõe revisão do currículo para estruturá-lo com um conteúdo mínimo, vinculado a realidade vivida na região e no mundo. Eric fala que a “sala de aula é uma espécie de caixa-preta”. No Paranhana se fala que cada sala de aula é uma escola dentro de outra escola.

2. Diagnosticar, planejar e medir. É o que a Agenda Paranhana 2020 está propondo às escolas, inclusive foi desenvolvido uma ferramenta na área da tecnologia da informação que integra tudo isso (análise SWOT, mapa estratégico, indicadores, projetos, processos), servindo para diagnosticar, planejar, monitorar, comunicar e documentar.

3. Pagar mais aos melhores. Foi criado para uma rede municipal o PREME (Programa de Reconhecimento por Méritos) para vincular a remuneração ao desempenho, com o diferencial que remunera as melhores escolas e tem como parâmetro os critérios da excelência da FNQ (MEG).

4. Transformar o diretor em gestor. Para os atuais diretores serem gestores é precisam que dominam as técnicas de gestão e, principalmente, tenham perfil inovador e de liderança. A ação da capacitação de diretores realizada em Pernambuco é um bom exemplo, mas, antes disso, é imprescindível que o diretor queira de fato assumir o papel de gestor.

Poderíamos acrescentar uma quinta idéia que, talvez, possa ser a mais substancial: desenvolver ações para trazer os pais para a escola, mesmo que a resistência seja tamanha e de ambas as partes. Compete a escola não se conformar, nem se acomodar com a falta do vínculo.

Aguardemos, quem sabe um dia as escolas percebam que gestão não é uma palavra proibida na educação, com o argumento que se restringe ao mundo dos negócios, mas sim que deve ser a palavra de ordem de todas as organizações.

Marcos Kayser
Filósofo voluntário da Agenda Paranhana 2020 e da Agenda 2020

O “troca-troca” na política partidária brasileira

Não sei se a melhor palavra é prostituição para expressar o “troca-troca” que ocorre na política partidária brasileira. O candidato, o polítco, hoje dá seu apoio pra um, amanhã pra outro que era ontem justamente oposição. Chega-se ao cúmulo de um mesmo partido ter representantes que apóiam “a” e os que apóia “b” e chamam isso de liberdade. Se trocar de partido como se troca de roupa todo dia já era contestável, o que dizer das coligações entre oposições? No tempo de dois partidos, Arena e MDB isso era mais difícil, ou melhor, não tinha como acontecer. Numa analogia com o futebol, pra bom gaúcho enteder, é como se colorados e gremistas trocassem de time a todo momento quando convém. É como se a nova concepção pluripartidária tivesse sido criada justamente para permitir a nova prática. Prática em que a infidelidade e o desprendimento para algum tipo de ideal coletivo é total. Assim o “troca-troca” constitui-se em mais um fato que ajuda no processo de desmoralização da classe política brasileira, pelo menos no conceito dos eleitores mais lúcidos e fiéis a princípios éticos. Afinal, como justificar que numa região do Brasil o partido “x” combata acirradamente o partido “y” e numa outra região do mesmo país os mesmos partidos andem de “braços dados”? Como justificar que em curto intervalo de tempo “x” e “y” sejam adversários que se massacravam e logo se tornam grandes aliados, com um discurso que ignora a história? Esta é a política partidária brasileira, onde as mudanças de posição acontecem por conveniência pessoal e a prostituição partidária é uma das grandes armas para continuar vencendo no jogo do poder. Jogo cujos jogadores parecem não admitir perder, tamanha a ganância pelo poder. Perde com isso o país, perde a população que não consegue fazer as devidas e necessárias distinções. E não havendo uma oposição legítima, como cobrar do eleitor que tenha partido e que assuma uma posição?

IDESE: Continuamos na “zona do rebaixamento”

Na última quinta-feira, dia 7 de outubro, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulgou os resultados da pesquisa do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) dos municípios do RS. Os dados são de 2007 e o município e com exceção de Taquara, todas as cidades da região tiveram uma queda na comparação com 2006.  No ranking regional não houve alteração de posição. Quem era a primeira colocada, no caso Igrejinha, continuou sendo e o mesmo ocorreu com as demais.  No âmbito estadual Igrejinha ficou na posição 171 com o índice geral  0,723,  sendo que em 2006 estava na posição 152. Taquara ficou na posição 203, com o índice 0,710, sendo que em 2006 era 207. Três Coroas ficou na posição 228, índice 0,702, e em 2006 era 226. Parobé ficou na posição 230, índice 0,702, e em 2006 era 229. Rolante ficou na posição 297, índice 0,678,  e em 2006 era 287. Riozinho ficou na posição 385, índice 0,643, e em 2006 era 374.  O município de Caxias do Sul ficou em primeiro lugar com o índice geral 0,850 e dentre as cidades mais próximas ao Paranhana Esteio foi a melhor colocada ficando na segunda posição com o índice 0,840. O Idese é um índice sintético, composto por 12 indicadores, divididos em quatro blocos temáticos: Educação; Renda; Saneamento e Domicílios; e Saúde. Taxa de abandono no ensino fundamental, taxa de reprovação no ensino fundamental, taxa de atendimento no ensino médio e taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais de idade formam o tema Educação. Geração de renda – PIBpc e apropriação de renda – VABpc do comércio, alojamento e alimentação formam o tema Renda. Domicílios abastecidos com água e com esgoto sanitário, média de moradores por domicílio formam o tema Saneamento e Domicílio. Crianças com baixo peso ao nascer, taxa de mortalidade de menores de cinco anos e esperança de vida ao nascer, formam o tema saúde. Dentre estes temas, aquele em que o Paranhana apresenta maior deficiência é o tema saneamento, seguido do tema renda. Dentre as regiões do RS, considerando os Coredes, o Paranhana continua na anti penúltima posição. Fazendo uma comparação com o campeonato brasileiro de futebol, o Paranhana segue na zona do rebaixamento, mas, quem sabe, nas próximas edições da pesquisa, sem almejar Libertadores e muito menos ser campeão, por nossas limitações econômicas, consiga sair desta indesejada posição, precisando, para isso, de mais investimento público em saneamento.

Marcos Kayser

Uma análise matemática sobre o voto regional

Várias leituras podem ser extraídas do resultado das urnas durante as eleições, ocorridas no último domingo. Resultado que também pode ensinar, desde que realmente exista uma vontade política de sanar o vazio da representatividade regional, a ser preenchida por candidatos que residem no Vale do Paranhana. Região que tem um eventual desejo de eleger um representante regional que teoricamente teria o que chamamos de identidade regional.  Com base nos números, não dá para afirmar que a região não priorizou os candidatos regionais. No caso da apuração dos votos para  deputado estadual, somando-se os percentuais de votos dados aos candidatos daqui que eram seis, chegou-se a 38,71% dos votos válidos. Nas últimas eleições, há quatro anos atrás, este percentual foi de 42,78 para quatro candidatos. Por estes dados, podemos pensar que quanto maior o número de candidatos menor será a adesão aos candidatos, talvez por uma tendência de  dispersão. Se considerarmos o percentual de votos do deputado Fixinha, que muitos consideram um candidato da região, por ter nascido aqui,  entre outros fatores, o percentual deste ano subiria para 47,91, ou seja, quase 50% que é bem expressivo, na minha opinião, levando em conta que os cabos eleitorais dos candidatos são os prefeitos e vereadores e estes, em sua maioria, apoiaram candidatos de fora. O candidato mais votado, fora estes, não chegou a 4%. Fazendo um mero exercício matemático, e não político, os dois candidatos da região mais votados para deputado estadual foram Claudio Barros (26240) e Claudio Silva (13583), ambos de Parobé. Somando os votos destes, chegamos a 39823, o suficiente para eleger um dos dois, caso vinculado fosse a sigla do PTB, partido de Claudio Barros, pois o último candidato eleito do PTB, Ronaldo Santini, totalizou 35029. Parece que fica mais uma vez demonstrado que a dificuldade da região em eleger um candidato é proporcional ao número de opções de candidatos locais. E também que a eleição de um candidato regional  depende muito menos dos eleitores e mais dos partidos e suas lideranças. Isso porque jamais se conseguirá convencer o eleitorado a votar na sua totalidade em um candidato daqui, ainda mais quando a escolha se dá muito mais pelo lado pessoal do que regional,  conforme mostra a enquete feita nesta semana pelo portal da TCA.

Marcos Kayser

Quem será o “abestado”?

Há fenômenos estranhos que acontecem no processo eleitoral e político brasileiro. Não é de hoje que Tiriricas no pleno exercício de um  direito se candidatam sem possuir os pré-requisitos para tal e, o que mais preocupa, acabam se elegendo com números expressivos de votos, sucumbindo durante o mandato pelo despreparo. Preparo que pode ser determinado por uma certa base de conhecimento das leis vigentes, uma certa capacitada de articulação e argumentação e mais alguns atributos que se sugerem recomendados para um bom candidato ao parlamento,  o que também não garante que estes irão cumprir bem a função tanto moral como operacionalmente.

A pesquisa Datafolha mostra que Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, obteria 3% dos votos em São Paulo, chegando a 900 mil, considerando-se a proporção de 30 milhões de eleitores do Estado. Sendo assim, Tiririca seria, se a eleição fosse hoje, o deputado Federal mais votado em todo o país, e elegeria alguns outros candidatos com pouca ou nenhuma expressão eleitoral na sua legenda ou coligação composta, além do PR, pelo PT e PCdoB. Estes candidatos é bem provável que se elegeriam as custas de Tiririca com menos de 500 votos cada um.  Tiririca é o retrato do Brasil, que elegeu Juruna e votou no ficcional Cacareco.

Vestido de palhaço, Tiririca, em tom de deboche, aparece em diferentes inserções no horário eleitoral de seu partido, o PR. Identificando-se como “o candidato abestado”, ele usa bordões e diz frases como as seguintes:

– “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica!”

–  “Oi gente, estou aqui para pedir seu voto porque eu quero ser deputado federal, para ajudar os mais ‘necessitado’, inclusive a minha família. Portanto meu número é 2222. Se vocês não votarem, eu vou morreeer!”

“Oi, eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois, eu te conto.”

– “Quando vocês apertarem na urna eleitoral, vai aparecer esse cara aqui, e esse cara aqui sou eu. Ô candidato lindo!”

– “Você está cansado de quem trambica? Vote no Tiririca”

Para deputado federal, Tiririca. Vote no abestado”

No horário eleitoral de ontem, Tiririca apareceu inicialmente escondendo o rosto e perguntando: “Adivinha quem está falando? duvido vocês ‘adivinhar’! “. Em seguida, tirou as mãos do rosto e declamou: “Sou eeeu, o Tiririiiica, candidato a deputado federaaaal, 2222, não esqueeeeeça, peguei vocês, enganei vocês, vocês ‘pensou’ que fosse outra pessooooa, sou eu, o abestaaaaado, vote 2222!”

Como a história mostra que os Tiriricas eleitos não tiveram o mesmo  sucesso no mandato, não nos atreveremos a dizer que criticar suas candidaturas é  discriminar os menos “favorecidos”. Votar em candidatos que no discurso já demonstram uma certa desestrutura, não só é um ato de pouca inteligência, como também de irresponsabilidade, apesar de uns justificarem como sendo um voto de protesto. Haverá outras formas mais eficientes de protesto, né? Resta saber, quem será mais “abestado”: o candidato ou o eleitor? Tomará que esta pergunta perca o sentido, na medida em que as urnas não comprovem a tendência da eleição do “abestado”.

Marcos Kayser

Será possível torcer pelo rival?

Há dois momentos especiais que levam um colorado ou um gremista assistir a uma partida de futebol: quando joga o seu time ou o seu rival. Pelo seu time torce, pelo seu rival seca. Para o torcedor mais radical, mencionar o nome do rival já é coisa arriscada, pois tal atitude pode comprometer sua fidelidade ao time do coração. No jogo do Grêmio e Corinthians pelo Brasileirão todo bom colorado só tinha um objetivo, torcer pelo Corinthians mesmo que o Corinthians seja um concorrente direto ao título e esteja na segunda posição do Brasileiro. Contudo, eu não consegui torcer pelo Corinthians. Também não consegui ficar neutro, até porque dificilmente assisto a um jogo de futebol sem torcer por algum dos times, nem que a partida seja entre Uberaba e Uberlândia. Torci para o Grêmio e até os que estavam comigo se assutaram. No início do jogo quando falei que torceria para o Grêmio estranharam, mas quando apresentei minhas justificativas e demonstrei que estava realmente torcendo para o Grêmio um chegou a dizer que sua torcida seria pelo empate. E por que torcer nesta partida para o principal rival? Para honrar minha paixão pelo colorado, ferida por ter sido violentada naquele 2005, quando nos roubaram o tetra campeonato, anulação de partidas, expulsão do Tinga e não marcação daquele pênalti que certamente seria convertido e nos daria a vitória em plena São Paulo. Com esta breve recaída, percebi mais uma vez que pelo bem do meu time, as vezes é possível torcer pelo rival, desde que este rival não cause ameaça. Já nos anos 90 quando o Grêmio de Felipão enfrentava o Palmeiras do Luxemburgo, a soberba do Luxa e a parcialidade da imprensa nacional, pendendo para os paulistas, agitava minha alma gaúcha e acabava me impedindo de torcer contra os gremistas. O futebol é capa de muitas coisas. Não é à toa que o filósofo Albert Camus reconhecia no futebol a fonte da sabedoria moral. “O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…”, dizia Camus.

Marcos Kayser

Oshkosh: exemplo de voluntariado

Meu amigo Inácio Knapp, esteve recentemente nos EUA, mais especificamente na cidade de Oshkosh, na trigésima sétima edição do maior evento aéreo do mundo (EAA AirVenture) que recebe uma visitação em torno de 750 mil pessoas. O evento rende para a economia da cidade 110 milhões de dólares, mas o que chama mais a atenção são as características da cidade que o organiza. Oshkosh pertence ao estado de Wisconsin e fica no centro-norte dos EUA, quase fronteira com o Canadá. O nome é uma homenagem a um chefe indígena da região. A cidade tem 62196 habitantes e abriga uma grande universidade estadual – Universidade de Wisconsin, onde a grande maioria dos brasileiros e outros visitantes ficam hospedados. O aeroporto se torna o mais movimentado do mundo, durante a semana do evento, quando recebe milhares de aviões de todas as épocas, formas e tamanhos. Barracas e trailers formam um gigantesco acampamento ao lado do aeroporto e boa parte da população trabalha no evento como voluntária. Voluntariado que é uma marca registrada da cidade. O prefeito local ganha seis mil dólares anuais de remuneração, o que em reais corresponde a aproximadamente 10 mil reais por ano, ou seja, menos de 1 mil reais por mês, quase um trabalho voluntário. Como acontece com boa parte das cidades americanas com menos de 100 mil habitantes, os vereadores não recebem nada, são todos voluntários. No café da manhã coletivo em que o Inácio participou, uma tradição do evento, boa parte dos voluntários era constituída por pessoas na faixa etária dos 80 anos, inclusive alguns com dificuldades de locomoção, ajudados por andadores. O prefeito, que tem uns 40 anos, também arregaçou as mangas e estava carregando mesas e cadeiras. E assim Oshkosh surpreende a seus visitantes de todo o mundo, não só pelo grande evento da aviação que realiza, mas pelo exemplo de voluntariado, inclusive de sua classe política, mais trabalhadora do que política. O Paranhana já tem um evento grandioso pelo envolvimento de muitos voluntários que é a Oktoberfest em Igrejinha. Quem sabe, num futuro não muito distante, mais algum evento de grande porte surja, não só trazendo dividendos, mas difundindo ainda mais o espírito comunitário. E que a região assuma a condição de referencia brasileira do voluntariado.
Marcos Kayser

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal." Oscar Wilde