Bebê é gente

“Eles têm noção de matemática, são prodígios da psicologia e conseguem diferenciar o bem do mal.” Quando se ouve uma afirmação desta natureza, a primeira impressão é que o sujeito sobre o qual está se falado, não é um ser da espécie humana, não é gente. Talvez possa ser um robô ou, o que é mais provável, um animal. Porém, está se falado justamente de um ser igual a gente, dotado da razão que pensa e sente. Está se falando dos bebês que assim como as mulheres há séculos atrás era um ser inferior que não merecia o mesmo respeito e privilégios que os homens adultos detinham. Assim como mudou o conceito para com as mulheres, está mudando para com os bebês, apesar do inconsciente coletivo ainda inclinar para uma suposta inferioridade dos pequeninos. A psicologia e a neurociência vem colaborando muito para a mudança da cultura vigente, na qual os bebês eram praticamente humanos na fase animal. Conforme diz a frase inicial, hoje já se sabe que os bebês não nascem como uma tabula rasa, ou seja, como uma folha em branco, sem informações e conhecimento. O código genético e o relacionamento com o mundo exterior através da mãe quando na gestação já vão condicionando a formação do indivíduo. Formação que não tem fim, se constituindo e se transformando ao longo de toda a vida até a sua morte. O entendimento deste novo cenário do bebê, é muito importante para que as mães e pais percebam o quanto é determinante o bom cuidado que devem ter com seus filhos mesmo enquanto “solitários” (e nem tão solitários como se pensava) na barriga da mãe. Cuidado remete a atenção, afeto, vínculo, para que aumentem as chances de uma infância tranqüila e uma vida adulta feliz. Uma das iniciativas mais interessantes que já vem sendo realizada dentro desta nova visão de atenção especial aos bebês, é a Semana do Bebê cujo idealizador foi o médico Salvador Célia, falecido em 2008, acontece desde 2000, nos meses de maio, em Canela, e tem o propósito de mobilizar a sociedade e técnicos a discutir a saúde física e mental dos bebês, avaliar os indicadores sociais, dar assistência às famílias, defender os direitos das crianças e adolescentes, orientar e educar para a prevenção e criar canais de comunicação que divulguem a importância da infância por um mundo de paz. A Faccat, Faculdades de Taquara, estará realizando agora no mês de agosto o décimo primeiro Seminário de Educação Infantil e terá um painel dedicado aos bebês, sob o título: DIFERENTES OLHARES SOBRE O CUIDADO COM OS BEBÊS. A revista Superinteressante de agosto traz também uma reportagem especial sobre os bebês que deve interessar não só aos profissionais das áreas da educação e da saúde que trabalham diretamente com eles, mas a toda a sociedade que precisa aprender muito ainda para conviver com o bebê como ele é, ou seja, gente.

Discurso de transmissão de cargo na CICS

Há 4 anos assumia a presidência da CICS fazendo um pronunciamento classificado como idealista por alguns amigos, que de uma certa forma compartilhavam de um idealismo similar. A idéia central era a integração regional, dos municípios do Paranhana e dos interesses públicos e privados. Integração de ideais e potenciais que se constituía na essência da causa da transformação histórica da ACIT em CICS-VP, ocorrida há mais de 20 anos. Por mais que o poder de uma união possa parecer óbvio, nem todas as partes que se dizem interessadas compreendem. Com isso quero dizer que a integração, ao meu olhar, ainda está distante da idéia e, por conseqüência, ainda não temos uma unidade suficientemente robusta para fazer frente as tantas ameaças atuais e futuras. Ao mesmo tempo, é justo reconhecer que avançamos no caminho desta integração. Na CICS, basta observar a composição da diretoria, que veremos várias entidades reunidas: CDL, Sindicatos do Calçado, Sindicato Rural, Sindilojas entre outras. Dentre os associados temos as prefeituras de Igrejinha, Três Coroas, Taquara o que demonstra uma certa aproximação do público e do privado. E não dá para deixar de falar na Agenda Paranhana 2020, iniciativa de 19 Instituições, que juntas com a comunidade projetaram uma visão de futuro para a região, expressa na frase: “ser um lugar de primeiro mundo”. Podemos chamar isso de idealismo, de utopia, de sonho, mas o que será do homem sem um sonho? Homem que nem se quer seria homem se vivesse sozinho, pois humano só é humano porque vive em sociedade. Se não é por vontade, que seja por necessidade natural, daí uma forte justificativa para respeitarmos o outro. Se não for por ética, que seja por uma questão de inteligência. A escolha pela Agenda se apresenta não só como um dos caminhos para se chegar num lugar desejado, mas também uma certa elevação da auto-estima, afinal, fomos a primeira região do interior do Estado do RS e do Brasil a iniciar uma Agenda. Boa parcela deste mérito devemos aos amigos da Pólo que desde aquele 7 de novembro nos acompanham, quando de forma inédita em torno de 300 sonhadores, dentre os quais lideranças do setor público e privado, apresentaram suas posições e idéias, sintetizadas na frase: ser uma região de primeiro mundo. Nada melhor do que uma metáfora para dizer algo que queremos e transcende a linguagem. Primeiro mundo aqui não é necessariamente um lugar no espaço e no tempo, mas um estado, que pertence a um imaginário coletivo. Quem não gosta do que é bom e bem feito? Além de um desejo comum, implícito nessa metáfora está a necessidade de nos reeducarmos e educarmos os mais jovens para serem mais exigentes consigo e com o outro. Só assim poderemos superar os obstáculos, inovar e evoluir em qualidade. Evolução que se espera da iniciativa privada e do setor público, mas principalmente deste último que é o grande gestor dos recursos e sobre o qual recai duas grandes responsabilidades: educação e saúde. Áreas que requerem projetos de longo prazo e sustentáveis. E por falar de projetos, é bom lembrar dos projetos que tiraram a Agenda daquele destino, pronunciado com antecedência, quase uma “maldição”, de ser mais um movimento que não daria em nada. A Agenda, felizmente, não ficou resumida aquele inesquecível 7 de novembro. Não ficou também só no papel, nem só no discurso. A Agenda vem se efetivando, na medida em que os projetos que nela constam vão se concretizando. Alguns deles coordenados diretamente pela CICS, dentre os quais cito cinco:

1. Portal da Transparência (muito antes de virar lei, nós já temos indicadores dos mais diversos setores da nossa sociedade e agora aguardamos os indicadores relacionados a gestão pública que a Associação de Prefeitos já vem viabilizando com o MP)

2. Prêmio Professor Inovador do Paranhana (onde superamos a meta obtendo 106 projetos inscritos e este projeto virou case não só pelo resultado, mas pela forma com que foi conduzido onde aplicamos os conceitos de gestão de projetos e ainda conseguimos reunir o setor privado e o setor público muito bem representado pelos secretários de educação dos municípios do Paranhana)

3. Pesquisa de Vocações (em torno de 1000 jovens do ensino médio participaram e hoje temos algumas informações importantes sobre o perfil empreendedor e sobre o desejo da maioria que é o de sair da região, o que nos remete a reflexão de que há cidades mais do primeiro mundo do que as nossas)

4. Criação do primeiro escritório de projetos do Paranhana (que formou não só a equipe interna da CICS como funcionários de 4 prefeituras do Paranhana gratuitamente)

5. Criação do Programa Gestão Inovadora – PGI (onde estão sendo capacitadas em torno de 40 empresas através de parceria com a Sedai e aqui agradecemos o então secretário de Estado, Dep. Marcio Biolchi)

Falei no discurso de posse que por mais desgastante que é agir, um mal maior é resignar-se. Acho que neste aspecto não mudei muito, continuo pensando que não é suficiente ficar esperando, mesmo que agir possa trazer incomodações imprevistas. O consolo é que agir agora pode prevenir ou minimizar incomodações futuras e, talvez, ainda maiores para nós e nossos filhos. Sabemos que os impostos não vão baixar. Sabemos que não basta reclamar. Um dos caminhos então para melhorar as condições de vida (apesar de dar trabalho para quem realmente se envolve) é o engajamento em algum tipo de movimento coletivo, cuja bandeira seja a do planejamento sistematizado e do controle sobre os resultados. Só assim a tão pretendida melhoria contínua poderá ser conquistada. Caso contrário, aumentam as chances do desperdício e da precariedade. A Agenda talvez possa ser um destes movimentos e todos aqui estão convidados.

“Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho do pensar, e parece-me que sem idéias, não vamos a parte alguma”. Este foi o último post no blog de José Saramago, falecido no último dia 18, e diz muito para nós que compreendemos a Agenda como um conjunto de idéias que podem nos levar ao lugar que desejamos. Também afirma que pensar é um trabalho, pena que poucos filósofos até hoje conseguiram tornar o pensamento um produto de alto valor agregado.

Muitos acontecimentos marcaram este intervalo de tempo desde que assumimos a entidade em julho de 2006. Houveram perdas e ganhos. Perdi minha mãe, perdemos o Biason, ganhei mais um filho, ganhamos novas amizades, ganhamos uma bagagem e muita coragem, não só para coordenar a Agenda mas para realizar também outras ações pontuais na entidade. Até como uma espécie de prestação de contas aos nossos associados, cito algumas delas:

1. Reestruturação Administrativa/Financeira (o que nos possibilitou “respirar sem aparelhos” e ainda implantamos um novo jeito de gestão orientada por projetos e por indicadores)

2. Pintura Interna e Externa do prédio

3. Criação de uma nova logomarca

4. Aquisição de materiais e móveis (computadores, projetor, mesas)

5. Adequação da CICS VP em Agência de Desenvolvimento

6. Mobilização contra a nova praça de pedágio na RS 115 entre Taquara e Igrejinha

7. Mobilização para a Liberação do Viaduto Taquara – Parobé

8. Inclusão de algumas Prefeituras no quadro social

9. Inclusão do setor do Agronegócio na diretoria

10. Adesão de três Prefeituras no PGQP (Igrejinha, Parobé e Três Coroas)

11. Aumento do número de organizações participantes no Sistema de Avaliação do PGQP – Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade em mais de 50% (do que resultou a escolha como Comitê Destaque e fomos convidados a participar do Conselho Superior presidido pelo Dr. Jorge Gerdau)

12. Doação de alimentos para APAE, Creche Vovó Domênica, Lar das Meninas e Apromim (em parceria com o SEBRAE)

13. Apoio ao SEBRAE na divulgação do INOVAPERS de onde duas empresas da região foram contempladas.

14. Apoio ao SEBRAE na divulgação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.

15. Apoio a vários eventos dentre os quais o Seminário de Desafios Ambientais em Taquara

16. Palestras ministradas em parceria com o Sebrae e em eventos eventos da Federasul, FCDL, Famurs entre outras entidades.

Não dá para deixar de reconhecer, especialmente em tempos de crise de lideranças (pelo menos em termos de disponibilidade), a tranquilidade do processo sucessório da entidade, consolidado na pessoa do Roger, a quem considero um líder diferenciado, especialmente pela sua visão de mundo, inteligência e capacidade de fazer a tão espinhosa passagem da teoria à prática. Roger, desejo muita sorte e muito sucesso. Por mais contracultura que seja e por mais resistência que tenha, continuo acreditando que vale a pena o investimento em prol da formação mais qualificada, da adoção de modelos de gestão, da abertura para o novo e para a integração. Tudo isso para nos aproximar do conceito de primeiro mundo. Desejo Roger que ao fim da tua gestão, sinta-se feliz como eu estou me sentindo neste momento e conte comigo!

Por fim, gostaria de agradecer aqueles que me convidaram para este desafio que acabou se tornando uma oportunidade prazerosa, cito o Renato Fagondes, a Alice Lehnen, o João Boff, o Delmar Backes e o Velmi Biason, que, infelizmente, nos deixou precipitadamente. A minha diretoria, principalmente pela confiança e pelo grau de tolerância a minha forma de conduzir. Obrigado porque me deixaram viajar, sonhar e juntos até concretizar alguns feitos. Aos associados da entidade, sem o consentimento dos quais, nada faríamos. Aos funcionários da entidade, sempre disponíveis e dispostos a planejar e executar, aqui cabe um comentário, foram mais de 700 e-mails enviados por mim ao nosso executivo fora as tarefas encaminhadas via Scopi, nosso sistema de gestão estratégica (isso significa que pensamos na entidade quase que diariamente). Agradecimento a todas entidades parceiras, dentre as quais destaco PGQP, FCDL, Federasul, Fiergs, Sebrae, ACI, Fecomércio, CDLs da região, Sindilojas, Sindicatos do Calçado de Parobé, Três Coroas, Taquara e Igrejinha, Sindicato Rural e Pólo – Agência de Desenvolvimento. Agradecimento a todas as entidades que estiveram conosco e também aos voluntários da Agenda, ao poder judiciário, ao MP. Agradecimento aos nossos prefeitos e vereadores, e imagino o quanto é difícil compreender e confiar numa entidade que de uma hora para outra surge falando em planejamento estratégico, projetos e com o discurso de união do público e privado andando lado a lado. Obrigado porque confiaram em nós e peço que continue confiando sempre mais. Aos nossos deputados mais próximos que muito tem apoiado a nossa Agenda (e aqui cito em especial o Fixinha e o Marcio Biolchi). Ao governo do Estado pela relação direta e parceira. Agradeço também a imprensa, a minha empresa a TCA e aos meus sócios, pelas concessões e, principalmente, a minha família pelo carinho e amor de sempre. Muito obrigado a todos vocês que de alguma forma, nos acolheram e nos apoiaram.

Marcos Kayser
Presidente da CICS (2006-2010)
Taquara, 29 de junho de 2010

A cidade preferencial

Todos temos preferências por esta ou aquela cidade e os motivos variam de acordo com os sentidos e sentimentos de cada um, apesar de termos alguns motivos comuns como são os casos da boa estrutura de educação, saúde, segurança, cultura e lazer que uma cidade pode nos oferecer. A revista The Economist, em recente pesquisa, escolheu Vancouver como a cidade com melhor qualidade de vida do mundo, com Viena ficando em segundo lugar. A lista claramente relacionou seu conceito de qualidade de vida à língua falada: o inglês. Viena e Helsinque são as duas únicas exceções na lista da The Economist. As demais são Melbourne, Toronto, Sydney, Adelaide, Auckland. A revista também deu preferência para cidades do velho Império Britânico, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, talvez por causa da qualidade dos seus sistemas de educação e saúde. Mas nenhuma cidade da Ásia, África, América do Sul ou dos EUA consta na lista das Top 10. Assistência médica e educação são importantes, mas, salvo no caso de Viena, a pesquisa parece não ter dado ênfase à cultura. Ar limpo também é importante, o que automaticamente deixaria de fora Xangai e Hong-Kong, duas das mais vibrantes e poluídas cidades do mundo. O crime tem de ser levado em conta, o que colocaria de fora Cidade do Cabo e Rio de Janeiro. Todas as cidades escolhidas são democracias decididamente liberais e estáveis, o que as diferenciam muito do mundo em desenvolvimento. Os americanos adoram Londres, centro financeiro que tem uma intensa vida cultural. Mas é preciso muito dinheiro para viver na capital britânica. Segundo Oscar Wilde, quando todos os bons americanos morrem, eles vão para Paris. Para um artista pobre, Berlim pode ser o lugar ideal, com seu entusiasmo criativo e moradia barata., Barcelona pode ser uma boa escolha se a preferência for o Mediterrâneo. Istambul, pelo romantismo, Salzburgo pelo charme, Cingapura pelo aspecto prático e San Francisco pelo cenário e ambiente. Todas tem motivos de sobra para estarem dentre as cidades preferenciais. E para nós brasileiros, cidadãos de um país que ainda não pode ser considerado desenvolvido, pela série de carências que possui, qual cidade brasileira seria a nossa preferencial para viver, trabalhar e até morrer? Por curiosidade, seria a cidade onde se vive atualmente?

A espinhosa questão da meritocracia na educação

O Jornal Zero Hora do dia 30 de maio, trata mais uma vez o tema educação, fazendo um abordagem sobre a espinhosa questão da avaliação dos educadores, chamada também de meritocracia. Já é praticamente consensual o entendimento de que o fator mais decisivo para definir o quanto uma criança aprende na escola é a qualidade do seu professor. O economista americano Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, pesquisador eminente na área, descobriu que o aluno de um professor excelente em uma escola ruim aprende mais do que o de um professor ruim em uma escola excelente. A Zero Hora revelou outro achado de impacto: o que o bom professor meio ano de aprendizado, o mau professor precisa de um ano e meio. Avaliações internacionais apontam que se aprende pouco nas escolas brasileiras. O desejo de reverter esse quadro tem levado autoridades e educadores e líderes empresariais a mexer em um vespeiro. Há no Brasil um movimento pressionando pela aplicação de critérios meritocráticos dentre os quais o movimento Todos pela Educação, que tem o empresário Jorge Gerdau como um dos líderes. O princípio é dar benefícios, dentre os quais aumento, ao professor que faz os alunos aprenderem e, quem sabe, punir o que não consegue. Talvez o fato de não receber benefícios adicionais por mérito, já seja uma boa punição. E esta discussão não é só brasileira. Aqui está apenas começando. Nos Estados Unidos o presidente Barack Obama criou programas que despejam bilhões em recursos federais nos Estados e distritos que adotarem a prática de pagar conforme o desempenho. No Brasil, há partidários ardorosos e adversários ferrenhos. Segundo o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação e partidário da meritocracia, “manter o professor ruim é o mesmo que uma fábrica de automóvel não demitir o funcionário que deixa passar carros com defeito na barra de direção – compara”. A oposição mais radical vem dos sindicatos de professores. No ano passado, a proposta do Piratini de oferecer um 14º salário a quem atingisse metas foi torpedeada pelo Cpers. Estranhamente, ou confortavelmente, o Cpers não apresenta nem discute com a sociedade algum tipo de projeto que venha representar uma proposta de melhoria contínua da qualidade do ensino. O embate se dá também a nível federal. O Ministério da Educação anunciou um exame para seleção de docentes, e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) foi para o ataque, vendo por trás da proposta uma maquinação para implantar a meritocracia. “Se a meta é fazer 500 unidades e o funcionário faz 300, pode demitir. Mas transferir isso para a escola não tem cabimento”, disse Roberto de Leão, presidente da CNTE. Um estudo analisou os países com melhor educação. A base era a Finlândia, com o ensino mais bem avaliado. Concluiu que os campeões de qualidade não premiam o mérito. O foco está no recrutamento . Para atrair os melhores, os salários são altos, e a carreira, promissora. Contudo, a oferta de mão-de-obra é excelente, pois as faculdades de Educação tem alto padrão de qualidade. Daí surge uma dúvida, o que vem primeiro: oferecer ótimos salários ou formar com excelência. Este é um debate dos mais importantes que estão não só na pauta internacional, mas também no Paranhana. A Agenda Paranhana 2020 está buscando promover este debate para, quem sabe, encontrar uma solução caseira que deve excluir a possibilidade de medições, afinal , é medindo que se pode melhorar, inclusive salários.

Uma cidade do interior com trânsito de capital

Quando se escolhe uma cidade para morar, quando é possível escolher, é claro, se avalia suas opções de lazer, parques, praças, bares, restaurantes; suas opções de ensino e culturais, escolas, faculdades, cinemas, teatros; sua estrutura de saúde, médicos, postos, hospitais; e a segurança, baixos índices de criminalidade, assaltos e furtos. O trânsito é um item que nem se precisa avaliar, pois cidade do interior é sinônimo de trânsito tranqüilo. Mas nem sempre isso acontece, pois há cidades pequenas que conseguem administrar mal o trânsito, tornando-o confuso e congestionado em muitos momentos. A solução não é nada complexa, se comparado as grandes cidades que necessitam construir viadutos e metrôs para resolver seus problemas. Uma reorganização do trânsito a partir de um levantamento técnico, acrescido a uma boa dose de coragem e disposição são caminhos naturais para por ordem na rua. Coragem e disposição porque mudanças no trânsito podem gerar descontentamento de alguns, o que nem sempre os governos estão dispostos a enfrentar, mesmo que tenham ao seu lado o embasamento técnico. Para ilustrar, vejamos o trecho da rua Rio Branco entre a rua Bento Gonçalves e 17 de Junho, em Taquara. Com sentido duplo e carros estacionados em ambos os lados, é praticamente intransitável. Porque não colocar mão única como acontece na extensão desta rua ou proibir o estacionamento num dos lados? O mesmo problema de espaço, acrescido do alto tráfego motivado pelas escolas que ficam nos arredores, acontece na rua do Ricardinho e do Dorothea. Isso que as escolas já se manifestaram há décadas, solicitando medidas e, até hoje, nada. Dividindo um pouco a responsabilidade dos órgãos competentes pelo trânsito no município, há casos de estabelecimentos comerciais que são construídos sem estacionamento privativo. Tem um caso em Taquara de uma construção recente que o comerciante proprietário fez um recuo de apenas dois ou três metros. Se tivesse feito um recuo um pouco maior, permitiria que ali estacionassem os carros de sua clientela, que hoje acabam ocupando o estacionamento já esgotado da rua. Sem contar que os caminhões que entregam suas mercadorias também ocupam o estacionamento da rua. A falta de bom senso e consciência comunitária, talvez pudesse ser corrigida com uma nova normatização que obrigasse as construções novas a construírem estacionamento para seus clientes. Outro acontecimento corriqueiro é a interrupção de cruzamentos por parte dos motoristas. Em Taquara ocorre frequentemente no cruzamento entre as ruas Marechal Floriano e Bento Gonçalves, que seria facilmente corrigido se os motoristas que estão na fila da sinaleira da Marechal não posicionassem seus carros justamente no cruzamento, impedindo que os carros que estão na Bento cruzem. Apesar disso, a grande maioria dos problemas tem soluções que não demandam grandes investimentos, nem traumas, bastando estudo técnico, coragem e disposição para o enfrentamento daqueles que só pensam em si mesmos. Se continuar assim, e a situação piora em dia de chuva, nas sextas-feiras, nos horários de maior fluxo, Taquara vai ter a vantagem de ser uma cidade do interior com a desvantagem de ter um trânsito de cidade grande.

Marcos Kayser

Falta gente qualificada

Comentários sobre a falta de mão-de-obra generalizada não só na região como no país como um todo já viraram rotina. Nas conversas entre empresários e entre aqueles que procuram por pessoas qualificadas para preencherem vagas de trabalho é uma constante. Parece que este passou a ser um problema vivenciado por todos. Há algum tempo a carência era observada em áreas com maior grau de exigência, como ocorria nas áreas de alta tecnologia. Hoje a situação se agravou e atinge praticamente todos os setores. Para contratar uma secretária temos que realizar uma quantidade enorme de entrevistas até achar aquela que minimamente preenche os requisitos. Para contratar um pintor, um jardineiro, uma faxineira, uma empregada doméstica, é outra luta. Para contratar um montador de móveis, é preciso encarar quase que uma via sacra, tamanha a dificuldade. Para encontrar um programador em linguagem PHP, que é algo mais específico, mas nada de inédito, é ainda pior. A falta de oferta poderia ter causa num grande boom do mercado, mas isso ainda não ocorreu e a carência já vem de algum tempo, antes mesmo da crise financeira, vivida no ano passado. As indústrias do setor do calçado também enfrentam esta dificuldade e muitas delas restringiram seus planos de expansão principalmente por este motivo. Observando mais a fundo, tendemos a acreditar que o maior problema reside na má formação das pessoas, ou seja, disponibilidade de mão-de-obra qualificada. E isto não parece ser exclusividade de um eventual aumento dos padrões de exigência dos empregadores mas sim porque se verifica uma certa decadência no perfil do trabalhador. Quando se pensa em construir distritos industriais é preciso atenção especial e preocupação para este fato, pois se há o interesse de captar novas empresas é preciso também se preocupar em formar mão-de-obra qualificada, dificuldade que hoje o Brasil tem e o Paranhana não foge a regra. Uma outra questão, dentro deste mesmo tema, é sobre qual é o papel das escolas e das faculdades nesta carência de mão-de-obra qualificada, pois, como sabemos, uma das principais fontes do conhecimento e do aprendizado de técnicas ainda são elas.

Marcos Kayser
Filósofo

O risco de uma opinião

Todos temos nossas opiniões e devem tê-las, afinal, a opinião é uma confirmação de nossa humanidade (condição humana). Não que necessariamente devemos ter opinião sobre tudo, pois toda opinião exige um certo grau de conhecimento e há questões sobre as quais temos desconhecimento por completo. Também é improvável que alguém saiba tudo e de tudo. Quanto mais sabemos, mais temos consciência de que estamos distantes de saber tudo, o que nos torna mais humildes na hora de opinar. Por isso, opinar é também arriscar e se recomenda, para quem tem senso de responsabilidade, que a opinião não se encerre em si mesma e permita uma dialética, sem ignorar outras opiniões. Quem opina com esta abertura tem consciência da limitação da opinião e, quando opina, toma cuidado em não pecar por excesso de auto-suficiência. Posso hoje me achar com a razão e amanhã me ver diante de uma grande ilusão. Bachelard diz que a opinião pensa mal e com isso quer dizer que a opinião nem sempre tem razão, está envolta de crenças e segundas intenções. Por falar em crença, é Kant que define a opinião como uma crença que tem consciência de ser insuficiente. É bom destacar que há muitos casos sem a presença da consciência. Assim a opinião é dogmática e está mais para a religião do que para a ciência. Há sofismas disfarçados de opinião, como estratégia de manipulação. A história da humanidade está cheia de episódios em que a verdade perdeu para a falsidade. Apesar de ser crença, como define Kant, não significa que cada um deve ter a crença que bem entende, quando confrontado com o real. Opiniões sobre uma mesma realidade, desde que conhecida, é claro, podem não serem idênticas, pois não somos iguais, mas, ao mesmo tempo, não podem ser opostas e contraditórias, pois estamos tratando de uma mesma realidade. O que faz a oposição entre as opiniões é normalmente o conflito de interesses e o conhecimento apenas superficial ou distorcido da realidade. No primeiro caso encontramos a intransigência do autor em acolher a outra opinião, que poderá por em risco um interesse particular. Quanto ao conhecimento superficial, conhecer mais ou menos uma realidade implica na coerência da opinião. Quanto mais conheço, mais coerência poderá ter a minha opinião. Para isso é fundamental conhecer a realidade, sob os mais variados pontos de vista. Não só o meu, não só o do outro, mas todos as perspectivas da questão. Olhar do meu ponto de vista é fácil e confortável. O difícil é olhar do ponto de vista do outro que demanda coragem, tolerância e dignidade em reconhecer a miopia da visão. Vale a máxima de se colocar no lugar do outro e se isso for inviável ou indesejado, o mais recomendado é não ter ou não dar opinião, sob pena de agir de má fé. Também é muito arriscado emitir opinião com base numa outra única opinião ou ainda persuadido pela figura de quem opinina. Neste caso, mais vale o autor do que os argumentos. É uma pena que muitos fazem da opinião uma sentença com poder de condenação. Seus autores ignoram que podem estar cometendo equívocos irreparáveis e condenando muitas vezes uma vítima no lugar de um réu. Pobre vítima que se vê condenada por uma opinião. Sua esperança? Quem sabe o tempo. E, como se trata de religião, Deus, único capaz da reparação.

Marcos Kayser
Filósofo

Por que existe o mal?

Porque existe o mal é uma questão que intriga todos desde muito. Já foi inclusive motivo de debates ferrenhos que colocaram em cheque a existência de Deus. Sim porque se Deus é bom e quer o bem, o que é lógico, porque deixa que até crianças inocentes sejam vítimas do mal? E não adiantava dizer que o mal era o homem o responsável, pois logo vinha o contra argumento dizendo que a responsabilidade estava no criador da espécie humana, recaindo a responsabilidade do mal sobre Deus. “Se Deus existe, de onde vem o mal?”, perguntava Leibniz. Mas, gostaria aqui de levar a reflexão não para o viés religioso, mas filosófico. Se existe mal, e existe, o mal é antes de mais nada o que faz mal, aparecendo o sofrimento como o mal primeiro, e o pior. Mas para o mal existir, é preciso alguém ser o seu agente, há que haver quem faz o mal. Haverá outro a não ser o homem? Quando o gato come o rato e o cão come o pássaro, não costumamos dizer que o gato e o cão fizeram um mal, nem que o gato e o cão são egoístas. Na verdade, parece ser do senso comum que o animal não comete um mal. O que ele faz é movido por seu instinto animal, normalmente o instinto de sobrevivência, o que acaba por absolver toda a espécie animal de qualquer julgamento moral. Então não podemos dizer que o mal cometido pelo homem seja uma herança da evolução das espécies, pois nossos primatas animais não cometem o mal. Agora, porque quando o homem comete um ato violento, diferentemente dos animais, ele é considerado mal? È bem provável que um dos motivos para que o mal seja atributo da espécie humana porque o homem tem a consciência de seus atos, distintamente dos animais. Talvez o homem tenha expandido o instinto de sobrevivência, herdado dos animais (para quem acredita na teoria da evolução), para uma busca constante por poder, que culmina em lutas e disputas atrozes, cuja arma, muitas vezes é o mal. Mesmo que rima, mal não combina com animal, apesar de que, por força da linguagem, quando um homem ou uma mulher cometem um mal, costumamos dizer que aquele ou aquela é um animal. Mas, porque há tanta maldade no mundo? Simplesmente porque o homem é mal, não por ter uma natureza malvada, mas por seu egoísmo natural.

Marcos Kayser

Filósofo

Marketing do Calor

As duas primeiras semanas de janeiro foram marcadas por temperaturas altíssimas no Estado, inclusive foram batidos recordes históricos, os maiores registrados nos últimos 20 anos. O recorde foi batido por Igrejinha, onde a máxima, à tarde, chegou à 41,6 graus, no dia 8 de janeiro, ultrapassando o índice de 41,3 graus registrado no dia 26 de janeiro de 1986 em Campo Bom. A marca ficou apenas um grau abaixo do recorde absoluto de temperatura do Estado, ocorrido em 1943, quando a temperatura máxima chegou a 42,6 graus. Como o Oitavo Distrito de Metereologia tem ponto de presença em Campo Bom é o nome de Campo Bom que se viu estampar nos jornais do país e ser citado pelas grandes redes de TV do país. Aí vem a pergunta: Taquara não é mais quente do que Campo Bom? Por presumir que a resposta tem boas chances de ser afirmativa, ou seja, é possível que Taquara seja mais quente do que Campo Bom, a pergunta nos sugere a possibilidade de uma iniciativa em torno do pleito da instalação de um Distrito de Metereologia, senão em Taquara, numa das cidades do Paranhana, corrigindo assim um provável equívoco no apontamento das maiores temperaturas do Estado. Assim ao em vez de ver Campo Bom aparecer na mídia apareceria uma das cidades daqui. Para Taquara seria uma forma de estar em evidência, numa evidência que não seria depreciativa, pois depreciativo é estar entre as cidades com menor renda percapita do Estado, depreciativo é ser vista como uma cidade mal cuidada. Talvez, algum segmento que dependa do calor possa se interessar em se desenvolver por aqui, (desde que a cidade volte a ser bem cuidada, é claro). Desconsideradas todas estas motivações restaria ainda a motivação de ter no calor uma nova referência para Taquara, uma espécie de marketing do calor, já que a cidade carece de melhores identificações para restituir a estima que merece.

Entre uma partida e uma chegada

Verão sugere veraneio, pelo menos para nós brasileiros que normalmente reservamos as férias para esta estação. E como é bom viajar! Numa viagem respiramos novos ares, conhecemos novos lugares. Na maioria das vezes, nos sentimos mais livres, pois nos desprendemos da rotina recheada de compromissos, amarras assumidas muito mais por obrigação do que por vontade. Digo na maioria das vezes porque muitos não conseguem se desprender da rotina, nem mesmo numa viagem de férias. Desprendimento que deixa a tal rotina de lado, em segunda ou terceira instância, permitindo que a contingência e a criatividade sejam colocadas como prioridade. Desprendimento que pode ser acompanhado, desde que seja bem acompanhado, e a família é uma das boas companhias, para quem tem bons vínculos familiares, é claro. Lembro-me de um amigo meio ermitão que, perguntado pela sua solidão, respondeu sentir-se muito bem acompanhado por ela. Michel Onfray no seu livro Teoria da Viagem diz que numa viagem se descobre verdades essenciais a estrutura do ser humano e isso ocorre não só durante a viagem, mas também antes e depois. Dores e feridas, tédios e tormentos, pesares e infelicidades, tristezas e melancolias se amplificam na viagem, segundo Onfray. A viagem não cura, pois o que embarca na partida reaparece na chegada, mas pode servir de terapia, na medida em que possibilita enxergar melhor o que não vemos quando mergulhados, quase afogados, na rotina do dia a dia. Enxergar para poder compreender e suportar, a si e ao outro, o que pode representar um (re)encontro. Agora, chegar de volta em casa é bom demais. E a casa não se restringe ao lar, estende-se à rua, ao bairro, à cidade, ao trabalho e, principalmente, às pessoas de nosso círculo de relações, inclusive aquelas da rotina que muitas vezes não suportávamos mais, mas que na viagem acabamos sentindo saudades e reconhecendo o seu significado. Se viajar é encontrar-se, então retornar a casa é perder-se? Talvez sim, por isso temos que voltar a planejar uma nova viajem. Então, entre a partida e a chegada, o que será melhor? Atrevo-me a dizer que o melhor é viajar, ressalvas àquela viagem que deu tudo errado. Parece contraditório, mas é experimentando o distanciamento proporcionado pela viagem que descobrimos significados.

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal." Oscar Wilde