Hospital Bom Jesus: até onde as reclamações procedem?

Tem sido assunto veiculado na imprensa da região do Paranhana, as reclamações contra o Hospital Bom Jesus, motivadas por problemas de atendimento.  As reclamações, num primeiro momento, são graves e dificilmente não seriam, já que se trata de saúde, um tema sempre muito delicado. Qualquer conclusão que não for minuciosamente trabalhada, pode incorrer na injustiça e provocar danos irreparáveis. Como leigo, fico com a dúvida: até onde as reclamações procedem? Uma avaliação criterioso, envolvendo todas as partes: usuários, administradores do hospital, corpo docente, executivo municipal, vereadores e comunidade é uma medida recomendável. Numa leitura muito superficial, me parece que faltam esclarecimentos mais objetivos que pressupõe a apresentação de dados mensuráveis, que dizem respeito a quantidade e a qualidade. Afinal, qual é a meta de tempo de atendimento do hospital Bom Jesus e qual é a média que está sendo alcançada, considerando todos os níveis de complexidade? Qual é número de médicos disponível e a relação com o número de habitantes das cidades que o hospital atende? E qual é o ideal recomendado? Outra informação interessante seria os percentuais de atendimento por nível de complexidade e a relação com a meta estipulada. Com base nestes e outros dados é possível estabelecer comparativos entre o mês atual e o mês de um exercício anterior e com isso visualizar uma eventual evolução ou involução, para então responder de forma mais consistente se o Hospital está conseguindo cumprir com o seu verdadeiro papel, salvar e estar em condições de salvar vidas. Falam, e poderá ser no campo da boataria, que há carência de médicos e seria porque médicos passaram a atender no posto 24h, reduzindo o número do Bom Jesus. Já ouvi também que o problema principal é a falta de recursos financeiros, até porque o Hospital atende pacientes de outras regiões, cuja solução passaria pela formação de um consórcio entre os municípios. No dia 26 de março, das 8 às 10h, na sede da CICS, em Taquara, teremos mais um fórum da saúde da Agenda Paranhana 2020  Esperamos que o debate saudável e transparente prepondere e se consiga evoluir na concretização do projeto fazer do Hospital Bom Jesus um hospital regional marcado pela qualidade no atendimento.

PMDB: está mais para MDB ou ARENA?

Entre os anos 1966 e 1979 vigorou no Brasil o bipartidarismo. No bipartidarismo eram apenas dois partidos políticos,  no caso a ARENA e o MDB, no comando da nação.  A ARENA era a corrente política situacionista e o MDB era a corrente oposicionista. A ARENA era a chamada situação e o MDB a oposição. A ARENA (Aliança Renovadora Nacional) pró-governo, era o partido dos Militares. Era o partido que no qual se aliavam aqueles políticos que apoiavam a Ditadura. Existia apenas para oficializar as vontades de todos os militares, apoiar o regime dos mesmos e preservar o conservadorismo radical. A ARENA foi rebatizada de Partido Democrático Social (PDS). Mais tarde, um grupo de políticos do PDS abandonou o partido e formou a “Frente liberal”, a qual, depois, tornou-se o Partido da Frente Liberal (PFL), atual DEM. O PDS, posteriormente, mudou o seu nome para Partido Progressista Renovador (PPR), e depois para Partido Progressista Brasileiro (PPB), que hoje se chama Partido Progressista (PP). O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) foi uma espécie de oposição permitida, um partido que existia para tentar mostrar ao povo que sua voz ainda era ouvida. Era um partido vigiado constantemente pelos Militares e se caracterizou por sua multiplicidade ideológica. Inicialmente teve um desempenho tímido, mas experimentou grande crescimento no governo de Ernesto Geisel, obrigando os militares a extinguirem o bipartidarismo em 1980. Com o fim do bipartidarismo, as inúmeras correntes que formavam o MDB fundaram legendas como o PMDB, o PT, o PDT e outras que vieram mais tarde durante os anos oitenta. Em 1988, uma cisão no PMDB deu origem ao PSDB, formado pela ala, então, social-democrata e os intelectuais do partido, ligados ao ex-governador paulista Franco Montoro. A ARENA elegeu todos os presidentes da República que se candidataram pela legenda – de Costa e Silva à João Figueiredo. A ARENA também conseguiu fazer a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados em todas as eleições que disputou: 1966, 1970, 1974 e 1978. Ou seja, enquanto o bipartidarismo existiu, a ARENA exerceu a soberania no país. Hoje, quando o multipartidarismo vigora, um só partido reina: o PMDB. E isso não é difícil perceber, mesmo que a presidência seja nominalmente do PT, quem comanda é o PMDB. De quatro importantes instâncias políticas da Federação, três são comandadas pelo partido: Vice Presidência, Senado e Congresso Federal. Numa analogia com a fase do bipartidarismo, aquele do período da ditadura, o Brasil hoje continua na mão de um único partido, no caso o PMDB. É curioso pensar que PMDB é este: o MDB ou a ARENA?

Desejar o que já tem

Quantas vez nos preocupamos em ter mais e mais e desprezamos o que já conquistamos?  Quando o assunto é pensar o que leva a espécie humana a agir para além da sobrevivência, concordo com Hobbes para quem o homem é movido pelo desejo. Spinoza também dizia que” o desejo é a essência do homem”. Segundo ele, “nós não desejamos as coisas porque elas nos dão prazer, mas elas nos dão prazer porque as desejamos”. Ou seja, o desejo é quem manda. Desejo daquilo que nos dá prazer em detrimento da dor, exceto o masoquista que deseja a dor, apesar de ser
ela que lhe dá prazer. Desejo que não tem fim, é sempre insaciável, querer mais e mais. Um movimento contínuo do desejo, de querer mais e mais, como define Hobbes e conceitua assim a própria felicidade. Até aí, aparentemente, nenhum problema. O desejo nos move, nos motiva, nos faz produzir e nos permite viver. O problema acontece quando o movimento contínuo assume um ritmo frenético, a tal ponto que não nos dá tempo suficiente para contemplar e viver a conquista. Gula, ganância? Certo que a tentação do consumo é quase inevitável. E como é bom comprar! Mas também é bom demais degustar, contemplar. Uma vida sempre melhor, quase todos nós queremos. Mas a vida que temos não será a melhor que podemos? Não estou aqui pregando a acomodação nem uma espécie de resignação conformista. Mas acho que podemos frear um pouco a cede de devorar tudo que se apresenta como bom, bonito e gostoso. Se não, vira desejo pelo desejo. As vezes, o presente já pode estar na instância do melhor que podemos. Restará então conservá-lo, o que implica vivê-lo intensamente. Para ter mais consciência do presente, é analisar o contexto em que vivemos é uma boa prática. Olhar a nossa volta, para perceber que a felicidade não é diretamente proporcional a nível social e quantidade de bens materiais. Muitos que pouco possuem, mais felicidade emanam ter. E o que dizer daqueles que tinham o que jamais pensariam perder? A tragédia de Santa Maria fez pais perderem filhos. Não há nada mais dramático e triste. O pior acontece e ninguém está salvo. Além de olhar ao redor, também é bom tentar se colocar no lugar de quem aparentemente teve menor sorte que a nossa. Se o contexto nos dá sinal verde, avancemos, se não, saibamos dar o verdadeiro valor ao que já conquistemos. De novo, não se trata de se resignar com tudo e com todos, diante da primeira falta e da primeira dificuldade, mas olhar pra dentro e pra fora, reservando tempo para viver o que se tem agora.  É desejar o que já se tem.

Titinho: será que agora vai?

Nestes primeiros 30 dias de governo no município de Taquara, me chamaram a atenção duas medidas tomadas pelo prefeito Titinho. A primeira
foi a suspensão da construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Taquara e a segunda o cancelamento do desfile de carnaval deste ano. Medidas impopulares, mas que demonstram coragem e responsabilidade. Num primeiro momento, numa leitura apressada, ambas medidas podem parecer um retrocesso, afinal, quem não quer mais estrutura de saúde disponível e quem não quer a realização de eventos em Taquara? Elogiar é  arriscado, ainda mais em se tratando de ações de um gestor público, cuja lógica, em sua maioria, não segue a orientação técnica, mas sim política, faltando coerência sistêmica e visão de longo prazo. Nesta caso vou arriscar ao dizer que achei muito prudente estas decisões do prefeito de Taquara.  E, seguindo o que diz o filósofo Cícero, da época da Roma antiga, para quem “prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar”, acho que Titinho está pensando em evitar problemas que comprometem o futuro da cidade. É desejável a UPA e o carnaval, mas que UPA e que carnaval? Uma UPA que traz grande risco financeiro à prefeitura que  possui  limitações financeiras que a cada mandato se intensificam? Não fosse assim a Prefeitura não teria tanta dificuldade para pagar suas contas. Uma UPA cuja viabilidade pode ainda ser melhor discutida, inclusive a nível regional? Lembrando que a saúde é tema da nossa Agenda Paranhana 2020. Não se deveria primeiro deixar o Hospital 100% e os postos de saúde para então investir na UPA? Da necessidade do carnaval, não vou nem comentar, porque sou contra a política do “pão e circo”, o que não significa que sou contra o Carnaval e outros eventos que proporcionem alegria a muitos. O problema é não tratar primeiro eventos cuja prioridade é urgente. Gosto muito de Taquara, e quando um prefeito dá algum sinal positivo de boa gestão, logo me entusiasmo, achando que agora vai. Foi assim com o prefeito Kaiser e com o prefeito Délcio, quando falei neste espaço de alguns projetos que tinha esperança que fossem realizados, dentre os quais a revitalização das praças e a criação de uma incubadora tecnológica. Lembro que as praças foram revitalizadas pelo prefeito Délcio. Torço para que Titinho faça uma administração de alto nível, sabendo inclusive dizer não para investimentos que não estamos preparados, e mantenha a minha ilusão de “taquarense fanático”, que acredita numa “Taquara que ainda vai fazer muitos golaços”, conquistando importantes títulos, principalmente nos campeonatos da economia, saúde e educação.

A passividade da sociedade

Há muito se fala de um povo brasileiro que é muito passivo. Mesmo diante de situações que afetam seu bem estar, que interferem na sua vida particular, demora para agir ou até mesmo não (re)age. Atualmente, não muito diferente do passado longínquo e recente, o país continua com muitas carências,  facilmente percebidas por aqueles mais conscientes de seus direitos de cidadãos, que possuem um senso crítico mais apurado. Áreas essenciais como saúde, educação, segurança e infra-estrutura se caracterizam pela precariedade. A sociedade, onde estão inclusas as elites, não toma uma atitude ativa. Não faz a cobrança contínua de seus governos, não pressiona seus representantes, não luta por seus direitos, junto aos órgãos da justiça. Até na hora do voto, volta a reeleger os que pouco ou quase nada fizeram. Neste caso, constatamos que falta melhorar o nível de politização, através da melhoria da qualidade da educação, mas pouco é feito  neste sentido. Nem mesmo diante da corrupção, que a cada dia se escancara nos meios de comunicação, a sociedade se sensibiliza e parte para uma atitude mais reativa. Manifestações de rua, unindo trabalhadores, profissionais liberais e empresários é praticamente uma ficção. Não que resolveriam os nossos problemas, mas se fossem estrategicamente planejadas e bem organizadas, com adesão de grande parte da sociedade, poderiam servir para iniciar um processo de sensibilização dos governantes mais comprometidos com a vontade popular. Acreditamos que ainda existam governantes “eticamente corretos”. Mas, enquanto a passividade histórica persiste, sem perspectiva de mudança, podemos pensar o que leva a tal inércia. Preguiça e acomodação, inerentes ao ser humano ou brasileiro em questão? Falta de lideranças com disponibilidade e coragem para liderarem mobilizações consistentes e persistentes? Medo de punições, ou melhor, retalhações à interesses que lhes são particulares? Cultura do individualismo? A preguiça, deixemos em segundo plano para eleger a falta de lideranças como causa principal. E, talvez, o motivo da omissão dos líderes seja o medo de perderem algum benefício particular atua ou futuro. Agora, como evoluir em direção ao ideal: “cada um por todos e todos por um”, se a maioria foge de uma “incomodação”, quanto mais pelo outro? Aí, nos resta ouvir os próprios líderes. Onde eles estarão?

Desejar o desejável

Diante de uma situação indesejada, muitas vezes conflituosa e infeliz, a auto-ajuda e a religião apontam a fé como caminho da superação. Em síntese, a auto-ajuda receita o pensamento positivo e a crença em si mesma. Aplica a máxima: “eu acredito, eu posso!” A religião prega a fé num ser superior, que tudo pode e está ao nosso lado para nos proteger e nos ajudar a vencer, inclusive a morte. Para a religião “a fé salva, a fé move montanhas!” Em comum: querer e acreditar, acreditar e querer.  Na base de ambas, a fé, que não requer explicações, nem questões. Não há margem para a razão que busca desvendar a verdade no palco da realidade. Os mais céticos, e a grande maioria dos filósofos são, vão recorrer à razão para primeiro compreenderem o contexto e depois buscarem a superação da dita situação indesejada. Poucos conseguem, mas continuam tentando. Quando encontram uma resposta para o porquê, já surge uma nova dúvida e uma nova inquietação que não traz a esperança da solução. Por isso, diante da desesperançosa razão, é mais óbvia a fé. Outros continuarão sofrendo na busca de uma verdade, que a todo instante escapa. Outros ainda chegarão a um meio termo, a resignação. Uma espécie de mistura de vontade e crença, que culmina numa certa conformidade. Vontade de chegar à verdade. Crença de que a verdade é muitas vezes inviável, principalmente quando depende da nossa e da razão dos outros.  A filosofia estóica talvez é a que mais se aproxima desta perspectiva.  Para os estóicos devemos querer única e exclusivamente aquilo que depende de nós. Já dizia o filósofo Marco Aurélio, nos tempos que o cristianismo nascia: “nunca espere tranquilidade dos outros”.
Diante da situação indesejada e infeliz, em sua maioria quando estamos em desarcordo com um ou mais pessoas, cuja superação não depende só de nós, resignemo-nos. Para isso, uma recomendação, também do estóico Marco Aurélio, do seu livro Meditações: “corre em direção ao teu alvo e cuida de ti, renunciando a vãs esperanças, se por ti te interessas, enquanto ainda é possível”.  Ou seja, vá em direção ao que desejas, mas não espere além do que possa desejar. Ainda no campo das recomendações, logicamente argumentadas, podemos encontrar em Marco Aurélio um consolo: “tudo que vês logo se transformará e deixará de existir”, ou seja, a natureza é sábia  e até a indesejável dor terá um fim. Dentre muitas questões que ficam para quem gosta de aprofundar a reflexão filosófica, como podemos frear o desejo, na medida em que é humanamente humano desejar e desejar mais? Em outras palavras, como querer, mas não querer demais? O que determina o limite e como aceitá-lo quando ele impossibilita o meu desejo? Menos laboroso do que refletir e pensar, talvez seja acreditar. Acreditar que o desejável um dia se realizará, nem que seja num outro impensável, mas imaginável, lugar.

10 realizações bem pessoais

Passamos pela vida muito rapidamente e parece que quanto mais gostamos de viver, mais o tempo insiste em correr. Na vida encontramos oportunidades, algumas verdadeiras, outras nem tanto, e também muitas ameaças, algumas reais, outras fruto de nossa imaginação. Ganhamos e perdemos a todo instante. As vezes temos a sensação que pouco fizemos. Nos finais de ano convencionamos fazer balanços e planos. Um amigo meu fez uma breve retrospectiva pessoal na tentativa de encontrar 10 pequenas realizações que pudessem aliviar uma eventual culpa por negligência ou incompetência. Seguem elas:

  1. Ter sido um orgulho para a sua mãe e seu pai.
  2. Ter ouvido de uma mulher, mais de uma vez, eu te amo!
  3. Ter amigos que são mais do que irmãos.
  4. Ter filhos que ama mais do que ama a si mesmo.
  5. Ter criado uma empresa respeitada por muitos.
  6. Ter criado um produto reconhecido pelo mercado.
  7. Ter se formado, incluindo um mestrado, numa grande Universidade.
  8. Ter tido a coragem de escrever um livro.
  9. Ter liderado um movimento para melhorar a qualidade de vida de sua comunidade.
  10. Ter sido reconhecido pelo maior programa da qualidade de seu país.

Para o meu amigo, o melhor deste exercício, além do fato de ter conseguido reconhecer seus ditos feitos, foi sentir que a “vida pulsa” e, na condição de humanos em que estamos, detemos qualidades suficientes para fazer a vida valer a pena. Fica a dica desta retrospectiva que certamente ajuda a elevar a auto-estima!

Natal: a busca contínua pelo nascimento

Natal, dia instituído pela Igreja Católica, no ano 350, pelo Papa Julio I, para comemoramos o nascimento de um tal de Jesus Cristo. Embora alguns questionem a data e até mesmo a existência de um Deus que se fez homem para salvar a humanidade do pecado, pecado este também questionado, é inegável o significado do Natal. Até mesmo os não cristãos, para os quais Jesus pouco representa, sentem-se envolvidos pelo clima natalino. É talvez o momento do ano em que somos mais cordiais para com o outro, pelo menos aqueles mais próximos de nós, familiares, amigos e colegas de trabalho. Deixamos de lado as desavenças e as diferenças. Até ateus declaram “Feliz Natal”, mesmo que para eles não há muito sentido felicitar pelo nascimento de um Jesus sem sentido. É uma felicitação que expressa alteridade, desejo de ver o outro feliz, acolhido, renascendo, conforme a etimologia da palavra diz. Nascer de novo, renovar os sonhos e, quem sabe, convidar para viver com mais justiça, harmonia e amor; menos egoísmo, ganância e desamor. Todos, ou quase todos, estão inseridos na cultura natalina, onde o cenário favorece ao culto da alegria. Sorri a economia. Quem não gosta de receber um presente? E dar um presente? Mais do que o valor do objeto em si, é bom demais ser lembrado e reconhecido por alguém. Somos originalmente carentes, tanto é assim que ninguém é alguém somente. Mas há os excluídos, os deprimidos, os moribundos. Estes passam um Natal sofrido. Tomara que tenham a sorte de encontrar um coração com coragem para fazer algo que possa aliviar a dor que sentem. E como tudo, o dia de Natal também termina. E vem a esperança que no próximo ano estejamos bem vivos, comemorando que estamos vencendo a busca contínua pelo nascimento. FELIZ NATAL A TODOS VIVENTES!

10 passos para um prefeito implantar uma gestão de qualidade

Somos todos sabedores dos desafios a serem enfrentados pelos prefeitos que assumem as prefeituras do Rio Grande do Sul e, porque não, do Brasil, a partir de 1º de janeiro de 2013. Somos sabedores também de que as gestões municipais carecem de profissionalização, a fim de aumentarem  a eficácia e a eficiência, tão necessárias para alcançarmos uma qualidade de vida melhor em nossas cidades. Com base nas experiências como voluntário da Agenda 2020, como empresário e, principalmente, como cidadão exigente e engajado, selecionei 10 passos que considero elementares para os prefeitos introduzirem suas cidades na rota da excelência:

  1. Escolher os secretários pelo grau de conhecimento e experiência na área.
  2. Contratar uma consultoria externa para realizar um diagnóstico sobre o estágio atual da gestão.
  3. Contratar o mínimo de colaboradores com cargo de confiança para cobrir apenas as lacunas apontadas pela consultoria.
  4. Reunir representantes da comunidade, dos funcionários e todos os secretários para levantar o cenário em que se encontra a prefeitura e a cidade, aplicando o método FOFA, que identifica as Forças, Oportunidade, Fraquezas e Ameaças.
  5. Ainda com este grupo levantar os projetos prioritários da prefeitura e da cidade subdivididos por tema (saúde, segurança, educação, meio ambiente, desenvolvimento econômico, infra estrutura).
  6. Com o apoio da consultoria, reunir o resultado do diagnóstico e do FOFA afim de definir as principais ações para combater as fraquezas e ameaças e aproveitar as forças e oportunidades.
  7. Adotar um modelo de gestão e governança, baseado no método PDCA (Planejar, Desenvolver, Controlar e Ajustar) que deve ser disseminado por toda a prefeitura e liderado pelo prefeito.
  8. Capacitar secretários, diretores e funcionários no método e em ferramentas de gestão e criar um comitê interno da qualidade.
  9. Estabelecer metas estratégicas e os projetos e processos, que irão ser realizados para que as metas sejam atingidas, com respectivos prazos e responsáveis.
  10. Realizar reuniões sistemáticas para acompanhamento dos projetos e processos e atingimento das  metas, onde são tomadas medidas de correção caso o planejamento traçado não esteja alcançando o resultado esperado.

Outros passos existirão, mas, independentemente do tamanho do município e das dificuldades, a prefeitura que se propõe a fazer uma gestão de qualidade, não escapa dos 10 passos citados. De quem depende? Do prefeito, mais especificamente, da sua coragem e da alteridade, sua real preocupação com a comunidade.

O tripé para ficar de pé depende da vontade do político

Vicente Falconi, um dos maiores pensadores de gestão no Brasil, fala em três fatores fundamentais para a conquista de resultados em qualquer iniciativa humana: liderança, método e conhecimento técnico.  Liderança é o poder que os líderes exercem sobre seus comandados e as habilidades que aplicam para chegar às metas de forma consistente com a participação e motivação indispensável do “time”. Método é o caminho e os caminhos convergentes escolhidos pelo líder e pelo time para atingir o resultado planejado. E atualmente o método PDCA (Planejar, Desenvolver, Controlar e Ajustar) é quase que uma unanimidade. Conhecimento técnico é o domínio do processo que o indivíduo do time está inserido. Por exemplo, numa empresa o gestor do financeiro deve ter domínio sobre finanças, numa prefeitura o secretário de saúde deve ter domínio sobre saúde. No Brasil, muitas empresas ainda não adotam estas premissas, especialmente as de pequeno porte, porque ainda não detém este conhecimento e a compreensão destes fatores. A excelência dos resultados para aquelas que adotam adequadamente, independentemente do tamanho, é comprovada. Já na esfera pública, o número de instituições, que seguem estas premissas na prática, é ínfimo. O método está aí, o conhecimento técnico também, bastando adotar e contratar. O tripé para ficar de pé depende de uma base. A base é a vontade do político, maior líder da instituição chamada país, estado e município. Esta vontade pode ainda ser desmembrada em coragem e alteridade. Coragem é a força para romper com o sistema viciado em falta de produtividade, qualidade e corrupção, que é o fato mais grave. Alteridade é o sentimento da existência de um outro, cuja dependência é mútua. Em outras palavras, é a visão sistêmica, visão do todo, onde não são só os meus interesses particulares contam, mas também o do outro. Até porque num mundo globalizado e interligado o fracasso de um repercute em todos. Poderíamos recorrer à falta de generosidade e solidariedade, mas prefiro deixar de lado por acreditar que nos dias atuais são virtudes bem mais raras na vida em sociedade. Perdoem-me os políticos por concentrar neles a grande responsabilidade pela falta de bons resultados na educação, saúde e segurança, sem falar em outros setores quem encontramos muita precariedade. Uns dirão, mas a sociedade é responsável, afinal, “o povo tem o governo que merece”. Não sei se o povo tem o governo que merece, mas está tendo um governo que muito bem soube se sistematizar que se realimenta, a partir de uma miserável educação e de um sistema de corrupção. A situação é tão precária que a polução vota em quem dá assistência à saúde (remédio e translado ao hospital da capital) e alimentação (bolsa família). Mas, se de um lado culpo os políticos, de outro aposto neles na possibilidade da reversão.  Quem sabe aquele que for mais cristão (aqui estou apelando para a religião) e  assumir sua gestão como uma espécie de missão. Para isso vai precisar romper com o sistema vigente, promover a adoção de bons métodos de gestão, agregar pessoas competentes e manter-se fiel ao controle e ao planejamento. Quem conseguir fazer isso vai acordar a população para um novo padrão. Para mudar o Brasil  “O Verdadeiro Poder”, título do livro de Vicente Falconi, está nos políticos. Na nossa aldeia gaúcha, por que não “espraiar” o modelo conhecido como Agenda Estratégica por todos os recantos do pampa?

Marcos Kayser

"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal." Oscar Wilde