Diz o Wikipedia, e agora não é mais o Aurélio, que mestre é um indivíduo que adquiriu um conhecimento especializado sobre uma determinada área do conhecimento. Com sua grande especialização no assunto, é capaz de dar aulas a pupilos. Habitualmente é usado como título acadêmico para aquele que defendeu um mestrado. O mesmo termo de mestre pode ser usado nas artes marcias. Contrariando parte desta definição, há quem seja mestre sem ter mestrado. Há também quem seja mestre em múltiplas especialidades. E há ainda quem seja mestre sem necessitar da legitimidade de uma Academia. Eu e muita gente conhecemos um mestre assim, com enormes habilidades intelectuais e marciais no enfrentamento das agruras da vida. Um mestre tão mestre que seu nome é mestre. Não só os ex-alunos lastimam a perda deste mestre, mas a humanidade que perdeu um mestre de ensinar a ser. Pensemos em grandes virtudes: humildade, generosidade, prudência, coragem, … Imaginemos um ser humano, reunindo tudo isso. A síntese de uma dialética entre rigidez e flexibilidade. Este é o mestre Bauer. E digo no presente porque jamais deixará de ser. Seus ensinamentos estão contindos na alma de muitos e continuarão sendo ensinados, por isso, não serão passado. E quem não tem histórias pra contar do mestre? Eu não só tenho histórias como eu tenho uma história com ele (dona Helena, Marco, Silvia e Fernando sabem disso). Na festa de aniversário da minha mãe, para quem ele era o amigo Harald, fiz uma declaração de amor na presença de todos. Falei a ele, como tantos já fizeram, que ele o meu maior pai. Apesar de se esquivar da exposição, mas ali ele “estava em casa”, me deu um forte e prolongado abraço e no pé do ouvido me contou: “tu sabe que eu sinto o mesmo por ti, né?” O mestre é daquelas pessoas que não deveriam morrer. Ele justifica minha indignação existencial para com a morte. Deveria ser imortal de corpo e alma. Os que creem já projetam ele dando aulas no céu. Acho que a terra precisa muito mais dele do que o céu. Sim, mestre Bauer se eterniza nos seus ensinamentos e na sua obra, mas como humano, reconhecidamente egoísta que sou, vou sentir a falta da conversa, dos segredos, do tradicional aperto de mão, do sorriso quando ganhava uma sucata eletrônica. E talvez o mais incrível: o mestre era humano como nós! Nunca vi tanto irmão chorar ao mesmo tempo! Mestre Bauer, muito obrigado!!!
Marcos Kayser
08/05/2012
O encontro meu comigo mesmo
Imaginemos um momento raro, estamos sós e sem o que fazer. O que sentiremos diante de nós mesmos? Tédio, prazer, medo, desejo? Por mais estranho que pareça, é na ausência do outro que pode haver um grande encontro. O encontro meu comigo mesmo. Solipsismo, narcisismo, egocentrismo? Pode ser, pode não ser, mas, independente do que for, é um estado em que nossa estima e tolerância podem ser testadas. Sem falar na criatividade. Num mundo agitado, com um cardápio variado de opções de lazer, reais e virtuais, reservar um tempo para estar só é tido como um sintoma patológico. Rilke diz que “a grande solidão é ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é aí que é preciso chegar.” Talvez para Rilke a solidão é um nada que dura horas que deveríamos suportar para depois destas horas haver o encontro do eu consigo mesmo. E se nada encontrar? Bem, neste caso, ainda há uma saída: fugir de dentro de si e ir ao encontro de um grande amigo. Se não conseguimos nos encontrar com nós mesmos, um amigo poderá nos reconciliar. Diante de tantos afazeres que temos, com o foco ao que está do lado de fora, alguns encontram dificuldade para a introspecção e colocam na falta de tempo o motivo da impossibilidade da incursão valiosa pelas profundezas do nosso interior. Numa primeira impressão, ficar sozinho remete a melancolia, tristeza e até depressão. A ordem dos dias atuais determina que estejamos envolvidos com inúmeros compromissos, tarefas e festas. Os momentos de convivência com quem compartilhamos afeto são muito prazerosos e indispensáveis, mas não dispensa ficar também sozinho. Quando sós, somos mais verdadeiros e corremos menos risco de perder a própria identidade. E se isso acontecer, perde eu e perde a humanidade que estará com um a menos na sua pluralidade.
Marcos Kayser
Do que uma simples lesão é capaz
Longe de masoquismo, uma lesão pode gerar satisfação. Jogando futebol com meus amigos, sofri uma lesão que me fez sentir dor e conforto ao mesmo tempo. Dor de um tornozelo com ligamentos rompidos, que me fazia nausear, se revezando com o sentimento de acolhida e apoio dos amigos. Incansáveis em disponibilidade de me acompanharem no atendimento médico e me levarem de cá pra lá e de lá pra cá. Depois, ainda se lembraram de telefonar para saber como me sentia. Isso tudo, levando em conta que no jogo de futebol, e talvez no jogo da vida seja igual, sou um chato. Não só porque jogo com garra, mas porque reclamo e falo a todo instante. Até que nos últimos tempos estas manifestações se atenuaram bastante, como eles próprios reconhecem, dizendo que agora não estou mais sozinho, outros parceiros assumiram a minha condição e já estão me ganhando na mania de reclamar. É bom ressaltar, em causa própria, que apesar de reclamar, jamais deixei de incentivar, com a mesma ou até maior intesidade. Só tenho a reconhecer e agradecer aos meus amigos do futebol, mesmo que eles com toda a humildade já tenham me dito: “deixa disso Marquinho”. Também aos amigos do cotidiano, agradeço pela incansável generosidade e solidariedade. E por falar em generosidade e solidariedade, me lembro do livro “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, de André Comte-Sponville, que expõe a sua visão filosófica destas duas virtudes. A generosidade, segundo ele, é estar disponível sem troca e oferecer ajuda sem contrapartida, extrapolando assim a solidariedade. Ser generoso é agir em prol do bem-estar de um indivíduo cujos interesses não compartilhamos. O generoso serve ao semelhante sem esperar que o semelhante sirva a ele. Ser solidário é obrar com boa vontade em favor de uma pessoa cujos interesses compartilhamos. O solidário ajuda esperando ser ajudado; ele defende os próprios interesses reivindicando os interesses dos outros. Segundo Comte-Sponville, a generosidade também excede o amor. Fazer o bem para quem quer bem é amor; agora fazer o bem sem ver a quem é generosidade. Tendo em vista que é impossível amar sem dar, a generosidade supera o amor porque é destinada ao estrangeiro. Na generosidade, o sujeito compartilha as suas riquezas com os estranhos porque sabe que é melhor dar aquilo que possui do que ser possuído por aquilo que tem. Saindo do conceitual e retornando ao real, ou seja, a experiência da lesão, seguida de dor e das dificuldades da recuperação, o que mais importa para mim neste episódio é que os conhecidos se colocaram como verdadeiros amigos, virtuosos pela solidariedade que tiveram comigo e pela generosidade que teriam caso eu fosse um estranho desconhecido. Digo isso porque entendo que a generosidade está a uma passo da solidariedade e, nesta hora, minha gratidão é a mesma, sejam generosos, sejam solidários. Em tempos de efemeridade, mais vale ainda o poder de uma amizade. Parece que a perenidade da amizade não se deixa seduzir pela efemeridade da nossa sociedade. E aí, de novo, agradeço a todos!
Marcos Kayser
Um caso de amor
O cristão acredita que aquele que não ama, não conhece a Deus. O filósofo argumenta que aquele que não ama, não conhece a vida. O amor do cristão salva, o amor do filósofo condena a viver aqui e agora, o que não impede do filósofo ser cristão e vice-versa. Amor que traz alegria, que gera apego, que dá aquela vontade louca de estar sempre grudado ao “objeto” amado. E o amor não é só porque faz falta, se assim fosse, estaria acabado, tão logo a falta fosse embora. Não creio que haverá vivente que não tenha experimentado este sentimento, mais ou menos intenso. Há alguns que dizem não ter encontrado o amor, mas é bem provavel que se referem a uma paixão. Paixão que é aquele estado da alma que, apesar de gostoso, ultrapassa o amor e acaba se perdendo na “primeira curva”. E como é bom amar e saber que se ama. Particularmente, confesso ter alguns amores. O maior deles, sem “sombra de dúvida”, são meus filhos. Feliz sou por sentir este amor. Preocupações, conflitos, mas o regozijo compensa. Amo também amigos que considero irmãos. Como diz um deles, “amigo é o irmão que se escolhe”. Amo também a minha empresa, o conjunto da obra que reúne sócios, funcionários e clientes. E além de outros amores, que ficam por conta da privacidade, amo a minha cidade: Taquara. Cidade em que nasci, cresci, e aprendi a gostar por ter sido acolhido por ela, especialmente, por uma parcela de conhecidos da sua gente. Explicações mais detalhadas sobre este amor não há, pois, como diz Fernando Pessoa, “compreender é esquecer de amar”. E por amar Taquara espero muito dela e tenho momentos de decepção e depressão, como acontece em toda relação amorosa. Taquara nem sempre me corresponde à altura do meu sentimento. Quero vê-la sempre limpa, organizada, embelezada, com requintes de bom gosto, e ela não se arruma assim. Quero vê-la com sua gente participando ativamente do seu planejamento estratégico e não vejo assim. Quero vê-la com uma renda percapita maior, com uma economia diversificada e próspera, e não há perspectiva assim. Vão me chamar de exigente (e chato), mas é pelo bem dela e pelo nosso bem também. Taquara, se o teu destino é ter “um lugar de destaque na história”, como diz teu hino, pode saber que já tens um lugar de destaque na minha história e na história de milhares de taquarenses. Aos olhares de outros pode até ser uma cidade do interior comum as outras, ou até menos atraente, e para quem me questiona, porque continuo morando em Taquara, respondo que “o amor é cego” e ponto. Porém, Taquara, cuidado,… o amor também morre,… por isso, te convido a andarmos de mãos dadas!
Marcos Kayser
Procura-se diversificação econômica
Um dos temas que preocupam o Vale do Paranhana é a falta de diversificação econômica na região. Historicamente, o Paranhana tem no setor do calçado sua principal fonte de desenvolvimento, geração de emprego e renda. Há cidades como Igrejinha, Parobé, Rolante e Três Coroas, que o percentual de empregos gerados no setor calçadista ultrapassa os 60% do total de empregos. Em Três Coroas este percentual é maior que 70%. Isso significa que estas cidades e, por consequência, a região tem uma economia nada diversificada, o que determina uma dependência quase exclusiva dos movimentos do setor calçadista. Não é difícil, nem precipitado, constatar que o risco para o desenvolvimento econômico e social do Paranhana é muito alto. Hoje a economia brasileira está estável, mas e quando surgir instabilidade, semelhante ao ocorrido em tempos passados? Ao mesmo tempo em que a indústria calçadista continua merendo cuidado e receber apoio, é a “menina dos olhos”, os munícipios precisam pensar em planos consistente de diversificação. Para isso, é fundamental envolver a sociedade civil organizada, entidades representativa do setor produtivo, como é assim nomeado, ou seja, entidades como a CICSVP. Não basta investir num distrito industrial, não basta as Instituições de ensino superior oferecerem cursos tradicionais como o de Psicologia e Enfermagem, sem desmerecê-los, é claro. Diante do cenário, o Paranhana precisa algo maior no sentido da inovação. Outras regiões estão muito à frente, inclusive com incubadoras instaladas. O empreendedorismo precisa ser fomentado e é indispensável integrar, discutir e planejar com visão de longo prazo. A Agenda Paranhana 2020 está aí para ser uma espécie de centro de confluência de idéias e planos. A Agenda não tem dono, é de todos, o que para muito pode parecer estranho, mas é uma proposta de mudança cultura que precisa ser compreendida e apreendida por todos, especialmente por lideranças que detém poder de decisão e governam. O desafio está lançado, a trilha traçada e as ferramentas disponíveis a quem dispor de vontade, que não seja muito apegado à vaidade.
Algumas do Millor
Segue algumas citações de Millor Fernandes, craque em expor a verdade numa só frase:
“Viver é desenhar sem borracha.
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar.
Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.
Certas coisas só são amargas se a gente as engole.
O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta.
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.
Quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida.
Pais e filhos não foram feitos para ser amigos. Foram feitos para ser pais e filhos.
Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso.
Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus.
[POEMEU EFEMÉRICO]
Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril
Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
Aniversário é uma festa
Pra te lembrar
Do que resta.
Metade da vida é estragada pelos pais. A outra metade, pelos filhos.
O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.
Há duas coisas que ninguém perdoa: nossas vitórias e nossos fracassos.
Um homem começa a ficar velho quando já prefere andar só do que mal acompanhado.
O pior casamento é o que dá certo.
Quem mata o tempo não é um assassino: é um suicida.
Sim, irmão, o dinheiro não é tudo. Mas o que é que é tudo?
É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra.
Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento pra envelhecer.”
O dinheiro não traz a felicidade. Manda buscar
O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário
Eu sofro de mimfobia, eu tenho medo de mim mesmo e me enfrento todo dia.
Trabalho não mata. Mas vagabundagem nem cansa.
Nunca soube por que tanta gente teme o futuro.
Nunca vi o futuro matar ninguém,
Nunca vi o futuro roubar ninguém,
Nunca vi nada que tivesse acontecido no futuro.
Terrível é o passado ou, pior, o presente!
Todo homem nasce original e morre plágio.
Todo o casamento sem amor resulta em amor sem casamento.
O tempo não existe, só existe o passar do tempo.
Em ciência leia sempre os livros mais novos. Em literatura, os mais velhos.
O desespero eu aguento. O que me apavora é essa esperança.
Você pode desconfiar de uma admiração, mas não de um ódio. O ódio é sempre sincero.
Se você ainda mantém
A intenção moral-visual
De só encarar homens de bem
Segue este meu conselho:
Sai da rua,
Vai pra casa,
Tranca a porta
E quebra o espelho.”
Aumento da punição pelo bem da gestão pública
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) quer aumentar as multas por má gestão pública. O projeto de lei, encaminhado para a Assembléia Legislativa gaúcha, prevê que o máximo da multa passe de R$ 1,5 mil para R$ 20 mil. O diretor-geral do TCE, Valtuir Pereira Nunes, disse que a alteração tem o objetivo de prevenir irregularidades na aplicação de recursos públicos e que o Tribunal espera que os administradores públicos mudem seu comportamento. A Famurs manifestou incorformidade com o projeto e contra ataca mobilizando os prefeitos na tentativa de aprovar uma emenda que restrinja a atuação do TCE. Uma nota divulgada pela entidade dos prefeitos mostra que a disposição é de fazer marcação cerrada sobre os deputados para que não aumentem o valor das multas. A nota diz que “os presidentes das 27 associações regionais de municípios manifestaram repúdio à proposta e foram unânimes quanto ao caráter da medida: um abuso de poder”. O presidente da Famurs, Mariovane Weis, diz que “não se trata de multas pedagógicas, mas de um instrumento poderoso que exacerba a autoridade do TCE e vai acabar com a vida financeira de qualquer gestor público”. O consultor jurídico da Famurs, Gladimir Chiele, cita que se trata de um projeto fascista. Já o diretor-geral do TCE defendeu o projeto. Disse que as multas devem ter caráter preventivo, para incentivar a boa gestão. O TCE considera praticamente simbólico o valor cobrado hoje, de R$ 1,5 mil, sem correção há 10 anos e ainda é o menor do Brasil. Pelo projeto, as multas vão variar de R$ 3 mil a R$ 20 mil. Quando for comprovado dano ao erário, a aplicação da penalidade será de até 100% do valor do dano causado. Esse critério é uma realidade consolidada há duas décadas no Tribunal de Contas da União. Chega ser engraçada, para não dizer ridícula a posição da Famurs, sendo contra o aumento de uma multa, cujo valor está defasado 10 anos e é irrelevante diante do que ganha em média os prefeitos gaúchos. Duvido que tenha algum prefeito no RS que ganhe menos de R$ 5.000,00. Está aí uma boa sugestão à Famurs para apresentar a média de salários dos prefeitos gaúchos. A Famurs menospreza inclusive a inteligência da população e chega ao cúmulo da prepotência ao desafiar o poder do TCE. O velho ditado “quem não deve, não teme” não se aplica? Sabe-se que o ser humano é movido por desejo e medo, o que dá sentido para a eficácia do par recompensa e punição, em justa medida, é claro. FIERGS, FCDL, FECOMÉRCIO, FEDERASUL, enfim, as entidades representativas do Rio Grande precisam se manifestar pelo bem da gestão.
Viver é se conhecer
Escrevi outro dia que viver é decidir. Agora acrescento que viver é conhecer. Decidir para nos tornarmos o que realmente somos e o que só poderá ser possível se nos conhecermos. Caso contrário, seremos qualquer coisa, exceto nós mesmos. Numa sociedade de consumo como a nossa, somos muitas vezes o que esta sociedade quer que sejamos. Permitimos conscientemente e inconscientemente a manipulação do nosso imaginário, produzindo desejos e sentimentos que não são nossos mas que acabam sendo assumidos como se fossem. “Gosto porque o outro tem e está na moda”. E assim perdemos nossa originalidade, isso se algum dia tivemos. Deixamos de ser nós mesmos e deixamos de viver criativamente nossa existência. Então, para que as decisões de nossas vidas sejam realmente nossas e nos tornemos o que verdadeiramente somos, recomenda-se conhecer a si mesmo, o que é bem óbvio, mas nem sempre assumido. Conhecer as virtudes, fraquezas, desejos e medos, requer coragem para imergir nas profundezas do nosso ser, um “sem fundo”, como nomeia o filósofo e amigo Castor Ruiz. Podemos nos frustrar e até nos assustar com algumas descobertas. Alguém poderá nos ajudar neste trabalho de autoconhecimeto, e há profissionais especializados, e há amigos, mas desvendar a intimidade compete apenas ao indivíduo que a retém. Descobrir-se é exclusividade da nossa individualidade. Sun Tzu na Arte da Guerra fala que não basta conhecer o inimigo para obter a vitória, é preciso conhecer a si mesmo, como condição para conhecer o inimigo. O mesmo Sócrates do “sei que nada sei” destaca a inscrição do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. Talvez jamais saberemos tudo sobre nós. Humildade para reconhecer nossa ignorância. Mas é preciso tentar se conhecer minimamente, sob risco de desperdiçar a própria vida. Momentos sozinhos, eu comigo mesmo, são indispensáveis. Os mais zen optam pela meditação, os mais racionais pela introspecção. Um ou outro, ou ambos, o que vale é o encontro. Num mundo cada vez mais cheio de trabalho e lazer, onde olhamos mais para fora do que para dentro e estar só se confunde com doença, há muita ignorância de nós mesmos, por mais que neguemos orgulhosamente. Sem olhar para si continuamente, em busca do novo e do velho, corremos o risco de fazer da nossa vida um autoengano. Novo e velho porque pela mudança constante de si e do mundo, sempre tem uma novidade para combinar com nossa antiguidade. Sem o autoconhecimento, abdicamos a própria vida e seremos velhos desconhecidos de nós mesmos.
Viver é decidir
A vida é um palco de decisões cotidianas. Na vida pessoal, na sociedade, no trabalho, é decisão pequena ou grande a todo instante. Enquanto somos apenas um projeto de existência, contido na idéia de nossos pais, nossa concepção depende exclusivamente de uma decisão deles. Depois de decidirem pela nossa entrada no mundo, até o nascimento vem um período ainda obscuro para dizer se decidimos ou não alguma coisa. Mas nos anos iniciais, podemos dizer que o nosso poder de decisão já aparece, apesar de mais primitivo e de menos elaborado. O bebê chora quando tenta ser amamentado, decidiu rejeitar o leite da mãe. Quando crescemos um pouconossas decisões evoluem e se intensificam, pelo menos esta é nossa vontade, quando nos achamos adultos, mas ainda somos adolescentes. Já adultos, maduros ou não, nosso poder de decisão é uma exclusividade nossa, de mais ninguém, nem do acaso, nem do além. É de Sartre a famosa citação: “estamos condenados a ser livres”, ou seja, não temos como escapar das escolhas que fizemos na vida. A responsabilidade é nossa até mesmo quando silenciamos ou ficamos sobre o muro. Viver então é escolher constantemente e quando escolhemos exercitamos nossa liberdade. Daí que pode vir a culpa consciente ou inconsciente de ter escolhido o que não deveria ou, simplesmente, ter se omitido da escolha. Por depender essencialmente de nossos desejos e medos, a decisão é um ato individual e há dificuldades em compreender muitas decisões que os outros fazem. Afinal, se já não é fácil conhecermos a nós mesmos, quiçá conhecermos a pessoa alheia por mais próxima que seja. Todavia, para quem tem consciência de sua responsabilidade, o outro precisa ser respeitado. Como a vida é relacionamento, em toda decisão um ou mais estarão implicados. A decisão, apesar de ser um ato individual, tem um impacto na alteridade, por isso, sempre que possível, é bom decidir junto. No âmbito da política, as decisões podem ser tomadas com a participação popular, no âmbito da empresa, com a participação dos sócios e funcionários, no âmbito da intimidade, a família pode ser escutada. A decisão é um ato difícil de ser tomado, pois algo sempre será perdido, ou seja, aquilo que não foi escolhido e já será passado. Talvez, os mais egocêntricos e apegados tenham maior resistência e dificuldade. E uma coisa é bem provável: são asnossas decisões que determinam o que somos e seremos, doa o quanto doer. Também corre o risco de deixar de viver quem não tomar a decisão ou ficar esperando por outro decidir em seu lugar, o que não significa precipitação. Ouvi de uma criança e criança sempre filosófa com toda sua verdade: “se parar de pedalar, cai”. Se parar de decidir, a vida acaba!
Marcos Kayser
Brasil: o pior em serviços públicos
O Brasil é reconhecido como um dos países com maior taxa de impostos, mas apesar da alta carga tributária de 35,13% em relação ao PIB e a arrecadação de impostos ultrapassando a marca de R$1,5 trilhão em 2011, o país continua aplicando mal os recursos e prestando serviços públicos à população de péssima qualidade. É o que revela o “Estudo sobre Carga Tributária/PIB X IDH” concluído pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT, no último dia 16 de janeiro. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil aparece na última posição no Índice de Retorno de Bem Estar à Sociedade (IRBES) entre os 30 países que registram maior carga tributária em todo o mundo.
O IRBES é o resultado da somatória da carga tributária segundo a tabela da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 2010 e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com a previsão do índice final para o ano de 2011. Quanto maior o valor do IRBES, melhor é o retorno da arrecadação dos tributos para a população.
A Austrália lidera o ranking, sendo o país que melhor retorna os recursos arrecadados para o bem estar da população, seguida pelos EUA, que caiu para a segunda posição em relação ao ano passado, e a Coreia do Sul. Já o Japão e Irlanda, que ocuparam, respectivamente, as 2 e 3ª posições na pesquisa anterior, caíram para 4º e 5º lugar no ranking de 2012. O Brasil fica atrás, inclusive, de países da América do Sul, como Uruguai, que está na 13ª posição e Argentina, na 16ª colocação. O que fazer para melhorar este quadro? Planejar melhor os investimentos, de curto, médio e longo prazo. Definir prioridades. Reduzir a corrupção. Ter políticos mais competentes e éticos.