Há dois momentos especiais que levam um colorado ou um gremista assistir a uma partida de futebol: quando joga o seu time ou o seu rival. Pelo seu time torce, pelo seu rival seca. Para o torcedor mais radical, mencionar o nome do rival já é coisa arriscada, pois tal atitude pode comprometer sua fidelidade ao time do coração. No jogo do Grêmio e Corinthians pelo Brasileirão todo bom colorado só tinha um objetivo, torcer pelo Corinthians mesmo que o Corinthians seja um concorrente direto ao título e esteja na segunda posição do Brasileiro. Contudo, eu não consegui torcer pelo Corinthians. Também não consegui ficar neutro, até porque dificilmente assisto a um jogo de futebol sem torcer por algum dos times, nem que a partida seja entre Uberaba e Uberlândia. Torci para o Grêmio e até os que estavam comigo se assutaram. No início do jogo quando falei que torceria para o Grêmio estranharam, mas quando apresentei minhas justificativas e demonstrei que estava realmente torcendo para o Grêmio um chegou a dizer que sua torcida seria pelo empate. E por que torcer nesta partida para o principal rival? Para honrar minha paixão pelo colorado, ferida por ter sido violentada naquele 2005, quando nos roubaram o tetra campeonato, anulação de partidas, expulsão do Tinga e não marcação daquele pênalti que certamente seria convertido e nos daria a vitória em plena São Paulo. Com esta breve recaída, percebi mais uma vez que pelo bem do meu time, as vezes é possível torcer pelo rival, desde que este rival não cause ameaça. Já nos anos 90 quando o Grêmio de Felipão enfrentava o Palmeiras do Luxemburgo, a soberba do Luxa e a parcialidade da imprensa nacional, pendendo para os paulistas, agitava minha alma gaúcha e acabava me impedindo de torcer contra os gremistas. O futebol é capa de muitas coisas. Não é à toa que o filósofo Albert Camus reconhecia no futebol a fonte da sabedoria moral. “O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…”, dizia Camus.
Marcos Kayser