Se as previsões do cientista Aubrey de Grey estiverem certas, a primeira pessoa a comemorar seu aniversário de 150 anos já nasceu. E a primeira pessoa a viver até os mil anos pode demorar menos de 20 anos para nascer. Biomédico gerontologista e cientista-chefe de uma fundação dedicada a pesquisas da longevidade, De Grey calcula que, ainda durante a sua vida, os médicos poderão ter à mão todas as ferramentas necessárias para “curar” o envelhecimento — extirpando as doenças decorrentes da idade e prolongando a vida indefinidamente. De Grey prevê uma época em que as pessoas irão ao médico para uma “manutenção” regular, o que incluiria terapias genéticas, terapias com células-tronco, estimulação imunológica e várias outras técnicas avançadas. Ele descreve o envelhecimento como o acúmulo de vários danos moleculares e celulares no organismo. “A idéia é adotar o que se poderia chamar de geriatria preventiva, em que você vai regularmente reparar o dano molecular e celular antes que ele chegue ao nível de abundância que é patogênico”, explicou o cientista. Atualmente, a expectativa de vida cresce aproximadamente três meses por ano, e especialistas preveem que haverá um milhão de pessoas centenárias no mundo até 2030. Só no Japão já há mais de 44 mil centenários, e a pessoa mais longeva já registrada no mundo foi até os 122 anos. No último meio século, a expectativa de vida aumentou em cerca de 20 anos. Se considerarmos os últimos dois séculos, ela quase dobrou. Este recente histórico de avanços significativos e palpáveis da ciência dá margem para pensar que a estimativa de 150 anos de vida não seja tão absurda e um aparente sensasionalismo pode ter fundamento. Claro que a ciência deverá atuar não apenas sobre o corpo humano, mas sobre fatores externos como é o caso do controle de novas epidemias, da poluição e também de uma eventual falta de alimentos, já que o contingente populacional deve crescer exponencialmente. Mas pra tudo isso acontecer de forma ordenada, o ser humano deverá estar disposto a cumprir novas regras de conduta e convivência, e, principalmente, as políticas públicas precisarão acompanhar os novos padrões de exigência. É até difícil pensar. Imaginem o volume de lixo. E o congestionamento do trânsito? De nada adiantaria ter uma expectativa de vida de 150 anos, se a sociedade mantivesse o jeito de viver dos dias atuais. Mas será que queremos viver tanto? É quase uma imortalidade. Enquanto esta previsão não se confirma, talvez o melhor caminho é viver o momento com a intensidade suficiente para imortalizar o presente.
Marcos Kayser